Capítulo 21🦋
Jhonatan Fernandez...
- Ah Alícia? Jhonan? - Minha mãe entrou no quarto me chamando para tomar café. Eu me assustei pois fazia dias que isso não acontecia - não sabia que vocês...vocês, ah meu Deus!
- Calma mãe! Respira, não é nada disso que você está pensando!
- Não? - Minha mãe olhava com os olhos arregalados para mim e para Ali - Então o que aconteceu aqui? Eu fui dormir, você tinha acabado de chegar e estava sozinho?
- Minha culpa, tia Cíntia! - Alícia se pronunciou.
- Você é a que menos tem culpa nessa história toda! - Eu disse olhando para ela, e deixando minha mãe mais confusa ainda!
- Eu não estou entendo mais nada! Vocês dois, se troquem e vamos tomar café que eu já arrumei a mesa! Lá a gente conversa! - Ela saiu sacudindo a cabeça mas a porta permaneceu aberta.
- Já vamos mãe! - gritei ainda sentado na cama.
- Eu vou me trocar no banheiro lá de baixo e você pode ficar aqui mesmo. Ok? - Alícia falou e eu apenas concordei.
- Desço em cinco minutos.
Durante o café, conversamos, rimos e brincamos um com o outro, como nos velhos tempos. Mesmo o lugar do meu pai estando vazio, não foi tão dolorido como das outras vezes. Minha mãe rodeou até a Ali contar superficialmente sobre o que tinha acontecido. Mas o que mais me intrigou foi o fato dela não ter falado nada sobre a Lavínia e as coisas horríveis que ela ainda insiste em fazer e falar. Minha mãe ficou indignada com o tipo de pessoa que ainda existe nesse mundo e chorou agradecendo por ter tido uma pessoa como meu pai. Juliana pediu perdão por ter sido uma amiga ruim pra ela e as duas se consolaram. Eu acabei sobrando em todo aquele papo de mulher. Assim que acabamos, Alícia e Juliana subiram e eu fiquei para ajudar minha mãe a retirar a mesa.
O fato dela estar mais animada hoje, fazendo o café do fim de semana, como sempre fez, me deixou de coração um tanto aliviado. Agora estou aqui sentado no sofá mudando de canal sem parar, sem na verdade achar alguma coisa para assistir.
- Jhonatan? - Minha mãe me chama da cozinha - Vem aqui conversar com a mãe rapidinho.
- Oi! Já vou! - Me levantei e caminhei rapidamente até a pia, onde ela estava, lavando a louça do café da manhã - O que a senhora precisa, mãe?
- Quero saber o que é que a Alícia não me contou, sobre o que aconteceu na noite passada! - Comecei a tossir com a pergunta que ela me fez. Engasguei com o ar.
- Mãe! - tossi mais uma vez - Mãe, tem coisas que eu não posso te contar. Mesmo querendo muito! Não posso quebrar a confiança dela.
- Então ela está me escondendo mesmo alguma coisa! - Ela confirmou mais para si mesma do que para mim.
- Tenta conversar com ela, mãe! Eu não posso te contar nada!
- Tudo bem meu filho. Eu entendo. Mas quero pedir que nunca mais faça isso de novo. Você saiu de madrugada sem me falar, foi dirigindo, um perigo só, sem nem saber o que ia enfrentar lá. E outra coisa, não gostei de pegar vocês na mesma cama. Vocês não estão nem namorando ainda! Se quer que eu aceite isso, faça as coisas como te ensinei a fazer! - Minha mãe começou a falar sem parar e eu não podia falar nada pois sabia que estava errado.
- Mãe, primeiro, peço desculpas por ter saído sem falar nada, mas eu estava muito nervoso e na hora nem pensei em muita coisa.
- Tudo bem. Só não quero que se repita!
- E sobre eu e a Ali... - Soltei um suspiro pesado - Eu quero muito fazer tudo certo, mãe. Mas ela prefere ser apenas minha amiga mãe. Já tentei de tudo, e no momento que ela tá vivendo agora, vai ser bem difícil.
- Quem dorme na mesma cama, não quer ser apenas amiga, Jhonan!
- Sim, eu sei - Falei indo me sentar à mesa perto da pia - Mas é mais complicado do que a senhora pensa!
