O imperdoável
Naquela noite, tive uma de minhas melhores noites de sono. Depois daquele breve desentendimento que Ethan e Elvira tiveram, Mohamed acalmou a todos e nos mostrou o seu quarto de hóspedes. Ethan, emburrado, ajudou o amigo a trazer alguns colchões para o interior do pequeno espaço onde dormiríamos. A princípio, Arthur e Elvira se sentiram desconfiados com a simpatia do velho homem, anfitrião da casa. Mas, não durou muito para que dormíssemos quase que imediatamente após encostarmos a cabeça ao travesseiro, pois havia sido um dia extremamente cansativo e repleto de informações.
Eu apaguei completamente, ao som de uma chuva amena e reconfortante e um leve balançar de árvores afora. Quando abri os olhos, percebi que todos já estavam de pé.
- Não é assim que se coloca, está do avesso! – Esbravejou Elvira a Arthur, que tentava vestir um colete que recebera de Mohamed.
Ethan apareceu de imediato na porta, observando com estranheza, Elvira tentar ajudar o homem a vestir um simples colete. Depois, voltou-se sério para mim.
- Tome! – Disse Ethan, com seu olhar sombrio e assustador, jogando algo em minha direção. – Vai precisar!
- Que foi? – Indagou Elvira para Ethan. Ele a observava com um olhar estranho e cativante.
- Se apressem! – Em seguida, retirou-se.
Eu segurei aquele objeto pesado que ele havia jogado em minha direção; um colete preto de couro e a julgar pela rigidez, extremamente resistente. Eu o vesti, não de um jeito desajeitado como Arthur, mas não com a facilidade extrema com que provavelmente Elvira vestira.
- Ótimo! – Disse Elvira, aproximando-se de mim e ajeitando o colete em meu peito com uma forte batida nada agradável. Aquele foi o mais próximo que ela já havia chegado de mim. Ela estava com os olhos baixos, a ponto de eu não conseguir ver o seu rosto. Então, subitamente ela olhou em minha direção, nossos rostos ficaram a centímetros um do outro, consegui sentir o ar quente que saia de sua boca, e seus olhos pareciam tristes e arrependidos.
- Espero que você não me odeie depois de descobrir a verdade. – Disse ela, falhando ao tentar se manter firme. – Agora vamos!
Mohamed e Ethan já nos aguardavam na sala, ambos com seus respectivos coletes. Ethan vestia uma calça preta e uma camiseta de manga comprida branca por baixo; o seu colete, percebi, estava bastante gasto, e continha um arranhão gigantesco que ia do ombro até a parte lateral de seu abdômen. Olhando-o assim, ele parecia mais alto do que na noite anterior, e apesar de ser magro, seus ombros eram largos e fortes, e o mais estranho de tudo era o seu olhar... Desde que o vi pela primeira vez, seus olhos não piscaram sequer por um único momento, mas não estavam abertos em sua totalidade, eram neutros, amenos e isso os deixavam quase sem vida.
- Preciso que prestem bastante atenção agora. – Disse o mago a todos, mas lançando olhares em específico a Arthur. – O lugar para onde nós vamos é extremamente perigoso. Só as mais temíveis criaturas vivem por lá... Você vai precisar usar isso. – Disse Mohamed a mim, me entregando uma grande capa acinzentada com um capuz. – Cubra-se com isto, você não pode ser reconhecido por ninguém. – Eu a vesti; era bem grande, cobria todo o meu corpo e rosto. – Ah, ótimo. Serviu direitinho. – Realmente serviu, eu a uso até os dias de hoje, pois era extremamente confortável e acabei não devolvendo mais.
Mohamed pediu para que todos se afastassem por alguns segundos e jogou cinzas sobre o tapete vermelho. Antes que elas tocassem o tecido, uma chama azul se ascendeu, intensa e brilhante, fazendo um círculo no chão. Hesitei por um momento e Ethan foi o primeiro a atravessar as chamas e entrar no círculo.
- Vamos, entrem! – Disse Mohamed, apressado.
