[44] | Capítulo V - Seis Almas Perdidas!

— Onde estão eles? Eles já deviam ter chegado!

— Fique quieto! — ordenou uma mulher ao jovem. — De boca fechada você se sai melhor!

O silêncio manteve-se por alguns minutos.

— Que horas são? — perguntou um adolescente para a sua mãe.

— Nove horas! — respondeu a mulher. — Espero que esse relógio não tenha parado!

O outro rapaz bufou de raiva.

— Uma hora dessas eles já deviam ter chegado por aqui!

— Eles vão chegar! — Respondeu uma mulher na proa do bote com uma lamparina. — Eles estão vindo na nossa direção, porém, estão longe demais!

O rapaz que resmungou levantou-se do seu assento e observou o horizonte.

— Eu já não aguento mais ficar nesse bote podre e morrendo de frio!

— Sente-se ou irá virar o barco! — respondeu um homem meio calvo e irritado com todo o alvoroço daquele rapaz. — Não sabe esperar?

O rapaz enraivou-se.

— Sim, mas estamos aqui há mais de uma semana!

Ele sentou-se novamente em seu assento sem dizer mais nada.

— Acalmem-se, eles estão chegando! — Disse a mulher que está sentada na proa. — Eles não irão demorar muito!

Todos eles olharam em direção ao horizonte, na procura de alguma embarcação, que segundo aquela dama, estavam vindo na direção daquele pequeno bote salva-vidas. Mas, nada apareceu no horizonte.


Não muito longe dali...


Era uma noite calma e tranquila, enquanto o navio-escola navegava sobre a luz da lua minguante que reinava no alto do céu. Foi naquele exato momento, que os relógios a bordo Estrella marcaram exatamente 22hrs daquela noite. Quando a vigília de convés de Oliver, Ramiro e Thomas foi trocada por Nicolas, Alice e Darwin, e a vigília da ponte de comando foi trocada de Harry para Pearson. A noite estava meio gelada e o navio prosseguia sob a velocidade de 14 nós. Velocidade essa alcançada pelas velas da proa e popa. Enquanto isso, o convés estava deserto, assim como o mar estava. Vezes ou outra, Violet visitava Alice, Nicolas e Darwin e ambos conversavam por algumas horas na proa, até o imediato ordenar que eles voltem aos seus serviços.

— Até mais tarde, meu amor!

Violet abraçou Nicolas e depositou um selinho nos lábios da mesma, depois eles se separaram com belos sorrisos.

— Até, meu amor! — ele devolveu o sorriso. — Te vejo lá na porta da sua cabine!

— Está bem! — Ela sorriu mais uma vez. — Até logo!

Ele sorriu e ela afastou-se, seguiu até a porta, abriu a mesma, adentrou e fechou logo em seguida. Os três vigias continuaram a suas vigílias e assim continuou o serviço.

— Como eu queria que Thomas fosse assim atencioso comigo! — Alice comentou andando pelo convés ao lado de Nicolas.

— Eu entendo, mas não se preocupe, eu darei conselhos a Thomas para ser mais atencioso com você!

Alice gargalhou.

— Pelo visto, Nicolas virou conselheiro amoroso!

— Isso era o que chamavam antes de eu estar aqui! — ele sorriu. — Antes de tudo ir por água abaixo!

Alice ficou em silêncio.

— Entendo a sua dor!

Nicolas abriu um sorriso de lado e logo o desfez. O silêncio permaneceu por ali, até que o walkie-talkie de Nicolas fez um ruído.

— Atenção, Alice e Nicolas, compareçam imediatamente na ponte de comando! — Era a voz de Pearson os chamando. — Repito: Alice e Nicolas venham a ponte de comando imediatamente!

Nicolas olhou para a jovem e fez um sinal para ela. Então, eles seguiram até a ponte, onde Pearson encontrava-se olhando para o radar, na qual a linha do mesmo rodava e fazia um pequeno barulho.

— Aqui estamos, oficial! — respondeu Nicolas fechando a porta da ponte. — O que aconteceu?

Ele os chamou com a mão.

— Quero que vejam isso! — Ele apontou para o monitor do radar, que mostrava um ponto. — E aliás, eu suspeito que é algum navio, portanto, Nicolas vá até o mastro maior e veja se é o que eu estou pensando!

O brasileiro bateu continência e deixou o local.

— Enquanto isso, Alice você pode chamar o capitão para mim, porque eu o chamo pelo aparelho e ele não me traz respostas!

Alice bateu continência e deixou o local.

O brasileiro subiu no mastro maior do navio – onde o cesto da gávea se encontrava – e de lá, avistou uma pequenina luz brilhando. O feixe de luz balançava e apagava-se por alguns segundos, mas logo voltava mais forte e apagava novamente. Nicolas desceu, pegou o walkie-talkie e aproximou-se da proa, onde Darwin havia acabado de chegar.

