Dia seguinte, Samantha ligou para Helena para saber como foi a conversa dela com Roberto. Quando ela falou os absurdos que ele disse, a amiga praticamente surtou:

— Ah ele disse isso? Pois bem, vamos procurar os advogados da minha empresa!

Na verdade, a empresa era dos pais dela, mas tudo bem. Elas se encontraram em frente ao escritório da Ferreira e Duarte S/A. Como era a única herdeira da maior construtora do Estado, Samantha nem precisou marcar hora, já foi logo entrando e desfilou no grande hall de entrada do prédio, como se estivesse numa passarela. E Helena só foi atrás dela...

Chegando no setor jurídico da empresa, a equipe de advogados já estava ciente da situação e é claro que se propuseram a ajudar. Mas quando foram acessar o link dos vídeos no YouTube, todos ali tiveram uma grande e desagradável surpresa: não estavam mais lá. Foram retirados do ar e a conta de usuário foi desativada.

Qualquer registro da existência deles foi apagado, como se nunca tivessem existido.

— Mas o que houve? Eles estavam aqui ontem mesmo. Eu juro, ainda estava no ar. — Helena se desesperou.

— É sério, ainda estavam mesmo aí. — Samantha concordava com ela, também não acreditando que eles sumiram do ar.

— Sim nós também vimos. Acreditamos em vocês, mas sem eles não temos como fazer nada...

— Mas e as testemunhas? — Perguntou Helena.

— Só isso não basta, será a palavra dela contra as testemunhas...

Helena e Samantha desanimaram com o relato dos advogados. Vendo que não tinha outro jeito, preferiram ir embora.

— Vai ser mais uma coisa para deixar para lá...

Samantha ficou com pena de Helena. Sabia o quanto ela queria levar este caso adiante, mas estava difícil. Tentou consolar a amiga.

— Que isso Lena, não pode desistir. A justiça tarda, mas não falha.

— Sabe o que é estranho? Até ontem, estes vídeos estavam no YouTube quando mostrei ao Roberto...

— E sabe o que é realmente estranho? É esse bocó do Roberto se fazer de besta, dizendo não sabia de nada, pedindo para você deixar isto para lá e ainda reverter a situação contra você.

Helena começou a montar um quebra cabeça em sua mente. Tinha muita coisa na história de Roberto que não estava fazendo muito sentido e foi muita coincidência os vídeos serem desativados em menos de 24 horas após se encontrar com ele...

Do quebra cabeça passou para um filme de terror: e se Roberto estivesse sabendo de algo ou pior, estivesse envolvido nesta história? Chegou a se sentir culpada por desconfiar dele, mas precisava considerar todas as hipóteses.

— Ele disse que pode ser um golpe do jornalista Mitchel Junqueira... — Helena comentou.

— E por que ele faria isso, se foi o próprio que falou do vídeo da Núbia para gente? O que ele ganharia com isso? E outra, ele é namorado da nossa amiga Dayane. Quando soube do vídeo, nem nos conhecia. Acha mesmo que ele seria capaz fazer intriguinha com a gente? — Rebateu Samantha.

Helena comentou sobre o fato de Mitchel ter sido processado pela mãe de Roberto devido à imprensa marrom. Como conhecia e muito bem os "ditos podres" dos ricos e poderosos da alta sociedade paulistana, Samantha já foi logo concluindo:

— Deve ser porque ele deve ter descoberto algum podre de Roberto ou de alguém muito importante ligado à família dele... você mesmo disse que quando falou sobre Mitchel ter dito a nós sobre o vídeo e se oferecer para nos ajudar, ele ficou muito nervoso. Olha Le, esse jornalista pode até ser um cara muito estranho..., mas este seu amigo advogado não fica para trás.

Isto era verdade. O pouco que Helena sabia sobre Roberto não era boa coisa: para arrumar emprego na Shinguen, disseram que ele subornou alguém da seletiva e que o seu registro da OAB foi comprado. E que ele não foi aprovado no vestibular da USP, teve de ficar na lista de espera e que seu pai falou com alguém importante lá dentro para arranjar uma vaga para ele..., mas como eram apenas boatos e a vida dos outros não lhe diz respeito...

