Capítulo 01🦋

10 anos depois...

— Jhonatan! Jhonatan! — Esta é minha irmã anunciando sua chegada da escola. Todos os dias são assim, pura gritaria.

Desci as escadas em galopes para ser mais rápido e fui direto para a cozinha. Uma das minhas tarefas do dia é cuidar do almoço para mim e para Ju. Eu faço a comida e ela arruma a cozinha. Cozinhar é um dos hobbies que mais gosto, então eu não ligo de fazer, e sem querer me gabar por isso, eu mando muito bem no comando do fogão. Puxei todo o talento da Dona Cíntia, minha mãe!

Aos primeiros passos na cozinha, eu vi a Ali, sentada perto da bancada mexendo no telefone e sorrindo. Sim, é a mesma Ali que me fez cair do escorregador. Sorri involuntariamente.

Alícia é uma morena muito linda, mas nunca tive coragem de demonstrar interesse, exatamente por ela ser amiga da minha irmã. Mas desde uns meses pra cá, ela vem flertando comigo e sempre me deixa encabulado. Alicia é muito madura para a idade que tem, às vezes parece que é mais velha que minha irmã, e elas têm a mesma idade! Eu sempre soube que ela nutria sentimentos por mim, e mesmo que ela mexesse comigo nunca dei bola para o que sentia.

— Oi Alícia! – Cumprimentei-a assim que me aproximei — Cadê a Ju?

— Oi, gato! Ela foi ao banheiro, eu acho – Sorri com o “Oi Gato!” e balancei a cabeça em negação.

Não sou muito de falar e apenas segui até o fogão para preparar o almoço. Minha mãe já tinha deixado arroz e feijão prontos. Meu trabalho era preparar bife e salada. Liguei o fogo do arroz e do feijão e comecei a amassar o alho para temperar o bife. Sentia a Ali me observando e de vez em quando meus olhos iam até os dela. Ela soltou um longo suspiro e se levantou vindo em minha direção!

— Precisando de ajuda, Jhonatan? – Ela perguntou se aproximando. O sopro de sua voz alcançou minha pela e fez meu corpo se arrepiar.

— Não Ali. Só vou temperar o bife aqui rapidinho e cortar a salada. Tá com fome?

— Sempre! – Ela sorriu e eu senti um frio na barriga. Uma sensação de necessidade daquele sorriso me dominou.

— Já que tá aí olhando mesmo, lave o alface aqui pra mim por favor!

— Ok! – Ela se virou para a pia e começou a lavar a salada. — Você sempre cozinha Jhonan?

— De segunda a sábado o almoço é por minha conta! Eu gosto de fazer e sou muito bom nisso

— Acho que essa conclusão eu terei que chegar por minha própria conta!

— Tudo bem, então Senhorita! Chega aqui que te mostro! – Cortei um pedacinho da carne que já estava frita, espetei com garfo e coloquei na boca dela — E aí? O que achou?

— Nossa! – Sua fala saiu abafada pois ainda mastigava —  Realmente, você herdou o dom da sua mãe! Que delícia!

— Viu, eu te falei! Eu sou bom no que faço!

— Me surpreendeu! Além de gato, cozinha bem! É o combo completo? Sorte a minha! – Um sorriso malicioso sai de seus lábios e me sinto estranho ao retribuir aquele mesmo sorriso.

Continuei fritando os bifes e temperei a salada. Desliguei o fogão, pois já estava tudo pronto. Estávamos em silêncio quando me recostei no balcão e cruzei os braços em frente ao peito e nos encaramos em um silêncio totalmente perturbador!

— Então Alícia! – Eu falei quebrando o silêncio mas minha irmã que supostamente estava no banheiro, veio da varanda até a cozinha como um furacão chamando a Ali.

— Alícia! Você disse que ia no banheiro, não que ia ficar de papo com meu irmão! – Essa é a Ju, o furacão em forma de gritaria.

— Oi pra você também irmãzinha!

— Oi Jhonan, desculpa! É que agora preciso da Ali. E ela já demorou demais! E vai por uma camisa que hoje o tempo não tá tão quente assim não! Bora Ali!

