[52] | Capítulo XIII - "Never Two Ghost"!

Eles ainda seguiam "invisíveis" em direção ao horizonte, porém, alguns minutos depois de concluírem a votação de mudar de rumo ou seguir a terra, eles haviam recebido uma estranha mensagem codificada que era do SS Waratah, da Blue Anchor Line. Navio esse que desapareceu misteriosamente em julho de 1909, durante uma viagem de Liverpool a Cape Town, Austrália, a bordo desse navio, 211 pessoas foram perdidas juntamente com a embarcação. Mas, como um navio que desapareceu em 1909 surgiria enviando uma mensagem codificada depois de 103 anos? Essa era a questão de rodeava a cabeça do primeiro oficial, auxiliar de convés, aprendiz de oficial e do próprio capitão. A questão era: "Quem estava fazendo isso? Porque fez isso?" ainda não se tinha resposta, pois a mesma estava há mais de 20 milhas ao horizonte. Enquanto isso, por volta das 23hrs, uma jovem moça de cabelos castanhos caminhava pelos desertos corredores do Estrella, jovem essa que havia deixado o seu namorado no entre corredor anterior e já se encontrava caminhando a poucos metros pelo corredor. Ela se chamava Violet e o seu amor era Nicolas. A mesma caminhava calmamente, porém, tinha a sensação de estar sendo seguida, tanto que olhou para trás e não enxergou ninguém, mas ao olhar para frente, encontrou-se olho a olho com Seamus com um sorriso malicioso no rosto. Tanto que acabou levando um susto.



- Olá, senhorita Violet! - cumprimentou o homem calvo com o mesmo sorriso. - Precisa de ajuda?



Violet sorriu.



- Olá, Seamus. Não, não preciso de ajuda. Obrigada!



E ela continuou a caminhar, enquanto ele o seguia.



- Tem certeza? - ele passou a frente dela e parou. - Não é muito seguro uma moça como você andar sozinha por esses corredores!



Violet forçou um sorriso.



- Sim é mesmo! - ela tentou passar por ele. Sem sucesso. - Mas se me der licença, eu preciso ir para a minha cabine!



Seamus abriu novamente o mesmo sorriso pervertido.



- Porque estás apressada? - Ele fez ela se encostar na parede do corredor. - Os sonhos com o... O... Idiota Nicolas, podem esperar!



Ela desferiu um tapa no rosto do homem.



- Você tome muito cuidado ao falar dele, está bem? - Ela disse já brava. - Ele é muito mais bonito e inteligente do que você!



Ele se recompôs e segurou as mãos dela, impossibilitando de ela usar as mesmas para a se defender.



- Muito bem, eu tentei ser bonzinho, mas agora já foi o cúmulo! - disse ele irritado. - Ainda bem que aquele seu namoradinho estúpido não está aqui!



- Me larga agora! - Ordenou ela tentando se soltar, mas falhava. - ME LARGA. ME SOLTA!



Ela gritou e gritou alto. Mas aparentava que ninguém escutava. Seamus tentou levar ela para outro lugar, mas ela não saía dali.



- Se facilitar as coisas, não irá doer nada!



- ME LARGA. SOCORRO. ME SOLTA!



Não muito longe dali, há uns poucos metros, o jovem Nicolas seguia andando calmamente até colocar as mãos nos bolsos e sentir que havia algo dentro dos mesmos. Com o cenho franzido, ele retirou o objeto do seu bolso. Era uma presilha de cor vermelho.



- Eita, Violet esqueceu isso! - Ele olhou para trás. - Eu vou lá deixar!



Em seguida, ele deu meia-volta e seguiu rapidamente em direção à cabine dela. Após passar por duas esquinas de corredores, ele finalmente chegou ao corredor onde ficava a cabine dela, mas ficou arrasado ao ver o que acontecia naquele local. Violet estava prestes a ser violentada por Seamus. Então, ele guardou a presilha no bolso e correu em direção a sua amada.



- Largue ela, seu idiota! - Ele disse puxando o braço dele e em seguida desferindo um soco no rosto do mesmo. - Maldito!