— Lena, por que você não procura pelo Mitchel? Quem sabe ele pode ajudar...

— Ou piorar a situação.

— Como assim?

— Eu tava aqui pensando... e se Roberto estiver certo em afirmar que não passa de armação do jornalista? Ou então pode estar junto com ele neste rolo e por isso não quer que eu o procure...

— Bom eu pessoalmente não acredito nesta história. E você não tem muita escolha. Se quiser levar o caso adiante, tem que procurar o jornalista, investiga-lo ou...

Helena achou muito esquisito aquele "ou" de Samantha.

— ... você vai ter que sair com Roberto para investigar a fundo.

— Ah mas nem fudendo, eu prefiro desistir do caso a sair com aquele cara!

— Não precisa sair para valer, é só para investigar. Dá um pouco de corda para ele se enforcar...

— Eu sei, mas eu nunca saí com alguém por interesse e não será agora que sairei.

_ Bom é você quem sabe..., mas mesmo assim, tenta falar com o jornalista. Procura a Dayane, talvez ela saiba de algo que possa ajudar.

Assim que terminaram de tirar suas conclusões, as duas se despediram na entrada do prédio da Ferreira & Duarte S/A e cada uma foi para casa.

*

Ao chegar em casa, Helena tentou conversar com Dayane pelo Skype. Graças aos deuses, ela estava online.

— Isso não tem o menor cabimento. Mitchel não contaria sobre o vídeo para causar discórdia, pelo menos é o que eu acho. Ele nem sabia que era você e Sam.

— É o que eu também acho. Pode me informar o número do celular dele ou algum outro contato?

— Sim, tenho o número e as redes sociais dele... mas não sei se você vai conseguir entrar em contato com ele nas próximas semanas...

— Por que não?

— Logo após vocês voltarem para o Brasil, ele foi mandado para o Oriente Médio.

— Oh não! Que raios ele foi fazer lá?

— Bom, você sabe que ele é jornalista e ele foi fazer a cobertura da guerra civil da Síria... e até onde eu sei, ele está numa área considerada restrita sem qualquer sinal de comunicação. Para falar comigo ou com alguém do jornal, precisa se deslocar até a cidade mais próxima, que fica mais de cem quilômetros...

Quando Dayane falou sobre Mitchel ter viajado, ainda mais para o meio de uma guerra, Helena afundou o rosto nas mãos se segurando para não chorar. Ele era a sua última esperança.

— Eu sinto muito por você chéri, mas eu vou tentar entrar em contato com ele.

— Valeu Day... _ Helena queria perguntar mais uma coisa para Dayane, mas não sabia como e nem se deveria. Mas perguntou assim mesmo: — Amiga, sabe me dizer se alguém passou pelo seu prédio procurando por mim?

Ela já sabia de quem perguntava, se Ray foi procura-la. Mas infelizmente Dayane não sabia de nada.

— Ok amiga, beijos!

Assim que se despediu da amiga, Helena começou a pesquisar sobre o jornalista Mitchel Junqueira pelas redes sociais. E ficou muito surpresa com o que viu...

No seu Facebook e Instagram, havia fotos e vídeos de eventos e causas sociais, reportagens sobre divulgação de ONGs e trabalhos voluntários e vários tipos de entrevistas, desde as celebridades instantâneas da internet até as pessoas mais simples. Descobriu que ele tem um blog com o título "Somos todos heróis", onde escreve textos e crônicas sobre pessoas que trabalham para o "bem". E ele as entrevista em um canal no YouTube.

"Olha... até que ele é um cara legal!"

E o mais interessante, não achou nada de sensacionalismo... pelo menos não nas redes sociais dele. Depois dessa descoberta, já não sabia mais o que pensar e decidiu não pensar mais no assunto, pelo menos por enquanto.

"Uma hora a verdade há de aparecer!"