Capítulo 09🦋
Depois de alguns segundos de um silêncio angustiante, ela resolveu começar a falar.
— Ok Jhonan. Ok! Você quer a verdade? - Afirmei com a cabeça — A verdade é que tenho medo. Tenho medo do inferno que eu posso tornar sua vida. Do jeito que eu posso chegar com toda a merda que carrego e virar sua vida de ponta cabeça! – Ela falou em um tom desesperado, uma frase atrás da outra e vi seus olhos se encherem de lágrimas e isso fez eu me assustar.
— Onde quer chegar com isso?
— Minha mãe, ela não é o que você pensa que ela é. E eu só não falo nada pois não quero ser a garota coitadinha que não é amada e sim digna de pena.
— Você sabe que nunca faria isso com você!
— Só que não é de você que estou falando. – Aproximei mais o meu corpo do dela e deslizei minhas mãos em seus braços, de baixo para cima. Sua pele se arrepiou com meu toque e meu coração acelerou assim que senti aquilo.
— Então me conta. Me conta o que acontece pra que ela roube seu sorriso e te deixe tão nervosa desse jeito. – Ele balançou a cabeça em afirmação, mas não disse nada. — Confia em mim Alícia! Deixa eu ser seu amigo, seu parceiro, seu namorado, seu travesseiro ou até mesmo seu saco de pancadas. Mas me permita te ajudar de alguma maneira.
Ela me abraçou. Aquele abraço apertado que tanto precisamos quando estamos mal e eu a apertei de volta, cruzando meus braços em sua cintura. Senti seu corpo soluçar pois ela começou a chorar. Era um choro que parecia guardado a muito tempo. Meu peito estava apertado pois nunca a vi chorar. Me controlei para não perder o controle das minhas emoções naquele momento. Eu senti toda a dor que ela estava sentindo.
Após algum tempo, não muito longo ela normalizou a respiração e falou:
— Eu vou te contar tudo ok! – Ela se soltou do meu abraço. Limpei as lágrimas do rosto dela e nos sentamos no meio fio.
— Não é melhor a gente ir conversar lá na sua casa?
— Minha mãe está em casa, e como eu estou demorando ela vai fazer um show assim que eu entrar.
— Então ficaremos aqui. – Ela apoiou a cabeça em meu ombro e eu entrelacei nossos dedos em seguida. — Desculpa te pressionar para me contar o que se passa com vocês!
— Tudo bem. Acho que eu no seu lugar faria o mesmo! Eu realmente tenho que te explicar as coisas.
— Você tá linda com os olhos inchados de tanto chorar. – Ela riu, ainda com a ponta do nariz vermelha de tanto esfregar.
— Bobo você! – Ainda me dava um lindo sorriso acanhado — Acho que nunca chorei assim na frente de ninguém!
— Então esse é um privilégio meu! Mas não quero que você chore assim nunca mais!
— Obrigada, por... por tornar a conversa mais leve.
— Agora que você se acalmou, me conta. – Ela afirmou com a cabeça e começou a falar.
Eu fiquei muito aborrecido com tudo o que ela me contava. Quanto mais ela falava, mas eu tinha raiva daquela mulher. Dona Lavínia não vale o pão que o diabo amassou. Eu fiquei sim com dó da Alicia, mas não podia deixar transparecer. Ela se fecharia novamente. Ainda não acredito que a própria mãe, a culpa pelo pai ter ido embora depois de tanta safadeza que ele fez. Eu sou contra qualquer tipo de traição. Seja entre irmãos, amigos ou a pessoa que você está junto. E se um dia eu fizer isso, pode procurar saber o quão bêbado eu estava. Vai contra tudo que aprendi.
Ela me contou que no dia em que a gente se beijou pela primeira vez, o pai dela ressurgiu das cinzas. Ela não conseguiu nem aproveitar as lembranças do nosso beijo.
Palavras dela, não minhas!