Seamus acabou soltando a moça que correu para os braços do brasileiro. Ele a abraçou, porém ficou de costas para o homem que se aproximava calmamente, mas Violet o avistou e avisou ao namorado. Porém, Nicolas foi acertado com um soco do homem calvo. O rosto do jovem brasileiro foi acertado três vezes seguidas pelo náufrago, com isso, ele caiu sobre o chão e Seamus continuou a agredi-lo.



- Pare com isso. Largue ele! - ordenava Violet já quase gritando. - SOCORRO. AJUDEM AQUI. ALGUÉM?



Enquanto isso, Nicolas era acertado várias vezes por Seamus. O sangue do brasileiro já escorria pelo seu rosto, tanto que o mesmo acabou ficando inconsciente. Porém, os gritos de Violet chegaram aos ouvidos de Ramiro e Darwin - que haviam saído para verificar o motor - estavam saindo da lavanderia - que ficava próximo do corredor em que acontecia o ato. Eles pararam e tentaram deduzir de onde vinham os gritos.



- Vem do corredor 13 da proa no convés C! - avisou o aprendiz já indo em direção ao corredor. - Vamos, Ramiro!



Os dois seguiram correndo em direção ao corredor. Em apenas dois minutos, eles já estavam lá e rapidamente recolheram o náufrago. Porém, Ramiro o imobilizou com um mata leão e Darwin chamou o capitão, enquanto Violet tentava acordar o seu namorado. Não demorou muito para o comandante Barrett e o imediato Pearson chegassem ao local, juntamente com Sharon que havia vindo ao local por conta dos seus "instintos".



- Muito bem, então você queria ficar a força com Violet? - comentou Pearson. - Considere-se detido, Seamus!



- Aliás, você está preso senhor Seamus! - Disse o capitão enquanto o imediato amarrava uma corda em seus pulsos. - Ficará preso até saber se socializar com outros seres humanos!



Seamus fez uma face brava e malvada.



- Eu irei voltar e vocês verão!



- Charles e Darwin levem ele! - ordenou o comandante e os dois saíram com o detido. - Enquanto Ramiro e Violet levem Nicolas para a enfermaria e rápido!



O espanhol acompanhado da jovem, levou o brasileiro inconsciente para a enfermaria. Enquanto o capitão os acompanhava com Sharon, que acabou fazendo ele parar.



- Comandante, eu peço desculpas pelo ato de Seamus! - Disse ela enquanto enrolava os cabelos negros nos dedos. - Estou completamente envergonhada e confesso que nós do New Glasgow não tivemos a intenção de fazer isso!



- Desculpas não irão deixar Nicolas bem! - disse o comandante voltando a andar. - Mas irei deixar isso passar, pois se não, todos vocês estariam presos com ele!



Sharon não disse nada e acabou permanecendo onde estava, enquanto ele continuava andando com Ramiro e Violet.



As horas se passaram e às 03h40min, o silêncio já havia dominado o navio, que seguia calmamente em direção ao horizonte. Não havia ninguém em todos os corredores, exceto no refeitório, onde Darwin caminhava calmamente pelo mesmo durante o seu turno de folga. As luzes haviam sido desligadas temporariamente para economizar o óleo do gerador. Enquanto ele estava no turno de folga, Pearson se encontrava na ponte de comando onde calculava e verificava algumas cartas de navegações. O imediato havia acabado de entrar em seu turno de seis horas. Ele estava lá quieto e fumando o seu velho charuto, até que de repente, o radar anunciou algo. Charles levantou-se e seguiu até o mesmo, onde o radar mostrava um ponto há 13 milhas à 8° graus na proa. Em seguida, o radar submerso anunciou algo e quando o oficial verificou, ele tomou um susto.



- William, compareça à ponte imediatamente! - Ordenou ele através do walkie-talkie. - E seja rápido!



- Estou a caminho, Charles!



Não demorou muito para o aprendiz adentrar na ponte de comando e um minuto depois o capitão também entrar, vestindo o uniforme por cima do pijama. Ele estava com uma cara de quem havia acabado de acordar.



- O que houve?



O imediato apontou para o radar que mostrava um ponto.



- O radar mostrou isso há mais de quinze minutos, além disso, o outro radar mostra essas formas geométricas! - ele disse e o comandante verificou. - E isso me assusta!