Todos obedeceram e assim que o último, no caso eu, atravessou aquela chama intensa, tudo a volta desapareceu em um passo de mágica. As paredes da casa se dissolveram e uma escuridão nos engoliu. Meu estômago embrulhou, senti meu corpo suspenso no ar a uma velocidade altíssima, e em seguida o barulho do balançar das árvores, cantarolar dos pássaros, o vento forte soprar. Colidi bruscamente contra a grama úmida e gelada. Essa era a segunda de muitas vezes que eu cairia durante uma viagem dessas. Todos observaram, de pé, a minha péssima aterrisagem ao gramado. Levantei-me, envergonhado, e limpei minhas vestes. Encontrávamo-nos na imensidão de uma floresta. As árvores eram assustadoramente grandes e tudo estava deserto, apesar de eu pressentir que estávamos sendo observados. Olhei a minha volta, estava rodeado por Elvira, Mohamed, Arthur e Ethan. Bom, pelo menos de uma coisa eu tinha certeza, estava seguro. Se eu os tivesse conhecido antes, talvez meus pais ainda estivessem vivos e isso era uma coisa que ainda iria pensar por um logo tempo.
- Quietos! – Disse Ethan, de repente, em meio ao silêncio misterioso da floresta. – Estou ouvindo alguma coisa.
Mohamed o encarou surpreso, mas não assustado. Ele não tinha os sentidos aguçados como o de um lobisomem, muito menos quando se trata de um híbrido feito Ethan.
- Não estou ouvindo nada. – Disse Arthur. Eu também não estava.
- Não ouço também! – Disse Elvira, com olhares desconfiados. – Não, espere, agora estou ouvindo alguma coisa...
- Seja lá o que for, está sozinho. – Disse Mohamed, concentrando-se enquanto fechava os olhos. O mago, mesmo que não escutando nada, conseguia pressentir a energia sobrenatural quando algo se aproximava.
- Se está sozinho então provavelmente sabe que não tem chance contra todos nós. – Disse Ethan, olhando de esguelha para um galho que se partira há alguns metros de onde estavam. Nada aconteceu.
Elvira encarou o híbrido, com olhares indecifráveis. Ele parecia ser bem forte, mas um tanto arrogante, pois não tinha medo de nada. E naquele momento, eu não sabia se aquele pensamento era uma tremenda estupidez, ou se ele realmente possuía forças extraordinárias que lhe dava tamanha confiança. Mas fique tranquilo quanto a isso, pois em poucos minutos vocês que estão lendo poderão tirar suas próprias conclusões.
- Aqui está ótimo! – Mohamed parou, e todos fizeram o mesmo; por mais que demorassem um pouco em entender, pois quando se trata de Arthur, o seu nível de compreensão era um pouco atrasado quando comparado aos demais.
Nós havíamos parado em frente a uma montanha gigantesca de pedra, localizada a beira de um grande penhasco. Olhei ao redor e percebi que aquele era o local mais alto da floresta.
- Escutem bem. Nós estamos prestes a entrarmos em um dos lugares mais perigosos dessa floresta. Aquela montanha. – Disse Mohamed, apontando para a muralha de pedra. – É onde iremos nos encontrar com os vampiros e, por mais improvável que isso possa ser, vamos tentar uma negociação antes de partirmos para a luta. Vocês tem que estar cientes de que estamos em desvantagens, então temos que fazer o possível para as lembranças de Sophia voltarem, pois com ela do nosso lado nossas chances aumentam significativamente. – Em seguida olhou para Elvira. – Acredito que você e eu somos os únicos que já vimos essa família de vampiros em ação, isso nos dá certa vantagem sobre eles. – Mohamed finalmente encarou Ethan. – Não quero ver você subestimando seus adversários, estamos entendidos?
- Não os subestimo! – Respondeu o híbrido, com um olhar sério.
- Ótimo! Pois você é o único ser aqui desconhecido aos olhos dos Habsburgos. Eles não o conhecem, então não sabem de sua força. Está lembrado daquele truque que te ensinei, quando se está diante de um inimigo poderoso?