— Imediato, estamos suspeitando de que seja algum bote salva-vidas! — Respondeu Nicolas olhando a luz.

O walkie-talkie fez um ruído.

— Muito bem, vamos resgata-los! — A voz de Charles ecoou sobre o pequeno aparelho preto. — Darwin, preciso de você e de cinco marinheiros presentes no convés!

Darwin pegou o aparelho das mãos de Nicolas.

— Sim senhor, oficial! — respondeu ele e em seguida, devolveu o aparelho para o brasileiro enquanto se afastava do mesmo. — Obrigado Nicolas!

O mesmo apenas assentiu.

O Estrella foi colocado a uma velocidade de 17 nós e seguiu até a luz que brilhava no horizonte. Enquanto isso, ouvia-se gritos que pediam ajuda, socorro e auxílio, além deles, o feixe de luz balançava de um lado para o outro. Pearson parou os motores do navio e juntamente com Barrett – que havia chegado há seis minutos atrás – decidiu comunicar-se.

Olá? Precisamos de ajuda! — Pediu uma voz feminina vindo do radio amador. — Tem alguém aí? Olá? Precisamos de ajuda, por favor!

— Aqui é o capitão Barrett do navio escola Estrella Siriah, iremos resgata-los! — Disse o comandante através do rádio amador. — Abaixaremos um cabo para que vocês não sejam levados pelas ondas, porém, peço que mantenham a calma!

Barrett esperou por resposta, que não demorou.

Sim senhor, capitão! — Respondeu a mesma voz. — Muito obrigada mesmo!

Barrett sorriu e olhou para Pearson.

— William, eu suponho que tenhamos que revista-los! — disse o imediato meio desconfiado. — Porque você sabe o que aconteceu da última vez, quando resgatamos os náufragos do Queen Victory... Eles quase nos mataram!

O comandante pensou por alguns segundos.

— Tem razão, Charles! — Ele respondeu olhando pro oficial. — Mande quatro marinheiros pro convés para revista-los e depois revistar o bote!

— Sim senhor! — Respondeu o imediato que bateu continência e saiu dali logo em seguida.

O pequeno feixe de luz balançava vagarosamente nas ondas, porém logo foi descoberto que aquilo era um bote salva-vidas e com sobreviventes. Agora eles sabiam que teriam novos integrantes, só que estavam desconfiados deles. O bote locomoveu-se com remos até o lado estibordo do navio, onde uma passarela de embarque estava pendurada e lá, Darwin e alguns marinheiros encontravam-se prontos para amarrarem o bote. Assim se fez. O bote foi amarrado firme e seis náufragos desceram do bote, enrolados em um lençol – que estava molhado e gelado – e eles subiram calmamente as escadas. Quando chegaram no final da mesma – que era o convés – eles foram recebidos por Alice, Violet e Susan, todas essas portando lençóis quentes e secos. Porém, quando um deles – exatamente uma mulher de cabelos castanhos – estavam recebendo esses lençóis de Alice, ela o olhou curiosa.

— Porque estás preocupada? — ela o olhou nos olhos. — Aparentas que uma decisão está lhe deixando preocupada.

A jovem Campbell assustou-se. Como ela sabia que estava preocupada?

— Oh não é nada! — Ela sorriu. — E como você sabe que tem uma decisão que me deixa preocupada?

A mulher sorriu.

— Eu sinto que isso vem de você!

Alice a olhou confusa. Não sabia mais o que dizer. Até que a mulher foi retirada dali por Jessie, que havia acabado de chegar. Porém, segundos depois, quando um marinheiro estava pegando uma caixa, um dos náufragos tomou-a das mãos do tripulante e a abraçou perto do peitoral.

— Deixe que eu me encarrego disso!

Ele disse se afastando, mas quando olhou para Susan, ele rapidamente cobriu a caixa com o lençol. Porém, o que ele não sabia era que a doutora havia visto um estranho símbolo de cruz estampado na caixa, mas abaixo disso, tinha as seguintes palavras: “ERH”. Andrews sabia o que aquilo significava e por isso, manteve-se em silêncio. Todos os novos náufragos estavam a bordo, secos, seguros e tranquilos. Eles – o capitão e o imediato – deixaram os náufragos descansarem, pois no dia seguinte, iriam conhecer todos os alunos e esclarecer o real motivo pelo qual estavam naquele bote.

