O segredo Habsburgo
Colidi bruscamente contra o chão, mas dessa vez não era o único deitado no gramado, pois Ethan estava ao meu lado, caído e desacordado. Não me levantei de imediato, pois contemplava as poucas nuvens no céu, que clareava aos poucos. Senti um cheiro úmido e doce invadir minhas narinas e percebi que não estávamos na mesma floresta de antes. Levantei-me (até mesmo Sophia, que perdeu a memória, se manteve de pé durante a breve viagem que fizemos), olhei ao redor e contemplei uma vegetação imensa, com troncos longos e estreitos espalhados por toda a parte; havia uma infinidade de flores ao redor. Eram todas azuis, incrivelmente lindas, e conhecidas pelo nome "bluebells". Será que além de espécies sobrenaturais, existia também um mundo encantado? A resposta para isso é um talvez, embora o lugar em que estávamos faz parte de nosso mundo e sim, as flores são realmente azuis. Para quem ainda não descobriu, o local a que me refiro é a floresta de Hallerbos, situada na Bélgica, apesar de não usarmos esse nome na época, visto que ela só foi reconhecida como país no ano de 1839.
- Onde nós estamos? – Perguntei, contemplando admirado ao redor.
- Em um lugar seguro. – Respondeu Mohamed, observando o meu fascínio ao mesmo tempo em que inspirava lentamente o ar puro da natureza. – Há uns vinte quilômetros de Bruxelas. – Eu assenti com a cabeça e tornei a olhar aquele ambiente aberto, com grandes árvores e algumas flores espalhadas pelo chão. – Se está impressionado agora, espere só para ver na primavera. – Eu certamente iria voltar nessa época, e para você que também tem vontade, saiba que as melhores datas são entre Abril e Maio. – Toda essa floresta fica coberta por um enorme tapete azul de flores... – Concluiu Mohamed, aparentemente alegre por estar de volta.
- Já acabaram? – Perguntou Elvira, astuta. - Porque agora você nos deve respostas do que foi aquilo que aconteceu! – Disse, apontando para o corpo desacordado de Ethan, enquanto encarava o mago, com um olhar estressado.
Sophia aproximou-se cautelosa de onde eu me encontrava, e olhou para o céu, depois para as grandes árvores, com uma expressão intrigada.
- Eu já estive aqui... ? – Ela cochichou mais para si mesma do que para mim.
- O que era aquela coisa que estava no corpo de Ethan e como ele pode ser mais forte do que a família Habsburgo inteira! Você olhou nos olhos dele? Porque eu olhei, e não era Ethan quem estava lá! – Elvira parecia realmente estressada, mas eu diria que ela estava, na verdade, inconformada. – Ele arrancou o coração de Cairo, um dos vampiros mais temidos que tive o desprazer de conhecer, e depois você simplesmente... – Ela soltou uma risada irônica e estressada. – O apagou com um toque de mágica.
- Acalme-se, Elvira... – Disse Mohamed em um tom suave. – Ethan é um híbrido... Mas não qualquer um, ele foi o primeiro da espécie e até agora não existem muitos, são bem raros, mas extremamente poderosos. E o fato de ele ter sido o primeiro o faz ser tão poderoso, tamanho é esse poder que ele quase não comporta em seu corpo quando usado em sua totalidade.
- Mas por quê? Não entendo...
- Você sabe me dizer o motivo de os vampiros antigos serem os mais fortes? – Perguntou Mohamed.
- Porque são mais experientes? – Arriscou Elvira.
- Não! Os vampiros antigos são os mais fortes porque estão mais próximos da linhagem original, digo, estão mais perto dos primeiros que existiram. E cada vez que um novo vampiro é gerado, ele não recebe o poder em sua totalidade, pois parte dele é dissipado na natureza. Em outras palavras, a pessoa que foi transformada por um vampiro, vai ser menos forte que a pessoa que o transformou e assim por diante. É por isso que Ethan é assim, pois além de ser um híbrido, ele é o primeiro da espécie.
- E como você o parou com sua magia? – Perguntou Elvira. Mohamed a encarou.
