Capítulo 10🦋

— Cheguei Mãe! - Gritei assim que fechei a porta atrás de mim.

— Não precisa gritar Alícia. Estou sentada aqui no sofá te esperando a mais de meia hora.

—  Hum, você nunca me espera! E por que está no escuro?

—  Fiquei esperando aparecer o barulho da moto pra eu ver quem estava te trazendo.

—  Quem me trouxe foi o Jhonatan. A mãe dele pediu que me deixasse aqui. Estávamos todos no hospital para visitar o pai dela. O garoto da moto é o Diego, amigo nosso da escola.

—  A próxima vez que eu tiver que sair do trabalho porque recebi uma ligação dizendo que você estava perambulando pela cidade na garupa de uma moto, eu acabo com você Alícia. Não estou te criando para isso!

—  Me criando? Quando você começou a me criar que eu não fui avisada? Eu aprendi a me virar sozinha desde que meu pai se foi! Tudo que você faz é me castigar e me proibir de ser feliz, porque de resto você tá longe de ser a pessoa que me criou! - Falei sem pensar, dominada pela raiva que ela despertava em mim.

— Alícia você me respeite que eu sou sua mãe!

— Ta aí uma coisa que você não tem o direito de ser chamada, Mãe! Você nunca foi minha Mãe!

— Cala a boca Alícia e vai já para seu quarto. Não suporto ouvir sua voz! Melhor, vá arrumar a cozinha pois está uma zona! – Ela falou tranquilamente e se virou para subir a escada, mas eu comecei a falar.

— Por que Lavínia? Por que se importa com quem eu ando ou aonde eu vou se você não se importa de verdade comigo? - E mais uma vez eu estava gritando, desesperada por respostas. Um ímpeto de coragem que me fazia pensar nas palavras de Jhonan “ Eu mereço ser feliz!”

— Eu não me importo! – Ela disse com a voz firme e fria. — A única coisa que me preocupa é você aparecer grávida e eu ter que criar outra criança que não desejei, que não pedi para ter. – Suas palavras me atingiram de uma forma que eu não queria que me atingisse. Dei dois passos para trás e me encostei na parede. Respirei fundo para não chorar mais uma vez.

— Quanto a isso não precisa se preocupar. Jamais entregaria uma criança indefesa nas suas mãos. Eu seria louca se fizesse tal ato.

— Acho bom mesmo. Agora vá fazer o que te mandei e não me encha mais a paciência! A cozinha está nojenta exatamente como você! Me dá asco!

Ela subiu e escutei o barulho de sua porta batendo. Mais uma vez ela conseguiu estragar a minha noite, mas eu já esperava por isso, só que não deixou de ser dolorido.Entrei na cozinha e vi a bagunça de coisas que ela sujou de propósito. O fogão estava puro óleo, as panelas estavam engorduradas e a pia transbordava de copos, talheres e potes. Era muita sujeira!

Eu juro que se pudesse ir para outro lugar, eu iria sem pensar duas vezes. Mas eu não tenho! E só por isso faço o que ela me ordena. Tentei começar lavando aquela louça enorme, mas não consegui terminar de tanta raiva que estava sentindo por ter que fazer aquilo de novo hoje. Larguei o último copo na pia e fui para a varanda pequena que temos no fundo da casa. Era ali que eu me divertia quando pequena na roda de samba que meu pai fazia junto com a banda. Gosto de vir aqui e observar as estrelas e como as folhas das árvores recaem sobre o muro de casa.

Lembrei de pegar meu caderninho de inspirações na bolsa, pendurada atrás da porta da cozinha, que eu tinha colocado antes e fui até o gramado. Me sentei e logo depois deitei encarando o desenho de estrelas que pintavam o céu noturno da primavera. Observando o ar fresco do luar, percebi que estava ofegante, uma sensação de raiva acumulada foi saindo de mim.

Me sentei e comecei a desenhar no meu caderninho. As estrelas em volta da lua me deram uma ideia para um vestido de noiva. Fui modelando a forma do vestido envolta do desenho da lua crescente. Pontos de brilho davam todo um charme a saia do vestido no estilo sereia. Desenhar me acalmava e me tirava de um poço de tristeza que eu insistia em me enfiar quando algo assim acontecia. Aos poucos me acalmei por completo e voltei para a cozinha para terminar a faxina. Afinal ainda faltavam alguns potes, panelas e o fogão.

Enquanto eu arrumava a cozinha pensava nas palavras do Jhonan. Eu mereço ser feliz. E só eu posso fazer isso por mim. Mas ao mesmo tempo que eu pensava isso, a voz da dona Lavínia ecoava na minha mente para rebater o que ele me dissera. E assim que terminei tudo, voltei a me sentir um fardo. Eu não era amada, não era desejada. Era apenas um fardo na vida daqueles que deveriam me amar.

