Capítulo Cinco | Não te contei?

❤️

— MAS O QUE TÁ ACONTECENDO? — Gritei quando vi a silhueta de uma mulher que infelizmente eu conhecia muito bem despejando minhas coisas pela janela do quinto andar. Pela minha janela.

AH, OLHA QUEM DECIDIU APARECER... — gritou a mulher debochando de lá de cima. Miho ou Mi bruxa como eu carinhosamente a apelidei é a síndica do prédio e o meu inferno pessoal. A mulher simplesmente criou um ranço inexplicável por mim desde o dia em vim morar nesse prédio.

Deve ser inveja. Mas que culpa eu tenho de ser gostosamente maravilhosa?

— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? SAÍA DO MEU APARTAMENTO AGORA! — berrei cá de baixo, mas tudo o que tive foram meus objectos pessoais caindo em cima de mim.

— SEU APARTAMENTO? DESCULPE QUERIDA, MAS ESSE AGORA É O APARTAMENTO DE QUEM PAGA PARA MORAR AQUI! SUA PÉ RAPADA!

Se aquilo ofendeu? Muito.

— O QUÊ? VOCÊ É LOUCA? NÃO PODE FAZER ISSO! MEU PRAZO AINDA NÃO ACABOU!

— EU POSSO FAZER ISSO... — ela atirou meus ursinhos fora — EU ESTOU FAZENDO ISSO... — meus produtos de higiene... —... E VOCÊ NÃO MORA MAIS AQUI! POR ISSO NÃO VOLTE! — por fim ela jogou o resto das minhas poucas coisas.

— MIHO! SUA VELHA BRUXA! VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO! — gritei sentindo lágrimas de raiva inundarem e arderem em meus olhos. Cerrei os punhos e andei até o hall de entrada do prédio, porém fui barada pelo porteiro do prédio e que adivinhem era quem? Quem disse marido daquela megera por favor venha pegar seu prêmio. Por que era exatamente isso que esse velho era. — ME DEIXA PASSAR SEU...

— Lamento querida ... — ele disse, sorrindo debochado, obviamente adorando aquela situação. — mas você não tem mais permissão de entrar aqui!

— Não podem fazer isso! — murmurei entre dentes, sentindo as lágrimas aumentarem e rolarem em minhas bochechas vermelhas de fúria — ...por favor... — implorei, pisando em meu orgulho. — Eu vou ter um filho senhor Wang, Eu.. eu... Me dêem pelo menos mais dois dias... — sussurei segurando pela primeira vez a mão enrugada do porteiro que fez careta para mim.

— Sinto muito, mas esse não é problema meu. — então me empurrou levemente para trás, até que eu estivesse atrás do portão do prédio e o fechou para mim, dando as costas em seguida.

Fiquei paralisada, olhando para o nada e só alguns minutos depois me movi para perto das minhas coisas espalhadas pelo chão. Minhas pernas estavam moles e instáveis, me avisando que eu iria cair a qualquer momento. Me sentei no chão dobrando minhas pernas e apoiei minha cabeça nos meus joelhos chorando como eu não me lembrava de ter chorado antes.

Na verdade, me lembro sim...

Era a mesma sensação de quando fiquei sozinha no mundo, de quando me apercebi que não tinha ninguém com quem contar ou o abrigo de alguém que me dê amor. O desespero, o medo, a solidão, a insegurança e insuficiência. A diferença é que dessa vez, a vergonha e humilhação fazem parte desse bolo de sentimentos.

Chorei, como a Choi de dezassete anos. Chorei como a Choi órfã, Chorei como um...

Bebê. O que será desse bebê?

Céus, eu já nem sei como será minha vida! Imagina a dele!

Tudo que vem na minha cabeça agora é esse bebê nascendo com cara de lixo porque é exatamente isso que a perdedora da mãe dele é, é como me sinto agora. Um lixo. Solucei, e foi aí que senti um braço abraçar meus ombros.

Não me mexi, esperando sinceramente que seja um mendigo tentando me assaltar e depois quem sabe me matar. Acabei de descobrir que desisto de tudo. Simplesmente cansei e sinto muito que esse bebê tenha um final como este. Mas acho que seja melhor assim.

— Sabe... — o alguém me abraçando começou com sua voz suave e minha pele se arrepiou em reconhecimento dela. —... Do pouco tempo que conhece você, aprendi que prefiro te ver me ameaçando com uma garrafa, que chorando como está fazendo agora. Por favor não chore Choi, sinto que não aguento vê-la assim por mais tempo antes que eu comece a chorar também.

Me virei rapidamente, encontrando ninguém menos que Jung Hoseok sentando ao meu lado, me olhando em um misto de preocupação e outra coisa que não sei definir bem o que é. Angústia? Talvez.

— O que faz aqui? — sussurei com a voz mais rouca que o normal.

— Você se esqueceu de sua bolsa no meu carro. — ele disse, me oferecendo um sorriso sem dentes meio triste e reconfortante.

— Hm. — murmurei, sem muito interesse ou ânimo voltando a esconder meu rosto, baixando a cabeça.

