14 - Aquela Conversa

O jornalista Mitchel Junqueira era ao mesmo tempo, bonito e estranho. Um dos lados de seu rosto era marcado por uma imensa cicatriz de origem cirúrgica. Um dos seus belos olhos castanhos era vermelho. E quando ele estendeu a mão para cumprimentar Helena, ela logo notou que sua mão também tinha uma outra cicatriz, como se tivesse sido perfurada.

_ Mon prince (meu príncipe), esta é a minha amiga de infância, Helena Petropoulos, que junto com Samantha, vieram do Brasil para passar um tempo comigo. _ disse Dayane ao apresentá-la. Ela só olhou para o casal, reparando o quanto eles eram diferentes. Enquanto a sua amiga era elegância pura, ele tinha um visual um pouco mais despojado, mas ainda assim estava bem-vestido.  

Diferentes, assim como ela e Luiz eram...  

_ Senhorita Petropoulos? _ Ele teve de perguntar, já que Helena não o respondia. Dayane tomou a iniciativa de pegar na mão dela para cumprimentá-la. E ela só observava.

_ Tenho que perguntar: estava ouvindo a nossa conversa Sr. Junqueira? _ Ela o intimou com agressividade. Não gostou muito do fato de ele aparecer do nada, se é que já não estava ali ouvindo a conversa delas. Por medo e vergonha do julgamento alheio, Dayane não queria que ninguém soubesse do seu passado. Helena sabia e respeitava a sua decisão. Mitchel tentou se explicar:

_ Não, de jeito nenhum! Eu estava passando quando ouvir a senhorita dizer o nome da minha namorada. Desculpe ter causado alguma má impressão. _ De repente ele olhou para as duas, já farejando algo de errado. Não era à toa que ele era jornalista: _ eu atrapalhei alguma coisa?

_ Não, imagina. _ disseram as duas tentando disfarçar.

_ É que pareceu que vocês estavam tristes... _ E elas estavam, mas claro que não queriam falar e ele preferiu respeitar o silencio delas. Para mudar de assunto, contou uma boa notícia, que algumas blogueiras de moda vieram para a Semana da Moda, estavam ali na balada e quando souberam que a estilista Dayane Remy era sua namorada, pediram a ele para conhecê-la. 

Helena e Dayane se olharam e olharam para ele: _ agora?

_ Sim por que não? Já que estamos aqui, por que não aproveitar a ocasião... não ser que queira marcar para uma outra vez.

_ Pode nos dar licença um instante? Eu já volto. _ Pediu Dayane pegando Helena pelo braço. Elas se afastaram um pouco para conversar em particular: _ E então o que você acha?

_ O que eu acho o quê? Se você deve ir conversar com as blogueiras? Vai lá.

_ Não foi isso que perguntei. É sobre dar "aquele próximo passo" ...

Helena se admirou com a atitude da Dayane. Parecia até que ela havia superado o trauma do passado em questão de segundos. A olhou de cima a baixo, virou para analisar o jornalista e perguntou se ela realmente queria ter a "conversa" naquele momento. Achou que foi muita falta de noção da parte dela. 

E pelo modo com ela a encarava com os seus olhos cinza lunar, sim. 

_ Eu não acredito que você quer falar disso agora! 

_ Mas qual o problema? Não foi você mesma que disse agora pouco que somos mais fortes e melhores que isso?

_ Sim, mas eu não imaginei que seria tão rápido!

_ Bom, eu... eu queria sair um pouco da minha zona de conforto... e durante anos, eu sempre senti vontade de "namorar"..., mas eu sempre travava. Tem alguma coisa errada comigo? _ Confessou meio que sem jeito, fazendo aspas com os dedos em "namorar".

Helena entendeu o que ela quiz dizer e ficou com pena. Era uma bela mulher e uma boa pessoa. O que aconteceu com ela foi hediondo. Tentou ajudar:

_ Amiga... não é porque aquele babaca foi um cretino com você, que todos serão. _ Ela até queria acreditar no que acabou de dizer: _ deixe acontecer naturalmente. Não crie expectativas e seja você mesma. Não tem nada de errado em não querer fazer, mas também não tem nada de errado em querer fazer. Você é mulher, aliás, uma mulher muito linda. Você merece ser feliz, mesmo que seja por apenas uma noite.

Mesmo não tendo se simpatizado muito com Mitchel e vendo que Dayane estava decidida, Helena sentiu que precisava dar mais alguns conselhos à amiga. Aliás, disse o que a sua avó diria naquela hora:

_ Escute a sua deusa interior, liberte- a quando for preciso e peça proteção caso seja necessário!

Dayane já conhecia aquela frase. Eram as sábias palavras da vovó Tina.

_ Conselhos da vovó?

Helena só balançou a cabeça afirmando e dando risada. Suas amigas sabiam dos sábios conselhos e das dicas apimentadas de sua vó.

_ Bom, vai lá conversar com as blogueiras.

_ E você, não quer vir conosco? 

_ Ah não, eu vou dar uma voltinha. Vou procurar a Sam. Aproveite e qualquer coisa me liga! _ deu uma piscadela e sumiu no meio da multidão.

****

Helena ficou andando pela festa meio que sem rumo. Estava lotado de gente. Paris em peso deveria estar ali presente. Enquanto andava distraidamente, acabou meio que esbarrando em alguém.

_ Oh excusez-moi... _ pediu desculpas em francês. Quando levantou os olhos para ver quem era, ficou boquiaberta...

Era ele, o seu misterioso vizinho! 

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