KIM TAEHYUNG

Abrir meus olhos e me deparar com ela encolhida em meus braços, fez algo em meu peito se aquecer e um sorriso crescer em meus lábios. Eu não me importei em não sentir meu braço pela dormência ou seus cabelos bagunçados sobre meu peito me fazendo cócegas, tudo o que importava era ela estar aqui. Juro que se eu pudesse, ficaria assim até ela acordar para lhe preparar um café-da-manhã recheado de delícias e então comer assistindo desenhos animados e depois nos beijar até que nossas bocas ficarem dormentes. Mas nem tudo são flores e o que eu pude fazer foi levantar, me aprontar para o trabalho e me despedir dela ainda adormecida com um singelo beijo em sua bochecha fofa.

Quando cheguei à empresa e para minha surpresa fui recepcionado por JiSoo toda curiosa sobre o desfecho da noite ao lado de Hobi hyung que também parecia interessado.

ㅡ E aí, como foi? ㅡ Ela perguntou parada na frente da porta de minha sala.

ㅡ Bom, agora nós somos namorados. ㅡ contei sem conseguir conter um largo sorriso.

JiSoo ficou feliz e saiu saltitante para ir pegar seu celular e falar com _____, enquanto hyung me parabenizou. Instantes após despedir deles, me vi diante de uma montanha de tarefas para resolver durante o dia.

Com o fim do expediente, exausto, eu arrumei minhas coisas e voltei para casa desejando uma noite tranquila e relaxante.

"Oi menina super poderosa"

Enviei a mensagem assim que cheguei em casa, jogando-me sobre o sofá.

"Oi pirocudo"

"Está a fim de sair hoje à noite?"

"Pode ser. Para onde?"

"Sei lá, cinema e depois podemos comer comida japonesa. Estou morrendo de vontade de comer um temaki."

"Okay, mas eu estou dura. Então vamos a um lugar normal por favor."

"Um lugar normal?"

"Sim, um lugar que eu não precise ter medo de pegar o garfo com a mão errada."

"Se te consola, você domina bem as regras de etiqueta. E se te consola parte dois, lá tem hashis ao invés de garfos."

"O que eu quero dizer é: Vamos em um lugar barato!"

"Okay menina super poderosa. Te pego na sua casa."

"Você pode me pegar onde quiser"

"Sua mãe sabe que você manda esse tipo de mensagem antes do casamento?"

"Xiuuuu"

Ainda sorrindo pelas mensagens trocadas, levantei do sofá para seguir ao meu quarto. Entretanto, antes que o primeiro passo em direção às escadas fosse dado, a campainha ressoou por toda a casa.

Mesmo infeliz, segui a porta imaginando quem poderia ser e já planejando uma desculpa convincente para dispensar de forma rápida quem quer que fosse.

Contudo, ao abrir a porta e encarar a pessoa parada ali, minha mente tornou-se um completo branco e eu nem sequer sabia como agir a não ser apertar a maçaneta com força.

ㅡ Olá Kim.

ㅡ O que você está fazendo aqui?

ㅡ Vim te fazer uma visitinha. ㅡ Adentrou minha casa com liberdade esbarrando seu ombro no meu.

ㅡ Uma visita? ㅡ O observei se apropriar de minha sala.

ㅡ Sente-se. ㅡ Falou com um sorriso venenoso ao se acomodar no sofá.

ㅡ Vai embora YoonGi.

ㅡ Não precisa temer Kim, eu vim em paz.

Sem escolha, fechei a porta sem trancá-la, para segurança e segui relutante até o outro estofado.

ㅡ Vim lhe fazer uma proposta. ㅡ empurrou um punhado de papéis sobre a mesa de centro. ㅡ Quero que faça um serviço para mim.

ㅡ Como? ㅡ Não se faça de desentendido TaeHyung.

Engoli seco.

ㅡ Ultimamente não estou tendo muito tempo de visitar Josh por conta da correria na empresa. ㅡ disse tranquilamente, como se não estivesse se referindo a um perigoso traficante.

ㅡ Não, YoonGi.

ㅡ Eu ainda nem lhe disse que se trata o trabalho.

ㅡ Independe de qual for, minha resposta é não.

ㅡ Ou você aceita Kim TaeHyung, ou vamos ter problemas. Além de te expor para todos sobre seu passado, eu revelo para Josh sobre o que você falou a SunHee. Logo ele vai concluir que você é um linguarudo, uma ameaça ao império dele e vai querer te calar da forma dele.

ㅡ Está me chantageando?

ㅡ Uh! Pelo visto o garoto pornô sabe pensar com a cabeça de cima também. ㅡ disse carregado de sarcasmo, esticando-se contra o encosto do sofá completamente há vontade. ㅡ Aproveite é uma chance de conseguir meu perdão diante da merda que fez a SunHee.

