Capítulo 5 - Rallius II
Rallius
(Valfheim - Nahor)
A Fortaleza Flamejante havia sido construída com o intuito de ser impenetrável. Ficava no extremo norte da cidade, depois do segundo muro que o rodeava, com portões de Gelo Negro, que o tornava impossível de ser destruído por meios naturais. Por detrás do castelo, passando as altas muralhas duplas, o grande lago congelado se estendia até os Sete Montes. Não era difícil de notar as dificuldades que os inimigos enfrentariam para chegar até a sala do trono na fortaleza.
O Príncipe Rall demonstrava um genuíno fascínio pela arquitetura de sua casa, de tal forma que quando criança explorava cada canto do castelo. Sempre foi um garoto esperto para sua idade, por isso ainda pequeno conseguiu mapear em sua mente cada corredor, rota ou cômodo do lugar.
Ele não só tinha conhecimento vasto dos locais comuns do castelo de nove torres como também das rotas de fuga e caminhos ocultos, informações adquiridas graças a uma planta do castelo que surrupiou em segredo dos pertences da sala pessoal do rei. Tratava-se de um pergaminho tão envelhecido que parte dos seus segredos já estavam se apagando, mas boa parte das rotas secretas estavam visíveis. Demorou uma noite apenas para gravar na mente todo o conteúdo do mapa e depois o devolveu para seu lugar.
No planejamento da fortaleza haviam passagens secretas que permitiam a entrada e saída do lugar. Por vezes Rallius utilizava-se dessas saídas para se esgueirar para fora da cidade sem ser visto, assim não precisaria da companhia constante de sua Mão Direita Juramentada — um cavaleiro pessoal que cada membro da família real possuía e que tinha a obrigação de mantê-lo em segurança.
Naquela manhã o príncipe desejava passear. O sol havia se revelado e portanto era um dia especial. Estavam no verão, mas aquela havia sido a sexta aparição do sol em quinze dias, uma bola de fogo pálida brilhando entre nuvens frias e cinzentas. A simples presença do sol deixou Rallius animado; ele vestia um colete de veludo azul, calções pretos e botas apropriadas para a neve. A espada estava presa no cinto e uma capa cinza cobria todo o corpo. Embora roupas de frio fossem desnecessárias para ele e seus irmãos, uma vez que não vivenciavam o frio como pessoas comuns, ainda assim eles seguiam o costume para não serem uma presença destoante entre os outros.
Sor Frode, a quem tinha por Mão Direita, estava treinando Mikhail aquela hora do dia, então não precisava se preocupar com ele. Se esgueirando cuidadosamente pelos corredores ele conseguiu chegar às masmorras sem ser visto. Desceu as escadas de pedra em silêncio. As masmorras eram escuras — mesmo com algumas tochas dispostas em sua extensão.
Haviam dois andares subterrâneos, o segundo piso era tão insuportavelmente frio que não havia a presença de guardas constantemente. Se quisesse torturar o prisioneiro com a pior noite de sua vida, bastava mandá-lo para uma cela no segundo piso. Não raramente alguns prisioneiros eram mandados para morrer congelados lá embaixo.
Para Rall, no entanto, o último piso era como qualquer outro do castelo. O sangue mágico dos Hakonsen lhe protegia do frio, então não o achava desconfortável. Por isso, podia andar por lá sem qualquer preocupação. Ele desceu as escadas, com cuidado para não alertar qualquer guarda que porventura estivesse ali. Pegou uma tocha da parede para clarear o caminho em frente, tão pouco frequentado que dificilmente se encontrava iluminado.
No fim de um dos corredores do último piso, recebendo pouco destaque nas sombras, havia uma estátua velha e rachada da Rainha Drizza II. A mulher foi a décima quinta governante antes do Rei Tacius, reinou por pouco tempo, porém o suficiente para dar início a construção da nova capital; sendo ela mesma a idealizadora da planta da Fortaleza Flamejante. Havia outras duas estátuas dela pelo castelo e Rall sabia que todas guardavam uma passagem.
Ele se aproximou da estátua, erguendo a tocha o suficiente para iluminá-la. Uma voz atrás de si lhe fez virar-se de imediato.
