Thiago tremeu, sentiu como se aquele fosse seu primeiro beijo. Talvez por não estar esperando algo assim, talvez por estar apaixonado como nunca esteve antes... Aquele selinho em seus lábios tirou qualquer sombra de dúvida que porventura ainda pairasse com relação ao seu sentimento para com a moça.

Ela o beijou e foi se afastando aos poucos dele, tímida, com seus olhos amendoados arregalados e visivelmente trêmula. O rapaz não esboçou qualquer reação, paralisado, apenas olhava surpreso para ela, que se encolhendo voltou à posição que estava anteriormente. O silêncio tomou o lugar das músicas por alguns minutos.

Thiago então colocou o violão de lado, posicionou as duas mãos entre os joelhos, entrelaçou os dedos e começou a levantar a ponta dos pés para cima, olhou discretamente para Aline que continuava imóvel, engoliu seco, coçou a nuca, respirou fundo e falou:

— Você sabe que eu tô me segurando, né?!

Aline não teve coragem de encará-lo, já que sua audácia se esgotou com o selinho que dera em Thiago. Ele insistiu na pergunta:

— Você está ciente que eu tô um turbilhão por dentro, né?! Você sabe exatamente o que fez, não sabe?!

Ela abriu a boca e até tentou dizer alguma coisa, mas desistiu. Apenas franziu a testa e apertou os lábios. Thiago continuou:

— Eu não tô te repreendendo, não! Eu só quero que você saiba que é recíproco, tá?! Eu estou morrendo de vontade de te beijar!

Aline olhou para ele um tanto assustada.

— É sério! – Ele disse – É muito sério! Eu estou completamente apaixonado por você, menina! – Ele tentava prender a respiração ao falar para disfarçar o nervosismo – Como nunca me apaixonei por ninguém antes! Mas eu não posso seguir meus instintos, não posso me entregar ao querer – engoliu seco – e fazer tudo o que tenho vontade com relação a você, justamente por causa desse sentimento que está tomando conta de mim... Eu quero, eu necessito te proteger! Eu quero muito te ver feliz e por isso não posso meter os pés pelas mãos! Você está conseguindo entender o quero dizer?

Ela, em resposta, balançou a cabeça negando.

— Mesmo tendo a impressão de que te conheço desde que nasci eu não sei nada sobre você e por isso não posso complicar tua vida. – Explicou – Não sei que tipo de vida você levava, não que isso me importe, mas eu já parei para pensar muitas vezes sobre a possibilidade de você já ter alguém, sei lá um namorado, um marido, e apesar de me machucar com esses pensamentos, eles são inevitáveis... e importantes. Não pode ser eu a pessoa a atrapalhar tua vida, justamente eu!

Enquanto Thiago expunha suas razões algumas lágrimas caiam de seus olhos, discretamente. Ele prosseguia suas explicações tentando convencer a si mesmo de que não era o momento de seguir suas vontades.

— Aline, eu sei que tem muita gente que te ama e que deve estar louca atrás de você. Eu tenho pensado muito na tua família. Você entrou em minha vida há poucos dias e já é a coisa mais importante para mim, imagine quão especial você é para tua família, para teus amigos, e eu tenho quase certeza que há alguém que você ame te esperando.

Ela abaixou a cabeça por alguns segundos, respirou fundo, levantou-se do sofá, rumou para a cozinha e recostou o quadril na mesa. Thiago enxugou as lágrimas e seguiu atrás dela, puxou uma cadeira e sentou-se em sua frente. Persistiu em esclarecer sua lógica:

— Veja...

— Eu não me importo! – Aline interrompeu – Eu não quero que ninguém me encontre, quero ficar com você! Eu já me decidi: Vou ficar com você! Você será minha família, nós vamos trabalhar juntos e...

— Aline, isso é o que eu mais quero! Mas e quando suas lembranças voltarem? Quando você se recordar de tudo e se arrepender dessa decisão? É claro que vou te apoiar em tudo, mas não é o correto a se fazer! Vamos procurar tua família, tentar entender tua história, teu passado pra termos certeza do que podemos ou não fazer, tá?! Amanhã vou atrás de um especialista que possa ajudar a resolver sobre sua memória.

— Eu não quero... – Respondeu chorosa – Deixa eu ficar, por favor!

Thiago perdeu todo poder de argumentação, já não sabia o que falar, pois o que ela disse era exatamente o que ele mais queria que acontecesse. Naquele momento ele se sentiu a pessoa mais egoísta do mundo e precisava lutar contra aquele sentimento.

Aline aproximou-se do lugar onde ele estava, que olhou para cima buscando os olhos dela; ela estava trêmula, mas determinada. Com a mão direita acariciou suavemente o rosto dele; como se ela tivesse o poder de hipnotizá-lo, ele ficou imóvel. Sua mão pequena passeava sobre o queixo de Thiago, seguindo rumo à nuca, enquanto seu próprio rosto aproximava-se do dele culminando em um beijo, já não tão inocente e tímido quanto o primeiro.

Não havia o que fazer, ela era naturalmente irresistível para ele, apenas entregou-se totalmente a ela naquele beijo longo e apaixonado. Thiago agarrou sua cintura e a envolveu em seus braços com desejo enquanto perdia-se mais e mais de suas convicções.