- Estou!
- Então quero que o coloque em prática, você vai camuflar o seu poder, não deixá-lo a mostra, quero que os vampiros o subestimem e reservem forças para mim e Elvira.
- E a mim...! – Disse Arthur, com um olhar sério.
Todos o encararam. Não sei se foi impressão minha, mas pela primeira vez, consegui contemplar na expressão de Ethan, uma curiosa relutância em exibir um sorriso. Mas logo o seu olhar voltou a sua expressão fria e habitual.
- Sim, sim, e Arthur. – Disse Mohamed, com um triste olhar de compaixão. – E quando eles se voltarem a nós, quero que você faça aquilo que sabe fazer de melhor, Ethan...
O híbrido assentiu, com o característico olhar de sempre e eles seguiram adiante. Aproximaram-se sorrateiramente da montanha de pedra. Aquele lugar era assustador, o vento soprou forte, estava muito frio. As árvores ficaram para trás conforme a grande abertura de entrada na parede ficava mais próxima. Eles atravessaram o grande portal e contemplaram uma enorme arena retangular, com pequenas pedras espalhadas por toda a parte. O local era bem espaçoso, úmido, e estranhamente familiar. Estava vazio.
- Que horas são? – Perguntou Elvira. – Já era para eles estarem aqui!
Mohamed não disse nada, olhava ao redor extremamente atento e desconfiado. Pressentia o perigo, a julgar pela expressão em seu rosto.
- Pensei que esses vampiros tinham um código de honra. – Resmungou Ethan, com desprezo.
Mas antes que mais alguém pudesse dizer alguma coisa, uma voz surgiu em meio à escuridão.
- Tem alguém aqui? – Disse uma voz feminina, extremamente assustada. – Por favor, se estiver me ouvindo, me ajude, eu não sei onde estou... – Olhamos assustados ao redor, mas não avistamos ninguém. Tudo estava escuro e a voz ecoou pelas paredes de pedra durante longos segundos. Era a voz de Sophia.
Ouviu-se um grito logo em seguida, não me controlei, tentei correr em direção a ela, mas com apenas um dos braços, Elvira me segurou pelos ombros.
- Ainda não! – Disse, sem me olhar nos olhos; estava desconfiada e atenta, esperando a qualquer momento um ataque. – É exatamente o que ele quer!
- Vocês querem Sophia de volta? – Perguntou uma voz feminina e assustadora.
Olhamos para trás imediatamente, pois ela vinha na direção oposta à voz da bruxa, mas novamente não enxergamos ninguém.
- Então nos entregue o herdeiro! – Disse agora uma voz masculina.
- Receio que isso não está em negociação, Luka! – Respondeu Mohamed, reconhecendo aquele jeito de falar.
Houve alguns segundos de silêncio.
- O que faz aqui, Mohamed? – Dessa vez foi Tom quem respondeu; uma voz grave e disfarçadamente irritada.
- Acho que sabe muito bem o porquê de eu estar aqui! – Respondeu o mago, não escondendo a desaprovação que sentia pelo vampiro. - Já lutei ao lado de vários seres deste mundo, e ao decorrer da vida, me acostumei ao fato de cada um deles fugir para o lado vencedor, que dizendo em palavras mais hostis... O lado mais fácil. Mas, confesso que minha surpresa foi grande ao ver uma família de vampiros, com tamanha influencia e potencial, fugir desta forma e trair as pessoas mais próximas de si.
Naquele momento, vi Elvira lançar um olhar disfarçado para o mago, como se dissesse espantada: "NOSSA". Em seguida, ouviu-se um longo suspiro vindo das sombras.
- Às vezes é preciso tomar decisões difíceis na vida, para sobreviver e proteger a quem nós mais amamos. No caso seria... Minha família. – Respondeu o vampiro, não alterando o tom de voz.
- Não me venha com falsos moralismos, Tom. – Retrucou Mohamed, lançando uma piscadela disfarçada para Elvira, que entendera o sinal e ficara de prontidão, esperando um ataque. – Suas bonitas palavras não vão camuflar a covardia que você e sua família carregam e irão carregar para o resto da eternidade amarga de vocês.
