[79] | Capítulo 20 - O gato e o rato

As horas se passaram e logo houve outra troca de turno, na qual esse ponto era batido às 06h45, onde o capitão Barrett e o imediato Pearson assumiam dali para frente. O sol já estava ostentando os primeiros raios no horizonte, em meio a pequenos, médios e grandes icebergs que flutuavam em direção ao sul. O campo de gelo já estava passando e o Estrella poderia seguir calmamente entre os icebergs, que ainda restavam no caminho. No timão, Michael havia sido trocado por Shapiro, que ficaria até Harry retornar - este havia saído do turno às 5h45 - e só retornava às 07h15. O comandante estava um tanto apreensivo agora sobre o dia de chegar a terra, pois temia que os icebergs possam ter obstruído a rota da terra firme. Pensativo e analisando o radar que mostrava diversos icebergs, o comandante logo avistou um ponto retangular que passava pelos icebergs a sudeste da posição deles. Era uma embarcação veloz que cruzava rapidamente o campo de gelo, porém, quando o comandante percebeu aquele retângulo rápido, logo avistou outro ponto que cruzava a sudoeste da posição do Estrella, este um pouco mais lento. William se assustou.

— Charles, venha aqui, há dois pontos no radar! — ele chamou o imediato que logo chegou até ele. — Um ponto corre a sudeste e outro a sudoeste!

O imediato olhou apreensivo para o comandante.

— Ou seja, ambos estão dando a volta ao nosso redor para poder nos abordar! — completou o capitão agora olhando de volta para o imediato. — E um deles é o Estrella del Sul e outro é desconhecido!

— Temos que sair daqui, William. — respondeu o imediato caminhando até a mêsa de mapas rapidamente. — Não sabemos o que eles querem, por isso, precisamos fugir!

O comandante assentiu e pegou o telefone que era ligado a qualquer parte do navio.

— Atenção sala de máquinas, quero todos os motores ligados em sua velocidade máxima!

Em seguida, o comandante largou o telefone e correu até a mesa de mapas.

— Seis graus a bombordo, Shapiro! — ordenou o comandante ao analisar os mapas. — Vamos fugir daqui e agora!

O timoneiro rapidamente manipulou o timão suavemente, enquanto Pearson e Barrett traçavam cursos.

— Se não houver icebergs adiante, conseguiremos fugir! — comentou o imediato entregando uma régua para o comandante. — Isso é, se eles não forem mais velozes do que nós!

O capitão olhou receoso para o imediato e rapidamente pegou o seu walkie-talkie.

— Susan, venha a ponte rapidamente. É urgente!

Certo, capitão. — respondeu a doutora. — Estarei aí dentro de dois minutos!

Aquela ocasião foi a mais rápida que a doutora já respondeu e dentro de um minuto e meio, ela estava presente na ponte, como sempre, muito bem vestida e arrumada.

— Há duas embarcações em nossa popa avançando contra a nossa proa!

Susan caminhou até o radar e analisou os dois pontos, que agora navegavam calmamente.

— Um deles é muito provável ser o Estrella del Sul... — ela respondeu e depois olhando para o comandante. — Agora o outro, eu não sei!

O capitão olhou sério para a doutora e depois correu até o rádio amador, onde ligou e colocou o canal 12 de comunicação.

— Aqui é o Estrella Siriah entrando em contato com Estrella del Sul, alguém me ouve? — ele disse e esperou por respostas, depois colocou no canal 25. — Estrella Siriah para Estrella del Sul, alguém me ouve? Estrella Siriah para Estrella del Sul...

Não houve respostas, mesmo com o comandante colocando o rádio no último canal que era o 85 e ninguém respondeu e isso trouxe preocupação para os que estavam na ponte.

— Muito bem, eles respondendo ou não, iremos zarpar daqui já! — ele pegou o walkie-talkie e rapidamente conectou-se com todos os altos falantes do navio. — Atenção todos os tripulantes, vamos zarpar desta zona imediatamente, quero que todas as velas estejam bem estendidas e que as cordas estejam bem firmes, pois quero a maior governabilidade do Estrella para desviar dos icebergs. Isso é uma ordem imediata!

Logo, os marinheiros na proa começaram a trabalhar incansavelmente, as velas brancas do goleta Estrella Siriah estavam estendidas e aparentavam brilhar sob a luz do sol. As cordas, que começavam a congelar, foram amarradas e estavam prontas para serem usadas em ocasiões imediatas. Em meio ao campo de gelo que começava a se formar na proa do navio, eles começavam a alcançar dezoito nós de velocidade e seguiam calmamente.

— Shapiro, vá chamar Harry, pois preciso dele agora mesmo na ponte e ordene a Michael que acorde todos os tripulantes e alunos, precisamos de mais mãos aqui! — ordenou o comandante para o timoneiro, que assentiu e saiu correndo da ponte. — Charles, assuma o timão, pois, em questão de manobras você se saiu bem no teste em 92!

