Capítulo 08🦋
Saber sobre a doença do meu velho foi um baque que tomei sem esperar. Por mais que ele já estivesse debilitado eu não esperava que fosse uma coisa irreversível. Sinto uma dor no peito só de pensar. De todas as coisas que poderiam acontecer, essa sem dúvida nenhuma é a pior que tenho que enfrentar.
Hoje estou aqui no hospital a pedido de meu pai, passarei a noite com ele para poupar um pouco minha mãe, que já não dorme bem desde que ele ficou internado aqui.
Felizmente a dor forte no estômago que ele teve agora pouco, diminuiu com os remédios e ele está descansando agora. Ele é mais forte do que imagina, e mesmo que me digam o contrário, eu vou acreditar na sua melhora até o último momento, afinal essa é uma das lições que ele me ensinou na vida. Acreditar, mesmo que ninguém mais consiga!
Conversar com a Ali sobre ele, me deixou mais aliviado. Eu precisava desabafar com alguém que realmente fosse me ouvir, e meus amigos, por mais bons amigos que sejam, não me confortariam como ela. E tenho que confessar, nunca estive tão confuso com alguém como estou com ela. Há sentimentos entre nós que não conseguimos expressar em palavras e nosso corpo transforma em desejo e é perceptível no toque dos nossos lábios. Eu só quero que ela perceba que eu sinto o mesmo que ela e que possamos ultrapassar qualquer barreira que ela tenha levantado.
Agora, por mais que eu queira descansar um pouco, minha mente vai até seus beijos o tempo todo. E também tem minha mãe, que me liga de 5 em 5 minutos. Enfim desliguei o telefone, pois se continuar assim, ela não descansa e eu também não.
Passo a madrugada toda entre cochilos e espiadas no quarto, para me certificar que ele está bem. Apesar de ter vomitado algumas vezes, ele conseguiu descansar mais. Sentado aqui na recepção, para pegar um ar fresco, mais uma vez me pego sorrindo pensando na minha morena. Eu estou ficando meio obcecado já. Rogério, meu brother das antigas, vive pegando no meu pé por causa da Ali. Ele me chama de hipócrita agora, pois no ano passado, ele quis convidar minha irmãzinha para um encontro. Óbvio que não permiti, a idade deles era diferente e ela era bem mais nova. Tá, nem tanto assim.
E eu sei, Juliana e Alícia têm a mesma idade. Eu sei!
Mas sei lá, ela é minha irmãzinha e não gostei da ideia dele com ela. Eu conheço meu amigo e seus pensamentos impuros, somos parecidos nisso. E eu só fiz meu papel de irmão mais velho! Não me julgue. E agora ele pega no meu pé todos os dias por causa disso, mas pra ser sincero, eu não ligo nem um pouco, desde que ela sorria para mim todas as vezes.
Apesar dessa vontade de estar com ela e o desejo de que ela queira ser minha, eu tenho receio por causa da faculdade. Estou terminando o ensino médio e me preparando para fazer os vestibulares e o Enem. Se eu passar para uma faculdade federal, com certeza ficarei em São José, fora isso, irei para São Gonçalo no RJ, estudar lá. Não meu amado leitor, eu não sei dizer o porquê de eu ter escolhido São Gonçalo. Eu fui naquela cidade uma única vez com minha família em umas férias de verão, e desde então eu coloquei na cabeça que queria estudar lá!
Meus pais, como sempre maravilhosos, me apoiam. E dizem que eu tenho que viver o meu sonho. Não importa o que eu escolha se for meu sonho eles vão me apoiar. Isso sempre me deu coragem para conquistar tudo que eu achasse que valia meu tempo.
Mas eu admito, estou muito confuso. Primeiro tem a doença do meu pai, enquanto ele estiver assim, eu não poderei ir. Como eles vão ficar sem a minha ajuda e minha mãe tendo que cuidar dele sem poder trabalhar? Juliana vai fazer o segundo ano do ensino médio, ano que vem, é um dos anos mais puxados, então ela não vai ter tempo pra fazer tudo. Eu vou ter que ficar com eles.