— Indo a algum lugar? — indagou Drizza, que se encontrava ali parada. A princesa estava usando um vestido de seda vermelho absurdamente chamativo e uma capa de linho preto com formas florais bordadas. Uma tiara dourada mantinha seus cabelos ruivos presos e ela sustentava um sorriso que simulava inocência.
O príncipe aguardou que a irmã se aproximasse, até ambos estarem se encarando de muito perto. Os olhos presos um no outro, dois olhares ardendo em brasa diante da luz da tocha.
— O que faz aqui? — ele respondeu com outra pergunta, a voz calma, mas com uma leve sugestão de hostilidade. Uma fina camada de névoa formada por sua respiração embaçou a imagem de sua irmã diante de sua face.
— Estava te seguindo, desde de que passou pelos corredores trajando roupas de...
— Impossível — Rall decretou, levantando um pouco mais a tocha de forma que o rosto de Drizza ficasse melhor iluminado. — Teria notado se alguém estivesse em meu encalço.
— É, claro que sim. Você não deixa passar nada — disse Drizza, o sorriso ainda mais intenso, fazendo surgir os dentes perfeitamente limpos com bucas, que os deixava brancos como neve. — Mas não tem como saber de tudo, irmãozinho, eu tenho minhas maneiras de saber das coisas. Me parece suspeito que ande se esgueirando por aí nas masmorras. Outros poderiam achar que está aprontando algo ou que guarda segredos que não deveria.
— Engraçado que seja você a dizer isso, Dri. Diga-me, onde estão agora mesmo os amigos que guardam os seus segredos? Por que não vai cochichar com eles e me deixa em paz?
Os amigos da princesa, como eram comumente chamados, estavam quase sempre na companhia de Drizza, às vezes até mais do que Sor Rheia, que era responsável pela irmã. Eram três, uma garota e dois garotos, todos companheiros de confiança, dos quais Rallius sabia um ou outro segredo, especialmente sobre o que faziam os quatro quando estavam sozinhos.
— Ora, assim como você, eu também gosto de um momento de privacidade — disse ela, recolhendo uma mecha solta do cabelo e a deslizando entre os dedos. — Posso lhe acompanhar para... Seja lá onde estiver indo?
— Não, receio dizer que prefiro estar sozinho no dia de hoje. Numa próxima ocasião, quem sabe.
— Me trata com tão pouco apreço, logo eu que só desejo seu bem. Seria bom dar um pouco de atenção à sua irmã de vez em quando — Drizza tinha uma voz doce que disfarçava o seu escárnio. Rall a conhecia bem demais para reconhecer todas as provocações veladas.
— Claro que estou atento a você, minha querida Dri. Ontem mesmo me peguei rezando aos deuses para que lhe concedesse muita sabedoria, paciência e um bom coração. Talvez um dia eles me escutem.
A princesa soltou um risinho fraco e se aproximou da estátua da rainha, passando ao lado do irmão em silêncio. Por um segundo ficaram ambos um de costas para o outro, até Rall se virar para observar Drizza deslizando os dedos pelas rachaduras da estátua, parecendo estar pensativa; pensamentos que o príncipe preferia que ficasse apenas para ela, mas infelizmente precisou ouvir:
— Mesmo que eu seja mais velha, é desrespeitoso comigo. Um dia serei rainha, meu irmão, talvez então você controle sua língua ao se referir à mim — ela falou baixo, o suficiente para que sua voz chegasse aos ouvidos de Rall naquele corredor gelado e deserto. — É um homem esperto, mas falha em não perceber a própria soberba. Sempre age como se fosse melhor do que eu, com essa postura impecável de um príncipe irrepreensível, mas cuidado, pode não estar sendo tão sábio quanto pensa. Aproveite suas orações e peça aos deuses para me dar misericórdia também, pode um dia precisar, para que os seus segredos continuem dessa maneira.
— Poderia ser mais clara ao invés de falar com enigmas. Exponha o que está pensando, estou muito interessado em lhe ouvir.
Drizza se virou outra vez para ele e o observou um instante antes de se afastar; deixando Rall encarar a estátua — os cabelos da rainha estavam amarrados num coque trançado, ela segurava uma espada ao lado do corpo com o fio cravado na terra, o queixo erguido em uma postura orgulhosa e usava um vestido longo de pedra; a estátua retratava sua melhor idade, a juventude de uma rainha guerreira.
