[74] | Capítulo 15 - Festividades
A temperatura caía a todo minuto que se passava, por isso, muitos vestiam sobretudos, casacos, gorros e luvas para poder suportar o frio tanto no convés exterior como interior do Estrella. Segundo os mapas, o navio está se aproximando de uma grande massa de gelo e isso alteraria bastante na temperatura, como era o caso agora. Muitos tripulantes e alunos estavam vestidos assim e em seus turnos trabalhando no convés, não muito diferente estava Alice, encostada no guarda-corpo a estibordo do navio, analisava as ondas que eram cortadas pela quilha. Em silêncio e escutando apenas o vento, logo esse som foi quebrado pela porta do convés que foi aberta e dela surgiu Oliver, este com as mãos no bolso e tentando se aquecer do frio. Alice se animou ao vê-lo. Ele a avistou e andou calmamente até ela, onde se encostou no guarda-corpo e ajeitou o cachecol no seu pescoço e dispôs a olhar o oceano.
— Eu estou em uma confusão imensa... — Alice comentou chamando a atenção de Oliver. — Estou namorando um homem maravilhoso, porém, beijei outro homem mais maravilhoso ainda!
Oliver olhou para ela e sorriu entre o cachecol.
— Esse caso me lembra um caso de amor que ocorreu a mais de 2000 anos atrás, em que um homem trabalhou igual um escravo por cerca de 20 anos, tudo porque a amava... — Oliver contou enquanto Alice abria sorrisos fracos. — Ele fez o que o seu coração mandava... Pois, quem manda é o coração!
Alice sorriu novamente.
— Veio me contar a Bíblia em versos? — ela perguntou sorrindo. — E em você? O seu coração manda em você?
Oliver suspirou profundamente, esfregou as mãos umas nas outras e olhou brevemente o horizonte antes de dizer alguma coisa e olhar para Alice.
— Sim, ele manda, mas eu não posso obedecê-lo... — ele olhou sério para Alice. — Eu sou padre, Alice e eu não posso obedecer o meu coração!
A loira ficou em silêncio antes de responder ele.
— Então você veio falar do amor de Jacó com Raquel ao invés de me pedir um encontro?
Oliver desviou o olhar por alguns segundos.
— Nem se quer tentamos e olha onde estamos... — o padre a olhou brevemente. — Eu sou padre e não podemos continuar com isso...
— Eu devia ter percebido antes...
Alice rapidamente saiu do convés, deixou um pensativo Oliver encostado no guarda-corpo, até que ele percebeu que Alice havia deixado um cachecol sobre a barra do guarda-corpo. Foi então que ele rapidamente agarrou o cachecol antes que uma rajada de vento levasse o acessório da garota. Com ele em suas mãos, Oliver ficou mais pensativo ainda, pois ele tinha a certeza de que havia feito a coisa certa.
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De certo, as temperaturas estavam cada vez mais baixas na região da enfermaria e do porão, onde os termômetros locais marcavam 10 graus, e lá, os sobretudos e casacos acabavam quase não dando conta do recado. Não muito longe do porão principalmente, ficava a enfermaria, onde os meninos: Harry, Nicolas e Ramiro, se encontravam tentando resolver o caso do auxiliar, mas nada adiantava. Ramiro fazia menção de chamar Susan, porém, o auxiliar negava e pedia para que ninguém mais soubesse disso. Ainda mais por terem achado uma estranha cicatriz nas costas do auxiliar, como se ele tivesse sido operado recentemente. Mas, este afirma que não havia feito nenhuma operação
— Como você não fez nenhuma operação, se a cicatriz nos dá a certeza de que você fez essa operação em menos de cinco dias! — Ramiro respondeu aproximando-se dos dois rapazes. — Não se lembra realmente de já ter essa cicatriz?
— Mas é claro que eu nunca tive essa cicatriz antes e eu não fiz nenhuma operação recentemente. — Harry respondeu, até que se lembrou de algo. — A não ser quando me sequestraram...
Os dois rapazes ficaram surpresos e assentiram.
