Capítulo 3
Lady Dughinham olhava com orgulho para o salão principal de sua residência, uma das primeiras construídas em Farthell State. Era uma das mais antigas no estilo vitoriano e a beleza imponente e gelada se sobressaía na grama perfeitamente aparada, jardim onde tulipas tinham a sua preferência antes mesmo das rosas, que também o enfeitavam. Havia muita sombra, que mantinha uma sombra agradável nos dias ensolarados, e aquela região parecia mais fria que as outras propriedades.
Aquela casa lhe trazia boas recordações de quando ainda era tão jovem quanto aquelas que naquele dia se preparavam para o baile, lembranças de quando conheceu o homem que amou a vida toda, a quem ainda amava mesmo depois de sua prematura morte.
Para ela, parecia certo que o primeiro e o último baile fossem realizados ali, no cenário de um grande amor.
Suas escolhidas já se encontravam lá e faziam os últimos ajustes nos vestidos, enquanto criadas arrumavam seus cabelos.
Lady D. sorriu, satisfeita com o resultado. Todos aqueles anos, ela planejou os eventos e cuidou para as moças passarem por aquele salão com perfeição, garantindo que os eventos se tornassem memórias inesquecíveis para elas.
Ela sabia que, apesar do respeito e notoriedade, algumas pessoas a consideravam ultrapassada, antiquada, mas nada daquilo lhe desviava do que considerava seu legado. Aquelas jovens seriam a continuação de tudo que ela havia aprendido desde muito cedo. Enquanto houvessem Rosas, ela estaria lá.
Lady D. havia visto e ouvido muito em todos aqueles anos. Presenciou o momento em que casais haviam se apaixonado e os viu constituir família. Segurou seus filhos no colo e os viu brincando no parque. Viu alguns casais partirem para novos recomeços, longe de Farthell State, e outros apagarem de suas lembranças a razão de terem chegado tão longe e, infelizmente, tomarem rumos distintos. Aconselhara muitas das mães das senhoritas que naquele momento sentiam borboletas no estômago, pois a hora passava rapidamente.
Ah, sim! O tempo passava rápido demais. E enquanto os músicos conversavam próximos aos seus instrumentos, Lady D. imaginava o que diria a elas. Seu desejo era orientá-las a aproveitar os bailes, passeios e valsas, pois, quando percebessem, chegaria ao fim.
Passou pela sala onde elas estavam e as observou rindo e brincando. Era um ótimo grupo.
Lady D. ajeitou seu xale e seguiu ela própria para seus aposentos privados, pois logo estaria recebendo os primeiros convidados.
Kane deixou Casarubra no final da tarde, disposto a gastar um pouco de sua energia, de preferência longe dos olhos da Sra. Carter, já que a mãe desaprovava o boxe, seu novo vício desde que conheceu alguns colegas ingleses quando vivia na França. Ficou satisfeito quando, ao retornar para Farthell, soube que havia um clube onde podia praticar boxe livre da clandestinidade, algo raríssimo considerando que muitas pessoas achavam que tornava seus praticantes violentos.
Não queria subir no ringue, somente dar golpes em um saco de areia até que se sentisse exausto, o suficiente para evitar sair após o baile.
Kane havia passado muito tempo morando sozinho, sem precisar dar satisfações a alguém, e por mais que gostasse de viver em Casarubra, chegava a considerar se mudar para a área central de Nova Iorque. Seria próximo ao trabalho, Boxing, tavernas e não precisaria de desculpas para não ir àqueles bailes irritantes.
Passou pela porta reforçada do prédio, seguindo por um pequeno corredor já ouvindo o som abafado de socos e cordas passando rapidamente pelo chão. Cumprimentou alguns conhecidos e foi até seu armário, não demorando a trocar de roupa. Vestiu uma calça ajustada ao corpo e uma camiseta de malha branca e calçou as sapatilhas de cano alto.
― Carter! ― cumprimentou Steve. ― Achei que estaria em casa se preparando para o baile das Rosas.
― Pensei o mesmo sobre você.
― Estou indo para casa agora. Aconselho você a não se demorar por aqui, ou a Sra. Carter poderá vir buscá-lo! ― Steve riu para Kane, vendo-o enfaixar as mãos com expressão de poucos amigos. ― Anime-se! Podemos sair para beber depois que você se cansar de rodopiar pelo salão com elas.
― É uma pena esse miserável não ter alguém da família como colaboradora da Sociedade da Rosa Amarela! ― Era Jason, pressionando gelo contra o queixo inchado graças a um golpe de raspão. ― Minha tia faz questão da presença de todos os homens da família nos eventos. Uma desgraça!
― Já está de saída, Donelly? ― perguntou Kane, colocando as luvas.
― Sim ― respondeu, jogando um casaco por cima dos ombros. ― Tenho que ficar encantador e desejável para provocar calorões e arrepios em dez Rosas.