— Um dia pode vir a ouvir, quem sabe. Pode ir passear, não quero tomar o seu tempo — disse Drizza, se afastando cada vez mais dele, retornando por onde veio. — Cuidado com o bosque, ficaria devastada se meu irmão sumisse ou sofresse qualquer tipo de acidente. Outra vez.
O príncipe a observou partir até sumir na escuridão. Um suspiro escapou pelos lábios. Ela consegue mesmo estragar o dia de qualquer um, pensou ele.
Quando deixado sozinho, o príncipe avançou até a estátua. Atrás dela, quase impossível de notar nas sombras, havia uma abertura estreita na parede, similar a uma grande rachadura. Rall se meteu dentro da fenda — que era estreita o suficiente para precisar se apertar um pouco. Depois de passar pela abertura, viu-se diante de um curto corredor e no fim dele uma pesada porta de ferro se encontrava. A fechadura da porta só permitia que fosse aberta por aquele lado, Rall a abriu e empurrou com um pouco de dificuldade. Passou pela porta e a deixou aberta para quando retornasse, as dobradiças eram rígidas o suficiente para que não se fechasse por acidente.
Poderia Drizza retornar e fechar a porta para dificultar meu retorno?, não duvidava da malícia de sua irmã, porém ainda que fosse o caso, poderia sempre entrar pela porta da frente, embora fosse mais trabalhoso.
Após a porta secreta, um corredor escuro e grande se estendia escavado na terra fria. O lugar, de aspecto cavernoso, se ramificava em três caminhos distintos em sua extensão; eram rotas de fuga do castelo, todos os caminhos levavam para algum lugar nos arredores de Valfheim. Rallius já ouvira histórias de Górgias, o responsável pela biblioteca, que durante a construção dessas rotas os próprios construtores foram obrigados a cavar com os olhos vendados, sob a orientação de seus superiores, assim ninguém mais conheceria suas entradas e rotas além de quem possuísse o mapa do castelo; mas o príncipe não tinha certeza quanto a veracidade dessa história.
Depois de andar alguns vários metros, viu ao longe uma luz. Numa brecha entre as paredes de terra dura, ele prendeu a tocha e seguiu para fora do túnel. Aquele caminho havia o deixado a leste da fortaleza, uma abertura pequena e oculta entre grandes rochas. A saída ficava bem acima do lago congelado. Rall desceu os rochedos com cuidado, até que suas botas pisaram no gelo grosso, não se preocupou da superfície se partir. Atrás de si podia ver a grande muralha se estender. Com cuidado, ele se moveu pelo lago congelado até a orla do bosque em sua margem.
Fora um bom percurso até que estivesse na margem do lago, que era enorme para todos os lados. Ao chegar ao bosque parou para recuperar o fôlego, a respiração pesada tornava mais densa a névoa frente ao rosto. Quando pôde enfim andar, ele seguiu para dentro do bosque. As mãos puxaram o capuz para lhe cobrir a cabeça, caso viesse a encontrar alguém por ali. A espada no cinto estava de fácil acesso, se viesse a precisar.
Devia ter trazido um livro... pensou arrependido. Gostava de ler naquele lugar, era o ambiente mais silencioso que conhecia.
Rall conhecia bem aquele bosque. Por vezes também saía para caçar com o pai e uma pequena comitiva, mas não era tão apreciador de caça quanto o rei. Os melhores passeios que fazia fora da cidade eram quando estava sozinho ou com o Sor Frode. Eram frequentes os dias que saía com o cavaleiro, ambos montados a cavalo. Gostava das conversas e dos risos, além de ser um dos poucos lugares onde podiam se tocar e apreciar um ao outro fora do quarto, sob o olhar dos deuses. Será que eles se sentem ofendidos? Os sacerdotes gostam de dizer que sim... refletia Rall, sempre que o cavaleiro o tomava nos braços. Mas sacerdotes ainda são homens e homens mentem.
Com o dia ensolarado, a neve que havia acumulado há alguns dias estava derretendo, de forma que o terreno estava lamacento. Em certo momento da caminhada o príncipe chegou ao Totem do Urso Rachado, uma antiga estrutura de pedra que representava o deus-urso erguido sob duas patas; o totem estava quebrado em sua metade, restando apenas metade do seu corpo, fora deixado ali para servir de lembrete da soberania da Trindade sobre o Urso.