— Então eles adicionaram a radioatividade por essa cicatriz, por isso que você está igual uma árvore de Natal! — Ramiro respondeu guardando as coisas. — Mas ainda não entendo porque usaram radioatividade em você.
— Eu também não...
Enquanto Ramiro guardava as coisas e Harry procurava por sua camisa, ninguém esperava que Susan entrasse sorrateiramente no local e assustasse a todos ali com a sua presença. Porém, ela pegou no flagra e agora poderia descobrir o que eles haviam feito com Harry.
— O que aconteceu aqui? — ela olhou desconfiada para todos ali. — Harry, o que aconteceu?
O auxiliar olhou para Ramiro e Nicolas, que apenas fizeram gestos para ele contar a verdade sobre tudo.
— Bom, eu estou com as unhas alaranjadas e segundos eles, no óculos de radiação, estou igual a uma árvore de Natal!
Susan franziu o cenho.
— Árvore de Natal? — ela pegou os óculos sobre a mesa e os colocou logo analisando Harry. — Meu Deus. Realmente, você parece uma árvore de Natal...
Ela retirou os óculos do rosto e olhou para ele séria.
— Você está com uma grande quantidade de radiação e eu preciso averiguar isso!
O auxiliar assentiu.
— Nicolas e Ramiro podem se retirar, preciso falar com Harry, sim?
Os dois assentiram e acenaram para Harry, onde desejaram boa sorte a ele.
— Eu preciso conversar algo muito importante com você, Harry...
O auxiliar assentiu e sentou-se de frente para ela, enquanto a mesma fez a mesma coisa.
— Bom, eu vou direto ao ponto, você está com câncer de estômago... — Susan disse e viu o auxiliar quase entrar em pânico. — Mas se acalme, ainda está no estágio dois e há como reverter isso!
Harry ficou assustado.
— Reverter? COMO IREMOS REVERTER ISSO NO FIM DO MUNDO, SUSAN? — Harry perguntou em desespero. — EU VOU MORRER, NÃO É? COMO VOCÊ NÃO ME DISSE ISSO ANTES?
— Harry, se acalme, preciso que você se acalme! — pediu Susan tentando acalmar o auxiliar. — Acalme-se, por favor!
Aos poucos, Harry foi se acalmando e logo quando estava calmo, a doutora pôde explicar.
— Mas fique calmo, o seu câncer não é tão difícil e nem tão fácil para a reversão, acredito que conseguirei revertê-lo!
Harry ficou preocupado.
— Mas como isso?
— Assim como fazíamos antes, todos os dias você vem para a coleta de sangue e assim eu vejo o que poderei fazer, sim?
Ele assentiu pensativo.
— Susan, não conte isso a ninguém... — Ele disse ao se levantar. — Nem mesmo para Marge ou para Annabeth, sim?
Susan assentiu.
— Fique tranquilo, Harry, tudo dará certo!
Harry abriu um sorriso fraco e assentiu, depois saiu. Enquanto Harry seguia andando pelo corredor, totalmente coberto por diversos lençóis e acompanhado de um cachecol, ele pensava bastante sobre o seu futuro, será que ele iria ver a terra firme? No entanto, o que ele mal sabia o que ocorreria com ele ao passar em uma esquina de um corredor escuro com outro. Uma mão feminina o puxou para a escuridão do corredor, fazendo-o ficar com medo, até que uma lanterna foi ligada e ele pôde ver quem era.
— Fique tranquilo Harry, eu ainda não arranco pedaços!
O auxiliar sorriu ao ver quem era.
— Ainda bem, Annabeth...
Ela sorriu e em seguida, ela levou os seus braços ao redor do pescoço dele e após uma troca de sorrisos, um beijo foi selado brevemente, fazendo-o o calor se mostrar presente ali.
— Feliz Natal, Harry...
Ele sorriu ao olhar para ela mais uma vez.
— Feliz Natal, Annabeth!
E eles se beijaram mais uma vez. Em meio a carícias e beijos, eles não demoraram muito para irem a festa no refeitório, mas o tempo ali foi o bastante para poderem matar a saudade um do outro.