Eu odeio lembrar daquela noite! Odeio! E YoonGi deve saber disso, pois está disposto a me torturar e me castigar ainda mais pelo meu pecado.

Meu estigma.

Em uma noite, sozinho numa boate, sem cliente ou coisa do tipo, apenas descansando após retornar dos Estados Unidos depois da finalização de novo filme. Eu bebia um caro whisky quando ela se aproximou, pediu para me acompanhar e então começamos a conversar. Não demorou muito para estarmos fodendo em um hotel próximo dali. Naquele dia, não cobrei nada, não disse nada sobre minha profissão, foi apenas sexo. Ou melhor, era para ser, pois na semana seguinte nos reencontramos coincidentemente na mesma boate e fodemos mais uma vez e isso foi repetindo, repetindo e nos tornando cada vez mais íntimos.

Após nossas intensas transas sempre tínhamos conversas profundas. E ela era sempre tão gentil e amável que não me surpreendia ao me pegar apaixonado pouco tempo depois, mesmo ela tendo trinta e dois anos e eu vinte e um. Eu queria confessar-lhe meus sentimentos, mas tinha medo de ela descobrir sobre o V e ter nojo de mim. Entretanto, meu medo maior era ela descobrir de outra forma que não fosse por mim, então eu contei tudo, desde a morte de minha mãe até minha necessidade que me levou aquele caminho. E SunHee não se importou, me abraçou, me acolheu e então eu lhe disse o quanto estava apaixonado.

Naquela mesma noite ela propôs um novo começo para mim, onde eu largaria tudo, deixaria o V para trás e me prometeu que nada me faltaria. Assim eu fiz, deixei tudo para trás e comecei a viver um romance com SunHee, entrei para faculdade, comecei a estudar outro idioma, fazer viagens e principalmente fazer memórias bonitas ao lado dela. Eu finalmente estava sendo feliz de novo.

Mas como na vida nada é um conto de fadas, um dia ela me contou sobre algo que eu já desconfiava, SunHee era casada, ou seja, eu era apenas um amante.

Ela vivia um casamento de dez anos com um homem que conheceu na faculdade. Apaixonados, se casaram após a formatura e juntos abriram uma pequena empresa de publicidade. Com o passar do tempo o casamento esfriou, eles se distanciaram após desistirem do sonho de serem pais após perderem cinco gestações. Com isso, a falência da pequena empresa os assolavam e mal tinham dinheiro para comer. Todavia, do fundo do poço, misteriosamente seu marido conseguiu reerguer a empresa e a tornou rica e reconhecida em pouquíssimo tempo. Mas aquilo só os afastou ainda mais.

E assim eu soube, SunHee era esposa de Min YoonGi, um dos principais sócios de Josh.

Josh Park, é um grande criminoso na Coréia do Sul e os Estados Unidos. Ele utilizava de seu estúdio pornográfico na América e alguns outros meios para camuflar o dinheiro ilegal do tráfico de armas, drogas e da "agência" de prostituição de luxo. Min YoonGi, era um antigo conhecido do traficante e quando viu a empresa à beira da falência, fez um acordo onde lavaria parte do dinheiro de Josh em troca de uma boa porcentagem. Assim salvando sua empresa e a tornando grande e rica em poucos meses.

Nós dois já nos tínhamos nos cruzado em alguns eventos do estúdio antes, nos tornados até mesmo conhecidos. Todavia, nunca imaginei que minha maior paixão, era, na verdade, sua esposa.

Desejei contar tudo a ela sobre seu marido, para que Sun o deixasse e ficasse comigo. Contudo, desisti, pois, não tinha como provar e eu não sabia se ela deixaria de acreditar no marido, cujo tem dez anos de relacionamento, e acreditar em um garoto com a paixão à flor da pele que conheceu a apenas um ano.

Eu vivi como seu amante por longos quatro anos e quando me formei na faculdade, me sentia digno de ser alguém para ela. Desesperado para ter o amor de SunHee só para mim, contei-lhe todo o lado criminoso de YoonGi com a ideia de fazê-la se divorciar e ficar comigo.

Mas pelo visto meu plano ingênuo não deu certo.

ㅡ SunHee! ㅡ YoonGi gritou enfurecido quando invadiu o quarto nos flagrados em um beijo quente enquanto eu retirava seu vestido púrpura.

ㅡ Seu filho da puta, o que você está fazendo com ela? ㅡ Ele retirou do cós de sua calça uma pistola, apontando-a para mim.

ㅡ YoonGi, para! ㅡ Ela se colocou à minha frente, ficando na mira.