- Então descomplica, Jhonatan! E faz o favor de não magoar os sentimentos da menina! Se tu fizer isso, vai se ver comigo!
- Ei, você é minha mãe, não vale! Tem que me defender! - Ela riu e jogou o pano de prato em que secava as mãos em mim! - A verdade é que ela não quer ser minha namorada mãe!
- Eu entendo ela! - Olhei espantado para ela - O que foi meu filho? É sério, eu entendo. Você é mais velho, está indo fazer faculdade em outro estado, acho que eu no lugar dela, também não ia querer começar um namoro que já vai enfrentar a distância de cara. Apesar de vocês se conhecerem há anos, estar em um relacionamento requer uma confiança que pode ser quebrada com um mínimo de dúvidas sobre o que a outra pessoa está fazendo.
- Ouvindo a senhora falar assim, talvez ela realmente tenha razão. Mas é difícil demais aceitar isso.
- Quando você estiver longe, vai entender melhor. - Ficamos em silêncio e ela se virou para começar a fazer o almoço. Acho que estou precisando de um tempo para pensar nas minhas decisões.
- Mãe! - Chamei sua atenção - Vou pra confeitaria hoje. Almoço por lá. Não se preocupe comigo.
- Não íamos abrir hoje, ia falar pra sua irmã ficar em casa com a Ali.
- Tô precisando de um ar. Vou trocar de roupa e vou.
Ela assentiu com a cabeça. Me levantei da cadeira em que estava e fui até ela. Dei um beijo em seu rosto e subi até meu quarto. Assim que entrei no quarto vi a Ali agachada pegando a mochila dela.
- Vai pra onde morena?
- Ai que susto Jhonan!
- Desculpa! A porta estava aberta! - Falei colocando as mãos no bolso da bermuda que eu usava.
- Não tem que pedir desculpas, o quarto é seu. Só vim buscar minhas coisas, vou colocar no quarto da Ju.
- Poxa, que pena! Pensei que dormiríamos juntos a semana toda!
- Sua mãe ia morrer do coração! Hoje de manhã ela ficou toda sem graça.
- É que ela foi pega de surpresa!
- Mesmo assim, eu prefiro ficar no quarto da Ju.
- Fazer o que né, cabeça dura! - Me aproximei dela a agarrando pela cintura e depositei um beijo em seus lábios doces. Mas ela logo se afastou e saiu pela porta me dando um lindo sorriso.
[...]
Assim que cheguei na confeitaria, comecei a abrir as janelas, abri também a da cozinha na parte de trás, varri o lugar, limpei todas as mesas, o balcão e terminei trocando a plaquinha de fechado para aberto. Sentei no banco atrás do balcão e fiquei mexendo no telefone. Havia algumas mensagens dos meus amigos do colégio, a maioria era da Helena e do Rogi. Respondi o Rogi na mesma hora e falei pra ele que estava na confeitaria sozinho.
Alguns clientes apareceram rapidamente, como o senhor Ronaldo. Ele mora aqui perto e é um senhor de uns sessenta anos. Mas ele vem praticamente todos os dias aqui e toma seu café pingado de sempre! Depois de algumas hora,s atendendo a todos, Rogi e Helena chegam juntos.
- Fala cara! - Cumprimentei primeiro - Vocês estão sumidos!
- E ai mano! - Ele apertou minha mãe e depois tocou meu ombro com o dele.
- Oi gato! - vez da Lena me cumprimentar com dois beijos no rosto - Você que anda sumido. A gente está sempre no mesmo endereço e indo aos mesmos lugares, não é Rogi?
- Pois é cara! A última vez que a gente se viu foi no enterro do seu velho, que aliás, sinto muito!
- Sim, eu também sinto. Como está sua mãe e a Ju? - Lena acrescentou.
- Estamos indo, sabe. Obrigado por terem ido, foi muito importante pra mim.
- Tá sozinho aqui porque, Jhon? - Lena puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado.
- Não consigo ficar muito tempo em casa. Prefiro ficar aqui e distrair a cabeça! Mas vamos mudar de assunto? O que vocês andam fazendo da vida?
- Bom, eu vou fazer jornalismo no Rio de Janeiro - Helena falou e me surpreendi com a nossa coincidência.