— Calma Ju! Já estava indo!

— Achei que a Ju que estava no banheiro, Alícia.

— Sabe como é né! Eu… me distraí! — Ela respondeu sem nenhum constrangimento aparente, piscou um olho pra mim e saiu atrás da Juliana.
Avisei que o almoço estava pronto e que era pra elas comerem! Eu comi e subi!

Cheguei no quarto e me joguei na cama pra mexer no telefone. Já tinham mensagens da Helena, quando cliquei para responder recebi uma ligação da minha mãe, pedindo que eu buscasse meu pai no trabalho às 17:30hrs. Estranhei mas não questionei. Marquei com a Lena de passar lá depois que deixasse meu pai em casa.

Eu não tenho carteira ainda, mas meu pai me ensinou a dirigir no ano passado. Ele disse que era importante para alguma emergência, caso ele ou a mamãe não pudesse. Parecia que ele sabia exatamente o que estava por vir.

Helena é meu casinho do mês. Não digo que me orgulho disso, mas é aquilo, eu estou no último ano do ensino médio e decidi que esse ano eu daria oportunidade para todas as gatinhas da escola me conhecerem como quisessem. E esse mês, a Lena caiu nas minhas graças e estamos aproveitando o momento.
Esse último ano tem sido bem corrido. Eu tenho estudado muito para cursar direito, todo sábado tenho pré vestibular o dia todo, hoje foi uma exceção só tive aula pela manhã.

Espero as horas passarem, ouvindo música, tocando um pouco de violão, apenas para distrair a cabeça e assim que dá o horário, tomo um banho, coloco uma roupa casual e vou buscar meu pai. Minha decisão em estudar direito veio influenciada pela família Giaccomo!

A família Giaccomo e a minha são bem próximas pois meu pai trabalha na empresa deles e são nossos vizinhos, e ainda minha irmã e o filho deles Juan, são amigos desde pequenos. O Sr André, nos confidenciou que ele é o dono da empresa. As pessoas pensam que ele é apenas o presidente da empresa, mas ele é o dono. Ele disse fazer isso como uma estratégia para conhecer os funcionários fantasmas e os trabalhadores reais. E por causa dessa estratégia ele está sempre viajando e visitando várias cidades do mundo para conhecer as filiais. Em um jantar de família ele então perguntou se eu não teria interesse em cursar direito. Eu disse que nunca havia pensado, pois queria estudar nutrição, mas também era uma coisa bem incerta. Depois daquele jantar eu procurei me informar sobre o curso de direito e me interessei muito pela área e consegui me ver fazendo aquilo quando mais velho.

Passei correndo pelas meninas que conversavam na varanda e fui pro carro, sai rápido para não chegar atrasado lá. Meu pai já me esperava do lado de fora da empresa, encostado em uma parede. Parecia mais amarelo que de costume. Ele disse que estava bem e seguimos conversando normalmente até em casa.

Assim que papai desceu do carro e eu fechei o portão de casa fiquei espiando a Ali que estava se levantando para ir embora e parecia muito brava falando alguma coisa com a Ju. Seu rosto estava sério, mas mesmo assim estava linda, pois toda vez que ela fecha a cara seus lábios formam um biquinho muito fofo.

Ela pegou a mochila e colocou nas costas e apenas disse um tchau bem seco pra Juliana. Alguma merda ela fez, já que a Ali não é de ficar séria assim atoa. Minha mãe chegou nessa mesma hora e assim que me viu parado feito besta olhando pra elas, me deu um "pescotapa" e disse:

— Convida a Alícia pra sair em vez de ficar encarando igual maluco Jhonatan!

— Ai mãe! – Esfreguei a nuca — Não estou encarando igual maluco!

— Ah, por favor, meu filho, está sim! Sou sua mãe e sei muito bem quando tem alguma coisa rolando. Vejo de longe o caminhão que Juan arrasta pela Ju e os olhares que você e Alícia trocam que não é de hoje!

— Ta vendo demais, não acha não?

— Vocês que demoram a aceitar o que tá na cara de vocês!