E assim passo a madrugada. Pensando em todas as possibilidades.
O dia começou a amanhecer e minha mãe apareceu renovada, com uma energia inexplicável e muito bem arrumada. Acho incrível que ela ainda se preocupe em fazer essas pequenas coisas para agradar a ele. Eu acho muito bonito esse amor deles, acredito nunca ter visto algo parecido e provavelmente nem exista mais.
Ela chegou, me cumprimentou e disse que ficaria com o carro, pois buscaria a Ju e depois iria buscar meus tios para visitarem papai. E me mandou ir pra casa logo descansar.
Fui direto pra casa e assim que cheguei, mantive as cortinas do meu quarto fechadas e me joguei na cama, dormindo com o barulho do ventilador ligado.
Acordei com o celular despertando e praticamente sem bateria. Hoje será mais um dia longo. Levantei, tomei um banho morno e desci para comer alguma coisa. Fiz um omelete e comi junto com pão de sal que minha mãe comprou cedo. Meu horário de entrar no trabalho é às uma e meia da tarde. Como tenho que ir de ônibus, saio uma hora mais cedo para não chegar atrasado.
Assim que chego na empresa, vejo que o senhor André viajou às pressas. A empresa está uma loucura sem dar nenhum aviso. Aliás, o único aviso que ele deu é de que meu contrato termina junto com o ano. Em Janeiro já não terei mais esse trabalho. Fiquei desanimado, mas é menos uma coisa que me fará pensar escolher por estudar por aqui.
Ao fim do expediente, fui direto para o hospital e encontrei meus tios conversando com a Ju e chorando um pouco. Já fiquei chateado com aquilo, pois não quero que meu pai pare de lutar vendo todos chorando por causa dele. Respirei fundo e fui de encontro a eles para cumprimenta-los. Tia Jana não consegue se segurar e me aperta todo, por fim pergunta das "namoradinhas" como sempre. Desvio do assunto e saio indo até meu papai.
— Oi pai! Como passou o dia hoje? – perguntei entrando no quarto indo em sua direção.
— Oi, meu filho! Vem cá e me dê um abraço. – Me aproximei mais e dei um beijo em sua testa seguido do abraço. Me sentei aos pés da cama. — Passei o dia bem, mas me senti muito cansado.
— E agora chegou a família buscapé toda e não te deixaram descansar né? Vou expulsar todo mundo! – Fiz ele sorrir e ganhei o dia por isso.
— Não meu filho, deixa eles. Eu gosto dessa confusão e me alegra tê-los aqui por perto. – Assenti com a cabeça — Agora me conta sobre você, como está indo na escola e no trabalho?
— Ah pai, está tudo bem. Daqui umas semanas teremos o Enem, mas eu tenho estudado para conseguir uma boa nota. E no trabalho é bem maneiro. Mas meio que cansa a cabeça mexer com tanta papelada de processos bobos.
— Mas você ainda gosta da área? Continua querendo estudar direito?
— Sim, não me vejo fazendo outra coisa da vida.
— Que bom Jhonan, isso me deixa muito feliz por você!
— Sobre o que meus garotos estão conversando? – Dona Cintia, ou minha mãe, entra no quarto perguntando e se senta aos pés da cama, assim como eu.
— Só trabalho e escola mãe! – Disse, depositando beijos nas costas de suas mãos.
— Nada demais borboleta. Cadê a Juliana?
— Está lá fora com a Janaína. Ela continua arrasada, pois Juan foi embora para Portugal sem se despedir. – Estranhei o que ela disse e antes que pudesse perguntar alguma coisa meu pai se pronunciou.
— Não acredito que me enganei tanto com esse rapaz! Ele me parecia ser uma pessoa certa, de coração bom.
— É que vocês tem a mania de enxergar só o lado bom das pessoas. – eu disse a eles. — Ele mostrou que não passa de um completo idiota. Não o defenda! – Apontei o dedo para os dois.