- Nós fizemos um elo. – Disse com simplicidade. – Quando o conheci, Ethan estava sozinho. Crescera sem os pais e estava perdido no mundo... – Os olhos do mago pareciam distantes, como se recordasse de algo. – Foi há várias décadas, a vila estava sob ataque e eu contemplava chamas intensas se alastrarem pela floresta, vinha de uma pequena cabana que a princípio pensei estar abandonada. Pressenti então uma energia sobrenatural e foi quando conheci Ethan. Ele era apenas um garoto, estava à beira da morte e não era híbrido na época. Foi naquela noite que seus pais morreram. Desde então eu cuidei dele.
- Se ele não era híbrido, quer dizer que... – Elvira se mostrava relutante em concordar.
- Ele vinha de uma linhagem de lobisomens, e foi mordido por um vampiro... Um vampiro forte
- Foi um Habsburgo?
Mohamed a encarou nos olhos, com pesar, e assentiu.
- Mas quem? Qual deles, o Cairo?
- Não, ele não estava lá... O que você precisa entender é que ser um híbrido vai contra a natureza, não se pode ser um vampiro, lobo ou até mesmo um bruxo tudo ao mesmo tempo, isso causa um desequilíbrio que sou incapaz de explicar, mas acredito que seus olhos viram o suficiente quando observou Ethan em ação... – Elvira fez que sim com a cabeça. – O vampiro que o transformou estava transtornado, naquela época várias mortes misteriosas estavam acontecendo todos os dias, pensávamos estar sob um grande ataque inimigo, quando na verdade aquele estrago era feito por apenas um vampiro. Ele procurava alguma coisa e estava certo de que iria destruir a vila inteira para conseguir. Certa noite nós fomos o seu alvo, Ethan tentou detê-lo, mas foi mordido por ele. Por algum motivo a mordida de um Habsburgo é mais poderosa que a de qualquer outro vampiro. Vou te contar o que houve naquela noite...
Tom encontrava-se de joelhos ao chão, observando o vazio onde minutos atrás estivera Mohamed e os outros. Sentia-se inconformado. Não, isso era pouco para descrever o que se passava pela sua cabeça, pois havia sido desafiado, humilhado e certamente tinha fracassado. Perdera miseravelmente aquela luta; isso nunca aconteceu antes, ainda mais estando em tamanha vantagem. Eles eram uma das criaturas mais temíveis desse mundo. Como podia existir um ser tão poderoso? Aquilo estava além de sua compreensão. No entanto, sabia quem provavelmente tinha todas as respostas para suas perguntas.
- Matheo! – Esbravejou Tom.
- O que disse? – Perguntou Leon, receoso. Ele estava próximo ao falecido irmão, sentado com os braços apoiados no joelho, enquanto tremia desconsolado.
Valentina chorava de pé, encarando o corpo frio do irmão. Tom se levantou com dificuldade. Fazia tempo que não se sentia fraco, vulnerável e incapacitado. Mas se manteve firme, caminhando lentamente para perto dos outros irmãos, enquanto aguardava pacientemente o seu processo de cura, que estava demorando em se completar.
- Vamos irmãos, não temos tempo para o luto. – Disse ele em um tom frio, apesar das lágrimas em seus olhos mostrarem o contrário. – Temos que fazer uma visita a alguém.
- Você não pode estar falando sério! – Disse Leon, se aproximando rapidamente do irmão, como se tentasse impedi-lo.
- É o único jeito! Não queria ter chegado a esse ponto, mas Cairo está morto... E acho que vocês estão com a mesma suspeita que eu.
Leon, Valentina e Luca o encararam seriamente e assentiram, mesmo que relutantes. A noite de hoje haveria de ser épica; a luta contra Ethan durou apenas alguns minutos, mas ficaria para a história do mundo sobrenatural. Os boatos se espalhariam rapidamente e em poucos dias Ethan seria o híbrido mais conhecido e procurado de toda a Europa. Tom, ao lado de seus irmãos, atravessara um portal escondido em meio à escuridão da floresta, ele andava rápido e parecia determinado. Viajaram mais de mil quilômetros em apenas alguns segundos. Encontravam-se onde tudo começou, no local onde a família Habsburgo se erguera e iniciara tamanha influência pela Europa. Estavam no conhecido cantão de Argóvia, na Suíça, local em que o primeiro castelo Habsburgo fora construído, isolado da cidade e no alto da Colina Schinznach.