— Acho que não preciso perguntar o que aconteceu aqui não é? — ele questionou mais para si mesmo olhando em volta e vendo minhas coisas por todo o chão.

Acho que até a pessoa mais lerda desse mundo saberia o que está acontecendo aqui. Ou não... Com tanto de gente burra nesse mundo, acho que poderia existir alguém achando que eu me sentei aqui para apreciar as estrelas enquanto dava minhas coisas jogadas no chão para a caridade.

Não o responde. Não precisava. Ele já sabia. Voltei a derramar lágrimas pela minha desgraça e vergonha, na minha cabeça milhões de xingamentos eram desferidos para mim mesma.

Senti Hoseok se levantar e não questionei quando ainda sem olha-lo o ouvi se afastar de mim e voltar logo em seguida. Seus passos iam e vinham ao meu redor, como se ele estivesse andando em círculos. Depois de alguns minutos ele parou na minha frente e eu ergui meu olhar para vê-lo com a mão direita estendida para mim.

— Vamos. — ele disse.

— Para onde?

— Para casa.

— O quê?

— D-digo... Vo-você não quer ir para minha casa? Até encontrar um outro lugar? — perguntou e quando eu demorei a responde-lo ainda surpresa pela sua oferta ele pareceu se desesperar — E-eu sei que a gente se conheceu a umas poucas horas atrás e você não me conhece e nem eu conheço você mas eu garanto que apenas quero ajudar, não quero que pense que eu sou um criminoso outra vez ou um perverdito, ou um maníaco ou um traficante, aliás, longe de mim eu ser uma dessas coisas, juro! — ele disse rápido de mais para que eu entendesse, na realidade até me impressionou a velocidade que ele usou para falar sem fazer sequer uma pausa.

Eu ri ainda com os olhos húmidos.

— De tudo que você falou eu só percebi "Eu sei... Sou um criminoso... Pervertido... Juro!"

Hã?

— Tô brincando... — não estou não — eu percebi perfeitamente e... Não sei se devo aceitar. — falei e quase me dei um tapa.

É assim que muita gente se ferra nessa vida, com essa conversinha modesta de " Ah, não posso aceitar" ou "Você tem certeza? Eu não mereço" e até "Não, você devia ficar com isso" aí o trouxa perdi uma oportunidade de uma vida como eu estava fazendo agora. Porque a única coisa que gente pobre tem mais que milionários, é um fornecimento vitalício de azar e garantia universal de merdas gratuitas uma atrás da outra.

Já até conseguia ouvi-lo dizer "Então foda-se caralho! Fica aí morrendo que eu tenho muito mais que fazer"

Se fosse eu faria isso.

— Mas eu sei. — Hoseok disse segurando minha mão — Você deve aceitar e você vai aceitar... Aliás você já aceitou — ele brincou e eu ri me levantando, mas diminui o sorriso quando ele ficou tenso de novo. — Mas agora sério, você aceita?

Claro. Obrigada de novo Hoseok. — agradece, contendo a vontade de abraça-lo. — Não sei o que seria de mim se eu não tivesse conhecido você essa noite.

Consciência: Eu sei, tu seria uma mendiga fedidona comedora de rato.

Hoseok sorriu e baixou a cabeça envergonhado.

— Então podemos ir?

— Aham... Deixa só eu pegar minhas coi-CADÊ MINHAS COISAS? — gritei quando vi tudo vazio no chão.

— Calma! Eu peguei elas e elas já estão no meu carro.

Eu até quis reclamar, mas na situação em que eu estou, melhor é deixar quieto.

— Okay. Nesse caso eu estou pronta.

[❤️]

— Chegamos. — o moreno anunciou quando parou o carro em frente a uma casa branca, mais grande do que eu esperava.

Eu me sentia nervosa. Quer dizer, eu vou mesmo morar com um estranho?

— Você está bem? — Hoseok perguntou notando minha paralisia.

— Aham. — confirmei.

Se acalme Choi, você chegou até aqui! Não é hora de surtar!

— Então podemos entrar? — questionou e eu assenti saindo do carro.

Andamos até o médio jardim e ele abriu a porta de sua residência me deixando entrar primeiro.

— Sua casa é bem boni...

A fala morreu em meus lábios quando parei em frente do que parecia ser a sala e lá encontrei seis homens sentados no sofá e chão assistindo enquanto comiam pizza.

Todos eles voltaram sua atenção para mim. Dois deles com a pizza paralisada em meio ao caminho da boca, um simplesmente petrificado e os outros me encaravam mastigando.

Okay Choi não entra em pânico, são apenas... Quem são esses?

Hoseok? — chamei baixinho quando o senti na minha trás. — E, eles, quem são?

Ele sorriu sem graça antes de dizer:

— Eu moro com mais seis homens, não te contei?

De repente um bolo se formou na minha garganta e a mesma sensação que vem me atormentado a semanas surgiu. Corri para o primeiro vazo de flores que encontrei e vomitei tudo o que não tinha comido.

— Você está bem? — Hoseok perguntou parando ao meu lado, parecendo assustado.

Sorri sem graça antes de dizer:

— Sim. É que eu estou grávida, não te contei?

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