56 - Histórias de Guerra
Helena ficou muito surpresa com a ligação repentina do jornalista Mitchel Junqueira. Afinal, haviam se passado meses desde quando ela tentou falar com ele, quando soube por Dayane que ele foi viajar para Síria. Para dizer a verdade, por conta da confusão criada por ser a "chica" de Paris de Raymond Acevedo, ela havia até se esquecido dele.
_ Oh olá senhor Junqueira, que bom poder falar com o senhor...
_ Imagina, é um prazer falar com a senhorita também. E "Senhor" está no céu. _ cumprimentou gentilmente: _ desculpe pela demora a entrar em contato, é que eu acabei de chegar de viagem. A Day me disse que a senhorita queria falar comigo?
_ Oh sim é sobre uma proposta que o senhor... quero dizer, que você fez em Paris a alguns meses atrás para mim e Samantha... é sobre uma entrevista no seu canal do YouTube. Por acaso ainda está de pé?
_ Ah sim, está. E como faremos?
Ao lembrar que Dayane estava meses sem ver o namorado, Helena sugeriu para ele descer até o litoral e passar o feriado com eles. Pediu um minuto para consultar os amigos e aprovaram a ideia.
_ Ok eu vou ver se consigo ir ainda hoje, mas não prometo nada. É feriado e não sei ainda tem ônibus para o litoral. Tchau. _ encerraram a ligação. Dayane ficou toda animada porque o seu "mon prince" desceria a serra para ficar com eles.
_ O seu "mon prince" não deu certeza se viria hoje. Caso ele não consiga, só amanhã. _ Helena a avisou, debochando do modo como ela chama o namorado. E antes que pudesse falar alguma coisa, Samantha também lhe deu um aviso, a deixando fula da vida:
_ Ok, mas vê se vocês ficam dentro do quarto, porque ninguém aqui tá a fim de ver pornografia na cozinha. _ Repudiou, lembrando daquela vez que elas a pegaram no maior amasso na casa dela com o jornalista.
*
E não é que ele conseguiu?
Mitchel conseguiu uma passagem para descer até o litoral, mas só tinha para a cidade de Santos. Como a última parada do ônibus foi na travessia de balsas do Ferry Boat, precisou atravessar para o lado do Guarujá. Mas para sua sorte, Helena e seus amigos foram buscá-lo. Dayane é claro, foi a primeira a cumprimenta-lo.
_ Oh mon prince, eu estava com tanta saudade de você.
_ Meu príncipe... argh! _ Samantha cochichou para Helena: _ eu não sei o que é pior, se é ela falando com este sotaque francês meloso ou se é ela agarrando este cara.
_ Acho que é um pouco dos dois... _ Helena precisou tampar a boca para não dar risada. Não sabia se ria do seu comentário tosco ou da amiga parisiense. Thierry, que estava atrás delas, só as observou de cima a baixo. Não achou graça nenhuma da fofoca das duas e deu um tapa no traseiro de cada uma.
_ Ora, mas o que é isso? Se comportem vocês duas. Nem parecem que são amigas dela, estão parecendo duas "Núbias" da vida!
Tanto Helena quanto Samantha se horrorizaram com a comparação de Thierry. Mas sabiam que no fundo, ele tinha razão. Ainda assim tentaram se defender, dizendo que estavam somente comentando, que não foi nada demais e etc... e aquilo o irritou profundamente.
_ Deem um tempo, suas palhaças. Deixe a sua amiga ser feliz do jeito dela. Isto não é da conta de vocês. Sabe o que tá parecendo? Que estão é com inveja dela!
Depois dessa, Samantha preferiu ficar calada. Realmente ela estava com um pouco de inveja do namoro de Dayane e Mitchel, o que a fez se sentir culpada. Nunca foi de sentir inveja do namoro ou qualquer outra coisa de ninguém, mas claro que nem sob tortura iria admitir.