- Nossa, Lena que maneiro. Quando você viaja?
- Semana que vem! - falou toda sorridente.
- Fico feliz por você! Eu estarei indo para São Gonçalo, no Rio também! Olha que coincidência.
- Mentira, gato! - Ganhei um tapa no ombro esquerdo. Sorri pra ela.
- Ai, é sério!
- Bom, eu fico feliz pelos pombinhos, mas eu prefiro ficar por aqui. Vou fazer a federal aqui. Se der errado, pelo menos tô perto de casa.
- Acho que por isso eu quero sair daqui - Lena falou - Ando muito farta da rotina de sempre. Nada muda e fico sempre entediada. Isso afeta minha saúde, sabia? - Perguntou pra ninguém especificamente.
- Estamos no mesmo barco Leninha - Falei passando meu braço por seus ombros - Depois da morte do meu pai, fiquei bem indeciso. Antes dele ir, me disse para não desistir, mas minha mãe está muito mal, e sinto que eu deveria ficar com ela.
- Jhon, não faça isso. O que você acha que sua mãe diria, se te ouvisse falando isso?
- Eu sei Lena, mas...
- Não, Jhon! É sério. É uma oportunidade de mudar sua vida, ter uma experiência nova, conhecer um mundo novo. Pode ser que seja ruim? Pode! Mas também pode ser incrível e sua mãe jamais se perdoaria por te fazer desistir disso.
- Olha, Lena, você nunca esteve tão certa nessa vida! - Rogi falou implicando com ela que revida em uma careta engraçada.
- Você tá certa mesmo, Leninha! - Falei me rendendo ao que ela disse.
- Mudar os horizontes pode ajudar meu coração meio abalado.
- Tá falando da Alicia, mano? - Helena me olhou estranho e eu comecei a tossir, engasgado com o ar, pela segunda vez hoje!
- Não sei Rogério! Talvez sim!
- Então vocês se acertaram, depois daquela presepada do Patrick?
- Sim, Leninha. Mas é muito complicado de falar.
- Então... - Ela parou para pensar no que iria falar - Você era o cara que tava com ela ontem a noite, quando teve aquele escândalo lá no Jardim Paraíso?
- O que? Calma! Como sabe disso?
- Tenho uma prima que mora na rua Santa Mônica. Eu estava lá. Dormi na casa dela.
- Nossa... Muita gente sabe que é ela? Sabem que era ela que estava envolvida?
- Minha prima falou que eles nem se surpreendem mais! Parece que a mãe dela, a... Como é o nome mesmo dela?
- Lavínia!
- Isso, a Lavínia é rígida demais com ela. Nunca deixou que ela brincasse na rua com o pessoal de lá. Ela vivia trancada no quarto olhando pela janela.
- Eu já teria fugido faz tempo! Deus me livre de viver assim!
- Não falem o que vocês não sabem. - Falei, tomado pela raiva, em ouvir aquelas palavras sobre a minha morena.
- Foi mal cara! Não quis ofender.
- Tá tudo bem! Eu não vou dizer nada, pois não é um assunto que posso discutir com vocês, só peço que não comentem com ninguém. É um assunto muito delicado para Alícia.
- Tudo bem, Jhonan! Não vamos falar e comentar com ninguém, mas o pessoal da rua toda fala sobre.
- Deixem que falem. Só peço que vocês não espalhem com o pessoal da escola. Ela não precisa de mais isso... - Falei sentindo a frustração me tomar.
- Depois desse velório aqui, vou pra casa! - Rogério falou - Tenho visita em casa e preciso ir. Vai querer carona Lena? - Helena me olhou como se sopesasse se iria ou não.
- Pode ir Lena, vou fechar já. Faz um tempo que não entra ninguém e já vai dar seis da noite!
- Então eu vou com o Rogi. Só não queria deixar você sozinho, com essa cara de cachorrinho abandonado depois de cair da mudança. - Ela falou me dando um abraço apertado. Suas palavras me arrancaram uma risada fraca.
- Obrigado, mas eu tô legal. A gente vai se falando. Vamos marcar de fazer algo antes de cada um ir pro seu novo mundo!
- Beleza, mano! A gente se vê!
- Tchau gato! Me liga antes de ir.
- Você também! - Ela sorriu e eu retribui.
