XII

Thiago se segurou até não poder mais, ela era o que ele mais queria, o que ele precisava para se sentir feliz e completo. Naquele momento o sentimento que ele trazia no peito por ela era mais forte que a razão, e exatamente por isso ele sabia que precisava se segurar um pouco mais, que havia um limite que ele não devia transpor, ao menos naquele momento.

Aline sentia uma segurança indescritível nos braços de Thiago, ela queria apenas permanecer ali para sempre. Tudo à sua volta era incerto, exceto Thiago, pois apesar de tê-lo conhecido há menos de uma semana, ele lhe transmitia tamanha confiança a qual não tinha nem em si própria.

Dois selinhos no final do beijo e Thiago foi afastando-a de si com cuidado e ainda de olhos fechados encontrou qualquer desculpa para não se entregar ainda mais aos seus desejos:

— Eu preciso ir ao mercadinho – disse pausadamente, pois apesar de ser um bom advogado era péssimo em mentir, por isso evitava pegar certas causas – comprar umas coisas pra janta.

— Valei-me! – Aline riu.

— O que foi? – Replicou.

— Tá meio cedo, não tá não?

— O migué não funcionou direito... – Riu envergonhado.

— Posso ir junto?

Ele, com um sorriso no olhar, concordou balançando a cabeça.

Ao lado de Thiago, tudo para Aline se tornava esplêndido, e uma simples ida ao mercadinho, para ela era como se fosse uma viagem mágica, ajudar a escolher os ingredientes era algo fascinante. Sua felicidade era tanta que até chegou a pensar que em toda sua vida não haveria possibilidade de ter sentido tamanha alegria. No caminho de volta para casa, como se fora uma criança, enganchou-se no braço de Thiago.

Enquanto separava os legumes por cima da pia para lavar, ele gabou-se para a moça:

— A janta de hoje será a minha especialidade: moqueca de pintado! Você gosta?

Aline achou graça da pergunta e rindo respondeu:

— Eu não sei! Eu não me lembro de nada, esqueceu?

— Mas é claro que não esqueci! Só estou verificando se tua memória voltou.

— Você é um péssimo mentiroso, nem sei como conseguiu ser um advogado.

— Hum... esse é meu diferencial, – riu – é exatamente por isso que sou excelente no que faço, bobinha.

Ela se aproximou e abraçou-o por trás, na altura da cintura. Toda sua timidez diante dele sumiu após aquele beijo. Mas ele precisava resistir, mais uma noite, e depois mais um dia, e assim por diante, até que a família dela fosse encontrada, até que toda sua história fosse revelada, até que ele pudesse sentir-se feliz ao lado dela sem culpa.

*

Às 9h da manhã Aline ainda dormia feito um bebê, Thiago e seu hábito de "acordar com as galinhas" permitiram que o café-da-manhã estivesse do jeitinho que ele queria: farto! Ele tentou fazer o mínimo de barulho possível enquanto limpava a casa e preparava a mesa para quando ela acordasse. Vez por outra dava uma espiadinha nela e permitia que um sorriso enfeitasse seu rosto.

Uma mensagem no celular tira sua feição feliz imediatamente:

"Estou aqui na frente".

Vestiu a camiseta que estava jogada sobre o encosto do sofá quase sem querer e rumou para o portão, hesitante. O homem alto, negro, cabelo curtíssimo, forte, cuja expressiva masculinidade tornava-o extremamente charmoso, bonito e de aparência gentil esperava por Thiago.

— Eu não esperava por você tão cedo. – Disse Thiago claramente decepcionado com a visita.

— Se não gostou da minha visita, provavelmente não irá gostar das notícias... Não vai me convidar para entrar, parça?

— Entra aí, velho!

Aline acordou neste ínterim e deparou-se com a visita entrando na sala. Empalideceu e não conseguiu dizer qualquer palavra, ao reconhecer Prado.

— Bom dia! – Disse Thiago com um breve sorriso. – Você se lembra do Prado, né?!

Ela assentiu com a cabeça. Prado adiantou-se e cumprimentou-a com um aperto de mão.

— A senhora parece estar um pouco apreensiva. – Observou.

— Não costumo ter muitas visitas, e você apareceu sem avisar... – Thiago interveio, apontando para o sofá, convidando-o a sentar.

A palidez no rosto de Aline evidencia sua preocupação. Prado, acostumado com interrogatórios não segura a língua e dirigindo-se a Thiago, pergunta:

— O que é que está rolando, parça?

— Nada, não tá rolando nada. – Respondeu surpreso com o questionamento.

— Está escrito no rosto de vocês que tá rolando uma parada, e eu já sei o que é, mas vou esperar que um dois me conte.

Thiago respirou fundo buscando força suficiente para se explicar e ao mesmo tempo inventar algo convincente, mas a moça interrompeu antes que qualquer palavra saísse da boca dele:

— Eu não quero sair daqui, não quero sair de perto do Thiago, não me importa quem seja minha família, se eles estão me procurando, eu só quero ficar aqui, por favor!

Prado riu debochado, virou para Thiago e disse:

— Tú é rápido em rapá?! Exatamente o que eu suspeitei! Mas tú já não tinha namorada?

— Nós já terminamos, e minha relação com Aline não é do jeito que você tá pensando. Mas acho que você tem algo urgente para contar, não tem não? Para vir até minha casa...

— Teu nome é Aline? Isso significa que recuperou a memória!

— Ela pediu um nome e eu escolhi esse.

— Ah, entendi. – Prado respondeu decepcionado. – Mas vamos ao que interessa: Não é nada oficial ainda, são apenas suspeitas, preciso investigar mais à fundo, mas indícios apontam que sua amiga tem raízes no sul do país.

— Como assim? Explique direito. – Retrucou Thiago.

— Entrei em contato com delegacias de várias cidades, de outros Estados e uma moça com características muito semelhantes às da sua amiga desapareceu há uns 73 dias em Curitiba, no Paraná.

Aline olhou para Thiago com os olhos arregalados e deixou escapar:

— É bem longe, não é?!

Ele comprimiu os lábios e assentiu com a cabeça, virou-se para o colega e pediu:

— Mostre a foto da moça.

Prado pegou o celular e mostrou um retrato-falado e disse:

— A família deu por falta dela há uns 15 dias, foi quando começaram as buscas. Quando a polícia local começou a investigação percebeu que fazia muito mais tempo que não havia sinais dela.

— Como assim? Ninguém da família foi atrás? Por que demoraram tanto tempo para sentir falta dela? – Thiago perguntava enquanto Aline permanecia em completo silêncio tentando entender toda a situação e implorando para não ser a tal desaparecida.

— Não houve queixa da família ou de amigos próximos, porque ela morava sozinha, longe dos parentes e pelo visto, seu círculo de amizade era bem restrito, e de pouquíssimos contatos. – Direcionou o olhar para a moça com a sobrancelha arqueada. – Seu único contato frequente era a pessoa com quem ela dividia o apartamento: o noivo. 

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