50 - Nem pintado de ouro
Após ter sido descoberta como a chica de Paris e da confusão causada pela mídia, Helena tentou continuar a levar uma vida normal, na medida do possível.
Para poder sair para trabalhar, teve de contar com o motorista de seu chefe e entrar pelos portões de descarregamento de carga. Não conseguia mais passar pela recepção.
Em sua sala, só entrava somente o pessoal autorizado e mesmo assim, tinha que passar primeiro pelo seu assistente, contratado por ela. Era ele quem ficava encarregado de providenciar o seu almoço e representa-la em reuniões. E recebera ordens solenes para não deixar ninguém entrar sem a sua autorização, se não quiser ser demitido por justa causa.
E mesmo assim, chegou a ter problemas com Roberto, que insistia em entrar sem bater.
_ Qual foi a parte de "não é para vir até a minha sala ser saber se pode", você não entendeu?
_ Você não me falou que havia conhecido alguém em Paris... E ainda por cima alguém famoso, como esse tal de Raymond Acevedo... do qual eu nunca ouvi falar.
Helena só o olhou de cima a baixo, pensando numa maneira de acabar com a raça dele, mas fazendo parecer um mero acidente. A única coisa boa era que se matá-lo com certeza iria para cadeia, mas pelo menos teria direito a uma cela especial por ter curso superior.
_ Bom Roberto, para começar eu não tenho que lhe dar satisfação com quem saio, quando eu saio e com quantos homens eu saio!
Quando Helena disse as últimas palavras, Roberto fez uma expressão de nojo. Não esperava ouvir aquele tipo de linguajar dela, logo ela que aparentava ser uma moça de família, fina e sofisticada. Ficou só a imaginando saindo com vários homens... Aliás preferiu não imaginar!
_ Quando você vier até a minha sala, que seja somente para falar sobre trabalho. Fora isso, nem procure sair do seu canto.
_ Poxa Helena... _ lá estava ele fazendo aquela cara de coitado da qual ela não suportava: _ O que custa você me dar uma chance?
Por mais que ela não quisesse ser grosseira, precisou dizer umas boas verdades a ele. Tentou ser o mais gentil possível, mas estava difícil.
_ Olha... você é um cara legal, um homem interessante, um bom amigo... quando você quer! E tem tudo para arrumar alguém que realmente goste de você. Mas tem que ser alguém que goste e te aceite como você é! E não porque é advogado, vem de uma família importante e etc...
Ela se segurou ao máximo para não dizer "você não faz o meu tipo" para não o magoar ainda mais. E mesmo assim fez o que poucos fariam: pediu perdão.
_ Me perdoe... por não gostar de você da mesma forma que gosta de mim...
Helena só o viu sair da sua sala sem dizer uma palavra. Pensou seriamente em ir atrás dele, mas desistiu. Ou ele poderia achar que ela pensou melhor e resolveu lhe dar uma chance ou poderia ser grosseiro com ela. A partir daquele momento, achou melhor ficar de olho nele... pode ser ele que queira fazer algo contra ela para se vingar. Como se já não tivesse mais problemas...
*******
E no final do expediente precisava ser escoltada pelos seguranças até os fundos da empresa. O que por um lado não adiantava, pois sempre tinha alguém para fazer algum comentário maldoso, alguém para fazer alguma piada sem graça ou até mesmo para pedir um autografo ou tirar uma selfie.
"Se ela era metida à besta antes de conhecê-lo, imagine agora que está com ele?"
"Será que ela vai continuar trabalhando aqui depois do casamento?"
"Coitada, depois que foi descoberta, sua vida nunca mais foi a mesma!"
"Que nada, ela é muito da sortuda! Queria era eu ter viajado à Paris e ter conhecido Raymond Acevedo para ele fazer uma música para mim!"
Enquanto isso, Ray ou melhor dizendo Raymond Acevedo continua a fazer sucesso. A música "La vi en Paris" ganhou uma versão dance e uma outra em inglês, com o título "Addictive Love" (amor viciante).
https://youtu.be/pDxTQ5RpxkQ
E por culpa deste amor viciante, ela não teve mais sossego. Era alvo de fofocas aonde quer que fosse.
"Paris não era San Juan, a capital de Porto Rico, mas foi lá que eu me apaixonei!"
Era uma das frases mais repetidas que se lia nas redes sociais. Era um trocadilho baseado na música "Em San Juan me apaixonei" cantada por ele em português na época do menudo. Tem também a versão original em espanhol "En San Juan me enamoré".
https://youtu.be/GvyjgtU3GFA
Chegaram até a fazer um meme com a frase. Helena não sabia se a frase era de autoria dele, de alguma fã ou da mídia.
"Se ele realmente me ama como ele diz, por que ainda não me procurou?"
Era o que pensava toda vez que lia alguma notícia sobre ele ou sobre ela.
Por mais que não quisesse, Helena começava a dar razão ao pai. Talvez ele somente queria se aproveitar da situação para fazer sucesso. E toda vez que se lembrava, desde a noite em que o viu pela janela até este exato momento, ficava triste.
*******
Na hora de voltar para casa, foi deixada pelo motorista em frente a entrada do seu prédio e ficou observando a imponente limusine partir e virar a esquina. Quando ia abrir o portão do prédio, ela só viu uma mão grande espalmada no muro. Uma onda de pavor tomou conta dela, que nem conseguiu olhar para o rosto do dono daquela mão. Ela estava sendo assaltada ou pior, poderia ser sequestrada.
"Pronto era só o que me faltava, ser sequestrada por ser a chica de Paris e ainda exigirem que o Raymond Acevedo pague pelo resgate. Como se ele fosse e muito fazer isso!"
_ Quer dizer que você foi a Paris sozinha e não me falou nada?
Helena reconheceu aquela voz. Mas mesmo assim virou para o lado somente para ter certeza. Quando viu quem era, seu coração quase saiu pela boca, se perdeu no meio do caminho e quase saiu pelas suas entranhas. A última pessoa quem ela esperava ver e nem queria ver mais nem mesmo pintado de ouro.
_ Luiz!
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