Barrett olhou para os dois radares e franziu o cenho.



- Ligue o farol da proa, Darwin! - ordenou o capitão e assim se fez. - Vire oito graus!



O aprendiz fez a ordem e o farol mostrou uma embarcação abandonada naquela posição. Era um navio de dois mastros e com uma única chaminé, na qual tinha uma faixa branca e nela uma âncora de cor azul. A embarcação tinha exatos 141 metros de comprimento, 9 metros de altura e 18 metros de largura. Além disso, a tinta do casco estava gasta, havia algas marinhas presas nos conveses e grades de proteção, além de conter alguns botes pendurados em seu encostado de bombordo e um dos seus mastros estava quebrado ao meio. Era - literalmente - um navio fantasma.



- Meu Deus! - exclamou Barrett assustado. - O que raios é aquilo?



- Vou tentar identifica-lo! - Disse Darwin fazendo o farol girar para a proa do navio. - Olha, eu não quero assusta-los, mas o nome dele termina em T, A e H!



Charles franziu o cenho após Darwin dizer o final do nome do navio.



- Mas que navio termina com essas letras? - o imediato coçou a nuca pensativo. - Só quem pode saber disso é Harry!



Ele pegou o walkie-talkie e rapidamente ligou para o auxiliar de convés, que encontrava-se dormindo em sua cama quentinha.



- Harry, compareça a ponte!



Demorou alguns segundos e ele respondeu.



- Estou indo!



Harry levou exatos cinco minutos para comparecer a ponte de comando, onde adentrou na mesma ainda sonolento.



- Você sabe que navio é aquele?



Harry andou até o capitão e olhou para onde o farol se encontrava, porém, não acreditou no que via.



- Não é possível! - ele disse indo em direção a porta que levava ao convés. - Inacreditável!



O auxiliar saiu da ponte e foi acompanhado pelos três marinheiros. Harry seguiu até a proa e observou o estranho navio.



- Como ele está lá? Sendo que desapareceu na costa da Austrália em 1909! - Disse o auxiliar receoso. - Vocês já tentaram fazer contato?



- Não, pois é um navio fantasma e obviamente não há ninguém a bordo! - respondeu o imediato. - Mas e agora, o que iremos fazer? Deixar esse navio vagando por aí ou levá-lo a terra?



Barrett pensou e pensou. Aquele navio era bem velho, mas podia servir como uma residência para os que estavam em terra firme. Pois, eles não sabiam se a ilha era gigante ou pequena para todos no mundo. Porém, aquele navio poderia conter alguma coisa ruim, como doenças e espíritos dos passageiros que se foram a bordo dele. Então, ele finalmente decidiu o que iria fazer.



- Vamos levá-lo a terra firme! - disse o comandante olhando para todos ali. - Atracaremos ele ao Estrella e o levaremos, mas ao amanhecer iremos desbrava-lo!



Todos assentiram, menos Harry. O auxiliar sentia que aquele navio era uma coisa ruim, pois outras duas embarcações que tiveram o nome "Waratah", encontraram um final trágico. Um sumiu e o outro afundou. Porém, mesmo aquilo sendo inacreditável, Harold não aceitava a ideia do capitão. Mas, ele não podia discordar ou muito menos reclamar. Enquanto os três marinheiros foram para a ponte, o auxiliar permaneceu observando o Waratah com um certo medo ou receio. Não demorou muito para que o Estrella estivesse há menos de 2 metros longe do navio fantasma, onde alguns marinheiros do navio escola amarraram cordas, fazendo com que a embarcação ficasse firme. Os motores do Estrella foram parados e ali eles manteram a posição, onde esperaram o dia amanhecer.



Quando a aquarela começou a surgir no horizonte, simbolizando de que o sol estava próximo de nascer. Foi naquele justo momento, em que algo estranho aconteceu. Não sabe-se como e nem o porquê, mas um estranho som surgiu nos rádios do Estrella. Som esse que era muito assustador. Nele tinha uma voz que falava a frase: "never two ghost", outra que gargalhava, uma que fazia um som de tambor com a boca e além de uma que batia palmas. Todas essas juntas em uma só nota. A música começava e demorava cerca de um minuto, depois acabava e começava de novo. Ela repetia várias e várias vezes. Aquilo acabou assustando Pearson e Barrett que estavam na ponte de comando, onde o som começou e logo se espalhou pela embarcação.