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No refeitório, a festa prosseguia com os alunos fantasiados com roupas especificas da época em que Jesus nasceu. Uma árvore, que pegava a base do mastro maior, feita com tábuas de madeira estava sendo enfeitada com bolinhas brilhantes e algumas das guirlandas improvisadas. O clima natalino ficou mais forte ainda quando começaram a cantar uníssono a canção "noite feliz". Sorrisos, risadas e murmúrios eram o que se podia ouvir naquele salão, que era alegre e feliz, assim como era na residência de cada um quando o cataclismo global ainda não havia acontecido. Não demorou muito para que o comandante e o imediato adentrasse com uma garrafa e duas taças em mãos. Logo, chamou a atenção e todos o olharam atenciosos.
— Hoje é uma data muito especial para muitos aqui, eu sei que o Natal não é uma época fácil para alguns, ainda mais hoje... Pois temos a falta de nossos entes queridos. Mas, hoje temos um motivo para festejar, pois estamos vivos...— Barrett disse enquanto olhava para todos ali. — O Natal era para ser algo bom e feliz, porém, graças ao cataclismo isso se tornou uma completa tristeza. Mas, não desanimamos, pois estamos em rota com a terra firme e se não me falha os cálculos e sem nenhuma interrupção, estaremos lá dentro de seis a sete dias!
Em seguida, uma grande comemoração foi feita por alunos e tripulantes, que logo foram intercalados por Pearson que pedia silêncio.
— É uma notícia muito reconfortante para nós, pois é um sinal de que não podemos desanimar nunca... — Barrett sorriu e levantou uma taça para cima. — Marinheiros e marinheiras... Feliz Natal a todos!
Uma salva de palmas e "feliz Natal" era o que se mais podia ouvir naquele salão, mesmo depois de terem estourado a rolha de uma garrafa de champanhe. A alegria foi imensa e logo começaram a jantar, enquanto outros, que sentiam a falta de algum amigo ali, pegaram seus walkie-talkies e desejaram um "feliz Natal" aos que estavam em outro local e em turnos. Tom, que ainda estava preso pendurado no salão, comeu algumas coisas e bebeu algumas bebidas, mas não quebrou a sua promessa. Barrett analisou o rapaz pendurado e seguiu até onde ele estava através da passarela, chegando lá, abaixou-se ao lado dele.
— Porque você não desce, Thomas?
— Capitão, eu sou um homem apaixonado procurando por respostas de sua amada... — Thomas respondeu vez ou outra olhando para o comandante. — E eu fiz uma promessa de que não iria sair daqui enquanto Alice não me respondesse...
Barrett assentiu pensativo.
— Você decide, Thomas. Boa sorte e feliz Natal!
Em seguida, o comandante levantou-se dali e seguiu andando.
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Não demorou muito para que a festa no refeitório chegasse ao fim, onde as últimas pessoas que lá ficaram foi apenas Lucy e Shapiro, que já estavam de saída. Logo o salão ficou escuro e deserto, com apenas Thomas pendurado por alguns cabos vestido de branco igual a um anjo. Tudo o que Thomas ouvia naquele silencioso salão, era apenas as ondas batendo contra o casco do navio escola e isso trazia ao jovem uma série de calafrios. Numa completa solidão, ele pegou o walkie-talkie que estava em seu bolso e telefonou para quem estivesse na linha. Sortudo. Havia alguém na linha.
— Olá, há alguém na linha? Jessie?
— Olá Tom, sou eu, Violetta. Estou tentando contato com Darwin, mas não consigo!
Thomas assentiu pensativo.
— Quer que eu vá descer você?
— Não é preciso, Violetta... — ele fez uma breve pausa. — Estou mantendo a minha palavra de que não descerei enquanto Alice não me der respostas. Por falar nela, ela está dormindo?
Houve uma breve pausa na resposta de Violetta.
— Não, ela não está dormindo!
Tom suspirou profundamente antes de dizer algo.
— Estou achando que isso foi um erro...— ele respondeu triste e fez uma pausa . — Talvez entre tantas idas e vindas, realmente se tornou um erro!
Houve um breve silêncio.
