XVIII

— São 8 horas da noite, Felipe... Por que essa pressa toda? – Prado esperava por Thiago na frente da DP, com o celular na mão. – Custava esperar para amanhã? Por que mandar mensagem me aperreando? E outra: você foi na minha casa atrás da Aline, a Júlia poderia muito bem não ter te recebido. Tu foi pra trazer minha mulher à força? Você não tem autoridade para isso! Eu poderia te processar! Aliás, eu vou!

— Você precisa se acalmar, Thiago. Eu nunca faria algo assim, você me conhece. A gente sempre foi parceiro, lembra? Mas, infelizmente, ela não é sua mulher, ainda. Eu fui até sua casa porque pensei que, sei lá, fosse mais seguro para a Aline; para todo mundo.

— Mais seguro? Tá insinuando o quê? Que eu sumiria com ela?

— Não é isso. Na verdade, é justamente o contrário! A suposta família dela está aí dentro, mas toda essa história não está me cheirando bem. E por falar nisso, cadê a moça? Era pra ela ter vindo junto com você, a gente precisa adiantar os procedimentos, fazer o reconhecimento...

— Ninguém irá se aproximar dela antes de eu ter certeza que essa é mesmo a família dela. Só depois do resultado do DNA.

Prado suspirou enquanto passava a mão na cabeça.

— É por isso que eu estou aqui fora esperando por vocês dois, cabeça! Sabe o quanto eu tive que insistir para Vanúsia não ir embora até coletar o material e dar início ao processo?! O resultado já é demorado e você ainda me apronta uma dessas?

— Amanhã, Prado! Amanhã! Eu não tenho pressa nenhuma! – Thiago falou dando de ombros e indo embora.

— Hei, hei! Espera aí! Já que você está aqui sozinho... – suspirou – vá lá dar uma olhada no pessoal... O noivo também veio. Acho bom você ver as fuças dele antes de Aline. Você também é bom para ler as pessoas, talvez minha intuição esteja errada...

Thiago hesitou por um momento, mas cedeu. Felipe indicou a aparência e as roupas que a suposta família usava e levou o amigo para uma das salas da DP apenas para que ele pudesse passar pela recepção para fazer uma análise superficial daquelas pessoas.

Haviam três pessoas: a mãe, uma mulher de meia-idade, negra, cabelos crespos e escuros, pele bem cuidada, vestindo roupas nitidamente caras; o pai, um homem branco, na casa dos 60 anos, cabelos lisos e loiros, olhos azuis, barriga saliente, usando um terno, e no pulso um relógio de uma marca bastante conhecida por ser privilégio de poucos; o noivo, um jovem alto, branco, barba cheia, cabelos pretos e longos, amarrado com um coque.

Intimidado! Foi assim que Thiago se sentiu ao ver o noivo: o típico cara boa-pinta que atrai "qualquer" mulher, ao menos na cabeça confusa do bom moço. Aquele homem transmitia uma autoconfiança incrível até no jeito de sentar, de falar, de gesticular, seu olhar de superioridade cruzou os olhos tímidos de Thiago que implorou que aquela não fosse a família de Aline.

Ao entrar na sala, Prado questionou:

— E aí? Você, vez por outra, tem contato com criminosos. O que acha desse povo?

— Eles são ricos. – Esfregou a nuca.

— E daí? O importante não é saber se é a família dela ou não?

— O que eu quero dizer é que se eles forem mesmo... – suspirou. – Se a Aline for quem eles procuram... Eu não tenho chance alguma.

Prado riu.

— É com isso que você está preocupado, parça?

— E tem esse noivo aí? O cara parece ser perfeito! Se veste bem, eu sei o preço dessas roupas, velho! São caras demais! Ele é simpático, percebe-se só de olhar! Ele tem boa presença...

— Diz logo que o cara é bonito. – Riu.

— É! Ele é bonito. Mas a questão é que ele parece ser exatamente como alguns clientes que eu recusei defender e que por causa deles sou aporrinhado pelo dr. Arnaldo até hoje.

— Como eram esses clientes indefensáveis para o doutor Thiago? E quais eram os crimes cometidos?

— Corrupção ativa, passiva; aliciamento de menores; violência doméstica; cárcere privado; entre outras coisas. São pessoas que enriqueceram de forma ilícita, aprenderam a usar o dinheiro para comprar a própria liberdade e ainda passam a cometer outros crimes piores. Gente da pior espécie.

— Eu poderia dizer que você está exagerando, Thiago, mas eu senti a mesma coisa. Você sabe que eu tenho o faro bom para esse tipo de gente. E a história do desaparecimento dessa tal moça não está me cheirando bem. Vamos manter a Alin... sua amiga longe deles por enquanto, até termos certeza de que ela estará segura.

Thiago agradeceu o amigo com um abraço e dois tapas nas costas e saiu observando um pouco mais aquelas pessoas. Desta vez atentou na mulher: a elegância dela era fora do comum, contudo não escondia a aflição de sua alma. Dos três ali ela era a única que se mostrava verdadeiramente preocupada em encontrar a filha, apesar de esforçar-se para esconder.

Aline recebeu Thiago com um abraço apertado quando ele adentrou o portão de casa. Ela estava com um monte de perguntas para fazer, mas manteve-se em silêncio. Apesar de também estar aflito, ele fez de tudo para tranquilizá-la, contudo não pôde impedi-la de dormir ao lado dele... Na verdade, ele não resistiu nem um pouco.

*

Aline e Júlia foram com Thiago para o escritório para de lá irem juntos à DP, já que Prado havia combinado um novo horário com Vanúsia para coletar material genético dos envolvidos. Marcus decidiu acompanhá-los também, já que a outras partes envolvidas na coleta também estariam presentes. A intenção seria formar uma força-tarefa e impedir que a tal família visse Aline antes dos resultados dos exames saírem.

Todos estavam apreensivos dentro do carro de Marcus, combinaram algumas estratégias durante o trajeto, mas guardaram silêncio a maior parte do tempo. Novamente, Felipe Prado esperava na frente da DP, ao lado dele uma mulher de jaleco, que segurava uma maleta branca. Assim que Marcus estacionou, Felipe e a mulher foram em direção ao carro.

— Bom dia, gente! Essa aqui é a Vanúsia. Ela irá dar uma voltinha com vocês para fazer a coleta, tá? Eu achei melhor, porque o pessoal está lá dentro e eu acho que vai ser meio difícil a moça entrar sem ser notada. Eu ainda estou preferindo evitar qualquer contato entre as partes... Só para ter certeza. – Disse Prado.

A mulher entrou no carro e seguiram para uma pracinha na quadra ao lado. Marcus sugeriu que os outros ficassem aguardando-o na praça enquanto ele, sozinho, levasse Vanúsia de volta. A decisão foi inânime!

Vanúsia desceu do carro e Marcus acompanhou-a com as vistas até ela adentrar a delegacia. Ao destravar o freio de estacionamento e começar a acelerar o veículo, surgiu em sua frente a suposta mãe de Aline, gritando: "Cadê minha filha?".

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