- De onde vem isso? - perguntou Pearson confuso e dirigindo-se ao rádio amador, onde colocou os ouvidos na tentativa de ouvir algo. - Do rádio amador não é!



Barrett então olhou para um rádiozinho de pilha que ficava em cima da estante - usado com bastante frequência quando o Estrella fazia viagens de cruzeiro pela costa inglesa, alemã e espanhola - e o som vinha de lá. Tanto que ele aumentou o volume do rádio e assim o estranho som dominou o local.



- Isso se assemelha bastante ao som no final de A Day In The Life dos Beatles! - comentou o imediato. - Eu irei ver se nos outros rádios está tocando isso também, fique aqui de vigília e qualquer coisa me chame!



O imediato assentiu. Pearson ficou em silêncio e sozinho escutando o som estranho, até que Marge - sua esposa - adentrou no local trazendo uma xícara de café e com um sorriso radiante estampado no rosto.



- Bom dia, meu bem! - ela sorriu e colocou a xícara sobre a mesa. - Que som estranho é esse?



- Não sabemos. - ele respondeu pegando a xícara da mesa. - Ele apareceu há alguns minutos e até agora nada!



Marge franziu o cenho confusa.



- Muito estranho! - ela disse sentando-se num dos bancos que tinha na ponte. - Ainda falta muito para chegar à terra?



O imediato bebericou um pouco do café e logo soltou a xícara sobre a mesa.



- Não sei, provavelmente deve demorar bastante! - ele respondeu e bebericou mais um pouco. - O motivo deve ser pelo o que está aí fora!



A mulher franziu o cenho mais uma vez.



- O que tem lá fora?



Charles gargalhou.



- Vá até a escotilha da ponte e verá!



Marge - ainda estranhando tudo que estava acontecendo - levantou-se do banquinho, sob passos calmos e sempre olhando para frente e para o seu marido, ela decidiu ir ver o que tinha lá fora.



- Meu Deus! - Ela se assustou. - Como vocês... Como isso... Como?



Pearson levantou os ombros em um gesto de "não sei".



- O encontramos durante a madrugada! - Ele respondeu levantando-se do banquinho e indo até a sua esposa. - Mas o mais estranho, é que recebemos uma mensagem codificada desse navio!



Marge franziu o cenho e continuou a olhar o navio atracado ao Estrella.



- É inacreditável. - Ela admirou o Waratah. - Parece que ele afundou e conseguiu voltar a flutuar depois de muito tempo debaixo d'água!



- Bom, segundo Harry, ele desapareceu durante uma viagem na costa australiana em 1909 com todos os passageiros a bordo! - disse Charles indo em direção a bancada de equipamentos. - E agora ele está aí, amarrado junto a nós!



Marge o olhou impressionada.



- Os alunos ficarão impressionados com isso!



Pearson sorriu.



- Com certeza ficarão!



Em seguida, misteriosamente a música que tocava no radiozinho de pilha parou e o silêncio dominou o local.



- O som parou! - Charles disse pegando o rádio que estava sobre a bancada. - Alguma base está emitindo isso como um aviso!



Marge o observou confusa.



- Mas sobre o quê?



- Talvez sobre esse navio aí fora! - disse ele andando até a escotilha da porta que levava ao convés. - Ou... Sobre a terra adiante!



A esposa do mesmo ficou receosa.



- Será?



- Eu não sei! - Pearson disse olhando para ela e para o navio logo em seguida. - Mas estão nos dando sinais e avisando de que coisa boa não está muito próxima!



Marge ficou mais preocupada ainda. Ninguém a bordo sabia de onde aquele som veio e porque estava sendo emitido no rádio. Nem mesmo a própria Susan - que fazia parte do Projeto Amazon - sabia, mas, aqui entre nós, será que realmente aquilo era um aviso para tomarem cuidado com o Waratah? Ou então com a terra logo adiante? Eis a questão que nos resta a partir de agora.


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