[64] | Capítulo 5 - "Cuidado!"
Um lugar que certamente tinha muita água e muito sabão era, de fato, na lavanderia do navio, onde diversas máquinas de lavar e centrífugas encontravam-se a disposição de quem quisesse usar. Situada acima do porão e abaixo da dispensa do navio, a lavanderia era um dos lugares mais agradáveis em questão de temperatura, por ter o chão molhado constantemente, alguns alunos iam para lá para ter paz e aliviar o calor do corpo. Mas neste dia, Oliver, Nicolas, Violet e Jessie não estavam ali para se refrescar, e sim para lavar as roupas sujas da semana. Como era de costume, um certo grupo de alunos lavavam as suas roupas numa segunda, quarta ou sexta, enquanto outro grupo lavava nos outros dias restantes. No domingo, quase ninguém ia naquele local. Na lavanderia, além das máquinas, tinha também um varal, onde os alunos colocavam as suas roupas para secar, no entanto, a maioria deles preferia colocar as roupas no convés exterior, principalmente no convés da popa, apesar do capitão repreender isso, na qual ele dizia que os conveses exteriores não em um quintal de varais e sim um convés de uma embarcação. Muitos meninos o imitavam por sempre estar dizendo isso, o que mais se destacava era Nicolas, que sabia imitar até os gestos com as mãos que o comandante fazia.
- Faça de novo aquela imitação do capitão, Nicolas! - Pediu Jessie quase implorando pro rapaz. - Por favor, só dessa vez!
- Está bem, está bem! - Ele cedeu. - Mas é só dessa vez, sim?
A moça assentiu sorridente. Nicolas afastou-se um pouco do grupo e estufou o peito, começou a caminhar firmemente na direção deles. Parou entre eles e olhou para todos eles, imitando o gesto do nariz empinado como o comandante fazia.
- Senhores, o convés exterior não é um quintal de varais... - ele imitou a voz grossa de Barrett. - E sim um convés de um navio!
Todos riram, até que de repente, um estranho barulho vindo das escadas do porão foi ouvido por eles. Nicolas rapidamente se assustou, pensando que fosse o capitão, mas o barulho era como se fosse uma pancada em um pedaço de aço.
- Vocês ouviram isso, não é mesmo?
Todos assentiram.
- O que pode ser? - Violet perguntou receosa. - É como se alguém tivesse golpeado o casco do Estrella com uma marreta.
Eles deram passos a frente, mas logo pararam quando Oliver se lembrou de algo.
- Espere, isso pode ser a água no casco do Estrella... - Oliver disse vendo os seus amigos ficarem pensativos. - Geralmente, navios sofrem pancadas devido a uma coluna da água de uma certa região do mar!
- Olha, até que isso não está errado... - Nicolas disse após pensar bastante sobre isso. - Exatamente é isso mesmo!
Todos eles sorriram aliviados.
- E eu pensando que fosse outra coisa! - Violet disse afastando-se da escada. - Vamos pro clube, e mais voltamos aqui pra recolher essas roupas!
Os amigos dela assentiram e por fim, deixaram o local conversando diversos assuntos aleatórios. Mas, aquela pancada não foi uma coluna de água que atingiu o casco, mas sim uma sombra que os observou indo embora e que se escondeu na escuridão do porão. Quem poderia ser?
━─━─━─「⊱✠⊰」─━─━─━─
Aquele dia era um dos mais estranhos que já se passaram a bordo do Estrella Siriah, pois uma estranha onda de vento assolava a região em que o navio prosseguia calmamente pelo oceano. Tudo aquilo era bom para a temperatura, mas também era ruim para a navegação, pois o vento atrapalhava as velas, o sinal do rádio e as luzes de navegação de qualquer embarcação que pudesse surgir no horizonte. Tanto, que as velas do navio estavam amarradas e muitos marinheiros estavam proibidos de irem ao convés exterior, pois os ventos eram fortes o bastante para derrubar um homem no mar. Preocupado com a situação do navio e da viagem até a terra, o comandante e o imediato estão na ponte de comando sob a companhia do auxiliar de convés Harry, que está lendo um livro e não dando a mínima para o que os dois homens conversam.
- Se essa maldita ventania durar um dia inteiro, a nossa viagem pode se atrasar mais do que já está... - comentou Barrett andando de um lado ao outro na ponte. - Tantos dias para acontecer e acontece justo hoje?
Pearson, que fumava um charuto, analisava algumas cartas de navegação e fazia alguns cálculos.
- Bom, se isso aconteceu é porque ainda não devemos chegar lá! - Charles comentou baforando a fumaça de seu charuto. - Mas, o atraso será das mesmas proporções da duração da ventania!
Barrett bufou suavemente pensativo.
- Mesmo se utilizarmos as velas, a ventania iria nos atrapalhar!