O castelo era feito de pedra, ficava no topo mais alto de uma extensa área recoberta por uma vegetação extremamente verde. As nuvens se entrelaçavam junto à torre e a brisa era suave, porém gelada. Os passos de Tom colidiam firmemente contra o chão de pedra, seus irmãos estavam logo atrás. Eles entraram no castelo, um grande salão se estendia pela frente, em seu centro havia um lustre de cristal. Ao lado, um estreito e comprido corredor recortava parte do castelo, era uma área isolada e com pouca iluminação e Tom andou apressado naquela direção. Algumas tochas ficavam fixas na parede, deixando o ambiente um pouco menos escuro. O vampiro finalmente chegou ao seu final e encarou uma grande porta larga de aço, com algumas correntes impedindo a passagem. Ele parou e seus irmãos também. Tom segurou as correntes, e disse, encarando a grande porta.
- Eu vou sozinho! Quero falar a sós com nosso irmão. – Ele então, com um movimento rápido e sutil, quebrou as correntes presas à porta.
Os irmãos se entreolharam confusos, mas assentiram com a cabeça, relutantes. A porta se abriu lentamente, o som das correntes ecoou demoradamente e Tom avançou. Havia uma longa escada de pedra em formato de caracol; ela era comprida e levava para uma parte subterrânea do castelo. Diferente dos outros lugares, este não tinha sequer um resquício de luz. Quando terminou de descer o vampiro se deparou com outra porta a sua frente, esta era um pouco menor, porém tinha três cadeados que foram quebrados rapidamente. Ele respirou fundo e abriu a última porta. Tudo estava escuro, mas ele seguiu adiante. Seus passos ecoavam, sentiu um cheiro de podridão, mas já esperava por isso. Ouviu o som fraco de uma respiração e parou, a alguns metros de um homem deitado ao chão. Tom se aproximou, havia uma janela no alto daquele imenso salão; a luz atravessava um pequeno freixo iluminando uma área reduzida do lugar. O homem estava sujo, com uma longa barba em seu rosto e seus olhos estavam fechados, apesar de sentir a presença do irmão.
- A que devo o prazer? – Perguntou o irmão, deitado de barriga para cima, com a cabeça apoiada em suas duas mãos, seus olhos não se abriram, ele parecia fraco, sua voz estava rouca; mesmo assim, seu tom era carregado de ironia e desprezo. Havia duas correntes presas em seus tornozelos, ligadas a duas esferas maciças de ferro. – Veio me apunhalar pelas costas de novo?
Tom se manteve calado, encarando o irmão, pensativo. Não gostava de vê-lo naquele estado.
- Eu fiz o que tinha de ser feito. – Retrucou Tom, sem alterar a voz. – Você estava matando gente, irmão... Pessoas inocentes.
- Ninguém é inocente! – Respondeu com raiva. – E eu não estava matando apenas os inocentes...
Tom balançou a cabeça, rindo inconformado.
- Tem razão! Você estava matando todos que cruzassem seu caminho. – Tom o fitou sério e apreensivo. – Estava arriscando expor todos nós, ia acabar matando não só a você, mas toda a sua família.
- Não me chame de família, por favor. – Pediu Matheo.
- Tudo bem. – Entendeu o irmão, por mais que tivesse odiado ouvir isso. – Eu não tinha escolha, você nunca soube lidar com o vampirismo, estava fora de controle...
- Eu sou assim! – Retrucou de forma ríspida. – Não escolhi ser vampiro.
- Eu sei, é por isso que você não pode beber sangue humano, porque isso te faz perder o controle como aconteceu naqueles tempos. Por algum motivo você herdou as piores características de um vampiro. E foi por isso que tive que te colocar aqui, para aprender a controlar o seu impulso pelo sang...
Naquele momento, o irmão levantou-se agitado, descontrolado; o tintilar das correntes ecoavam pelo salão.
- POR QUARENTA ANOS, TOM! – Suas mãos tremiam descontroladamente. Pela primeira vez os seus olhos estavam abertos e exibiam a mais pura loucura. Tom se afastou um pouco assustado. Aquilo confirmava suas teorias. Aquele olhar... Iguais aos de Ethan. – Você me trancou por quarenta anos... – Disse novamente, em voz baixa, como se não acreditasse no tempo que passara. Seus joelhos cederam e Tom o segurou antes que ele despencasse ao chão.
- Você está fraco irmão...