— Mesmo assim, ainda acho que tem algo que não está bem contado.
— Pai, não o defenda! Ele foi um imbecil. Agora deixe eu ir falar com a Ju. Eu não sabia o que estava acontecendo. – Me levantei enquanto falava e fui saindo depois de beijar o rosto do meu pai.
— Cuidado com as palavras Jhonatan! Sua irmã está muito magoada. – Dona Cintia gritou assim que passei pela porta.
Fui até a recepção, mas não a encontrei. Achei ela, Alicia e mais um garoto perto do chafariz. Uma pontada de ciúmes me tomou, pois não conhecia a pessoa que acompanhava a Ali. Minha Ali.
— Ju? Como você está? Acabei de saber o que rolou com o Juan
— To mal irmãozinho! Mas o pior foi na escola. Nunca me senti tão envergonhada.
— Fica assim não. Ele é um idiota e se estivesse aqui eu acabava com ele. – Me virei para Ali que estava quieta me observando e o cara junto dela também. — Oi Ali! – A abracei e dei um beijo na bochecha dela. Que se dane se estão juntos.
— Oi Jhonan, como está seu pai? – Ela perguntou enquanto eu a abraçava.
Ela estava linda, com seus cachos soltos, um short jeans, tênis all star preto e branco e uma camisa curta rosinha que deixava sua barriguinha à mostra. Senti seu perfume cítrico enquanto a abraçava e me senti hipnotizado.
— Meu pai disse que está um pouco cansado, mas se sente melhor do que ontem.
— Que bom, fico feliz com isso! – Ela respondeu sorrindo pra mim.
— Jhonan, esse é o Diego. Acho que vocês já devem ter se esbarrado no colégio. – Juliana me apresentou a ele.
— Ah sim! E aí cara! – Eu disse me sentindo envergonhado por estar com ciúmes da Ali. — Acho que já nos vimos sim, no colégio. – Tentei desfarçar.
— E aí! – Ele respondeu me cumprimentando de volta, apertando nossas mãos e encostando os nossos ombros. — Sinto muito pelo pai de vocês! – Ele completou.
— Obrigado. Mas o importante mesmo é que ele está vivo.
Continuamos conversando e logo meus tios apareceram. Tinha esquecido completamente deles. Alícia me desconcentra! Minha mãe apareceu pedindo que eu levasse meus tios e a Ju pra casa pois amanhã eles viriam de manhã para o hospital, já que passarão o fim de semana com a gente. Tio Isaque e Tia Jana são umas figuras e eu os amo.
Juliana avisou que iria com o Diego de moto e que era pra eu levar a Ali pra casa. Deixei meus tios na nossa casa e de lá fui levar a Ali. O silêncio entre nós era incômodo demais. Eu apertava o volante do carro com as duas mãos, esfregava as mãos nas pernas mas nada, nem uma palavra. Espiei com o canto dos olhos e vi que ela estava nervosa pois suas pernas balançavam rápido demais e mexia no celular muito inquieta.
— Alícia, por que está nervosa? – Perguntei para sanar minha curiosidade.
— É minha mãe! – Ela tentou hesitar, fechou os olhos e pressionou os lábios, mas prosseguiu — Ela quer saber o por que de eu ter ido com um garoto de moto para o hospital e está me esperando em casa.
— Que garoto? – Nem disfarcei meu ciúme e nervosismo.
— O Diego, horas! Quem mais seria?
— Mas como ela sabe se não estava lá? E vocês, vocês estão juntos? – Depois que perguntei, vi quão estúpida era minha pergunta.
— Lógico que não, Jhonatan! Quanta besteira. – Ela riu e fiquei mais sem graça ainda. — Minha mãe sabe, pois tem uma amiga que trabalha na enfermaria lá. Ela deve ter me visto chegando com o Di e contou pra minha mãe.
— Mas por que está tão nervosa? Vocês não fizeram nada demais.
— Eu sei! Mas dona Lavínia não vai querer saber das minhas explicações.