Harry, que lia o seu livro, franziu o cenho e olhou para os dois homens.
- Mas capitão, o vento não ajudaria o Estrella a ser mais rápido?
- O que acontece Harry, é que os ventos estão em uma velocidade anormal por aqui e nos golpeia pela proa! - Charles se intrometeu. - Ou seja, com as velas estendidas, nunca sairíamos do lugar e acabaríamos com o nosso combustível!
Harry assentiu e voltou a ler o seu livro.
- Com ventania ou não; eu quero apenas chegar em terra firme o mais rápido possível!
Pearson assentiu e por ali, houve um breve silêncio, até que Harry saiu dali e seguiu para a sala de aula e em poucos minutos, os comandantes na ponte de comando também desertaram dali.
[...]
Não muito longe da ponte, exatamente atrás dela, ficava o clube, o refeitório e as passarelas que ficavam acima do grande salão com diversas mesas. Essas mesas podiam comportar até dez alunos por vez em cada lado, enquanto outras eram apenas cinco. Por falar em alunos, devemos ressaltar que no grande salão silencioso, um grupo de meninas alegres e eufóricas se encontravam ali conversando e rindo constantemente. Marjorie, que preparava o almoço de todos, onde cortava algumas cebolas perto da cozinha do lado de fora desta, ouviu todo aquele barulho feito por elas e decidiu ver o que estava acontecendo. Sob passos leves e calmo, logo ela chegou até as garotas, e pôde ver que: Alice, Annabeth, Violet e Jessie, conversando e concentradas no assunto da roda. No entanto, mesmo com Marge por perto, elas não pararam de conversar e acabaram ficando surpresas ao verem a cozinheira ali parada.
- Que susto, Marge... - disse Alice colocando a mão no peito e respirando fundo. - A senhora pareceu igual a um fantasma aqui!
A cozinheira sorriu.
- Se ficaram assustadas, é porque estavam fazendo algo de suspeito! - A mais velha se encostou na mesa e sorriu mais uma vez. - Desculpe ser intrometida, mas do que estavam falando, meninas?
Todas elas, antes de responder, olharam uma para a outra sorridentes e travessas.
- Bom tia Marge, acontece é que a Annabeth... - respondeu Violet um pouco travessa e olhando para a amiga que implorava para ela ficar calada. - Ela está apaixonada por Harry!
Marge ficou surpresa ao ver aquilo e rapidamente olhou para a moça, que estava envergonhada.
- Olha, o que eu posso lhe dizer é... - A cozinheira fez uma pausa dramática. - Que Harry é um ótimo homem para se casar, e disso eu tenho certeza!
As meninas vibraram, menos Annabeth, que ainda se encontrava tímida e envergonhada.
- Tanto, que quando estávamos em terra, ele era casado e tinha muitas amigas minhas solteiras que queriam ter algo com ele... - Marge respondeu vendo as meninas ficarem atentas ouvindo aquilo. - Para vocês verem o quanto ele era xavecado por aí!
Jessie sorriu.
- Mas agora ele só tem olhos somente para Annabeth... - disse Jessie entre risadas. - Não é mesmo, Anna?
A moça, que estava sendo feita de chacota, levantou-se brava e olhou para Jessie, que ainda sorria.
- Pelo menos eu não sou apaixonada pelo novato, não é Jess? - Annabeth provocou. - E eu não lhe dei tal liberdade para falar disso, sim? Com licença!
Pisando forte e bufando, Annabeth deixou o local sem dizer mais nada e deixando uma Marge confusa.
- Porque ela saiu assim? - a cozinheira ficou preocupada. - Será que ela se ofendeu?
- Ela é sempre assim, tia Marge. - respondeu Violet tranquilizando a mais velha. - Quando provocam ela, fica com raiva, mas adora provocar os outros!
Marjorie assentiu; mas ainda assim ficou preocupada com o estado de Annabeth. "Será que ela se ofendeu?", a cozinheira perguntou-se a si mesma.
━─━─━─「⊱✠⊰」─━─━─━─
- Eu acho que quem embaraçou essas redes é quem devia desfiar elas...
- Pare de reclamar, Thomas... - Oliver repreendeu o mais baixo. - Desde que entramos aqui você só reclamou, e olha que estamos aqui a apenas cinco minutos!
- Mas é sério, Oliver, eu tenho um tanto de coisas para fazer hoje e tenho que ficar aqui desfiando redes!
Oliver revirou os olhos em sinal de raiva. Os meninos - que estavam livre a cinco minutos atrás, agora sob ordens de Pearson - encontravam-se na sala de aula do Estrella, que ficava situada na sala e abaixo do convés de passeio da popa do navio. Às redes de pescas haviam sido embaraçadas por alguém, pois, de repente, elas amanheceram amarradas no encostado do navio e todas embaraçadas. Suspeitando de foi os meninos que esqueceram as redes amarradas e elas se embaraçaram com as correntes do oceano, o imediato ordenou a eles que fizessem todo o trabalho de desembaraçar todas elas e depois amarrá-las devidamente em seus lugares, algo que Thomas não gostou, pois desde que foi ordenado a esse trabalho, ele não parava de reclamar.