Enquanto minha mãe falava, vi Ali se aproximar do portão e fiquei encarando descaradamente aquela linda morena vindo em nossa direção. Quando me dei conta de que estava encarando fiquei sem graça e abaixei o olhar e coloquei uma mão no bolso e outra na nuca para tentar disfarçar.

— Oi tia Cíntia! – Ali disse! — Oi e tchau, já estou de saída! Daqui a pouco minha mãe chega e preciso estar em casa.

— Ah, tudo bem minha filha! Amanhã você vem almoçar com a gente? – Minha mãe pergunta a abraçando.

— Não tia. Amanhã é um dos raros dias que minha mãe tem folga e ficarei em casa. Deixa pra próxima!

— Então ok! Deixa pra próxima. Você é sempre bem vinda e sabe disso, já faz parte da família não é Jhonan?

— Hum? Claro mãe, com certeza!

Mais uma vez fiquei envergonhado. Não sei o que me deu. Meus olhos não desgrudaram dos da Ali e me sentia hipnotizado pelos olhos jabuticabas dela. Minha mãe falou algo que não prestei a menor atenção. Senti minhas mãos suarem e meu coração dar uma leve acelerada. Parecia que eu estava em um jogo de corrida de carro no vídeo game. As curvas que vinham na corrida me faziam sentir exatamente isso, a curva do sorriso dela também. Ela desviou o olhar primeiro e colocou um dos cachos que estavam rebeldes atrás da orelha.

— É, hum! Já vou indo então. Tchau Jhonan!

— Não, espera – Fui tomado por um fôlego repentino e consegui dizer — Eu levo você! Pode Ser?

— Imagina, não quero incomodar. Tu deve estar cheio de coisas pra fazer…

— Eu faço questão Ali. Já está tarde não é legal tu andar sozinha. E além do mais, você nunca incomoda!

Deixei que ela passa-se primeiro e abri a porta do carro para ela. Olhei para casa vizinha e notei Juan observando a gente e aparentava estar ansioso, acenei e ele retribuiu. Alícia entrou e eu fechei a porta. Corri para o lado do motorista, coloquei o cinto de segurança e dei partida. Eu não sabia explicar a euforia que tomava conta de mim, e eu queria ficar ao lado dela o máximo que conseguisse.

— Obrigada Jhonan! Eu realmente não estava afim de ir andando e muito menos de ir de ônibus. – Sua risada escapou ao falar. Sorri junto.

— Era o mínimo que eu podia fazer. Minha mãe me ensinou a ser um bom cavalheiro. – Dei um sorriso de canto e pisquei um olho pra ela,  que a fez sorrir de volta — E não me custa nada!

Ficamos em silêncio por um tempo. Eu não sabia o que dizer e ela parecia muito pensativa. Resolvi puxar assunto pra tentar quebrar o gelo.

— Já tem idéia do que quer cursar na faculdade, Ali?

— Ainda estou bem na dúvida. Dividida entre Moda e Marketing.

— Nossa, bem diferente. Mas você ainda está melhor que a Juliana que não faz idéia do que quer. Mas também é tranquilo, vocês ainda tem mais dois anos quase.

— Sim, por isso estou bem tranquila em relação a isso. Idéia eu tenho, só não decidi ainda. O importante é manter as notas.

— Tem razão!

O assunto morreu, tão rapidamente quanto tinha começado. Me concentrei na pista pois estava chegando em um cruzamento bem complicado. Alícia encarava a janela e parecia tão incomodada com o silêncio quanto eu. Liguei o rádio na estação 103.5 que é a que funciona aqui na cidade e começou a tocar “Girls Like You” do Maroon 5. Ao fim da música, no seu último refrão, Ali cantou junto e eu entrei no embalo. A música acabou e chegamos ao destino. Parei a poucos metros da entrada da casa dela, pois não havia vaga pra estacionar em frente.

— Enfim chegamos! – Eu disse esfregando as palmas das minhas mãos em minhas pernas.

— Obrigada mesmo Jhonan! Deixa eu ir antes que minha mãe apareça aqui e me leve pelos cabelos. Se fosse qualquer outro garoto me trazendo em casa ela ia surtar. Você sabe como é a fera – Nós dois sorrimos.

