49 - Nada de Casamento
_ Mãe do que a senhora tá falando?
_ Ora Koúkla sobre o que estão comentando na mídia, que você vai se casar com Ray Acevedo! _ Dona Sophia encheu a boca para dizer sobre o suposto casamento da filha. E seu pai continuava com aquela cara...
_ Ai koúkla... _ se derreteu toda para a filha: _ estou tão orgulhosa de você, até que enfim arrumou um noivo! Finalmente vai desencalhar. Eu já estava preocupada com você. A maioria das moças lá da nossa comunidade já estão casadas ou no máximo de casamento marcado. E reconheça que está ficando velha.
Helena não sabia o que foi pior, se foi a sua mãe a chamando de encalhada ou ela ter acreditado na mídia. A sua maior vontade naquela hora era de falar a mesma frase que sempre ouviu dela quando criança e adolescente: "você não é todo mundo!"
_ Ah não mãe a senhora acreditou em fofoca de internet?
_ Mas tem foto e tudo dele pedindo a sua mão!
Helena se lembrou de quando ela e Ray passearam pelo Rio Sena e alguns turistas tiraram fotos dela "sendo pedida em casamento" por ele. Mas até ela explicar para a mãe que foi apenas uma brincadeira, aja explicação e muita paciência.
_ Eu ainda não acredito que você, kori mú vai se casar e logo com quem: Raymond Acevedo, ex menudo!
_ Espera aí, senhora sabe quem é ele?
_ Claro koúkla! Já dancei e rebolei muito "Não se reprima" nessa época. Eram bons tempos...
https://youtu.be/XDnL8IQYI0o
Helena e seus amigos só ficaram olhando para Dona Sophia dançando a famosa coreografia do menudo. Seus amigos até queriam rir, mas não era hora para isso. Ainda mais que Constantino continuava a olhar daquele jeito. Dayane e Samantha estavam preocupadas com o silêncio dele. Enquanto a mãe de Helena tagarelava alegremente, ele se manteve calado.
_ Mãe caso a senhora não tenha notado estou com os meus amigos aqui em casa...
Sophia olhou para o lado e viu que Samantha, Dayane e Thierry estavam ali assistindo aquela cena hilária e ao mesmo tempo sinistra. Cumprimentou as meninas e foi apresentada ao amigo de Helena. E já foi logo fazendo um senhor pedido a Dayane.
_ Day querida posso te pedir uma coisa? Quero que desenhe um vestido de noiva para Helena e de preferência um que lembre as nossas origens!
A parisiense somente olhou para sua amiga que somente olhava para a mãe. E ela só continuou:
_ A vizinhança toda está se mordendo de inveja da gente. Eu já convoquei todos os nossos conterrâneos para o casamento e já conversei com o padre...
Helena só colocou as duas mãos no rosto, desejando sumir. A única pessoa que conseguia a tirar do sério era a sua mãe e pior, não podia fazer nada.
_ Para quê a senhora fez isso mãe?
_ Como para quê? Não posso planejar tudo sozinha. E é claro que eu tinha que conversar com o padre da nossa igreja. Seu noivo precisa se converter a ortodoxo grego para se casar com você. E também pedi aos seus irmãos para irem até o consulado grego.
_ Por que a senhora mandou o Heitor e o Hermes irem no consulado grego?
_ Ora, mas que pergunta Kóri mu. Para saber se a gente ainda tem algum parente vivo perdido lá na Grécia. Não é todo dia que a nossa única filha vai casar com um astro da música pop-latina. E a propósito... _ de repente assumiu uma postura mais séria: _ ... você podia ter se guardado um pouquinho mais, né?
Helena já sabia sobre o que a mãe ia falar. Ela nunca perde a chance de alfinetar a filha com aquele maldito assunto, algo que queria esquecer... ainda mais depois de ter levado a maior surra da sua vida.
_ Ah não mamá, essa história de novo não...
_ De novo sim e quantas vezes for preciso. Como você pôde Helena, fazer aquilo com a sua família, com a sua gente... ele era nosso inimigo. Até mesmo o embuste do Luiz era mil vez melhor do que aquele lá. Foi praticamente uma traição a Pátria.
_ Ai mãe que exagero!
_ Exagero nada. Você cobriu de escuridão o céu da nossa casa. Nunca que eu te perdoei por conta dessa apunhalada nas costas... bom, só te perdoo porque você arranjou coisa muito melhor.
_ Do que ela tá falando. _ Thierry cochichou para as meninas. Para poder explicar melhor, o levaram discretamente para o quarto, já que ali na sala seria difícil.
_ É sobre um cara com quem Helena namorou no final da adolescência... não era bem um namoro, eles só ficaram por um tempo. E a primeira vez dela foi com ele. _ Explicaram. Thierry questionou se esse o motivo de Sophia ter ficado brava com a filha durante anos. Muitas mães querem que suas filhas casem virgens... se bem que quem tem de querer é ela e não a mãe.
_ A Helena apanhou da mãe só por causa disso? _ Perguntou espantado.
_ Não foi só "por causa disso" ... foi com quem ela perdeu. _ Explicou Samantha, o que o deixou intrigado. Com que tipo de homem Helena se envolvera? Pelo pouco tempo que a conhece, achava que não saía com qualquer um. Imaginou como seria esse rapaz.
_ Mas esse ex dela era o exatamente o que, algum bandido?
_ Oh não. Ele era turco. _ Dayane respondeu com a maior naturalidade. Agora sim ele ficou ainda mais confuso.
_ Qual o problema do homem ser turco?
_ É que gregos e turcos são inimigos desde a guerra da independência da Grécia contra o Império Otomano... desde mil e oitocentos e trinta e dois. Falando nisso, lembra o nome dele Day?