É sério que ele deu um cheque pra ela e pensou que ela iria o aceitar de volta em sua vida? É muita cara de pau do ser humano! Se fosse comigo eu tinha mandado enfiar o cheque no meio do cu e nunca mais olhava na cara dele.
Além de uma mãe horrível, ela cresceu sem o pai. Não tem irmãos, sua família é distante, os avós ou os tios não suportam a mãe dela e todos a deixaram com ela, sofrendo calada.
— Ali, você sabe que nada disso é culpa sua, né? O que eles fazem é um problema de caráter deles. Você pode até ter vindo deles, mas sua essência é totalmente diferente.
— Suas palavras são bonitas Jhonan, e eu queria muito acreditar nelas. Mas é difícil acreditar no contrário daquilo que você ouviu a vida inteira e presenciou também. E sim, eu sei que não é culpa minha.
— Então não se cobre tanto em relação ao seu pai. Se um dia você quiser e estiver pronta pra isso, vai conseguir perdoá-lo. Esperar,a gente sabe que ele consegue. Esperou esse tempo todo para te procurar, então mais um pouco não vai ser tão difícil!
— Agora você entende por que não podemos ficar juntos?
— Eu entendo seu ponto de vista, mas não concordo!
— Jhonan!
— Não adianta me xingar e nem me bater. A verdade é que você, querendo ou não, se culpa por tudo que aconteceu e se priva de fazer aquilo que mais tem vontade. Eu entendo que você tenha que cumprir ordens desnecessárias e horários que não fazem sentido que a sua mãe impõe. Mas isso não impede que eu venha te ver ou que você passe um tempo comigo. Você tirou o seu direito de ser feliz Ali. E você merece a felicidade.
— Você não tem jeito né.
— Meu único jeito é você!
— Só não quero atrapalhar sua vida Jhonan. Tudo na sua vida parece muito bem encaixado e no lugar, não quero ser um peso pra você. Por isso fugi. Jamais me perdoaria se ficasse no seu caminho. – Ela abaixou a cabeça e mexia na bainha do short que era desfiada. — E você deveria estudar psicologia em vez de direito. – Ela sorriu tão perfeitamente
— Não sou bom em psicologia. Sou bom em argumentar. Por isso serei advogado. – Nós dois rimos com a minha resposta. — Gosto de te ver assim, com um sorriso estampado no rosto! – Acariciei seu rosto
— Eu gosto quando ele é de verdade. Exatamente como agora. Obrigada por me ouvir. Agora acho melhor eu entrar. Já está tarde e amanhã tenho aula e você também!
— Tudo bem. Mas só vou embora depois que você me prometer que vai pensar na gente. Pensar em ser minha namorada.
— Não vou prometer. Mas será inevitável não pensar em você.
Nós levantamos da calçada onde estávamos e depois que ela tirou toda a poeira branca que ela achava que tinha em seu short jeans, a puxei para um abraço apertado.
— Quero um beijo de boa noite. - sussurrei em seu ouvido.
— Agora você pede? Achei que saia dan...
A beijei antes que ela terminasse a frase e foi como se fosse a primeira vez, porém era melhor. Ela se entregou a mim naquele beijo, nada a impedia mais. E eu juro por Deus que se estivéssemos longe de olhares curiosos ela seria minha por inteiro.
Agora sim tenho expectativas para algo maior!
Terminei nosso beijo mordendo e puxando levemente seu lábio inferior.
— Pensa na gente, por favor! - Eu implorei mais uma vez.
— Eu vou sim! Agora me deixa entrar. Tenho que enfrentar a fera.
— Qualquer coisa me liga e venho te buscar. Ok?
— Tudo bem. – Ganhei um beijo na bochecha e ela se foi.
Voltei para o carro me sentindo bem e muito confiante. Só espero que dona Lavínia não exploda com ela antes de ouvir o que realmente aconteceu. Ouvir tudo que ela enfrentou sozinha esse tempo todo mexeu comigo e sinto que preciso estar ao seu lado para enfrentar o pior.
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🦋Contem 1308 palavras.🦋
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