Dessa vez foi Ethan quem encarou o mago, com um olhar levemente arregalado e espantado. Tom não se moveu, mas ouviu-se um movimentar ligeiro por detrás de uma pedra escondida pela escuridã. Era um movimento de ataque.
- LEON, NÃO! – Esbravejou Tom.
- ELVIRA AGORA! – Gritou Mohamed, que planejara isso desde o começo.
O vampiro Leon se aproximou deles, indo em direção a um ataque fatal na direção de Mohamed (eles ficavam extremamente irritados quando havia um desrespeito direto a sua família, pois se consideravam acima de qualquer outra criatura sobrenatural, e isso intensificava a vontade de punição após um desaforo como esses, por mais que tenha vindo de um mago tão respeitado como Mohamed). Elvira interveio, movendo-se mais rápida que meus olhos podiam acompanhar; ela não só havia segurado o ataque do vampiro, como também, ainda na forma humana, arranhara o rosto do adversário com suas garras. Os olhos de Leon mudaram de cor, uma tonalidade vermelha e intensa, ele estava descontrolado de ódio e encarou Elvira, que movera outro ataque contra ele, só que desta vez o vampiro se esquivou, e lançou a loba com uma força descomunal contra a parede de pedra.
Seus dentes e garras estavam à mostra, e ele avançou contra Mohamed. Mas, antes mesmo que ele pudesse dar um passo a mais sequer, um vulto extremamente rápido impediu o seu movimento, uma grande loba de olhos vermelhos; Elvira havia se transformado. Lançou então o vampiro para longe, que caiu no chão aos pés do homem que agora havia saído das sombras. Era Tom, com uma expressão fria no rosto, encarando todos eles, pela primeira vez desde que chegaram.
- Estou vendo que temos uma carne nova por aqui. – Disse, estudando Ethan dos pés a cabeça. – Andou recrutando novatos para lutar contra nós, Mohamed? Já foi o tempo em que você se cercava de pessoas fortes, mas não adianta nada seguir um código de honra, se não pode se defender... – Ethan não se mostrou irritado, provavelmente o mago o havia ensinado a se controlar em situações como estas, pois o híbrido me parecia ser uma pessoa bem explosiva. Na verdade, o fato de ele não ter demonstrado qualquer tipo de emoção me surpreendeu. – Como você se chama, novato?
- Ethan!
- Ethan... Que belo nome. Nunca vi você antes, e como sou uma pessoa muito piedosa, sempre ofereço uma escolha aos ignorantes que não sabem com quem estão lidando, e esse parece ser o seu caso. – Tom o fitou nos olhos, tão frios quanto aos dele. – Pelo que meus sentidos me dizem sua força não é párea nem para o lobo beta ao seu lado. – Disse ele, referindo-se a Arthur, que por um momento pareceu pensar que havia outro beta naquele lugar. – Então lhe darei uma escolha de não se envolver; afinal odiaria ter que matar alguém de minha própria espécie. – Tom não sabia que falava com um híbrido. Mohamed havia pedido a Ethan para que ele camuflasse o seu poder, e ele o fez, escondendo também sua parte lobo. – Mas o farei sem hesitar a depender de sua escolha.
Ethan fez um gesto obsceno a Tom, que infelizmente não poderei revelar qual foi, devido a minha incerteza de quem estará lendo este meu relato, e se sua idade é apropriada para esse tipo de informação. Mas, o que posso dizer é que depois do gesto, Tom ordenou que eliminassem todos, a exceção de mim, o herdeiro.
Mohamed estava certo em ter dito que os vampiros iriam atacar aqueles que apresentavam maiores ameaças, portanto, Elvira e o mago foram o principal alvo deles, e Tom, permaneceu parado, observando ansioso a sua poderosa família tirar a vida de um por um ali presente. Pelo menos foi o que ele pensou que iria acontecer, presumi; a julgar pela ganância de seus olhos. Entretanto, aquela expressão se desfaria em breve.