Assim se fez. O dia amanheceu mais radiante, mais alegre e mais bonito. Os novos integrantes do Estrella Siriah estavam felizes por terem tido uma ótima noite de sono – algo que eles não tinham desde a semana passada. Eles foram bem recebidos por todos, além disso, receberam xícaras de café bem quente e roupas novas, pois as que usavam, estavam rasgadas e sujas – algumas continham manchas de sangue. Os seis novos tripulantes se encontraram com os alunos do Estrella no refeitório, onde Susan, Harry e Hayes também se encontravam – algo raro de se acontecer é que o professor estava lá. Os náufragos foram recebidos com sorrisos e posicionaram-se na mesa de centro, onde a mulher de cabelos castanhos sorriu e olhou para todos.

— Olá, eu sou a Sharon!

— Eu sou Sariah! — Disse uma jovem de cabelos acastanhados.

— Eu sou a Margaret! — Disse uma mulher um pouco mais velha com um sorriso no rosto.

— E eu sou Williard! — respondeu o adolescente. — Sou filho dela!

A vez chegou para o jovem de cabelos castanhos ao lado dele.

— E eu sou Cedric!

— Seamus! — apresentou-se o homem calvo.

— Bom, eu sou o capitão Barrett, esse é o meu imediato Pearson, aquela é a cozinheira Marge! — disse o comandante apontando para os seus tripulantes. — Aquele é o auxiliar de convés Harry e o outro é o aprendiz de convés Darwin!

Os náufragos sorriram.

— Muito bem, se puderem nos contar o que houve com o navio de vocês, ficaremos gratos! — disse William. — Caso não quiserem, tudo bem, deixaremos isso quieto!

Sharon olhou para os seus companheiros e assentiu.

— Tudo bem, irei contar o que aconteceu! — disse a mulher dando um passo a frente. — Partimos de Le Havre, na França, no dia 22 de setembro, porém, no dia seguinte o mundo se foi por água abaixo e com isso ficamos a deriva, assim como vocês estão agora!

Os alunos prestaram atenção na história de Sharon.

— Mas, na semana passada, o nosso navio, o SS City of New Glasgow, acabou afundando de uma hora para a outra. Não sabemos o que aconteceu, pois sentimos o navio estremecer e em seguida inclinar para estibordo! — relatou Sharon, enquanto todos prestavam atenção. — O New Glasgow afundou rapidamente e não tivemos tempo de nem pegar nossos pertences. Não sabemos o que o naufragou, mas pelos os meus instintos, houve uma falha na sala de máquinas e ele explodiu.

Todos observaram e o silencio manteve-se por alguns minutos.

— Havia mais alguém com vocês? — Perguntou Thomas curioso. — Ou vocês eram os únicos?

Sharon soltou um suspiro forte e pesado e abaixou a cabeça.

— Éramos dez pessoas naquele bote, duas morreram de hipotermia na noite que se avançou! — Respondeu Seamus. — E as outras duas morreram por causa das feridas nos dois últimos dias!

— Entre eles, o nosso amigo, Johnny! — completou Cedric triste. — Pobre Johnny!

O silêncio manteve-se por alguns minutos.

— Bom, nada mais disso importa agora, o que de fato importa é que vocês estão sãos e salvos! — Disse o comandante quebrando o silêncio ali. — Portanto, sejam bem-vindos ao Estrella Siriah!

E em seguida, uma grande salva de palmas dos alunos e tripulantes foram dadas aos novos integrantes do pequeno navio. Os náufragos sorriram contentes por finalmente encontrarem novas pessoas, enquanto eram aplaudidos e de vez ou outra, assobios eram escutados. Cedric olhou para Oliver – que aplaudia os mesmos – e sorriu em um gesto amigável. Enquanto isso, Susan aplaudia com um sorriso forçado no rosto e Hayes observava os mesmos do alto da plataforma, com a mesma face de sempre, pois nunca apresentava nenhum sorriso.

— Muito bem, muito bem. Acho que já chega e por isso precisamos manter a embarcação se movendo! — disse Pearson colocando um ponto final na salva de palmas. — Portanto, todos aos seus devidos serviços e aos que não estiverem atarefados, que apresentem o navio aos novos tripulantes!

Todos assentiram e começaram a se levantar de seus assentos – alguns estavam sentados no chão – e cumprimentarem os novatos.

— Bom, agora a doutora Andrews irá avalia-los e tirar o sangue de vocês para fazer um exame, pois existe algumas doenças silenciosas! — Disse Barrett aos náufragos. — Susan, pode acompanhá-los?

A doutora aproximou-se calmamente.

— Sim, capitão! — ela olhou para Sharon dos pés a cabeça e a mulher fez o mesmo. — Claro que sim, estou as suas ordens!

Barrett sorriu.

— Muito bem, me sigam!

Os náufragos deram alguns passos indo embora dali, quando algo misterioso aconteceu ali no local. Duas bandejas com colheres e xícaras de alumínio foram jogadas violentamente ao chão, enquanto as luzes apresentavam falhas. Todos olharam assustados para o que estava acontecendo com o navio, como as luzes que apresentaram falhas cerca de três vezes.