- As coisas que Thomas se refere é apenas beijar Alice e bater perna no Estrella!
- Olha Nicolas, não é só porque você é brasileiro que pode me insultar com essas suas gírias do Brasil!
Ramiro sorriu.
- A inteligência faz uma grande falta em você... - Ramiro disse parando de trabalhar e olhando para o mais baixo deles. - Nicolas quis dizer, que você irá apenas perambular pelo navio enquanto faz esses seus afazeres!
Thomas ficou desconfiado.
- É bom que seja isso mesmo, Nicolas!
O brasileiro sorriu. Logo após, Harry adentra na sala de aula, com um olhar otimista na face.
- Bom dia, rapazes... - Harry sentou-se sobre uma das mesas da sala. - Pelo visto, traçaram essas redes muito bem...
- Nem me fale, Harry! - Ramiro disse trabalhando afanosamente. - E além do mais, Thomas não para de reclamar!
O auxiliar sorriu.
- De que o Thomas não reclama?
- Só quando Alice decide deixar ele fazer algo com ela... - Nicolas comentou sorridente. - E nisso ele não reclama nenhuma vez!
Thomas ficou furioso.
- Querem calar a boca? - Ele pediu irritado. - E ao invés de estarem falando da minha vida, porque não me ajudam nisso aqui?
Harry revirou os olhos sorridente.
- Está bem, oh, príncipe da Dinamarca! - o auxiliar fez uma referência ainda sentado na mesa. - Eu vou lhe ajudar!
Porém, quando Harry foi descer na mesa, ela acabou se desequilibrando e ele conseguiu saltar a tempo, antes que a mesa caísse no chão.
- Se Hayes souber disso... - Thomas comentou vendo a mesa no chão. - Ele irá cortar o seu pescoço fora!
- Não irá se eu disser que foi você! - Harry respondeu. - Agora venha me ajudar aqui!
O mais baixo ajudou o mais velho a levantar a mesa, mas quando conseguiram levantar a mesma, viram que no chão havia um pequeno pergaminho dentro de uma caneta, que não tinha o seu interior e nem o bico para escrever. Sobre olhares curiosos dos outros meninos, Harry rapidamente pegou o objeto do chão e o olho curioso.
- O que é isso, Harry?
- É o que iremos descobrir agora... - ele rapidamente retirou uma pequenina tampa da caneta e conseguiu tirar o pergaminho de dentro da caneta. - Acho que isso está aqui há uns dez anos!
- Por quê?
- Não vê que o papel já está em uma cor de decomposição? - Respondeu o auxiliar, que retirou uma fita vermelha que amarrava o pergaminho. - Porém, isso não importa e o que realmente importa é o que está escrito nele!
Em seguida, sob os olhares curiosos dos meninos ali, Harry abriu o pergaminho e nele tinha uma mensagem escrita a mão, e pelo visto, a letra aparentava ter sido escrita por uma caneta de pena.
- Tudo aquilo que deseja encontrar, está em um lugar alto... - Harry disse lendo a mensagem no pergaminho e trazendo curiosidade a todos eles. - O que isso quer dizer?
- Algo que também não sabemos, Harry!
Eles ficaram pensativos.
- Já sei! - Disse Thomas chamando a atenção deles. - Talvez possa ser os piolhos na cabeça de Oliver, afinal ele é o mais alto entre nós!
Oliver revirou os olhos bufando, enquanto os outros sorriram.
- E se isso for um tesouro? - Ramiro sugeriu a todos eles. - Lembra daquela vez que encontramos o diário do capitão Freeman, e que ele havia escondido a maleta do homem de Liverpool?
Harry e Oliver ficaram pensativos.
- Realmente, mas já se passou tanto tempo daquilo que acho que perdi as cartas do capitão Freeman. - Disse o auxiliar pensativo. - Ou não...
- Mas enfim, se querem sair desse trabalho tedioso... - Thomas sugeriu com um sorriso travesso no rosto. - Sigam as ordens do pergaminho!
Todos eles se entreolharam e sorriram travessos.
- Quem achar algo venha até o nosso ponto de encontro, que será aqui na sala de aula! - Harry ordenou a todos. - Quem não tiver o walkie-talkie fique com quem tiver, sim?
Todos assentiram.
- Agora vamos!
Em seguida, Harry e Nicolas foram para um lado, Ramiro e Oliver para o outro e Thomas seguiu sozinho conforme os seus instintos. Mas, aqui entre nós; onde todos aqueles pergaminhos iriam levar?