- Sempre o considerei uma pessoa sábia, Mohamed. – Dizia uma mulher, chamada Valentina, que estava descalça, enquanto espreitava o mago e se preparava para um ataque. Ela era alta, seus cabelos eram curtos e arrepiados, e o seu olhar extremamente assustador. – Mas depois do que disse agora a pouco, vejo que não passa de um velho tolo, que deve ansiar muito pela morte. – Mohamed não se deixou intimidar, conhecia aquela mulher, mas isso não o afetou.
Arthur, vendo aquilo, correu na direção do mago, no intuito de protegê-lo. Entrou em sua frente, mas o seu jeito estabanado apenas piorou a situação. Lembro-me bem daquela cena em que tive o prazer de presenciar, pois assim que o beta se desequilibrara, no intuito fracassado de cometer uma boa ação, ele baixou a guarda e ficou suscetível a um ataque letal. Os vampiros jamais perderam uma chance daquelas na vida. Valentina e Luka avançaram contra Arthur, com os dentes e garras a mostra. O beta, no chão, tentou se proteger com os braços, mas nada lhe aconteceu. Uma ventania forte chamou a atenção de todos no local. Olhei ao redor, procurando de onde vinha aquilo e vi Arthur, no chão, olhando para trás incrédulo, exatamente onde estava Mohamed, e em volta deles, uma forte camada de ar os circulava a uma velocidade altíssima; em seguida um brilho intenso ofuscou os meus olhos, pois observei aquele fluxo de ar intenso se transformar em fogo. As vestes do mago esvoaçavam livremente pelo ar, assim como seus cabelos, e seus olhos... Lembravam-me os de Sophia, só que exibiam uma cor branca, eles brilhavam; suas mãos estavam levantadas, controlando aquele fluxo de fogo que impedira os vampiros de se aproximarem, mas ainda não havia feito nada.
Tom piscou algumas vezes; seus olhos foram ofuscados pelo brilho intenso que emitia o grande poder daquele mago. Através daquele fluxo, vi Arthur se aproximar do centro do círculo formado pelas chamas, para não se queimar. Luka e Valentina se afastaram, impressionados. Em seguida, aquela camada circular de poder se elevou a uma grande altura, se movimentando de forma agitada no ar. Parecia estar em um processo de transformação, e estava; não acreditei no que vi. Aquilo assustou a todos no local. As chamas intensas se transformaram em um grande animal de fogo... Um dragão de olhos vermelhos. Ele encarava todos de cima, emitindo um barulho raivoso com a boca.
- QUE DROGA É ESSA? – Disse Luka, só que em outras palavras mais hostis.
O dragão o encarou e se atirou em cima dele. O vampiro gritou e foi inteiramente coberto pelo fogo. Na verdade, aquilo foi o que pensei ter visto, pois Tom chegara a tempo de protegê-lo, entrando a sua frente e cobrindo-os com a sua capa, e depois que ela se dissolveu, o protegeu com o seu próprio corpo, enquanto envolvia Luke em seus braços, deixando a chama atingir suas costas. Aquilo causou uma explosão de ventania e jogou Valentina, que se encontrava próxima a eles, para bem longe. Tom sacrificara a vida pelo seu irmão, pensei. Mas na verdade, apesar de aquilo ter acontecido de fato, ele não havia morrido. Não sei se há uma explicação plausível para isso, além do fato de ele ser um vampiro extremamente forte se comparado aos demais.