Helena também sentiu o mesmo... O que acontece é que ela está com triste com o fato de Ray se declarar totalmente apaixonado por ela na TV e nas redes sociais, mas em momento algum não a procurou. E isso já fazia meses e talvez ver a sua amiga feliz no namoro a tenha feito ficar com inveja.
_ Vocês não têm que invejar a felicidade de Dayane e nem de ninguém. Vocês não são disso, pelo contrário sempre torceram para que ela se libertasse do passado e encontrasse um cara legal que a fizesse feliz.
Elas podem até terem achado que Thierry foi meio ríspido com elas, mas concordaram com ele. Até aquele momento, Dayane está feliz com o namoro. E o namorado dela parece ser um cara legal... na verdade ele era mesmo legal, pois se ofereceu para ajuda-las sem pedi nada em troca. Não é qualquer um que faz isso. E quem sabe, poderia até mesmo ajudar a descobrir quem está por trás de toda essa armação.
****
Helena e seus amigos alugaram um pequeno apartamento na Enseada. Era bem simples com apenas dois quartos, mas ainda muito acolhedor. Deram muita sorte em arranjar lugar legal na véspera do feriado. Samantha divide o quarto com duas camas de solteiro com Thierry, enquanto o outro quarto com uma cama de casal era dividido entre Dayane e Helena. E é claro que com a chegada de Mitchel, ela teve de sair para ele poder ficar com a namorada.
_ Não precisa sair senhorita Petropoulos, eu me acomodo aqui mesmo. Para quem dormiu em assentamentos, entre escombros e de olho aberto, o sofá da sala é um paraíso.
O jornalista começou a contar como foi cobrir a guerra na Síria. Até aquele dia, o conflito deixou quase quinhentos mil mortos, mais de um milhão de feridos e mais de milhões desabrigados, a maioria refugiados. Mesmo estando acostumado, houve situações em que ficou com o coração apertado.
_ Foi horrível de se ver... bombas explodindo sobre as suas cabeças, casas sendo destruídas, tiros de metralhadora ouvidos a todo momento... fora os gritos de dor e medo dos civis. Pais e mães que choravam pelos seus filhos mortos ou tentando socorrer os filhos feridos... as vezes eram os filhos que choravam pelos seus pais mortos. As mulheres e principalmente as crianças eram as vitimas da guerra que mais sofriam. Por serem as mais frágeis, eram abusadas, maltratadas, violentadas e em casos piores, mortas. Não desejo aquilo nem mesmo para o meu pior inimigo.
Na hora Helena lembrou das histórias contadas por sua avó. Sabia como os civis da Síria se sentiam, porque vovó Tina passou pelo mesmo pesadelo. Uma lagrima caiu de seus olhos, da qual tentou enxugar disfarçadamente, mas todos ali notaram.
_ Você se lembrou da sua avó, não é? _ Observou Samantha, a abraçando. Ela só fez que sim com a cabeça.
_ O que foi? Eu disse alguma coisa errada? Porque senão, por favor me perdoem. _ Perguntou Mitchel preocupado.
_ É que a avó da Helena é refugiada da Segunda Guerra Mundial. _ Dayane explicou ao namorado, abraçada a ele.
_ Ah, mas é claro. É por isso que o seu sobrenome é Petropoulos. Sua família veio da Grécia. Uma curiosidade, a senhorita fala grego?
_ Mitchel! _ Dayane o reprendeu. Helena deu risada com a sua pergunta. Sempre a fazem quando descobrem sobre as suas origens e ela é claro, responde em grego.
_ Nai milao ellinika. Traduzindo: sim, eu falo grego. E está tudo bem, pode ficar com o quarto. Você e a Day estiveram separados por meses e com certeza querem ficar juntos. Eu vou ficar com Samantha e Thierry.
Ela até queria conversar sobre a entrevista no YouTube, mas já era tarde da noite e resolveram ir dormir. Achou melhor deixar para o dia seguinte quando todos, principalmente ele que chegou de uma viagem nada agradável. Só tinha que ver se a sua ansiedade iria deixar...
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