_ Ah não..., mas lembro que ele era muito gatinho. E lembro até hoje do olhar que tia Sophia me lançou. Esse rolo da Lena sobrou até para mim. _ Dayane sabia que a amiga se encontrava escondido com o turco, que veio da Turquia para visitar uns parentes na comunidade turca em São Paulo.
E é claro que quando chegou aqui, conheceu e se encantou por Helena... na colônia japonesa do bairro da Liberdade, onde na época era realizada alguma festa típica. E durante a sua estadia no Brasil, eles sempre se encontravam lá, pois era um local neutro.
_ Oxe, isso foi em mil e oitocentos e cafunga e esse povo ainda tá de picuinha? Eu hein. _ Thierry ficou indignado ao saber que gregos e turcos ainda se estranhavam depois de mais um século e por conta desta rivalidade, Helena levou uma coça.
A discussão corria solta pela pequena sala. Mãe e filha ainda discutiam sobre um suposto matrimonio criado pela mídia... e o pai continua calado.
_ Sorte sua que você não está gravida. Assim todos vão achar que você chegou "pura" ao casamento...
Aquilo foi a gota d'água para ela.
_ Mãe não vai ter casamento! Ele não é meu noivo, foi só um cara que eu conheci em Paris!
Quando Helena disse bem alto e em bom som para quem quisesse ouvir que não haveria nenhum casamento, Sophia ficou muito chocada. O seu sonho era ver a sua única filha se casando na igreja, vestida de noiva.
_ Como assim não vai ter casamento? Está na internet aquela foto dele te pedindo em casamento...
_ Mãe entenda, nem tudo que está na internet é verdade. Sinto muito. E aquela foto foi porque uma embarcação passou por perto. Foi coisa de momento, ele só fez "o tal pedido" porque os turistas aplaudiram e acenaram para gente. Não era real...
Por um lado, Helena se arrependeu de ter dito aquilo para a mãe. Dona Sophia desatou a chorar. Seus amigos somente olharam para ela com reprovação. Mas ela precisava falar a verdade.
"Oh mas que tragédia grega!" Alguém ali pensou.
Quando disse a última frase, Helena sentiu uma imensa vontade de chorar. Lá no fundo de seu coração, ela queria e muito que o "pedido de casamento" de Ray fosse real. Talvez foi mesmo de verdade e na hora não levou muito a sério... ou então só encenação mesmo.
_ Então não vai ter casamento mesmo? _ Perguntou Dona Sophia mais uma vez. E Helena teve de repetir mais uma vez: _ Não mãe, não vai...
_ E não vai mesmo!
Todo mundo olhou assustado, quando finalmente depois de muito tempo sem se pronunciar, Sr. Constantino. Helena tinha até se esquecido de que ele estava ali.
_ Como disse meu pai?
_ Que não haverá casamento nenhum. Ele não fez nenhum pedido oficial. E se ele realmente gostasse de você, iria nos procurar e pedir a sua mão. Mas ele fez isso? Não. Então não tem casamento!
Helena sentia que a qualquer momento iria sofrer um derrame. Já nem sabia mais o que pensar daquela confusão que a vida havia se tornado. Mas talvez seu pai esteja certo. Se Ray realmente a amasse, por que não a procura?
_ Mas Tino ele fez uma música para ela, é sinal de que ele a ama...
_ Não! Não conta, isso não prova nada. Para mim, o certo é este sujeito procurar a família dela e fazer o pedido, como manda a nossa tradição. Se não, nada feito!
Helena nunca vira o pai tão furioso. Suas amigas já conhecendo o temperamento dele correram para a cozinha e esconderam os pratos da amiga, antes que ele quebrasse algum... ou todos!
_ Ô pai, o senhor acha que ele vai vir do Estados Unidos para pedir a minha mão?
_ Se ele não fizer isso é porque não gosta de você. E nem deve gostar mesmo, porque se gostasse, não teria deixado ninguém fazer fofoca com o seu nome. Ele deve estar te usando para se promover, igualzinho aquele cretino que te humilhou na internet!
Aquilo doeu mais do que tudo. Helena não esperava aquela reação do pai. Aliás ninguém esperou. Nunca fora tão rude com ela. Mas será que ele tinha razão ao insinuar que Ray era igual ao Luiz, que só inventou essa história da Chica de Paris somente para fazer sucesso?
_ E vamos parar com esse papo de "chica" que você não é "chica" dele e nem de ninguém!
_ Não é "chica" pai. _ Disse Helena tentando corrigir o pai, em vão: _ É "tica"!
_ Não interessa! Eu não quero mais saber desta história de "chica" que você não é nenhuma largada. Você tem família, é uma Petropoulos e trate de agir como uma! Estamos conversados dona Helena?
Depois deste sermão, nem ela nem seus amigos e nem mesmo sua mãe ousaram a questionar sobre nada. Logo após seus pais irem embora, sem se despedir da ninguém, ela não aguentou e caiu mais uma vez no choro. E mais uma vez precisou ser amparada por seus amigos.
_ Gente o que foi isso? O seu pai é sempre assim? _ Perguntou Thierry tão assustado quanto elas. Levou um tapa de Dayane e Samantha.
_ Oh não fique assim mon chéri. _ Seu pai só deve estar chateado com a situação, não com você! _ Disse Dayane ao enxugar as suas lágrimas.
_ Isso mesmo amiga! Mas infelizmente você não tem como controlar a mídia. Precisa aprender a lidar com isso. _ Disse Samantha ao abraça-la.
_ Mas e se ele tem estiver certo? E se Ray tiver me usando apenas para fazer sucesso?
Mas uma vez, ninguém ali preferiu questionar.
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