O imediato sorriu orgulhoso e rapidamente se posicionou atrás do timão.

— Pois bem, vamos nos esquivar desses icebergs imundos... — Disse o imediato segurando firme o timão. — Vamos ver se o Estrella del Sul consegue alcançar o "Principe Gelado"!

O comandante sorriu.

⊱✠⊰

Nas cabines dos conveses abaixo da ponte, os alunos começavam a acordar, alguns acordavam devido a vibração que o Estrella emitia quando estava sendo colocado em velocidade máxima de imediata, e também os leves balançados que o mesmo fazia quando virava para bombordo ou estibordo. Já outros alunos, acordaram em seus horários normais e dirigiam-se ao banheiro do navio, onde enquanto faziam as suas higienes, foram chamados por Michael, que correu de porta em porta chamando cada marinheiro ou marinheira para o seu posto. Os alunos rapidamente correu para as suas cabines e vestiram seus uniformes, em seguida, numa fileira, encontravam-se no refeitório esperando por ordens, que eram para vir de Hayes, mas, onde estava o professor? Todos procuravam por ele, que não foi visto desde o nascer do sol por alguns tripulantes. Na verdade, Hayes estava em uma disputa arriscada com Harry em pegar os documentos da AAPH, onde com um tiro de raspão do braço do auxiliar, ele conseguiu pegar os documentos de Harry, mas teve que entregar os mesmos de volta, pois teria que passar pelo refeitório e este estava com as duas fileiras de alunos prontos para a batalha. O professor entregou os documentos para o auxiliar e o ordenou que entregasse imediatamente para Finnley, se não, o tiro de raspão não seria mais no braço e sim no peito do rapaz. Com um certo receio, o auxiliar assentiu e seguiu para entregar o novo passageiro.

Hayes logo assumiu o exército no refeitório e mais uma vez a ordem foi clara: "matar ou morrer" e "protejam o Estrella como se protegessem suas vidas". Um grupo foi montado na proa e outro na popa, ambos com seis alunos. Na proa, Nicolas e Thomas estavam sendo os arqueiros, na qual três ficavam em bombordo e outro três em estibordo. Assim era na popa, onde Ramiro e Darwin, utilizavam arpões. Nas laterais, Alice e Violet utilizavam lanças de pesca e Jessie e Annabeth em estibordo utilizavam o mesmo equipamento. No alto do maior mastro do navio, no cesto da gávea, como um pássaro, Oliver olhava para todos os lados com binóculos e avisava a Pearson e Barrett sobre icebergs e os possíveis navios aos arredores. O Estrella Siriah estava armado e agora, desviava de icebergs em meio a um frio cortante, onde os alunos estavam vestidos com as suas roupas mais quentes que tinham a bordo do navio. Hayes, havia montado outro exército a bordo do navio, este ficava no refeitório e protegiam as portas nas passarelas acima do refeitório, na qual um dos integrantes desse grupo era Shapiro e Lucy. No entanto, a tensão não era somente nos conveses e sim na ponte de comando, onde o imediato manipulava o timão conforme os avisos do radar e de Oliver.

Iceberg a estibordo, imediato! — chamou o sacerdote no walkie. — Dez graus a bombordo. Dez graus a bombordo, imediato!

— Certo, Oliver! — respondeu o imediato no aparelho e depois manipulando o timão levemente. — Nunca vi tantos icebergs assim...

Susan suspirou profundamente ao sentir o leve balanço do navio que retornava a sua posição original em estibordo..

— Eles me fazem lembrar do Titanic. — comentou Barrett analisando o radar e avistando mais icebergs ainda. — E há mais icebergs ainda em nossa direção, Charles!

O imediato suspirou profundamente.

— Saudades dos tempos de águas calmas...

Barrett sorriu. Mais uma vez, Oliver deu a ordem para Pearson desviar dos icebergs, onde aquilo se seguiu nos minutos seguintes. O comandante vez ou outra saía da ponte e visitava os marinheiros do lado de fora, no entanto, quando retornou, voltou a olhar o radar e mais uma vez, os dois pontos apareceram, porém o ponto mais lento seguia na frente do outro ponto que era o mais rápido. Porém, o que se seguiu foi que Oliver mais uma vez contatou com o imediato, mas dessa vez era diferente.

Imediato, avisto algo muito grande na proa. — relatou o padre no walkie. — Há umas três milhas na proa!

Em seguida, o radar emitiu um som muito estranho, este nunca ouvido por eles. O som era semelhante a uma sirene de ataques de bombas. Os tripulantes na ponte ficaram confusos e assustados e logo correram para o radar que mostrava algo grande e sólido adiante.