— Não há erro no amor, Tom. Só alguns que tem a sorte de durar bastante ou o azar de durar pouco. Como eu e Darwin, até hoje estamos fortes no relacionamento. — Violetta respondeu antes de fazer uma pausa. — Passe a página, Thomas, você sabe que se continuar irá só magoá-la!
Tom ficou pensativo.
— Tente conversar com ela, sim? Qualquer coisa, se quiser descer, estou por aqui!
— Obrigado Violetta, mas só descerei daqui apenas com uma resposta dela!
Encerrou-se o contato entre ambos. Tom relaxou os braços e quase mergulhou de cabeça no salão, mas foi segurado pelos cabos em meio a escuridão daquele salão, enquanto os relógios do navio marcavam 00h30min. Porém, o que ele não sabia, era que Alice estava escondida atrás de uma escada próxima a ele e que havia escutado toda a conversa e assim, logo ela decidiu algo. Sob passos calmos e quase silenciosos, Alice andou até ele com uma lamparina em mãos e para que ele a reconhecesse, ela levantou a luz até o seu rosto e abriu um sorriso leve ao ver o rapaz a reconhecer.
— Acredito que precisamos conversar, sim?
Tom sorriu.
— Desça-me então!
Alice andou até onde os cabos estavam amarrados no guarda-corpo de uma escada que levava ao convés abaixo, e calmamente, ele foi baixado até o chão, onde retirou as asas de anjo e a jogou sobre uma mesa qualquer que estava próxima. Alice correu até ele e agora, ambos olhando um para o outro, eles logo decidiram algo.
— Alice, estive aqui pensando e acredito que seja melhor seguirmos sozinhos...
Os olhos da loira logo ficaram imersos de lágrimas.
— Você concorda de que se continuarmos assim, iremos acabar magoando um ao outro, sim? — Thomas disse enquanto os seus olhos também ficavam imersos de lágrimas. — É melhor sermos apenas amigos agora...
Ela assentiu.
— É a única maneira que encontramos, Tom... Infelizmente essa é a única maneira!
Em seguida, eles se abraçaram e começaram a chorar, pois ao mesmo tempo lembravam de tantos momentos juntos felizes que haviam passado e assim, naquele dia de Natal, eles encerravam amigavelmente em meio a um salão de jantar escuro que era apenas iluminado com uma lamparina. Logo eles se distanciaram um do outro e a moça levou as suas mãos as lágrimas do rapaz, enxugando-as e depois disso, eles abriram sorrisos fracos.
— Acredite, eu só estou terminando com você pois está ficando chata demais para suportar!
Alice sorriu.
— E você está ficando insuportável demais!
Thomas sorriu e mais um abraço apertado foi dado entre eles. Ali, encerrava-se um belo namoro, que infelizmente foi perturbado por uma terceira pessoa que ambos os dois amavam igualmente.
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Enquanto isso, do lado de fora do navio, debaixo de uma noite cheia de estrelas e completamente coberta de frio, um jovem rapaz escalava o maior mastro do Estrella com uma lamparina em mãos e dois lençóis, que balançavam ao vento. Este era Oliver Kendall, o último padre do mundo, que completamente uniformizado de padre, já se encontrava no alto do maior mastro, preso por cabos iguais aos de Thomas, ele se agasalhou no cesto da gávea, onde estava decidido de algo. Apoiando-se em um dos cabos do mastro e olhando para o céu estrelado e escuro, ele decidiu dizer algumas palavras.
— Olá Pai, eu sei que sou um idiota e que não tenho nenhum direito de lhe pedir nada. Preciso que o Senhor me ajude a voltar a confiar em ti, pois tomei uma decisão que só trouxe danos as pessoas que amo, por isso quero voltar a confiar em ti. — disse Oliver olhando para o céu. — Quero um sinal, apenas um sinal. Algo pequeno, aqui e agora, que me digas que estás aqui e que quer que eu volte, sim?
Oliver olhou para o céu pela última vez, em seguida, sentou-se sobre a base do cesto da gávea e enrolou-se com o cobertor, a fim de conter o frio e sem tirar os olhos da estrelas, ele continuou lá até que adormeceu. Boa noite, Oliver.
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