CAPÍTULO 01
Minha cabeça ainda latejava por conta de algumas garrafas de soju que bebi noite passada e tudo só piorava com JiSoo tagarelando ao meu lado sobre o novo drama que havia sido lançado enquanto íamos para o refeitório almoçar. Amo minha amiga, mas sinceramente não dou a mínima para o que está falando, eu só queria estar em casa agora, sozinha, debaixo de meus cobertores, comendo porcarias e sofrendo com a ressaca.
Sei bem que minha manhã poderia ser ainda pior, mas graças a reunião sobre o novo produto da Venus Cosmetics, Kim TaeHyung não me importunou durante tempo algum desde que iniciei o expediente. Isto é muito bom, bom demais, pois não precisei aturar nenhuma de suas exigências ridículas ou aquele olhar de quem quer te matar por fazer algo errado. Eu nem estou falando de um erro crucial, me refiro desde lhe entregar capuchino ao invés de expresso ou usar caneta amarela para fazer alguma anotação bobinha. TaeHyung é insuportável. Sinceramente, se eu não precisasse do emprego, já teria pedido demissão na primeira oportunidade.
Em falar no diabo… ouço sua voz ecoar pelo corredor chamando por meu nome, furioso talvez, interrompendo JiSoo que me olhou tensa. Viro-me na direção do homem engolindo a seco, e o vejo avançar em nossa direção como uma locomotiva furiosa, se eu não estivesse tão tensa, diria que vi até vapor sair de suas orelhas e narinas.
PUTA MERDA!
ㅡ Na minha sala agora! ㅡ a voz grave do chefe de vendas da empresa tangeu próximo do meu rosto, permitindo-me sentir o forte cheiro de hortelã do chiclete que ele mascava.
ㅡ O que eu fiz?
ㅡ Como assim o que fez? ㅡ lançou a pergunta retoricamente, contendo um esbravejo com um sorriso cínico. Era a primeira vez que ele me olhava nos olhos desde que entrei na empresa. ㅡ Você estava tão bêbada que não consegue lembrar, não é?
ㅡ Senhor Kim, eu não sei que está falando. ㅡ menti gélida ao imaginar a hipótese que o deixou possesso de raiva desta forma.
ㅡ Na minha sala agora mesmo!
ㅡ Mas eu estou indo almoçar. ㅡ falei mansa, pois se for o que estou pensando que o deixou assim, é melhor me comportar e não arriscar meu emprego.
ㅡ Não irei falar uma terceira vez! ㅡ disse antes de passar por mim, seguindo com passadas largas e pesadas para fora do corredor.
Em contrapartida, engoli seco sentindo meu coração bater forte pelo medo. Encaro minha amiga ao lado e faço um sorriso forçado e amarelo dizendo algo como: “Pode ir comer sem mim.”
Kim JiSoo foi a primeira e única amiga que fiz desde que entrei na empresa, seis meses atrás, quando tropeçou e derramou todo o seu milk-shake em mim no meu primeiro dia. Nós discutimos, mas horas depois estávamos dividindo a mesa do refeitório como velhas conhecidas. Para ser honesta, ela foi a única amizade que fiz nesses quatro anos morando em Seul. Pois, desde que vim para a capital, minha vida se resumia em estudar e trabalhar incansavelmente em qualquer serviço que aparecia, logo não tive muito tempo para socializar.
Deixei Daegu, local onde nasci e cresci, quando ganhei uma bolsa de estudos para o curso de Secretariado Executivo em uma universidade pouco conhecida. Não vou mentir, não era o que queria fazer, mas a julgar pela falta de dinheiro da minha família, pelo pouco tempo que eu tive para me preparar para os exames de admissão nas universidades prestigiadas, era melhor que nada. Afinal, o curso não era tão chato assim, acabei tomando apreço com o passar do tempo.
Quando fui empregada pela produtora de cosméticos, em outubro do ano passado, eu era uma simples estagiária que ficava como uma desorientada indo e vindo com uma montanha de papéis e cafés para todos os lados. Após quatro meses de trabalho árduo, acabei sendo promovida a secretária no início de janeiro, exatamente um mês depois de minha formatura e uma semana antes do meu contrato de estágio encerrar. Não porque eu era boa demais para ser dispensada, e sim porque o secretário Lee, que trabalhava com Kim TaeHyung, se demitiu e saiu aos berros da empresa xingando todo mundo de palavrões que eu sequer conhecia. Bem, por algum motivo, talvez por preguiça de programarem um processo seletivo para substituir o pobre Lee, me contrataram no mesmo dia. É claro que fiquei feliz, pois mesmo que não fosse meu maior sonho, conseguir um emprego era tudo o que precisava e veio tão rápido quanto eu esperava. Aliás, o salário nem se compara com o de um simples estagiário, não que seja muita coisa, mas qualquer centavo a mais é muito bem-vindo. Não, não sou uma pessoa gananciosa, apenas preciso muito, tipo muito mesmo, do dinheiro.