O príncipe não demorou a notar que havia mais alguém na pequena clareira, trajando uma capa verde e de aspecto envelhecido. O jovem deteve seus passos e analisou a figura, que parecia estar encarando a imagem quebrada do Urso.
O desconhecido, de costas para si, virou-se vagarosamente. Era de estatura pequena; uma menina de cabelo platinado e desgrenhado, pele pálida e olhos brancos como leite, fazendo o príncipe concluir que se tratava de uma garota cega. Ambos se encararam, os olhos dela atraíam o do jovem contra a sua própria vontade. Ela consegue me ver? independente, a estranha olhava diretamente para ele.
— Está perdida garotinha? — Rall indagou.
A menina virou repentinamente na direção contrária e correu por entre as árvores. Rallius tentou chamar por ela e, movido por um impulso, saiu em disparada no seu encalço; a capa de inverno sacudindo atrás de si, enquanto os passos apressados escavavam a lama fria. Podia ver a menina correndo com delicadeza e destreza, não deixou de notar que ela estava sem calçados.
— Ei, espere!
A menina riu, uma risada brincalhona, enquanto saltitava sobre as pedras e raízes. Rallius tentava se esquivar das árvores e manter os passos atrás dela, que era ligeiramente mais rápida que ele. De repente, um galho surgiu em sua frente e, antes que ele pudesse se abaixar, bateu o rosto com força contra a madeira. Com o impacto, ele caiu para trás emitindo um arfar de dor. Ficou largado no chão.
A risada da garota ainda ecoava em sua mente enquanto ele se recuperava do golpe, seu rosto doía e estava tonto ao ponto de não conseguir se erguer. Sentia o suor escorrer pelo corpo devido ao calor e o esforço de correr. A visão não estava em foco. Uma voz sussurrou ao seu ouvido, como se alguém invisível estivesse muito perto de si. No início não conseguia discernir nada, até perceber que era não uma, mas várias vozes, como em um coro. Todas repetiam a mesma coisa.
"Quais hão de ser dignos?"
"Quais hão de ser dignos?"
"Quais hão de ser dignos?"
Rallius enfim conseguiu abrir os olhos, mal percebendo que estavam cerrados. A menina o encarava face a face. Ele piscou algumas vezes, não conseguindo desviar seu próprio olhar.
— Eu vi o seu futuro — disse a menina cega, a voz dela era suave e estranhamente inquietante. — Deseja saber? Eu conto se pedir.
O príncipe tentou levantar, mas a dor na cabeça o fez deitar-se outra vez na neve. Ele encarou a menina, tentando discernir o que estava falando. Notou que não escutou muito bem o que havia sido dito.
— O quê? — indagou a ela.
A menina sorriu e se afastou. Não houve som de passos. E ele estava sozinho outra vez.
•••
Já era noite e Rall não conseguia parar de pensar sobre o estranho acontecimento no bosque. Repassava tudo mentalmente e tentava compreender, absorver aquilo. Entretanto, quanto mais pensava mais se convencia de que tudo aquilo não passara de um delírio, talvez desencadeado pela pancada que recebeu do galho. Como explicar então a garota, que surgiu antes do acidente? sua consciência indagava. Seus dedos coçaram os olhos. Uma garota no bosque, misteriosa como um fantasma... Se fosse um garoto, bem poderia ter sido o meu "outro eu" voltando para me atormentar.
Lembrar do seu outro eu era sempre estranho para Rallius. Nasceu como dois, com uma cópia sua. Gêmeos eram sempre vistos como abominação em Nahor, sinal de uma vida de desgraças para os dois, portanto um deles era sempre sacrificado no nascimento, assim deveria ser. Quando nasceu, seu outro eu foi imediatamente afogado durante o primeiro choro. Se eu tivesse nascido alguns instantes depois dele, poderia ter sido eu a ser lançado na banheira...
Foi sua mãe, a Rainha Arelia, quem mais sofreu. No primeiro ano de sua vida, segundo ouvia dizer, o simples choro de Rallius fazia a mulher entrar aos prantos, pois lhe lembrava do filho perdido. Ela nunca perdoou o marido por ter permitido tal ato, mas os anos lhe deixaram mais conformada, e nos dias presentes pouco se fala sobre o bebê, para evitar mais dor. A cultura dos nahoranos era estranha, mas foi obrigada a se conformar. Os filhos que vieram depois disso ajudaram-na, mas havia sempre um olhar de tristeza na mãe, Rallius conseguia ver isso.