- Lógico! Vocês me alimentam com uma quantidade reduzida de sangue de animal, aquela coisa nojenta! – Resmungou ele, irritado pela ajuda do irmão. – Por que não diz logo o que está fazendo aqui. – Ele parou por um momento, olhou para o irmão e sorriu. – Você está com problemas não é? – A satisfação em sua voz irritou Tom, mas ele não contestou. –A julgar pelo seu estado, você acabou de levar uma surra. – Continuou ele, encarando os olhos de Tom, que ele julgava dócil, quando comparado aos seus. - Posso saber a quem devo agradecer? Cairo? Leon? ... Não, eles não dariam conta sozinhos, aposto que foi Cairo e Leon juntos!
- Chega! – Pediu Tom. – Não foram eles que fizeram isso.
- E onde eles estavam então? Pelo que me lembro, vocês estão sempre juntos.
- Eles estavam lá também.
O sorriso no rosto do irmão desapareceu na mesma hora. Ele parecia confuso, se afastou do irmão e apoiou as costas na parede, pensativo.
- Parece que muita coisa mudou em quarenta anos, não é mesmo Tom? Na minha época, a família Habsburgo colocava medo em qualquer ser sobrenatural que existisse. – Disse ele, fazendo questão de não se incluir em sua própria família. – Posso saber quem são essas pessoas?
- Na verdade, meu caro irmão. – Disse Tom, aproximando do homem e colocando uma de suas mãos em seu ombro, de forma irritada. – Foi apenas uma pessoa. – Seus olhos encontraram os dele, exibiam surpresa. – E eu espero que tenha essa resposta, afinal foi você quem o transformou e o tornou híbrido.
Matheo se mostrou intrigado, perdido em seus pensamentos, e ficou assim durante longos segundos, como se recordasse de algo.
- Então ele não morreu? – Perguntou desconfiado. Tom o encarou sério, era exatamente isso o que queria. Ele se lembrara do que aconteceu, parecia estar pensando nisso agora, então era a sua chance de entrar em sua mente. Mas invadir as lembranças de um vampiro da sua família era extremamente difícil, e por isso tinha que deixá-lo fraco emocionalmente, pois assim não teria resistência, e sabia exatamente como fazer isso.
- Não. Mas sabe quem morreu nas mãos dele? O nosso irmão, Cairo...
O vampiro o encarou com os olhos arregalados, sobrancelhas levantadas e uma expressão vazia. Tom o segurou firmemente pelo pescoço e cravou suas unhas em sua nuca. Ele gritou e o irmão entrou em sua cabeça.
" Era noite, a rua estava deserta e todas as casas estavam com as luzes apagadas. Ventava forte, fazia frio e tudo estava mergulhado em um silêncio assustador, exceto por um homem que andava por uma trilha de terra, com as vestes ensanguentadas e rasgadas. Ele não estava com frio, se mantinha agitado e com uma incessante vontade de beber sangue. Sentiu cheiro de magia, vinha de uma casa um pouco distante das outras, as luzes estavam acesas, ele arrombou a porta e se deparou com um senhor. Era Mohamed. Aquele cheiro de magia... Não vinha do mago, era algo pequeno, um simples objeto, mas emitia uma gigantesca fonte de poder, e era exatamente isso que estava procurando durante meses nessa pequena vila. Era por isso que tinha causado tamanho estrago.
- Cadê? – Vociferou o vampiro, descontrolado. – Onde está!?
Mohamed o encarou confuso e assustado. Não sabia do que ele estava falando. E antes que ele pudesse responder o vampiro avançou irritado, querendo respostas. Mohamed reagiu, lançando um feitiço que o fez colidir com uma estante de livros, que despencou ao chão. Mas ele era forte, se recompôs rapidamente ainda mais irritado. Seus olhos estavam arregalados e ele parecia louco.
- O que está acontecendo aqui! – Vociferou um jovem rapaz, surgindo do interior da casa e correndo ao encontro do mago. Era Ethan. – O que você quer? – Falou Ethan, irritado, enquanto ajudava Mohamed.
- É você então! – Disse o vampiro, percebendo que o cheiro que havia sentido vinha do rapaz a sua frente. – Você tem algo que me pertence!
Ele se aproximou de Ethan, mas o jovem agiu mais rápido, correu em sua direção; sabia que estava indo ao encontro de um vampiro, e que eles eram mais fortes, porém, não precisava de força se o oponente não conseguisse enxergar. Ethan segurou algumas cinzas que Mohamed usava para praticar sua magia e lançou-as nos olhos do vampiro, em seguida, puxou uma faca do interior de sua roupa e a cravou lateralmente no pescoço do maníaco. Ele se afastou, transtornado, em seguida riu; seus olhos queimavam em ardor devido às cinzas, mas mesmo assim ele parecia se divertir.
