Vinte minutos depois

Vinte minutos depois


Não foi muito difícil reaproximar-me deles.

Eles disseram que entendiam o que eu fiz, não gostavam, mas respeitavam as minhas escolhas, só queriam o meu bem.

Se eu não tivesse uma política extremamente rígida sobre chorar em público, teria chorado, abraçando e beijando cada um deles.

Ouvi as novidades, nomes conhecidos e desconhecidos, histórias que eu já havia ouvido e outras inéditas; tentei parecer interessada em tudo, mesmo que nem tudo estivesse prendendo tanto a minha atenção como deveria.

Não conseguia parar de olhá-los.

Jenny tinha aquele seu jeito descontraído, fingindo que não se importava com o que os outros diziam e era melhor do que qualquer um, todavia quem a conhecia sabia que ela não era daquele jeito. Por baixo de sua maquiagem negra, cabelos platinados e estilo gótico, havia uma garota que escrevia histórias de amor que um dia planejava publicar um livro e vibrava com até as mais desinteressantes novidades.

Já Carrie era diferente, ela tinha cabelos castanhos puxados para o ruivo, seus olhos eram castanhos e sua pele era cheia de sardas. Ao contrário de Jenny, ela não fingia ser algo que não era, Carrie era simplesmente Carrie e não havia uma pessoa que pudesse julgá-la por isso. Ela era toda feminina, delicada, sonhando com o príncipe encantado, porém era quase tão realista quanto Jenny, que tendia a ser mais pessimista quando a hora chegasse.

Gabriel andava conosco por um mero acaso do destino, fizemos um trabalho de escola há um tempo, quando Will ainda estava vivo, e acabamos nos frequentando. Ele já tinha ficado com nós três e isso não nos incomodava, não estávamos revezando, porém aconteceu, isso nunca nos incomodou antes.

Avistei Jason do outro lado do refeitório e virei o meu rosto. Ainda não sabia o que dizer para ele sobre a noite em que perdi a compostura e fiquei chorando como um bebê no chão do meu quarto pela carta que não li.

— Então, pode começar a falar, como foram estes seis meses? — Carrie perguntou batendo suas unhas esmaltadas na mesa de madeira esperando pela minha resposta.

Eu sabia que ela queria que eu falasse mal de Vanessa, de sua falsidade, da maneira como ela chantageava as pessoas e falsificava sua identidade para nós entrarmos em baladas e bares que não tínhamos idade suficiente para frequentar.

Eu também queria falar mal dela, dizer a verdade, aumentar a maior parte e sentir que finalmente eu poderia melhorar.

No entanto, verdade seja dita, eu gostei um pouco do tempo que fiquei na companhia dela. Gostei da maneira como ela não hesitou em me acolher e em como jamais perguntou sobre William mesmo quando era isso o que todos faziam.

Ela era tão obcecada pelo seu brilho próprio que não se importava com mais ninguém além dela. Na época isso era bom, hoje em dia eu queria pensar mais em mim e decidir o que eu poderia fazer daqui para frente.

— Não foram os piores e nem os melhores, foram apenas... diferentes — comentei mexendo com um canudo de plástico o meu suco artificial com gosto de gelatina de morango.

— A parte que você lembra, não é? — Jenny provocou.

Soube, naquele instante, que eu havia sido perdoada e não sabia como agradecer.

— Scott Daylight, filho do homem mais famoso e rico da ilha, é ou não é um pedaço de mau-caminho? — minha amiga loira platinada perguntou se debruçando sobre a mesa com os olhos passando do meu rosto para o de outra pessoa.

Eu sabia de quem ela estava falando, sabia muito bem, mas não sabia se eu queria falar sobre aquele assunto naquele momento.

Eu nunca tinha ficado com um garoto nestes meses. Muitos deles quiseram, não por eu ser bonita ou simpática, mas por eu estar lá. No entanto tudo ainda era muito recente e eu não conseguia conciliar meus problemas emocionais e tentar lidar com um novo relacionamento.

Já me bastava o álcool, eu estava sofrendo com a sua abstinência, não precisava também ficar com uma bela e grande fama.

E foi isso o que aconteceu no final. Eu fiquei com a fama. Eles diziam o que não aconteceu e eu não desmentia. Não fazia diferença, não tinha ninguém que eu me sentisse na obrigação de dar o exemplo, então deixei que falassem.

Até que foi bom, assim eles pararam de falar de William e começaram a falar de mim. Eu não tinha mais que lidar com as fofocas sobre ele no corredor.

— Agora vocês vão começar com a conversa de mulher? — Gabriel fingiu estar entediado, entretanto eu via que ele estava tão curioso quanto elas.

— Eu nunca fiquei com ele — respondi olhando por sobre ombros na direção de Scott, deixando meus olhos analisarem o seu perfil.

Cabelos castanhos, pele morena pelo surfe, olhos da cor do oceano.

Eu me sentia um pouco idiota por não ter ficado com ele, entretanto, ao mesmo tempo, sentia alívio. O que eu não precisava era ter uma pessoa pedindo por carinho e amor, algo que eu não tinha o suficiente para mim mesma.

— NUNCA? — os três perguntaram juntos me fazendo saltar da cadeira pelo susto.

— Vocês realmente acharam que eu fiquei com todos aqueles garotos que as pessoas falavam? — apontei para o meu redor, provavelmente alguma das pessoas que eu apontei perceberia do que eu estava falando.

— Estou sem palavras — Carrie estava com seus lábios abertos me encarando como se estivesse me redescobrindo.

— Vocês me conhecem melhor do que isso — comentei rindo enquanto meneava a cabeça.

— Por isso mesmo, antigamente você... — Gabriel começou a estalar os dedos como se algo lhe fugisse a mente.

— Beijava e não se apegava, mas as vezes se arriscava a um segundo encontro que não era muito bem sucedido — refletiu Carrie enrolando uma mecha de cabelo nos dedos.

— Muita coisa mudou — levantei-me da mesa para jogar o meu suco fora, não havia bebido nem a metade.

Eles me seguiram; senti um braço magro na minha cintura e me apoiei em Jenny, a dona do braço, enquanto caminhávamos para a aula.

Jason apareceu em meu campo de visão, olhou para mim, cumprimentou-me com um sorriso e um aceno de cabeça.

Acenei para ele e voltei ao meu caminho.

Muita coisa mudou.

E, mesmo assim, havia algumas partes que continuavam iguais.

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