Quatro horas depois
Quatro horas depois
No horário da saída eu corri para encontrar Vanessa; o quanto mais rápido eu fizesse Scott desaparecer de minha vida, mais rápido eu teria paz e sossego.
Boatos maldosos já estavam dizendo que eu troquei Jason por Scott.
Nem de perto aquilo seria uma troca sana.
Ela estava se aproximando do carro de seu motorista quando eu a avistei do outro lado do estacionamento.
Ela não estava olhando para frente com o rosto para cima e o olhar arrebatador, na verdade, parecia cansada, suas passadas arrastavam-se pela rua e o seu corpo parecia que iria desmoronar.
Seu cabelo estava diferente, ela o havia mudado, ele ainda estava curto, um pouco mais do que antes, contudo, agora, ele tinha pequenos reflexos prateados nas pontas.
William sempre comentou que ele queria que eu fizesse algo diferente em meus cabelos, dizia que eu tinha algo muito comum e tinha que marcar minha presença de outra maneira.
Isso vinha do garoto que jamais dizia olá para um estranho sem olhar por aprovação antes.
E do garoto que morreu pelas drogas.
Será que foi uma dívida?
Algo diferente?
O que eu realmente conheço do meu irmão?
— Vanessa! — berrei e corri em sua direção quase sendo atropelada por um grande carro branco, uma caminhonete, com alguns veteranos.
A caminhonete freou bruscamente e buzinou. Não olhei para eles, não queria mais ouvir provocações, apenas corri para longe deles, para perto dela.
Ela me olhou, seus olhos perdidos pelo mar de rostos ao nosso redor.
Logo me reconheceu e algo brilhou em seu olhar, uma mistura de sentimentos que eram difíceis de reconhecer com o reflexo do sol atrapalhando a sua visão.
O tempo estava claro, sem nuvens.
— Be... o que você quer? — tenho certeza que ela iria me chamar de Beth, porém se parou no último instante.
Sua pergunta não foi ofensiva, não estava na defensiva, era apenas curiosa, procurava alguém ao meu redor, como se não acreditasse que eu estava sozinha.
— Eu preciso conversar com você sobre uma coisa — disse de uma vez.
Não necessariamente eu iria falar sobre William... não! Eu não iria falar sobre ele, contudo se ela falasse, eu iria comentar de volta.
Já havíamos colocado nossas diferenças de lado antes, nada poderia ser pior do que aquele momento específico em nosso passado.
— Sobre o que? — ela olhou para o carro de seu motorista.
— Não precisa ser agora, podemos marcar um dia...
— E ir ao bar? Pelos velhos tempos? — ela sorriu e eu recuei, não era exatamente isso o que eu tinha em mente.
— Eu estava pensando em ir a um lugar mais calmo como o mirante do penhasco — fazia tempo que eu não ia ao penhasco.
Ele era repleto de Will.
O penhasco era William.
— Podemos ir agora se você não estiver ocupada — ela ofereceu apontando para o motorista — ele pode nos levar.
— Agora eu não posso, tenho que ajudar minha mãe a arrumar a casa.
— Eu sinto muito por Bliss — ela tocou minha mão e a afagou em um gesto carinhoso.
Depois de perder os cabelos a sua personalidade ficou mais verdadeira, mais confiável, ela parecia outra pessoa.
— Eu também — suspirei — eu ligo para você nesta semana, pode ser?
— Claro — ela estava mais simpática — é alguma coisa muito importante que precise do tratamento do álcool para melhorar ou é algo mais tranquilo de lidar? Eu não estou mais bebendo para alegrar o dia, estou tentando melhorar...
Estranhei, franzi o cenho e ela percebeu, encolheu seus ombros com as bochechas em chamas.
— Minha psicóloga disse que eu serei uma pessoa carente enquanto estiver em abstinência — ela deu de ombros.
— Parou... com tudo? — hesitei, é claro que eu hesitaria.
— Bem, eu estou tentando — ela acenou e foi embora.
Será que eu também fiquei estranha quando parei de consumir álcool?
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