— O radar acusa que é algo de 23 milhas de extensão. — comentou Susan analisando o radar. — Isso não é um iceberg e muito menos um navio...

O capitão pegou os binóculos e através de uma pequena fissura no gelo que obstruía a vista das janelas da ponte, ele conseguiu avistar o que tinha a frente e surpreendeu-se, assim como os demais na proa e até mesmo Oliver no cesto da gávea.

—... É um grande muro de gelo!

Em uma distancia de apenas quatro milhas, o Estrella Siriah navegava na direção do imenso muro de gelo, este continha mais de seis metros de altura e dezenove de profundidade, fora a sua largura de mais de 30 milhas e 23 de comprimento. Fazendo assim o navio escola ser apenas um ponto branco em meio aos icebergs. Aquilo era algo antes nunca visto por nenhum dos tripulantes do Estrella, pois aquilo era algo inacreditável. Nem mesmo o capitão havia visto tal coisa antes.

— Não vai adiantar atravessar todo esse paredão de gelo. — Pearson comentou aproximando-se do radar após ter deixado o timão em "direção definida". — Sabe-se quantos dias levaremos pra contornar todo esse gelo e ainda mais com dois navios em cima de nós!

Susan olhou para o imediato e depois para o radar.

— Pearson tem razão, comandante! — a doutora respondeu e olhou para o comandante. — Essa parede de gelo é imensa, o Estrella não vai conseguir atravessar isso tudo e ainda mais com o Scorpion e o Estrella del Sul atrás de nós!

Barrett andou de um lado para o outro preocupado, depois voltou a olhar o radar, onde percebeu que o ponto mais fraco, que era o navio russo, estava a frente do ponto retangular que era o submarino nuclear. Susan olhou também para o radar e logo pôde perceber o que aquilo significava.

— Capitão, o navio mais próximo é o Estrella del Sul e a sua artilharia é mais pesada que a nossa. Eles possuem canhões! — Susan relatou apontando para o ponto que estava próximo do navio. — Atrás dele, é o Scorpion, o submarino nuclear do projeto Amazon!

Barrett franziu o cenho e olhou receoso para a doutora.

— Mas, o que eles querem com nós? — Barrett perguntou a doutora que negou balançando a cabeça, afirmando de que não sabia de nada. — Seria a caixa preta?

No entanto, antes que Susan pudesse responder, alguém entrou na ponte de comando e bateu com força na mesa com algo, chamando a atenção de todos ali.

— Eles querem isso, capitão. A pasta vermelha!

Todos olharam para a pessoa e ficaram impressionados, pois era Harry e Susan sabia que quem realmente a bordo que queria entregar isso para eles. No entanto, não acreditava na astúcia do auxiliar para fazer tal coisa.

— Capitão, há um desertor a bordo!

Barrett olhou sério para Harry e deu um passo a frente deste.

— Quem?

— John Hayes, o professor de sobrevivência!

No entanto, nos exatos segundos, o professor adentrou na ponte de comando e logo recebeu olhares raivosos de Barrett e Pearson. Hayes não se importou, mas quando olhou para a mesa, avistou a pasta vermelha e Harry estava ao lado dela e foi nesse momento que ele olhou para Susan, essa estava receosa e abaixou a cabeça.

— Sr. Hayes, o que significa essa pasta vermelha e porque você iria sair do Estrella?

Hayes apenas encostou-se na estante de mapas e olhou frio para todos ali.

— A muito tempo eu quero sair deste navio, mas nunca pude, porém, hoje eu tenho essa oportunidade! — Respondeu o professor. — E outra se eu não entregar essa pasta dentro de poucos minutos, eles nos abordarão e nos matarão!

Em seguida, o telefone, este semelhante ao dos náufragos do Queen Victory, tocou e o professor o retirou do bolso e vendo que eram "eles", ele olhou para todos ali antes de atender, mas o capitão estendeu a mão para ele e ambos se olharam sério e frio.

— Me dê este telefone, Hayes... — o comandante pediu e o professor continuou olhando sério. — Preciso falar com eles. Me dê esse telefone!

O professor, sem hesitar, entregou o telefone que tocava para o comandante, que logo avistou quem era na chamada e atendeu, enquanto o professor apenas se encostou na porta da ponte e esperou para ver o que o comandante iria fazer. Barrett logo atendeu o telefone e o levou a orelha.

Hayes?

Aquela voz no telefone era muito familiar para o comandante e ele logo soube o que fazer.

— Aqui quem fala é o capitão William Barrett do Estrella Siriah, e não tenho nenhuma intenção de entregar a pasta vermelha!