Apaguei a luz da cozinha e fui pro meu quarto. Me joguei na cama e apaguei! Não sabia nem que horas eram. Não dormi bem e tive alguns pesadelos durante a noite, que me fizeram acordar várias vezes. Mas não eram tão importantes pois não consigo me lembrar de nenhum específico.
Acordei com as batidas da minha mãe na porta do quarto. Como sempre me chamando aos berros para ir à escola. Minha cabeça hoje é a minha pior inimiga. Dói muito e me arrumo me arrastando. Tomei um café rápido, e comi uma torrada com geléia de morango.

Graças a Deus os primeiros tempos de aula, passaram voando. E não me pergunte o que foi falado pois eu não me lembro de nada! Assim que o sinal do intervalo disparou eu dei graças a Deus. A turma inteira saiu e ficamos eu e a Ju, que sempre se enrola na hora de guardar o material. Jhonatan apareceu na porta com um lindo sorriso nos lábios carnudos. As agulhadas na minha barriga começaram e eu sorri sem perceber. Juliana estranhou ele aparecer do nada.

— O que foi irmãozinho? Veio me supervisionar é?

— Na verdade, vim falar com a Ali. E o Diego pediu que te avisasse que ele já está na cantina comprando seu lanche que é pra você ir logo.

— Ah que bom! Já não vou perder dez minutos na fila. Amiga, daqui a pouco eu volto. Fica bem! - Ela piscou pra mim e eu apenas balancei a cabeça em confirmação. Ela saiu correndo.

— Estou com saudades, morena! Por que não respondeu as minhas mensagens? - Ele entrou e se sentou na cadeira em frente a minha.

— Ah, desculpa. Eu não mexi no telefone, estava muito cansada.

— E como foi a conversa com a sua mãe?

— Mesma coisa de sempre - Falei sem nenhuma animação.

— Quer conversar sobre? Sabe que estou aqui se você precisar!

Apoiei a testa no meu caderno que estava em cima da carteira escolar, me sentindo péssima por ter dormido mal e agora mais péssima porque não consigo ficar perto do senhor perfeição sem querer lhe beijar.

— Não quero conversar sobre isso agora, mas obrigada por perguntar. - Disse, ainda debruçada com a cara no caderno.

— Tudo bem então, não vou insistir. Mas agora preciso que venha comigo.

— Mas tô cansada! Onde vai me levar?
— Na sala de áudio e vídeo.

— Jhonan, daqui a pouco o sinal toca. Não vai dar tempo de ir e voltar a tempo da aula.

— Quem disse que você vai voltar para a aula? Deixa um bilhete pra Ju, dizendo que vai matar aula pois está com muita dor de cabeça. Vamos!

— Não quero matar a aula de geografia Jhonan! - Disse levantando minha cabeça e olhando pra ele que já estava de pé.

— Por que não? Gosta tanto de geografia assim? - A curiosidade estava estampada em sua expressão facial.

— Gosto, é do gatíssimo professor Guto. É de longe a melhor aula da semana. - Dei risada para descontrair.

— Haha! Engraçadinha você! - Ele ficou sério mas não durou muito pois já começou a implorar novamente. — Vem, por favor, Ali! Vamos, confia em mim, vai ser legal!

— Tá bom seu chato! - Falei sorrindo

— Mas se pegarem a gente a culpa vai ser toda sua.

— Não vão descobrir nunca! Pode confiar!

Fiz o que ele pediu e escrevi um bilhete pra Ju em um dos postitis que carrego na mochila e colei no caderno dela. Jhonatan falou com o Rogério e aparentemente ele já tinha tudo preparado para não sermos descobertos.
Entramos na sala de vídeo de mãos dadas. Ele carregou minha mochila nas costas e com a outra mão carregava seu caderno. É, ele só leva um caderno e duas canetas, que ficam no bolso da calça jeans, para a escola.

— Eu preparei uma folga da escola pra gente! - Ele acendeu a luz — Vamos fazer um piquenique aqui!

— Você tá doido Jhonan? - Falei em um tom de espanto, pois eu realmente não esperava aquilo. — Se pegarem a gente eu tô frita!

— Calma! Não vão pegar a gente. Rogério está me dando cobertura! Vem senta aqui!

Descemos os largos degraus que nos levavam até uma base maior, onde eram distribuídas as cadeiras para os alunos se sentarem e assistirem a algo no telão. Não é um espaço muito grande, mas cabe cerca de 25 alunos tranquilamente. Olhei para o chão que estava arrumado para um piquenique. Uma toalha vermelha e branca forrava o chão. Uma cesta média com uma rosa em cima e almofadas espalhadas em volta da toalha tornando aquilo muito aconchegante.

— Jhonan! - Fiquei sem palavras admirando cada pedacinho do lugar.

— Nossa, te deixei sem palavras pela primeira vez? Olha, sou muito bom nisso então!