Luke ficou intacto pelo fogo, mas Tom não. Seu corpo fora queimado por inteiro, mas seus joelhos ainda se mantinham firmemente de pé. Ele se virou lentamente para o mago, com um olhar jamais visto por mim antes; exalava puro ódio, seus olhos estavam vermelhos cor de sangue e algumas veias saltaram de seu rosto. Em poucos segundos, a parte queimada de seu corpo se regenerou, recuperando-se por completo, no entanto, não aconteceu o mesmo com a raiva que sentia. Tom andou na direção do mago e a loba avançou no vampiro. Ele se esquivara rapidamente da mordida do animal, e com uma de suas garras arranhou os olhos de Elvira, em seguida Arthur correu para ajuda-la, mas foi imobilizado com uma firme mão em seu pescoço. Ficou sem ar; estava sufocando; a loba também não se mexia, pois Tom utilizava a outra mão para detê-la. Essa era uma oportunidade única pra mim. Não sabia muito bem o que estava fazendo, mas corri em sua direção, senti a adrenalina correr por minhas veias, e um fluxo mínimo de poder atravessar o meu corpo; no momento parecia ser o suficiente. Aproximei-me de Tom, que ainda encarava Elvira e Arthur em seus olhos, e avancei meu punho contra o seu rosto.
Quando minha mão se localizava a centímetros de sua face, ele desapareceu instantaneamente, não pude acompanhar seus movimentos, pois eles eram extremamente rápidos, mas vi suas mãos deslizaram rapidamente em direção aos dois animais que o atacaram, deixando Arthur desacordado com apenas uma leve batida estrategicamente localizada em seu pescoço, e lançando Elvira na direção de uma pedra na parede, extremamente afiada. Minha mão ainda se encontrava em movimento, bem distante de tê-lo o acertado com aquele soco; Tom já estava atrás de mim, eu realmente era muito lento; imaginei suas sobrancelhas se levantando enquanto contemplava a minha falha tentativa de ataque, como se pensasse "é esse o poderoso herdeiro que Malignus deseja tanto eliminar?", em seguida me deu um leve empurrão com uma de suas mãos e caí.
Por um momento lembrei-me de Elvira sendo jogado contra a pedra pontuda. Levantei-me, preocupado, mas ela não estava ferida, já estava de pé, ao lado de Ethan. Eu poderia fingir que não sei o que aconteceu e descrever uma cena em que o híbrido segurasse a loba em seus braços, impedindo que ela se ferisse, afinal eles nunca leriam este meu relato. Mas, se fizesse isso, estaria omitindo uma das características mais peculiares que tive o prazer de conhecer. Ethan realmente a salvou, mas o que de fato aconteceu foi uma ação ágil do híbrido que, ao invés de ter segurado Elvira em seus braços (o que poderia muito bem ter feito) ele apenas avançou rapidamente contra a pedra pontuda e a dilacerou com um soco. Elvira então colidira contra uma parede lisa de pedra, mas estava bem. Isso pode parecer, a princípio, um pouco rude da parte de Ethan, mas na verdade foi ao contrário. Acontece que, tanto Elvira como o híbrido tinham personalidades completamente orgulhosas, e odiavam serem salvos, e aquele momento a loba pareceu não odiar por completo aquele homem. Não houve perguntas de preocupação ou um obrigado, ambos apenas se olharam e assentiram com a cabeça.
Tom continuou seu caminho na direção do mago, que não o esperou dar mais um passo sequer e avançou contra o vampiro. Ele estava com uma barreira à volta do corpo, para se proteger contra qualquer ataque. Era uma poderosa fonte de poder, mas não tanto quanto a força de Tom, que com apenas um golpe, desfizera de uma vez a magia do mago, que agilmente produzira um fogo intenso no chão frio de pedra. O vampiro andou sobre ela, deixando seus pés queimarem nas chamas; Mohamed arregalou os olhos, Tom não estava na sua habitual forma elegante, ao contrário disso, seu rosto fora transformado pelo ódio e vontade de matar. O mago se afastou assustado e tentou se desviar de um poderoso ataque, lançando outra barreira poderosa a sua volta; ela se quebrou, mas diminuiu o impacto do golpe que lhe atingiu no rosto, fazendo-o cair.
- Você me conhece bem para saber que não permito que ninguém que tente matar alguém de minha família permaneça vivo. – Aproximou-se velozmente do mago ao chão e, com suas garras afiadas, rasgou seu pescoço.