— É sua mãe Ali. Claro que ela vai te ouvir. – Alícia fechou seu semblante e percebi ter falado algo que não deveria dizer. — Hey! Quer conversar?
— Não, tá... tá tudo bem. Só vamos logo.
Houve outro silêncio entre nós. Mais uma vez estava nervoso querendo falar mil coisas entaladas na garganta sem saber por onde começar. Olhei rapidamente e vi ela morder o canto interno da bochecha, fazendo seus lábios formarem um biquinho muito fofo. Eu sorri olhando pra frente.
— O que foi? Ta rindo por que?
— Nada ué! – Sorri maliciosamente sem perceber — Você faz biquinho pra morder a bochecha. É fofo!
— Para garoto! – ganhei um tapa no ombro — Eu estou nervosa para um caramba e você rindo de mim.
— Desculpa, foi inevitável. E eu não estava rindo de você e sim para você. – Parei o carro na esquina da rua da casa dela — Agora é sério. Me conta o que tá acontecendo pra você ficar nervosa desse jeito. Nunca te vi assim.
— Eu já te falei Jhonatan. Existem coisas que não posso contar ainda. Não estou pronta para falar abertamente de mim assim.
— Mas tenta pelo menos. Não precisa contar tudo. Conta o que você conseguir, divide esse peso dos seus ombros comigo. Eu posso ajudar, sabia?
— Infelizmente, ninguém pode me ajudar, Jhonan!
— Se você permitir, eu posso sim.
— Não. Mesmo que eu falasse, você não entenderia. – Ela foi rápida ao abrir a porta do carro e saiu em direção a casa dela. Dei um tapa no volante, com a minha chatiação e sai do carro indo atrás dela rapidamente.
— Você precisa parar de me fazer correr atrás de você desse jeito. – Falei ofegante. — Estou ficando cansado.
— Veio porque quis. – e ela continuou andando.
— Alícia! – Gritei seu nome, parado — Por favor! – Gritei outra vez — Alícia! Fala comigo, por favor! – Agora ela parou e virou pra mim.
— Jhonatan eu não posso. Eu não consigo. - Notei ela engolir suas palavras que prendia sua voz entalada na garganta. Me aproximei enquanto ela estava parada. — Você acha que eu não queria compartilhar as coisas com você, como você fez comigo ontem? Eu queria conseguir isso! Tudo que eu queria era ficar bem comigo mesma e aceitar todo esse sentimento que sentimos um pelo outro.
— Você também sente o mesmo? – Perguntei apreensivo.
— Você sabe que sim. Mas as coisas não são tão fáceis assim!
— Mas não acha que é você que está complicando muito as coisas?
— Queria que fosse eu. Pelo menos assim meus argumentos já teriam acabado.
— Eu quero entender Alícia! Quero entender por que você nega tanto o que está acontecendo com a gente. Eu não faço mais nada sem pensar em você, no sabor da sua boca, no perfume do seu cabelo, no jeito que me olha quando eu me aproximo de você, no sorriso que me dá quando digo que está linda. E na maioria das vezes tudo que eu quero é te agarrar e te levar pro meu quarto!
— Jhonan! – Ela me olha com seus olhos castanhos arregalados e eu percebo que falei demais
— Desculpa! Não consegui controlar as palavras. – Sorri envergonhado e coloquei as mãos nos bolsos da calça.
— Tudo que eu quero é ficar com você! Eu nunca escondi isso de ninguém Jhonan, nem de você. Mas existem duas linhas que levam a dois caminhos. A linha do querer, e eu ficaria com você sem pensar em nada, só que ela é curta demais pra mim e a linha do poder que está bem longe da do querer.
— Pois eu só vou desistir de te procurar quando me contar o que te impede. Fora isso, não vou desistir! A única coisa que peço é que seja honesta comigo Ali – olhei em seus olhos e ficamos em um silêncio
Esperei até que ela falasse.
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🦋Contem 2595 palavras.🦋
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