Capítulo 03🦋
Alicia Parker…
Oi, sou Alícia Parker, mas pode me chamar só de Ali. Que bom poder contar minha história para vocês.
Bom, eu sempre fui uma pessoa alegre e divertida por natureza.
Quando criança, minha casa vivia cheia de pessoas e sempre tinha um pagodinho ao vivo rolando no quintal da minha casa. Meus pais eram muito felizes e as coisas estavam sempre tranquilas.
Minha mãe era uma mulher muito alegre e receptiva. Não trabalhava apesar de ter especialização em enfermagem. Estava sempre bem arrumada e preparando petiscos para os rapazes da banda de pagode que meu pai tinha. Nossa casa era sempre muito movimentada.
Mas como a vida é cheia de surpresas, no dia do meu aniversário de 07 aninhos, eu tive a maior surpresa de todas.
Todos os anos, no dia do meu aniversário, eu era acordada pelos meus pais que levavam meu café da manhã favorito na cama. Pão de queijo, chocolate quente com marshmallows, um misto quente e pêssegos em calda. Eu amava e só no meu aniversário eu podia comer o que quisesse. Era o ritual de aniversário.
Porém, a partir do aniversário de sete anos as coisas mudaram. Eu acordei e fiquei esperando meu quarto ser invadido por eles ou pelo cheiro do chocolate com marshmallows que sempre chegava primeiro. Ou até mesmo o som do cavaquinho que meu pai tocava pra mim com o parabéns. Eu esperei. Esperei tanto que cansei.
Me levantei da cama e fui ver o que estava acontecendo. Não era possível que eles tinham esquecido o meu dia.
Eu sei, eu era muito mimada.
Abri a porta que estava apenas encostada e corri em direção a escada que dava direto na porta principal da nossa casa. Meus olhos recaíram direto nas mãos de papai que carregava duas malas. Eu não tive reação na hora, fiquei espantada com a cena dele saindo de casa e minha mãe chorando e sussurrando algumas palavras para ele, que da distância que eu estava era impossível de se ouvir. Ele foi embora.
Quando dei por mim, estava descendo a escada e correndo em direção a porta gritando pelo meu pai. Era tarde demais e ele já tinha ido. Minha mãe veio atrás de mim e não recebi o carinho que esperava para o meu dia. Ela puxou-me pela mão e mandou que fosse para meu quarto e parasse de chamar por ele. Ela passou o dia trancada no quarto dela.
Ao fim da tarde eu já tinha chorado bastante, acredito que chorei pra vida toda aquele dia. Minha mãe saiu do quarto, me deu banho e arrumou meu cabelo em duas tranças. Mas não me disse uma palavra. A campainha tocou assim que ela colocou a última xuxinha no meu cabelo.
Era Tia Cíntia e Juliana, minha única amiga, que chegaram com um pequeno bolo nas mãos para mim. A Ju me entregou uma pulseira e disse que era o símbolo da nossa amizade. Era cheia de pingentes de coração, uma chave, e duas borboletas.
Nunca entendi o fascínio da família deles por borboletas.
Eu a abracei e agradeci por ter se lembrado de mim. Ali nossa amizade se fortaleceu e nos tornamos inseparáveis.
Eu nunca mais vi meu pai e conforme eu crescia, descobri que ele traia minha mãe com várias mulheres. Todas as vezes que ele sai com a banda para alguma apresentação ele se envolvia com uma mulher por lá. Minha mãe, ou a dona Lavínia, se tornou uma mulher rancorosa e amargurada e agora só vive para o trabalho.
Uns meses depois do ocorrido ela conseguiu um emprego em um dos postos de saúde particulares, que funciona 24hrs, que temos aqui na cidade. Agora que sou maior e consigo cuidar da casa, ela fica praticamente fora de casa o dia todo. Ela trabalha todos os plantões que pode e muitas vezes os que não pode também. Se por acaso ela chegar em casa e eu não estiver ou se algo estiver fora do lugar ou não estiver do agrado dela, eu apanho até que a raiva dele passe.