— Virou comediante agora, palhacinho? - Falei implicando com o que ele disse e nós dois começamos a rir.

— Gosto de te ver assim. - Encarei seus olhos demonstrando minha confusão — Sorrindo. Gosto de te ver sorrindo! Seu sorriso irradia luz.

— Que fofo. Mas muito meloso! - Rimos novamente. — Não seja meloso, por favor!

— Tá bem, me desculpa! Mas foi só um elogio!

— Mas agora me fala o que tem nessa cesta. Eu não estava com fome, mas o cheiro que está vindo dali, fez minha barriga roncar!

— Eu até posso te contar, mas tem um preço! – Seu tom era totalmente provocativo e sugestivo. Entrei na brincadeira pois sei que era isso que ele queria

— Que seria?

— Um beijo, e eu dou uma dica! – Ele se sentou e eu fui atrás, ficando de frente para ele.

— Ah, que coisa, achei que seria mais interessante! – e lá estava eu, provocando além do que me era permitido.

— Alicia, Alicia! Depois você foge de mim. Não provoca! – Ele colocou a cesta do lado dele e me encarou. Seu olhar queimava minha pele e eu via o desejo que ele transmitia.

— Para de me olhar assim. Não vou resistir a te dar um beijo.

— Mas não é esse meu objetivo?

— Jhonatan, Jhonatan! Está brincando com fogo!

— Não ligo. Estou acostumado a me queimar! – Nossa brincadeira era cheia de segundas intenções e eu já sentia meu corpo todo pegando fogo.

Engatinhei até ele, era uma distância curta, mas fui bem devagar para ele não perceber a minha real intenção. Quando me aproximei e ele fechou os olhos pois meu rosto já estava a milímetros do seu, desviei e peguei a cesta, deixando ele boquiaberto.

— Isso é trapaça espertinha! Vai ter volta! – Sorri pra ele e comecei a abrir a cesta, pois estava morrendo de curiosidade.

— Ai, que delícia! – Exclamei alto

— Xi, Alicia. Se ficar gritando assim vão nos descobrir.

— Sorry! É que, é o meu bolo preferido. Chocolate com morango e bem molhadinho. Eu adoro!

— Eu sei. Fiz ontem a noite quando cheguei em casa. Digamos que eu estava... inspirado! – Meu coração estava disparado nesse momento, e se não fosse o receio de pegarem a gente ali eu teria me jogado em cima dele!

— Tive que separar uns pedaços pra hoje, já que minha irmã não controla aquela draga que ela chama de boca. Ela é magra de ruim! – peguei umas uvas que estavam dentro e taquei nele!

— Para de falar mal da minha amiga! – Me lançou um olhar de como quem diz, não acredito que você fez isso.

— Poxa, eu faço bolo pra você e tu ainda defende ela? Magoei!

— Vou te dar um desconto hoje! – Dei uma mordida no bolo. Meu Deus, que maravilha!

— Não vai me dar nem um pedacinho? – Ele perguntou enquanto me observava comendo aquele pedaço do céu!

— Eu não. Você perdeu a cesta! Aí é cada um com seus problemas! – Ele começou a se levantar, ficou de joelhos e logo depois em pé

— Da próxima vez vou pensar bem antes de trazer você pra cá. – Ele riu e se virou.

— Ué, onde vai? Vem comer o bolo. Eu estava brincando.

— Calma morena. Não vou a lugar nenhum sem você! – Ele pegou alguma coisa na mochila dele e voltou andando até mim. Não sei o que ele pegou pois eu estava focada em comer aquele bolo. Senti as mãos dele na minha cintura, fui erguida contra a minha vontade e ele me colocou em cima dos seus ombros me tirando do chão.

— Jhonan, eu tava comendo. Me coloca no chão. Se eu ficar de cabeça pra baixo vou passar mal! – Falei enquanto sacudia os pés no ar.

— Ninguém mandou tacar uvas em mim! Agora vou te carregar até ali em cima pra colocar uma música pra gente.

— Me solta Jhonan. Me deixa comer aquele bolo!

— Nem pensar. Aquele pedaço agora é meu!

Ele caminhou comigo nos ombros até o computador. Tirou o pendrive do bolso e plugou ele. Logo já estava começando a tocar "Ela sabe ser sexy", de Bruninho e Davi.
Ele me desceu de seus ombros e meu corpo deslizou pelo dele. Me afastei daquele corpo quente pois minha blusa tinha se embolado.

— Dança comigo?

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🦋Contém 2302 palavras.🦋

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Oi, oi Clichezeiros 💖
Últimos capítulo da semana!
Espero que estejam gostando.
Comentem bastante, quero saber o que vocês estão achando.
Obrigada por lerem e me motivarem com seus comentários.

Beijinhos 😘
Semana que vem voltamos!🦋

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