As batidas na porta de seu quarto o tiraram dos pensamentos. O príncipe encarou sua própria mão. Mas o meu outro eu está morto, não sei por qual motivo estou pensando nessas coisas. Ele fechou o livro, que tentava inutilmente ler; não chegou nem mesmo a compreender uma linha do seu conteúdo. Alguém do outro lado da porta tentou girar a maçaneta, mas não conseguindo abrir voltou a bater na madeira.
— Rall! — uma voz baixa chamou do outro lado. — Não consigo abrir.
O príncipe levantou da cama onde estava sentado. De pés descalços ele atravessou o quarto. Abriu a porta para se deparar com o seu irmão Nikolas, um menino pequeno metido em uma túnica xadrez, que misturava vermelho e azul. A criança falou rápido e atropelando as palavras, como de costume, mas o irmão compreendeu o que foi falado.
— Mike me mandou avisar que você está atrasado.
— E desde quando se tornou mensageiro de nosso irmão? Onde está Sor Kelda? — Rall sorriu e deixou o menino entrar, para aguardar enquanto ele se aprontava.
— Ele ameaçou me enterrar na neve se eu não viesse. Sor Kelda me deixou com a ama para dormir, mas eu fugi. — Nik correu para dentro do quarto e se jogou na cama. Rall deu um riso baixo, poderia dar um sermão no irmão sobre fugir do quarto, mas não o fez naquele momento.
— Acha que eu deixaria que ele fizesse isso com você? — Rall indagou, enquanto metia os braços em suas vestes. Reparou nos pés dele, descalços. — Saiu sem botas?
— Mike tomou de mim, falou que só devolveria depois que eu viesse lhe buscar.
O irmão mais velho mostrou-se incomodado com sobrancelhas franzidas. Mikhail era um tanto impulsivo, mas não tinha o direito de maltratar com a criança, Rall pensou. Não era a primeira vez que ele fazia aquele tipo de coisa e muitas vezes o mais velho já havia o repreendido. Nikolas não sentiria frios nos pés, mas certamente machucava andar sem calçados por aí.
— Acho que o Mike merece uma boa lição hoje. — Rallius calçou suas próprias botas. Havia algumas noites que ele vinha ajudando Mikhail em seus treinos, agindo como um segundo tutor para ele. — Vamos.
Deixaram o quarto. Sor Frode não estava mais de guarda na porta, fazia quase uma hora desde que saiu do quarto de Rallius. Os dois conversaram sobre bobagens, pelo menos até o príncipe lhe contar sobre a menina no bosque, o qual o cavaleiro mudou o foco do diálogo e repreendeu o príncipe por sair do castelo às escondidas. Depois de um tempo emitindo seus sermões, ele foi comer algo, disse também que iria se banhar. Rall simplesmente o liberou dos serviços e deixou que fosse. Ainda sentia o molhado em seus lábios da despedida da noite.
— Faça o máximo de silêncio, ou então Sor Kelda pode nos ouvir descendo as escadas! — disse Nik, temendo que a cavaleira pudesse descobrir sua fuga.
Desceram os degraus da torre do principado, passando pelo piso que pertencia a Mike e posteriormente o andar do príncipe caçula. Foram encontrar o Príncipe Mikhail no pátio externo, descalço e usando apenas uma calça, suando exaustivamente enquanto agredia uma árvore com sua espada de madeira. Seus longos cabelos vermelhos estavam quase totalmente livres do rabo de cavalo.
— Está atrasado — acusou Mike, apontando para o irmão a espada de madeira.
Nikolas chamou a atenção de Rallius e lhe entregou uma espada de madeira. Rallius girou o cabo da espada na mão, testando seu peso. Encarou o irmão com seriedade, observando alguns dos hematomas que o mesmo ainda tinha no corpo, fruto dos treinos das noites anteriores.
— Mike, meu irmãozinho, hoje é um ótimo dia para lhe ensinar algumas lições muito importantes.
Mike sorriu, com um sorriso de desafio que já era bastante conhecido. Não demorou muito para o som das espadas de madeira se agredindo tomar conta do pátio.
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