- Então você é um lobisomem! – Disse, como se tudo fizesse sentido agora, enquanto retirava lentamente a faca de seu pescoço, exibindo um imenso prazer ao fazer isso. Jogou a faca no chão de forma descontraída, e fez menção de dizer alguma coisa.
Ethan, que não gostava de conversas durante uma luta, avançou contra o vampiro; sabia que suas chances eram mínimas, mas isso não o impedia de tentar. Tentou um soco, mas o vampiro desviou com facilidade, o que ele já esperava, e por isso, antes do ataque, posicionara a sua perna em um ponto de desequilíbrio do oponente; ele não esperava por isso, cambaleou para trás e Ethan o atacou com um chute no rosto. Mas dessa vez o vampiro, que era muito mais forte, segurou a perna do rapaz, ele tentou lançar a sua outra perna contra o seu rosto, mas o maníaco fora mais rápido e o puxou para perto de si e lhe deu um soco extremamente forte em seu rosto. Ethan colidiu contra a parede, ao lado da estante que estava caída. Uma fina linha de sangue escorreu por sua testa e os olhos do vampiro brilharam. Ele começou a tremer, Mohamed o encarou; nunca havia visto um vampiro com tamanho descontrole por sangue. Lançou um feitiço contra ele, que não estava mais lá. Ethan se levantou e antes que pudesse pensar em fazer alguma coisa sentiu uma mordida profunda rasgar o seu pescoço e lhe roubar o sangue. Tentou lutar contra o impulso do vampiro, mas ele estava descontrolado, parecia um animal. Era como se sua vida dependesse de sugar a última gota de sangue daquele jovem rapaz, nada iria o fazer parar a não ser ele mesmo, quando sentisse vontade. Parou e afastaram seus dentes do pescoço aberto do jovem, sua boca estava na cor de um vermelho vivo.
- Onde está? – Perguntou o vampiro a Ethan, que estava fraco e pálido devido à falta de sangue. Relutava bravamente contra o impulso do desmaio, mas ele mal se aguentava em pé, sendo segurado apenas pelos braços de Matheo, que o pressionava contra a parede. O vampiro sussurrou ameaçadoramente em seu ouvido. – Me devolva o... "
- Acha mesmo que pode entrar na minha mente com facilidade? – Disse o vampiro, rispidamente, retomando a consciência e lançando um olhar insano ao irmão. – Acha mesmo que estou fraco emocionalmente, ou que a morte do meu irmão Cairo, que te ajudou a me colocar aqui, está me afetando de alguma forma? – Suas mãos começaram a tremer novamente, sentia o descontrole o dominar por inteiro. – Fiquei surpreso com a morte dele, mas confesso... – Ele se aproximou de Tom, e sussurrou em seu ouvido, como fizera com Ethan naquela noite. – Que essa foi a melhor notícia que já recebi nesses quarenta anos. – Cada palavra foi dita com extremo desdém. – Pelo contrário, Tom, minha mente nunca esteve tão forte. Por quarenta anos eu alimentei um só tipo de sentimento contra vocês e isso me fez forte... Nem mesmo você vai conseguir entrar na minha cabeça.
Tom o encarou, com ódio, mas antes que pudesse falar ou fazer alguma coisa, ouviu passos se aproximarem.
- Irmão? – Era Luca, seguido de Leon e Valentia.
- Olha só que bacana, a família reunida de novo. – Disse o homem, não disfarçando o desprezo em vê-los novamente.
Leon, Valentina e Luca ficaram desacreditados com o estado em que se encontrava o irmão. Ele estava irreconhecível.
- O que vocês querem? – Indagou, lançando olhares ameaçadores aos três que o encarava.
- Trouxemos um pouco de sangue para você. – Disse Leon.
As veias ao redor de seus olhos saltaram e ele avançou, seguido de um impulso involuntário, para cima dos irmãos. Tom o segurou com um dos braços e olhou em seus olhos.
- Mas primeiro precisamos que concorde em fazer algo por nós... – O irmão retribuiu o olhar, aguardando que ele falasse. – Como foi você quem o transformou em um híbrido, acredito que tenha certo poder sobre ele, quero que o mate. Se concordar em fazer isso, ganhará sua liberdade.