O problema é que a raiva dela nunca passa. Nunca!
E por isso, eu faço tudo pra que ela nem precise dirigir a palavra a mim.
Eu já me acostumei a ficar a maior parte do tempo sozinha. Vou pra escola pela manhã, chego e faço meu almoço, arrumo o que tem pra arrumar, eu tomo meu banho e me tranco no quarto. É meu refúgio ali dentro. Ouço música e na maioria das vezes é Taylor Swift ou MPB, e sempre faço meus desenhos que um dia serão a minha coleção de roupas desfiladas no São Paulo Fashion Week!
Esse eu diria, é o meu maior sonho.
Desde pequena eu mesma fazia as roupinhas das minhas bonecas e as da Juliana também. Minha mãe ficava louca toda vez que sumiam toalhinhas de mão, ou fronhas de travesseiro apareciam misteriosamente com cortes retangulares.
É assim que passo a maioria dos meus dias. Alguns eu vou a casa da Ju. Particularmente, cá entre nós, minha motivação não é mais só a Ju, mas o irmão dela, Jhonatan, tem sido um motivo bastante importante para me fazer ir até a casa dela. Jhonatan despertou em mim sentimentos confusos e fortes, admito, mas como ele nunca me viu como nada além da melhor amiga da irmã dele, eu nunca me iludi com a possibilidade de sermos um casal.
Jhonatan é um cara especial, eu vejo isso. Mas ele também é aquele mocinho das histórias que sempre tem alguém com ele. Nunca você vai o ver solteiro. Está com uma menina nova todo mês praticamente. Eu continuo brincando com ele e fazendo minhas piadinhas. Mas esse é meu jeitinho. Não perco a oportunidade de ficar com alguém que acho interessante, mesmo que eu tenha que dar o primeiro passo.
Mas não me julgue mal caro leitor, não saio por ai beijando qualquer um que acho bonito, gosto de ser beijada seriamente. Mas nada de melação pro meu lado. Não gosto de um romantismo excessivo. Para mim um relacionamento tem que ter equilíbrio. 50% romance e 50% razão.
Por que eu digo isso?
Simples, o relacionamento dos meus pais é a prova viva de que muito romantismo não funciona. Não culpando minha mãe por isso, mas acredito que se ela parasse para pensar em pelo menos algumas atitudes do meu pai ela veria que tinha algo estranho e teria evitado muita coisa.
Meu pai era aquele cara romântico excessivo, e hoje sabemos que ele fazia o que fazia para esconder as traições dele que eram constantes.
Ele colocava a minha mãe no topo e fazia ela se sentir a única entre milhares para ele, e ela só conseguia enxergar o próprio umbigo que estava sendo constantemente bajulado. Nunca houve nem 10% de razão naquele relacionamento. E é por isso que eu corro de qualquer tipo de melação.
Hoje fui surpreendida com a reação do Jhonan, em relação as minhas brincadeiras. Ele riu, ele conversou, ele puxou assunto e se ofereceu para me trazer. Nem sei se foi impressão minha, ou a minha leve emoção por estar um pouco apaixonada por ele, mas acho que ele ia me beijar se não fosse a salvação do celular tocar na hora.
Ei! Não ria. Estou dizendo a verdade, é uma paixonite apenas pelo irmão da minha melhor amiga. Eu sei, muito clichê!
Enfim, eu até posso estar sentindo isso, mas acredito muito em sinais e o telefone ter tocado impedindo o beijo foi um sinal dos grandes. Não era pra rolar.
Assim que eu entrei em casa minha mãe veio tirar satisfação comigo sobre a pessoa que veio me trazer, e como sempre me ofendeu com nomes que eu não devo citar aqui. Quando disse que era o Jhonatan ela torceu um pouco o nariz pontudo dela mas disse que tudo bem. Ela sempre gostou muito do Jhonan, sem nenhum motivo aparente. E só por isso eu não levei uma surra.