― Uma missão um tanto árdua! ― brincou Steve, fechando o armário e guardando as chaves no bolso.
― Como se ele fosse capaz ― zombou Kane, antes de sair do vestiário. ― Diga a sua prima para guardar uma dança para mim.
― Aqui é onde você vai dançar!
Jason flexionou o braço musculoso, enquanto Kane se afastava rindo, com o único pensamento de cansar-se o suficiente para não se irritar no primeiro baile da temporada.
Em Casarubra, os Carter se preparavam para o primeiro baile da temporada quando Kane chegou, sem nenhuma pressa.
A Sra. Hellen Carter lembrava com carinho de quando fora uma Rosa e lamentava não ter uma filha, esperando que seu único filho não a desapontasse.
Ele passara a tarde no clube e chegara em casa já ao anoitecer, afundando na banheira em busca de uma desculpa que ainda não usara para que sua mãe o poupasse do evento. Sabia que, no fundo, ela não tinha a intenção de deixá-lo de fora e seu pai pensava talvez ser bom para ele, afinal havia a possibilidade de se encantar por uma das Rosas e mudar de ideia quanto ao casamento.
Kane fechou os olhos. Havia uma Rosa com a qual ele não se importaria de perder algum tempo jogando seu charme e até estava ansioso para tirá-la para dançar, se ela não se mostrasse tão arredia como da última vez que a viu. Não que pretendesse cortejá-la, porém ela era sem dúvida a mais bela da temporada.
Talvez se a Srta. St. James não estivesse fazendo parte das Rosas fosse mais fácil. O problema era aquelas jovens estarem constantemente cercadas pelos admiradores e mães e Kane não era o tipo que gostava de disputa, tampouco queria os olhares de todas aquelas senhoras sobre si.
Ele arriscaria. Achava que haviam riscos que valiam a pena, então tentaria trocar algumas palavras com a jovem, cujos olhos claros e a linda boca rosada não saíam de sua cabeça.
Minutos mais tarde, enquanto se vestia, pensava que pelo menos Leon estaria lá também caso se sentisse entediado e poderia ao menos divertir-se vendo Jason e ele aos galanteios com as debutantes de Farthell. Viu-se elegante no traje escuro e colocou a gravata tão azul quanto seus olhos, aprovando o resultado.
Ao descer para encontrar seus pais, viu uma Sra. Carter impaciente e seu pai tentando ignorar que demorou mais do que costumava fazer, somente para irritá-la.
― Veja só! Pelo menos a demora compensou ― disse a Sra. Carter, alisando a lapela da casaca do filho.
― Tudo pelas Rosas!
Ele sorriu, recebendo um risinho irônico da mãe.
― Muito bem, podemos ir ― disse o Sr. Carter, que gostava dos bailes da temporada para encontrar amigos fora de jantares de negócios ou reuniões.
Na casa de Lady D., a noite já havia começado quando os Carter chegaram. Kane seguia acompanhando seus pais e cumprimentava conhecidos pensando no quanto precisava de uma bebida.
A anfitriã parecia aguardar o momento certo para apresentar as Rosas e, pelo que lembrava, eram elas que dariam início ao baile.
― Carter! ― chamou Steve, se aproximando. ― Finalmente! Estava quase apostando com Leon que você não viria.
― Não pretendo ficar muito tempo ― disse Kane, olhando em volta, notando que mais convidados chegavam a cada minuto. ― Podemos ir ao Summer's.
― Sim ― murmurou Steve, distraído, ao olhar a movimentação nas escadas, pensando que logo o baile começaria.
Circularam pelo salão em busca de uma visão melhor do local e da escada, por onde desceriam as escolhidas. Era uma escada sinuosa, com um corrimão dourado e degraus de mármore, e Kane não pôde deixar de se perguntar quem seria o par de Lyra para a primeira valsa, já que elas davam início ao baile.
Como se Lady Dughinham tivesse lido seus pensamentos, pediu licença e em poucos segundos só ouviam a voz dela enquanto Kane e Steve aceitavam taças de champanhe. Ela falava sobre a alegria de receber a todos e toda a formalidade sobre a Sociedade da Rosa Amarela que ele havia decorado desde que havia voltado para casa. Para o que ele considerava sorte, ela não se demorou e então pôs-se a apresentar suas escolhidas uma a uma.
Cada Rosa descia a escada graciosamente para onde estava seu par para a primeira dança a aguardava, levando-a para o centro do salão onde aguardavam as demais. Reconheceu alguns dos jovens que as acompanhavam e não conseguiu disfarçar o riso quando Steve perguntou se haviam sido pagos ou ameaçados para cumprirem seu papel.
Olharam um para o outro quando viram Jason acompanhando sua prima, Jane, mas ele nem olhava para os lados para não ver a cara de deboche dos amigos.
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