— Eu sei. Sua mãe é uma figura. Uma vez ela me pediu que ficasse de olho em você na escola.

— Aí meu Deus! Eu não acredito Jhonan! – Ali se espantou com a minha fala e parecia estar mais tensa do que antes — Minha mãe é louca, só pode! Ai que vergonha! – Ela abriu a porta de repente e realmente parecia chateada com o que eu acabara de dizer.

Me apressei e fui atrás dela. Consegui segurar sua mão e na mesma hora, parecia que tinha tomado um choque com a corrente elétrica que saía dela. Ela pareceu sentir o mesmo pois seu olhar encarou o meu com surpresa.

— Ali, só queria… queria dizer boa noite e… e não precisava ficar chateada com o que falei. Eu sempre gostei de observar você na escola e era a vantagem de ser irmão da Juliana. Fiquei com a fama de ser um irmão super protetor.

— Eu já não sou iludida o suficiente pra você ficar falando essas coisas ai pra mim? Tu sabe que tenho uma queda de 30 andares por você – Disse em tom de brincadeira mas, sem olhar nos meu olhos.

— Eu não sei de nada disso não! – Ela me lançou um olhar desconfiado e fixei os meus nos dela — O que eu sei é que temos uma conexão especial e eu não quero perder isso! – Me aproximei mais dela e segurei sua outra mão.

— Jhonan! – Ela me olhava confusa, mas nossos olhos pareciam enxergar a alma um do outro e me aproximei ainda mais.

Sem mais nenhuma palavra dita, meu polegar direito começou a deslizar sobre o braço dela, indo em direção ao seu rosto, senti o arrepio de sua pele, o que fez meu coração acelerar ainda mais. Passei meu polegar sobre os lábios entreabertos dela e senti escapar um suspiro. Um sentimento invadiu meu peito, e jurava nunca ter sentido nem metade daquilo antes. Eu precisava de uma garota como ela. E a música que cantamos no carro, veio logo em minha mente e a proferi sem perceber.

— I need a girl like you! (Eu preciso de uma garota como você!)

Ela sorriu e senti que podia me aproximar ainda mais. Quando senti sua respiração em meu rosto e o toque de nossos narizes, meu celular tocou e nos tirou do transe do quase beijo. Com o susto ela se afastou, e tive uma sensação de vazio que precisava ser preenchida novamente.

— Atende, pode ser sua mãe! Eu… eu vou entrar. Obrigada pela carona!

— Ok! Desculpe – falei apontando para o telefone e coloquei de volta no bolso sem ver quem me ligava em uma hora inoportuna – Espero te ver logo, boa noite!

— Boa noite Jhonan! – Ela me deu seu último sorriso do dia e entrou em casa.

Voltei para o carro contrariado e meu telefone ainda tocava. Tirei o telefone do bolso e vi que era Helena. Me esqueci completamente dela e estou muito atrasado. Atendi.

— Alô! – respondi com uma leve irritação em minha voz que não percebi que tinha.

— Ai até que enfim Jhonatan. Achei que tinha morrido! Te mandei mil mensagens gatinho. Onde você tá? Tá chegando? – Dei um tapa silencioso no volante me sentido frustrado.

— Chego em cinco minutos.

— Ok! Já estou pronta!

Desliguei o celular e olhei na direção da casa da Ali, mas só consegui ver a porta trancada e cortinas que balançavam pela janela. Apertei o volante com as duas mãos e liguei o carro em seguida, soltando outro suspiro pesado. Eu não sei o que mudou em mim. Sempre curti a amizade dela e achava ela uma ótima influência pra Ju. Além disso, sempre achei ela gata demais, e nessas últimas semanas ela me despertou sensações e sentimentos fortes que nunca pensei em experimentar.

Encontrar a Lena agora, não parece ter mais tanta graça!

🦋

🦋Contém 2640 palavras.🦋

🦋

Esse é o avatar do Jhonan. Mas vc pode imagina-lo como quiser!🦋

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top