Matheo afastou o braço do irmão de seu corpo, e o encarou seriamente por alguns segundos. Em seguida abriu um sorriso. – Tá brincando!? – Disse ele arrancando a bolsa de sangue que estava com Luca e rasgando o plástico com os dentes. Bebia rápido, estava sem ingerir sangue humano há quarenta anos. Sentiu como se cada parte de seu corpo formigasse, seguida de uma intensa vontade de matar. Suas mãos voltaram a tremer; não por raiva, mas por uma mera lembrança de como era o sangue quando provado direto da veia. – Você vai me dar à liberdade e ainda vai me deixar fazer aquilo que mais gosto? Considere feito, irmão! – Disse ele, apertando as mãos de Tom com extrema ironia e ansiedade. Em seguida, arrancou as correntes de seus tornozelos com facilidade, e disse:
- Então me diga... – Disse ele, com os olhos sedentos por sangue. -Onde posso encontrar esse tal de híbrido durão?
Mohamed contara toda a história, sinceramente não entendi muito do que ele falou, mas pela primeira vez observei Elvira mais calma, mesmo que ainda parecesse inconformada.
- Mas e então, o que ele estava procurando? O Ethan te contou depois? – Perguntou Elvira, olhando novamente para o corpo desacordado do híbrido.
- Ele também não sabe. Eu apaguei aquele vampiro com meu feitiço antes que ele pudesse terminar de falar. Depois criei um portal e fugimos daquele lugar, não era mais seguro.
- E deixou o corpo do vampiro lá? Por que não matou? – Perguntou Elvira, com simplicidade.
- Porque ele é um Habsburgo, se eu tivesse o matado seus irmãos iriam atrás de nós.
Elvira cruzou os braços.
- E o elo que você disse que tinha com Ethan?
- Quando o vampiro o mordeu, eu pensei que aquele seria o seu fim. Mas por algum motivo ele não morreu e se tornou híbrido. No entanto, junto com esse dom, veio um fardo. Ele herdou as piores características daquele Habsburgo; o descontrole; a loucura. Os primeiros meses foram os mais difíceis, mas eu o treinei, ajudei a se concentrar e afastar as emoções, é por isso que ele é desse jeito, digo, ele não tem vínculo com nenhum tipo de sentimento humano. Mas depois que ele mata alguém, não tem o que fazer, ele fica insano, fora de controle e por isso fizemos um elo. Ele me deu um pouco de seu sangue e permitiu que me conectasse a sua força. Desse modo, toda vez que ele sair do controle, eu consigo fazê-lo voltar, mesmo que tenha que ficar desacordado por algum tempo.
Elvira o fitou durante algum tempo, Arthur descansava confortavelmente ao lado de uma árvore, junto com Sophia. Mohamed cruzou os braços.
- Bom, agora que já esclareci tudo, e considerando que você é uma alfa. – Disse, encarando a loba. – Quero que tente devolver a memória de Sophia.
Elvira assentiu e se aproximou da bruxa. Ela a olhou, assustada, e se levantou.
- Está tudo bem, Sophia, vai doer só um pouco. – Disse Elvira, sem paciência para a versão ingênua e amedrontada da bruxa.
Eu me aproximei deles, Sophia permaneceu parada, enquanto as garras afiadas de Elvira se aproximavam de sua nuca. Em seguida, ela gritou. Segurou com as duas mãos o braço da loba em busca de apoio e se manteve de pé; ela parecia saber que aquilo era para o seu bem, e presumo que tenha sido esse o motivo para ela não ter resistido. Elvira se afastou, exausta e ofegante, pois de acordo com o que ela havia falado antes, esse tipo de feitiço sobrecarregava suas energias. Sophia permaneceu com os olhos fechados, de pé, apoiada sobre o tronco de uma árvore. Por um momento pensei em perguntar se agora era a minha vez de receber a memória de volta, mas Sophia abriu os olhos neste exato momento e encarou todos nós.
- E aí! Deu certo? – Perguntou Arthur, encarando a bruxa.
E aí pessoas. Sei que EU não contei nada sobre os Habsburgos ainda, mas é que naquele momento eu não sabia de nada mesmo... Lembrando que a culpa é de Mohamed, já que ele só contou sobre a noite em que Ethan se transformou. Mas fiquem tranquilos, irei revelar as informações na cronologia em que me foram reveladas. Deixe seu voto, obrigadoo (:
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