Caminhei com eles até a saída e vi o céu na sua transição natural de claro para escuro. Mas o sol não se fazia presente. As nuvens já cobriam o céu o deixando bem acinzentado e uma brisa gelada passou por mim, me trazendo um arrepio ruim. Voltei para o balcão e fui comer um bolo, pois a fome bateu.
Cada garfada no bolo era uma lembrança com a Ali que me vinha à mente. As palavras da Lena me sondavam, e meu receio de todos já saberem que Lavínia não é flor que se cheire, estava me causando um aperto no coração. Terminei de comer e fui me preparar para voltar pra casa. Infelizmente fui interrompido, quando ela entrou pela porta fazendo questão de chamar toda a atenção para si mesma.
Lavínia entrou na confeitaria, e aquela cena de filme aconteceu ali. A mulher entra no lugar em câmera lenta, para encontrar o suposto pretendente, um vento que ninguém sabe da onde vem, balança os cabelos dela e leva seu perfume até o homem que ela quer impressionar.
O problema é que o único homem aqui, sou eu!
Então não faz o menor sentido toda essa cena para chamar atenção. Fui para frente do balcão e encostei o quadril nele. Cruzei os braços em frente ao peito e fechei meu semblante, esperando ela parar com toda aquela cena desnecessária.
- A que devo o desprazer da sua visita, Lavínia?
- Quanta grosseria com a pessoa que você deveria tentar agradar.
- Não devo nada a você!
- Bom, pois eu não vejo desta forma meu querido! - Ela se sentou em uma das cadeiras dispostas com as mesas e eu me sentei à sua frente.
- Diga logo o que você quer, Lavínia! Estou de saída!
- Primeiro, me chame de Nia. Temos intimidade para acabar com as formalidades. E segundo, vim falar sobre minha querida filha!
- Não somos, e nunca seremos íntimos! E não precisa interpretar o papel de boa mãe comigo, que não vai colar!
- Já que você prefere a forma difícil, então vamos lá! - Debrucei os meus braços cruzados sobre a mesa e olhei nos olhos dela - Vim pedir educadamente que você se afaste da Alícia. Ela não tem idade para relacionamento. E se eu fosse você, faria o que eu estou pedindo!
- Você não decide isso por ela! E muito menos por mim! Alícia está feliz ao meu lado, e eu farei de tudo para que ela saia de perto de você o mais rápido possível.
- Você não me dá escolhas Jhonatan! Hum, hum, hum! - Ela falou enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro lentamente - Eu pedi educadamente, depois não diga que eu não avisei.
- Você pode me ameaçar o quanto você quiser, e posso até não estar aqui daqui algumas semanas, mas você não vai conseguir me afastar dela! - bati as mãos com firmeza na mesa à minha frente.
- Interessante! Quer dizer que o príncipe do cavalo branco, não estará aqui em algumas semanas? Minha visita a essa espelunca valeu a pena pelo menos! - Ela se levantou e deslizou sua mão pela mesa, até chegar em meu braço e parar em meu ombro - Alícia, é valiosa demais pra mim, e não vou deixar nenhum homem acabar com meus planos! - Senti o aperto no meu ombro e suas unhas cravando-se em minha pele por cima da minha camisa de manga. - Então saia do meu caminho! Ah, antes que eu me esqueça, soube que está procurando o pai dela, e se quer um conselho de como se afastar, pergunte a ele! Esse é o número! - Ela me entregou um papel amarelo e pequeno, como um dos post its da Ali com um telefone escrito nele, junto com o nome do mesmo, Frederico de Moura Parker. E ela saiu rebolando pela porta que entrou.
Me levantei e fui fechar a porta. Coloquei o papel no bolso da bermuda e fui fechar as janelas e desligar as coisas que precisava. Cada passo era dado no automático, minha cabeça rodava com tanta informação que foi me dada e eu não entendia nenhuma delas. Tranquei a loja e entrei no carro, peguei o número de telefone nas mãos e encarei ele
até criar coragem de discar e ligar pra ele. O telefone tocou algumas vezes e ele atendeu. Eu fiquei mudo e desliguei o telefone na cara dele.
Acho melhor esperar estar junto com a Juliana pra fazer essa ligação.
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🦋Contém 2725 palavras🦋
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