Não muito longe de Farthell State, em certo clube, Leon considerava se Steve e Jason trapaceavam ou não, pois estavam na mesa de pôquer por horas limpando os adversários.

Baker não era do tipo que admitia derrota e continuava achando que sua sorte mudaria, comprometendo mais e mais sua fortuna, que já fora delapidada com êxito desde a mudança do pai para a propriedade do campo da família. De alguma maneira, aquele escândalo ainda não havia tomado proporções maiores, mas acreditava-se que se chegasse aos ouvidos do pai como ele conduzia seus negócios, um tanto nebulosos nos últimos meses, o deserdaria.

Ross, por sua vez, não tinha onde cair morto. A ele restava somente o nome e uma última propriedade.

Juntos, os dois rapazes formavam uma dupla bem desagradável, que praticamente vivia como sheiks quando tinham sorte no jogo, porém no momento não estavam indo bem.

A mulher ao lado da mesa parecia interessada em entretê-lo, bonita como o pecado no belo vestido cor vinho e gosto de cereja nos lábios, contudo naquele momento só queria beber tranquilamente e observar Baker xingar enraivecido a mesa toda que parecia ignorar mais um chilique do perdedor.

― Contando as derrotas do Baker ― ouviu a voz de Kane, que puxou a cadeira, sinalizando para um empregado.

― Esperando ele fazer uma saída dramática ― respondeu Leon, curioso com a presença do amigo ali. ― Saiu do castigo?

― Eu não diria isso. Não devo me demorar ― disse Kane, parecendo cansado.

Tinha recebido tantos documentos pendentes do Sr. St. James desde o afastamento do Sr. Wright. Passara os últimos dias trancado escritório. Era óbvio para ele que o "velho teimoso" não tinha nenhum assistente e cuidava ele próprio de todos os clientes, o que, na idade dele e devido à doença, talvez só o fizesse acumular trabalho. Estava certo que tão logo colocasse tudo em ordem, seria mais fácil.

Olhou em direção ao bar e por um breve momento teve certeza de que conhecia a mulher que havia visto de perfil, mas enquanto pensava na possibilidade daquela mulher estar ali, balançou a cabeça. Precisava de uma boa noite de sono! Estava vendo coisas.

Ouviu uma discussão e Ross saindo em defesa do parceiro. Baker parecia a um passo de acertar um soco em Jason quando foi convidado a se retirar. Saiu vestindo o casaco, rápido o bastante para não pagar pela bebida, ou simplesmente não o cobraram por saber que ele não teria como fazê-lo.

― Carter, não esperava vê-lo por aqui tão cedo! ― disse Jason, acendendo um charuto.

― Agora que vi vocês colocarem Baker para fora, posso ir feliz para casa ― disse ele, olhando a bela loira passando pelo bar olhando para deles antes de dar o braço a um homem bem mais velho. ― Que desperdício...

― Nem é tão bonita! Você e essa sua fixação em loiras ― zombou Steve.

― Por isso o desânimo ― provocou Jason. ― Pobre Carter!

― Primeiro, não tenho fixação alguma, e segundo, era bonita sim, vocês é que têm um péssimo gosto para mulheres!

― Fixação sim, ao menos por uma, e aqui vai o meu conselho: se quiser exclusividade, peça ao pai dela para acompanhá-la no próximo baile ― respondeu Steve. ― Não pode impedir todos os admiradores dela de tirá-la para dançar.

Vê-lo com Lyra no primeiro baile da Temporada das Rosas tornou-se o principal assunto dos amigos quando queriam irritar Kane. Ele tentava ignorar, no entanto era difícil. Não queria, de maneira alguma, ser apontado como pretendente daquela que já era chamada de "a mais bela da temporada". Kane nunca fora atraído pelo tipo de beleza pálida, ainda assim a Srta. St. James parecia com uma sílfide que servia de inspiração a pensamentos inapropriados apesar de ser a imagem perfeita da inocência.

Achava que o problema, ou seja, o fato de estar desejando uma Rosa, poderia ser resolvido com um pouco de distração. E ele conhecia muito bem quem pudesse distraí-lo a ponto de apagar de seus pensamentos o som da risada quase infantil da Srta. St. James e os lábios rosados que por pouco não beijou.

― Não posso acreditar que está pensando em uma Rosa... logo você! ― falou Jason, em tom de deboche, mas reconhecia que ela era de fato muito bonita.

― Não estou interessado e nem sequer irei ao próximo baile.

― Apostamos? ― perguntou Leon a Steve.

― Quem apostaria que ele não irá? ― perguntou Jason, olhando para Kane, que levantou-se fazendo menção que estava indo embora. ― Pare com isso, Carter! É cedo!

― Sente-se! Não dê atenção a estes dois inúteis! ― disse Steve, que acompanhou o olhar de Kane para a escada, entendendo que o real motivo dele ali era a bela e cara Caroline.

― Não estou indo embora.

Kane deu um tapinha no ombro de Steve e seguiu pela escada, alcançando uma jovem de cabelos ruivos que parecia aguardá-lo.

Baker permaneceu na frente do estabelecimento por alguns minutos, discutindo com Ross sobre não ter conseguido mais dinheiro com seu pai. Ross olhou em volta. Havia pouca gente na rua, estava frio e não havia nada que o desagradasse mais do que a sensação de mais uma vez estar sem dinheiro.

― Aqueles bastardos! ― reclamava Baker, irritado. ― Como ousam fazer isso comigo?

Seguiram sem destino quando repararam na carruagem do outro lado da rua. O cocheiro os olhava fixamente para eles e acenou discretamente para que se aproximassem. Baker olhou para o veículo desconfiado. Era elegante e parecia mais aconchegante que o frio. Ross sinalizou, curioso como era, para saber quem era o figurão que se deu ao trabalho de chamá-los, ou talvez fosse apenas alguém que os havia confundido com outras pessoas.

― Senhores ― chamou o homem, vendo-os hesitar.

Aproximaram, trocaram algumas poucas palavras com o homem com sotaque inglês e adentraram a carruagem.

Baker nem sequer ouviu a palavra "condessa". Seus olhos estavam cravados na bela mulher em seu vestido vermelho e sorriso angelical que se apresentou e disse, com a voz melódica e suave, que precisava de alguns minutos de seu tempo.

Ross não ficou menos impressionado, entrando na carruagem após Baker.

Naquela noite, os dois tiveram a certeza que o rumo das coisas mudaria.

Ganhavam uma chance de ouro, pedras preciosas, espartilho e seda.