— Fiquem calmos, as bandejas devem ter caído por conta da estabilidade do navio! — Afirmou o comandante acalmando a todos ali. — E enquanto a luz, eu irei verificar o gerador!

Sharon deu dois passos a frente, pôs a mão sobre o peitoral – como se sentisse alguma coisa –, fechou os olhos e os abriu rapidamente.

— O que aconteceu não tem nada haver com estabilidade e gerador defeituoso! — Disse ela olhando para cima e para todos os lados do refeitório. — Alguém muito vingativo morreu por aqui e agora ele veio atrás de vingança, pois o assassino ainda se encontra a bordo!

Todos ficaram confusos. Alguns duvidaram e outros começaram a acreditar no que a mulher disse. Sharon – ainda com a mão no peito – olhou para todos os lados procurando o assassino.

— Ele estava aqui!

Seamus com o cenho franzido, deu alguns passos a frente.

— Ele quem, Sharon?

Ela olhou para a plataforma acima do refeitório.

— O assassino!

Todos ficaram ainda mais confuso. Como ela poderia afirmar que alguém havia morrido a bordo do navio e de que o assassino ainda se encontrava a bordo?

— Enfim, vamos logo, pois preciso de vocês ainda hoje! — disse Susan seguindo andando em frente. — Vamos!

Os náufragos seguiram a doutora, enquanto os alunos começaram a fazer as suas obrigações.

Susan estavam com uma expressão receosa e preocupada, pois não acreditava no que estava vendo, uma mulher que havia sentido um espírito vingativo no refeitório e que também o assassino ainda encontrava-se a bordo. Alguns dos náufragos como: Cedric, Seamus, Margaret, Sariah e Williard. Já haviam sido examinados e agora faltava apenas Sharon. A mulher que havia acabado de chegar no navio, mas que Susan já sentiu rancor ao vê-la pela primeira vez. Assim se fez. A mulher sentou-se na maca de frente para Susan, que tirou sangue, fez outros exames e examinou todo o corpo da naufraga, além de colocar alguns curativos e doses de remédios nas feridas que encontravam-se no corpo da mesma. Mas algo ficou tenso quando Sharon fitou bastante a face da doutora e Andrews percebeu.

— Porque estás tão receosa? — indagou a mulher a sua frente. — Pode ficar tranquila, eu não sou a Samantha e muito menos a Caroline e Ellory!

Susan olhou assustada e confusa para ela. Como a mesma sabia de Samantha – a “sobrevivente” do Queen Victory, que havia se passado de boazinha para roubar a caixa preta do navio e fez todos reféns – e Caroline e Ellory – ambas duas cientistas da AAPH que haviam feito o inferno da vida da doutora em terra firme –, sendo que ela chegou depois de tudo que essas três mulheres fizeram.

— E também, não iremos roubar a caixa preta que foi escondida aqui neste navio!

Susan ainda continuou confusa.

— Como sabe de tudo isso? — ela franziu o cenho. — Sendo que você chegou ontem e não sabe de nada do que passamos aqui!

Sharon sorriu maliciosamente.

— Doutora Andrews, eu tenho um sexto sentido e eu posso sentir tudo isso que aconteceu aqui! Inclusive, eu sinto até que um garoto chamado Timothy foi picado por um mosquito aqui pertinho e depois, ele morreu! — ela disse com o mesmo sorriso no rosto. — Não só aqui, como também na sua antiga vida em terra firme!

Susan irritou-se. Como ela pode sentir tudo aquilo?

— Não sente vergonha de mentir para mim, uma doutora que conhece a maior parte da ciência! — Disse ela guardando uma seringa numa gaveta. — E coisas como essas, a ciência comprova que não passa de coisas inventadas!

Sharon gargalhou.

— Eu sei de coisas que nem você sabe, doutora! — disse a mulher descendo da maca e Susan parou de fazer o que estava fazendo. — Muito bem, eu já estou liberada?

A doutora soltou um suspiro e abaixou a cabeça, porém, logo continuando a fazer o que fazia.

— Sim!

— Muito obrigada! — Disse Sharon exalando deboche. — Até a vista, doutora!

A naufraga deixou o local e seguiu atrás dos seus companheiros. Susan ficou completamente confusa. Como uma sobrevivente que havia acabado de chegar a bordo, sabe de todas essas coisas. Muitas delas aconteceram mesmo antes dos sobreviventes do Queen Victory, como Samantha, Todd, Eliot e Lea terem subido a bordo. Como ela sabia de tudo aquilo? Por que sabia? E quem era ela? São essas e muitas outras perguntas que rodeavam a mente da doutora Andrews.

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