Meus olhos mais uma vez me induziram ao erro; não me culpe, não conseguia acompanhar todos aqueles movimentos rápidos. Ethan finalmente decidiu fazer alguma coisa; avançou na direção de Tom, que notou a presença de algo vindo ao seu encontro, e ao seu olhar de surpresa, percebi que aquela rapidez não era visto como normal, pois mal tivera tempo de se desviar. O híbrido colocou sua mão na frente do pescoço de Mohamed, deixando as pequenas lâminas afiadas perfurar sua pele, em seguida, sem demonstrar dor, torceu sua própria mão, quebrando-a, assim como as garras do vampiro, ele gritou, e depois foi empurrado com extrema força contra uma pedra no chão.
Tom se levantou devagar, olhando para os seus dedos que sangravam e virou-se para o homem que fizera isso com ele; uma criatura que jamais ouvira falar antes, com a ousadia de desafiá-lo.
- Então, me parece que alguém estava camuflando o seu verdadeiro poder. – Disse, encarando-o com um olhar assassino. – Bom trabalho Mohamed. Agora fiquei curioso, como nunca ouvi falar de você antes?
Ethan não respondeu, não gostava muito de conversar durante uma luta, na verdade, não gostava de conversar em momento algum. Ele retirou as garras do vampiro que ficaram cravadas em sua mão. Um ataque repentino vindo de trás, fez o híbrido se esquivar rapidamente para o lado, era Valentina. Em seguida outro vampiro, Cairo, lançou-se contra Ethan, e em ataques múltiplos, os dois adversários lhe deram socos, chutes, arranhões e Valentina chegou até a lhe dar um ponta pé enquanto girava no ar. Ethan desviou de todos, o que pareceu impressionar até mesmo o seu mestre, Mohamed. Elvira abocanhou a mulher, quando fizera menção de tentar o próximo ataque e Ethan concentrou suas habilidades em Cairo, que continuou lançando falhos ataques em seu oponente.
Quem é esse cara? Foi o que pensei naquele momento. Sua habilidade era além da força bruta, ele era extremamente ágil, inteligente e parecia medir com cautela cada desvio ou ataque que lançava, tinha uma tranquilidade no olhar, totalmente diferente de sua personalidade habitual, e não parecia temer a morte em momento algum. Depois de ter estudado brevemente a força do inimigo, Ethan parou e deixou-se ser atingido por um soco de Cairo. Ele havia atingido fortemente seu maxilar, mas apenas sua cabeça se moveu para o lado, permanecendo de pé, sem ao menos se desequilibrar. Naquele momento Cairo percebeu que suas forças eram inúteis, e apesar disso, lançou um próximo ataque, mais rápido que os anteriores. O híbrido segurou seu braço, e com apenas uma de suas mãos o partiu no meio. Um grito de dor irrompeu em um profundo eco de doer os ouvidos. Tom olhou o irmão, preocupado. Mas nem mesmo ele era rápido o suficiente para impedir o que estava prestes a acontecer. Ethan deu uma cabeçada no oponente que cambaleou para trás e em seguida o pressionou contra a parede de pedra. Cairo agarrou o pescoço do híbrido, tentando se defender, mas ele mordeu ferozmente seu pescoço, enquanto enfiava uma de suas mãos profundamente em seu peito. E então, em um piscar de olhos, arrancou-lhe o coração e quebrou seu pescoço com um sutil movimento de dedos. Ver o corpo daquele vampiro extremamente forte despencar sobre o chão, sem vida, foi algo impressionante de se ver.
Ethan virou-se, com as mãos e boca repletas de um vermelho vivo de sangue, os olhos chamuscavam sob a luz do luar, e seus dentes e garras estavam à mostra. Largou o coração do irmão de Tom em cima de uma poça de água parada ao chão, enquanto o encarava, com olhares desafiadores. Aquela foi a primeira vez em que o vi sorrir de verdade, e Tom...Bom, digamos que eu não queria estar lá para ver o que iria acontecer agora.
Faala pessoas, o que estão achando dessa história? Ficou muito grande, mas não quis poupar os detalhes, até porque algumas verdades serão reveladas nos próximos capítulos, então não percam. Se você gostou, me ajude com seu voto ! Obrigado! (:
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