Fiz minhas tarefas que estavam um pouco atrasadas e me tranquei no quarto como de costume. Minha mãe bateu na porta e me chamou para irmos ao mercado juntas pois tinha muita coisa para trazer e ela sozinha não ia conseguir.
Eram quase nove e meia da noite quando saímos do mercado com algumas sacolas na mão. Parada em frente ao ponto de ônibus vi o carro do Jhonan passar. Mas ele não estava sozinho. Helena, que estuda com ele, estava no banco do passageiro, aquele mesmo banco que me deixou em casa algumas horas atrás. Me apertou o coração mas fingi que não era nada pra minha mãe não perceber minha chateação.
Ele tinha tentado me dar um beijo há poucas horas atrás e agora estava saindo com outra pessoa.
Ele realmente não perde tempo!
Minha mãe trouxe um lanche do McDonald’s e fomos para casa. Assim que acabei de guardar as compras sentei para comer, minha mãe já tinha ido para o quarto. Peguei o celular e fiquei fuchicando as redes sociais enquanto comia. Apareceu logo na terceira postagem do feed do facebook a foto de Helena e Jhonatan. Ela o beijava no rosto e ele sorria. Apenas comentei “Lindos!”
Confesso que comentei pensando mais nele do que nela. Ele é extremamente bonito e seu sorriso faz eu me perder completamente. É até perigoso como uma curva sinuosa em uma pista nos dias chuvosos. Eu me perco na curva dele toda vez. Por isso não posso me iludir com ele, seja lá o que tenha acontecido com a gente hoje, não significou nada pra ele e provavelmente eu imaginei tudo.
Subi para o meu quarto, tranquei a porta e troquei de roupa me jogando na cama para ir dormir. Peguei meu caderninho de desenhos e folheei olhando aqueles que poderia melhorar. Uma batida na porta do meu quarto forte me tirou dos meus pensamentos:
— Alícia! – Era minha mãe — Alícia! – Ela insistiu, deve ser importante.
— Oi mãe! – Na hora que respondi meu telefone tocou alto dentro do quarto. Merda! Por que não deixei silenciado?
— Quem tá te ligando uma hora dessas Alícia? Abre essa porta!
— Não sei quem é mãe. É mensagem, não é ligação.
— Não me interessa. Não quero você de conversa fiada com ninguém uma hora dessa!
— Não estou conversando mãe! – Abri a porta — O que a Senhora precisa mãe!
— Você não lavou o banheiro hoje e quero que vá lavar agora!
— Mas mãe já passou de meia noite!
— Não ligo, vai agora. Eu vou dormir pois amanhã saio cedo – Ela saiu do meu quarto do mesmo jeito que entrou, rapidamente — Se não tivesse passado o dia fora, teria feito na hora certa – gritou do corredor
— Já estou indo!
Peguei meu telefone. Eu realmente não sabia quem era, mas devido a mensagem que estava escrita e a foto que aparecia, percebi ser o Jhonan. Deixei o número dele salvo e enviei uma mensagem. Respondi o Jhonan rapidamente deixando ele com uma pulga atrás da orelha.
Levei meu telefone comigo para o banheiro. Há a possibilidade de minha mãe vir tentar mexer nele e descobrir quem estava me enviando mensagens essa hora da noite. e se por acaso ela vê que é o Jhonan, acabou idas até a casa da minha amiga.
E por falar na Ju, ela e Juan enfim se acertaram. Ele se declarou pra ela e agora aparentemente estão juntos. Eu achei lindo, pois foram feitos um para o outro!
Espero não me arrepender de dizer isso depois.
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🦋 Contem 1915 palavras.🦋
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Essa é a Alícia. Mas você pode imagina-la como preferir!🦋
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