━─━─━─「⊱✠⊰」─━─━─━─
O refeitório era um dos lugares mais silenciosos e desertos depois das 14hrs da tarde, pois naquele exato momento, os alunos do Estrella estavam em seus afazeres e muito provavelmente, em seus turnos de vigílias ou descansando. Não muito diferente deles, os tripulantes do navio também estavam ocupados ou descansando, menos a doutora Andrews. Esta estava sentada em uma das mesas do refeitório, ao seu lado, um livro fechado - e com um marcador que se encontrava nas últimas páginas - e um copo de água com alguns cubos de gelo no nível da água. Pensativa, e com as mãos juntas e apoiadas no queixo, os seus olhos fixaram em um ponto do salão e lá ficaram concentrados. No entanto, a sua mente estava em um lugar bem longe do atual. "Tome cuidado com ele!", era a frase de Hayes que ainda ecoava em sua mente. "Cuidado com eles. Eles não são confiantes!", essa frase era de seu falecido noivo, Arnold. Porém, ela logo foi despertada de seus devaneios por um som de passos de botas que ecoavam no salão silencioso. Os passos vinham da passarela acima do refeitório, então, rapidamente os seus olhos correram para a passarela e quando ela pôde ver quem era, uma expressão séria e sem nenhum tipo de reação tomou a sua face. Era Finnley. O rapaz olhou para a doutora com um sorriso fraco e provocador em sua face. Ela sabia que aquilo não era um bom sinal e que algo ruim aconteceria, mas o que ele também não esperava, era que Susan também tinha os seus planos de escape.
"Nada pode piorar", foi o que ela pensou. Mas, a ideia mudou quando Hayes adentrou no salão e avistou Finn passando na passarela acima deles, depois, desceu e seguindo em direção a uma escada, onde esta levava ao convés abaixo. Tudo isso em questão de segundos, Hayes e ele se entreolharam sérios um para o outro. Ambos sabiam que tinham uma arma secreta, e que poderiam usar facilmente um contra o outro. Susan, um pouco nervosa, se viu mais nervosa ainda quando o professor de sobrevivência caminhou calmamente em sua direção. Sério e frio, ele apoiou-se na mesa e olhou diretamente em seus olhos. Susan retribuiu o olhar e rapidamente arranjou uma estratégia para não demonstrar medo.
- Você sabe que tudo o que ele fizer contra nós, será sua culpa. - Hayes a avisou quase sussurrando. - E também, você tinha a arma certa para acabar com ele, mas o livro do ceifador...
Susan agora fechou levemente a sua face.
- Lembre-se de que somos aliados de Wallace, se eles soubesse de que matamos Finn, ele irá nos matar... - Susan respondeu um pouco brava olhando diretamente ao professor. - E eu só não o matei por conta de Wallace... Se não, ele não estaria aqui hoje!
Hayes ficou pensativo por alguns segundos e desviou o olhar rapidamente para qualquer lugar da sala.
- Wallace sempre agiu de maneira estúpida e ainda mais salvando ele...
Susan, ainda séria e um pouco brava, o fez olhar para ela mais uma vez.
- Se ele fez isso, é porque sabe das consequências!
Hayes, agora pensativo, continuava olhando para ela, que agora recolhia as suas coisas e terminava de tomar a sua água no copo.
- As consequências de Wallace pode levar a todos desse navio a morte!
A doutora, que estava saindo dali, parou e olhou para ele.
- Wallace sabe de cada ponto falho de todos os sete mares, e sabe, que se o Scorpion ou qualquer outro atacar, o Estrella é capaz de se defender!
- Tanto que não souberam se defender de Samantha, Eleanor, Sharon e até mesmo dos hóspedes do Handel! - Hayes disse ironicamente vendo Susan ficar pensativa. - Ou seja, o Estrella não é capaz de se defender!
Susan continuava séria.
- Não podemos confiar nos planos de Wallace, tanto que depois de Harry surgir, ele desapareceu e nem mesmo o Simon sabe dele! - disse o professor levantando-se de seu lugar. - Susan, você é muito ingênua para confiar o tempo todo em Wallace!
Susan, que agora estava pensativa, viu o professor sair do seu lugar e sair lentamente.
- Tanto, que acha que Finn está realmente nos levando para a terra!
O professor logo deixou o local sem dizer mais nada, onde ali ficou uma Susan pensativa e ela sabia que ele estava certo. Finnley e Wallace eram amigos muito próximos, tanto que ninguém sabia dos segredos de ambos e por isso, muitos o temiam quando eles eram vistos juntos. Mas, Finn seria mesmo capaz de trair Wallace levando todos do Estrella Siriah para a morte? Essa era uma das perguntas que a doutora se fez enquanto saía do refeitório.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top