Todavia, toda a felicidade com minha contratação encerrou em tempo recorde, hoje eu sei muito bem o porquê Lee saiu da empresa daquela forma. Kim TaeHyung enlouquece qualquer um! Não estou dizendo em um sentido pejorativo, por mais que ele seja inacreditavelmente bonito. Com um rosto muito bem desenhado, traços marcantes como sua mandíbula geométrica perfeita, olhos felinos que destacavam ainda mais o brilho ônix de suas íris e um sorriso como o de um comercial de creme dental. Eu poderia facilmente continuar listando tudo o que faz TaeHyung ser o homem mais bonito que já vi, mas acredito que já ficou claro de que ele parece um príncipe de tão belo.
Já ouviu falar naqueles ditados como “as aparências enganam” ou “não julgue um livro pela capa”? Pois bem! Eles nunca fizeram tanto sentido na minha vida como agora. Foi preciso nem sequer uma semana para odiá-lo completamente. Seu jeito canalha e filho da puta me deixa furiosa, afinal, no fundo, ele é um verdadeiro ogro.
ㅡ Boa sorte. ㅡ JiSoo falou com um sorrisinho reconfortante.
ㅡ Obrigada. ㅡ me apresso a caminhar para alcançar o senhor Kim.
O caminho ao escritório é silencioso, o que me deixa mais apreensiva. Quando paramos em frente a entrada de madeira escura de sua sala, engulo seco mais uma vez enquanto o assisti revelar sua área de trabalho perfeitamente decorado com toques modernos, móveis escuros, paredes com tons neutros e uma enorme janela que dava vista para os vários prédios da cidade e o céu cinzento daquele fim de inverno.
Diante de seu olhar ameaçador, me encolhi e entrei na sala com passos hesitantes. Em seguida saltei com o estrondo da porta sendo esmurrada pelo meu doce chefe.
Então, como em um coliseu, TaeHyung circundou meu corpo trêmulo igualando-se a um leão faminto, prestes a devorar minha alma pecadora. Ele prende seus olhos vorazes sobre os meus temerosos, quando parou diante de mim e enfim se pronunciou com a voz grave e alterada, me obrigando a recuar um passo.
ㅡ Pode me explicar que porra é essa? ㅡ puxou seu celular para fora do bolso das calças social escura e rapidamente estende o aparelho para mim e um vídeo inicia.
Eu nem preciso assistir, sei muito bem que vídeo era aquele. Abaixei meu rosto, para que ele não veja meus lábios praguejando silenciosamente e ainda com meus olhos encarando a ponta de meu salto preto, ouço minha voz embriagada tentando se sobressair a música alta da boate, enquanto eu ralhava uma porrada de palavrões.
“Kim TaeHyung é um pau no cú! Duh! Duh! Duh!”
Berrei no refrão da música que tocava na ‘boate’, na tentativa miserável de fazer uma paródia improvisada com o som, mais especificamente DDu_Du_Ddu_Du do PinkBlack Um desastre vergonhoso.
Digamos que as mágoas de um chefe babaca como TaeHyung, bebidas alcoólicas e stories no Instagram não sejam uma boa combinação, pois no momento em que ergo minha face, vejo-me diante de seu olhar mais perigoso.
Caralho, eu estou muito ferrada!
ㅡ O que me diz?
Sua voz grave faz a questão retoricamente, mas mesmo assim me atrevi a responder:
ㅡ Desculpas?
Ele arqueou uma sobrancelha indignado, passando a língua na parte interna da bochecha enquanto me analisa friamente. De repente, após longos segundos de um silêncio torturador disse sem o mínimo pesar:
ㅡ Está demitida.
Meus olhos faltam saltar para fora e me engasgo com saliva, tossindo sem parar. Com lágrimas banhando minha visão por conta do engasgo e do desespero de estar diante da minha primeira demissão, eu o encaro com súplica.
ㅡ Senhor Kim… ㅡ A frase saiu como um pedido choroso.
ㅡ Vou conversar com o RH, amanhã você vem assinar sua demissão e pegar a indenização. ㅡ disse friamente, usando a mão para alinhar seus fios castanhos escuros enquanto caminha sem pressa em direção a sua cadeira preta.
ㅡ Senhor, eu já pedi desculpas! Eu estava fora de mim ontem à noite! ㅡ exclamei em total desespero seguindo-o. Ele me ergue um olhar indiferente, como se qualquer argumento fosse incapaz de fazê-lo mudar de ideia.
TaeHyung continua o seu trajeto até se acomodar no estofado de couro que lhe dá o poder de tirar meu emprego e meu sustento.
ㅡ Eu apaguei estes stories, como os conseguiu?
ㅡ Se você tivesse sido mais rápida.
ㅡ Ah! Senhor Kim, eu preciso muito desse emprego! ㅡ Senti a primeira lágrima fugir de meu olhar aflito. ㅡ O senhor não pode fazer isso! Eu estava fora do horário de trabalho! ㅡ tentei um argumento mais convincente.
ㅡ É? ㅡ fez um sorriso cínico. ㅡ Que se foda!
ㅡ Te odeio tanto seu filho da puta! ㅡ bravejei possessa de raiva, apontando o indicador contra sua face.
ㅡ Filho da puta? Mais um motivo para te demitir, senhorita. ㅡ falou sádico dando um leve tapinha em minha mão, de modo a afastá-la de seu rosto.
Covarde desgraçado!
Apenas engulo minha raiva e me obrigo a sair daquela sala antes de fazer uma besteira ainda mais comprometedora que aqueles stories e que acarrete consequências piores que uma demissão.
Definitivamente Kim TaeHyung é um pau no cú!
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