ㅡ Eu não acredito Sun, depois de todos esses anos, depois de tudo o que eu fiz por nós. ㅡ disse furioso.

ㅡ Depois de todos esses anos? E o que você fez por nós? Além de se afastar de mim a ponto de nem me olhar nos olhos e meter a nossa empresa com um criminoso?

ㅡ Criminoso?

ㅡ Você acha que eu não sei? Você está usando a nossa empresa para lavar dinheiro!

ㅡ Do você está falando? ㅡ YoonGi questionou ainda com a arma apontada para nós. ㅡ O que você contou para ela seu idiota? ㅡ inquiriu a mim.

ㅡ Ele não tem nada a ver com isso! ㅡ Ela me defendeu. ㅡ Eu descobri tudo sozinha. Por quanto tempo pretendia me esconder?

Ele não respondeu.

ㅡ Eu tenho nojo de você! Nojo, seu criminoso! ㅡ gritou. ㅡ Eu vou acabar com esse seu esquema nojento. Ou pensa que vou deixar você usar a empresa que também pertence a mim para lavar esse dinheiro maldito?

ㅡ Você não teria coragem. ㅡ disse ao ver a mulher pegar o celular sobre o móvel de cabeceira ao nosso lado.

ㅡ Não?

ㅡ SunHee larga esse celular! ㅡ ordenou com a voz falhando pelo desespero.

ㅡ Não!

ㅡ Sun, para por favor! Se você fizer isso, Josh vai acabar com a gente! Com nós três. ㅡ falei segurando sua mão que apertava o celular.

Ela olhou para mim, tendo os olhos inundados de tristeza.

ㅡ Larga o celular Sun. ㅡ YoonGi pediu uma última vez.

ㅡ Só se você deixar TaeHyung ir e me prometer que deixará ele em paz. YoonGi encarou-me com fúria antes de abaixar a arma.

ㅡ Some daqui Kim. ㅡ ordenou com total descontentamento.

Encarei SunHee uma última vez, vendo-a silabar para mim um "Vai ficar tudo bem."

Voltei para meu apartamento, onde passei longos momentos em total agonia esperando por alguma novidade de SunHee e quando finalmente meu celular vibrou corri para ver sua mensagem.

"V, está tudo acabado entre mim e YoonGi, vamos nos divorciar. Agora nós dois poderemos ficar juntos como um casal de verdade, amor! Eu estou indo para seu apartamento."

Eu fiquei imensamente feliz, a esperei eufórico por trinta minutos, uma hora, duas horas. Até que eu soube, ao encarar a televisão que exibia a imagem da âncora do jornal noturno, que ela nunca chegaria. Que eu nunca mais veria seu sorriso, nunca mais teria seu beijo, nunca seria seu e nem ela minha.

"Um carro em alta velocidade acabou de colidir contra um poste, o acidente foi por volta das oito da noite. O carro era ocupado por Min SunHee de trinta e seis anos, a empresária foi levada para o hospital em estado grave e infelizmente não resistiu aos ferimentos e faleceu."

Não existia palavra no mundo que fosse capaz de descrever a tamanha dor que atravessou meu coração naquele momento. SunHee foi a única pessoa que me amou de verdade depois de minha mãe e agora, agora... ela se foi e eu nem pude dizer a deus.

A dor era tão grande, que parecia que milhões de facas em brasa perfuravam cada poro, cada músculo e nervo de meu corpo. Contudo, o pior era a culpa que corroía meus ossos como o veneno de uma naja feroz. Se eu não tivesse contado-lhe sobre YoonGi talvez ela não teria discutido com ele, saído de casa, não teria entrado naquele carro e não teria morrido. Era tudo culpa minha, do meu egoísmo.

Me perdoa Sun.

ㅡ O que você quer? ㅡ Indaguei em tom de derrota a YoonGi que me observava do outro sofá.

ㅡ Eu quero sair do esquema. Arregalei os olhos.

ㅡ Eu não quero mais. Esta merda do Josh já me deu muitos prejuízos e quero parar, ainda mais agora que Gabrielly está grávida. Eu preciso manter minha família longe disso tudo.

ㅡ Como você quer que eu resolva isso?

ㅡ Tenho um encontro marcado com ele amanhã, quero que você vá em meu lugar e apresenta esta proposta. ㅡ deslizou os papéis que já estavam sobre a mesa em minha direção.

ㅡ Isso é muito arriscado. ㅡ falei lendo as primeiras frases daquilo que parecia ser um contrato.

ㅡ É por isso que estou te mandando lá.

ㅡ Pelo visto não tenho escolha.

ㅡ Te mandarei as informações do encontro por mensagem. ㅡ falou pondo-se de pé. ㅡ Estou confiando em você TaeHyung.

E YoonGi foi embora.