Em seguida, ele desligou o telefone. Susan, Hayes e Harry sabiam o que iria acontecer naquele momento, tanto que havia duas possibilidades de ataque: o Scorpion lançar torpedos ou "eles" chegarem até o Estrella e matarem todos a bordo. No entanto, logo os tripulantes na ponte começaram a ver as ações do Scorpion através do radar.

— O submarino começou a navegar mais rápido... — avisou o auxiliar olhando o radar e em seguida olhou para todos. — Com toda a certeza, os reatores nucleares estão trabalhando duas vezes mais do que os motores do Estrella, afinal, ele alcança 25 nós!

Barrett caminhou até o radar e pôde ver que o submarino estava quase igualando ao navio russo, que também começou a navegar mais rápido.

— Se eles lançarem um de seus torpedos, afundará o Estrella em apenas dois minutos... — Disse a doutora receosa olhando para o comandante. — E eles podem alcançar mais de quinze milhas!

— O submarino está a nove milhas... — respondeu Harry agora novamente olhando para o radar. — Se eles lançarem os torpedos, poderão nos atingir!

O comandante estava em silêncio e apenas pensativo, até que chegou duas notícias através do walkie. A primeira era de Oliver, que chegou para Pearson.

Imediato, eu consigo avistar um navio a sudoeste na popa... Possivelmente umas sete a oito milhas! — houve uma pausa na notícia do padre que analisava o navio com os binóculos. — Um navio semelhante ao Estrella, só que maior, parece que ele porta uma bandeira da... Rússia!

O imediato olhou receoso para o comandante.

— Certo, obrigado Oliver, avise-me se ele se aproximar mais!

Em seguida, outro aviso chegou para o comandante, era Darwin, este na popa do navio.

Capitão, um navio russo em sudoeste de nossa popa está atirando contra nós, parecem ser bolas de canhão... — a voz do aprendiz ecoou na ponte de comando e trouxe mais preocupação ainda. — Podemos responder com o Ballard?

O comandante ficou em silêncio, ainda preso em seus pensamentos sobre o que reagir com os ataques do navio russo e a perseguição do Scorpion.

— Capitão, o Ballard tem apenas cinco bolas, se errarmos, não teremos mais nada. — Harry aproximou-se do comandante. — E precisamos fugir deles... melhor, precisamos desaparecer deles!

Pearson franziu o cenho.

— Como iremos fazer isso, Harry? — perguntou o imediato assumindo novamente o timão. — Estamos debaixo de um sol e no radar somos mais visíveis que as estrelas numa noite de céu aberto!

Harry sorriu.

— Não seremos se nos escondermos naquela fissura no gelo... — o auxiliar apontou para uma linha no gelo a bombordo que apresentava no radar. — Se nos escondermos lá, poderemos sobreviver!

O comandante finalmente acordou de seus pensamentos e logo franziu o cenho, assim como o imediato fez segundos antes.

— Isso é loucura, Harry. — respondeu o comandante. — O gelo poderá nos matar, e eu não quero morrer esmagado por um paredão de gelo!

— Não capitão, Harry tem razão. — disse a doutora vendo agora todos olhando para ela. — O radar do submarino e do navio russo não conseguirão nos mapear, pois quando o radar fizer isso, nos mostrará como parte do gelo!

O comandante negou.

— Eu não irei fazer isso. É suicídio!

Hayes se irritou.

— Suicídio será se o submarino e o navio russo nos alcançar. — o professor disse indo até o capitão. — Capitão, se entrarmos naquela rachadura, temos pelo menos dez a quinze porcento de chances de sobreviver, se o Scorpion nos alcançar, não teremos nem um porcento!

O comandante ficou pensativo e olhou para Pearson que pegou o walkie-talkie.

— Oliver, nós cabemos naquela rachadura a frente em bombordo?

Houve um breve silêncio.

Eu acho que não tenho certeza...

— Não me venhas com achismos, quero responder sólidas!

Houve outro breve silêncio, enquanto o padre analisava a rachadura.

Sim, os mastros poderão raspar nas paredes, mas caberemos!

O imediato olhou para o capitão, que apenas assentiu após ter decidido algo.

— Certo, então vamos nos esconder. Charles, pode fazer isso?

Pearson bateu continência e sorriu confiante, depois assumiu o timão mais uma vez. O comandante pegou o seu walkie e conectou-se a todos os aparelhos do navio.

— Atenção todos os marinheiros nos conveses, estão todos dispensados, se reúnam no refeitório. Isso é uma ordem!

Em poucos segundos, todos os marinheiros já estavam abandonando suas posições e entraram para dentro do navio, onde o calor estava se apresentando devido a calefação. Marge serviu para todos um café bem quente, onde o frio que sentiram não estava mais presente. Agora, todos estavam correndo um grande risco se o navio não coubesse na fissura do gelo e também se o submarino nuclear os alcançasse. Tudo dependia da pura sorte.

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