VI
Marcus mexia no celular e sorria com o canto da boca, Thiago olhava-o fixamente tentando imaginar qual seria o plano do colega. De fato, a reunião era importante, pois tratava-se de um caso que envolvia políticos famosos e empresários riquíssimos, e consequentemente iria render uma boa quantidade de dinheiro para o escritório, no entanto, mesmo se a cabeça de Thiago não estivesse totalmente ligada à fantasminha, não tinha o menor sentido ele estar participando daquela reunião porque não era sua especialidade, mas doutor Arnaldo era o poderoso chefão e fazia questão da presença de todos os advogados, talvez para se gabar.
Alguns minutos depois a secretária do doutor Arnaldo entra na sala, diz alguma coisa em seu ouvido e entrega-lhe um celular, ele pede licença e sai da sala, acompanhado por ela. Todos entreolham-se sem entender nada e Marcus, mais uma vez pisca o olho para Thiago, que se mostra totalmente confuso com a situação.
A secretária entra novamente e pede desculpas informando que a reunião seria interrompida e que retornariam ao tema na próxima semana, pois doutor Arnaldo teve que sair para resolver um assunto urgente e que não retornaria mais para o escritório naquele dia. Apesar da pressa para sair, Thiago não pôde conter sua curiosidade e questionou o amigo enquanto andavam pelos corredores:
— Cara, o que você fez?
— Mexi meus pauzinhos – riu com aquele jeito malicioso de quem aprontou horrores.
— Desembucha logo.
— Lembra daquela mulher que você perdeu? A cliente daquele dia que você deixou ir embora?
— Nem me lembre daquilo... O chefão me pagou o maior sapo porque disse que eu perdi uma causa ganha.
— Pois é. Acontece que eu descobri que ela é amante do doutor Arnaldo – cochichou – e por isso a causa era ganha, entendeu?
— O quê? Espera... como descobriu isso?
— Bom... você sabe que eu não sou lá grande coisa como advogado, admito, e como fiquei sabendo que era um caso ganho, e você está passando uma semana azarada eu fui atrás da mulher, peguei todas as informações possíveis sobre ela e...
— Pera aí! Você roubou o meu caso, é isso?
— Não foi bem um roubo porque você já tinha perdido.
— Tá, mas e aí?
— E aí? Eu fui até o endereço dela e como soube que já fazia um bom tempo que ela estava divorciada eu a seduzi.
— O quê? – Thiago, surpreso, gritou.
— Fala baixo, cara! Estou ficando sem clientes, e ela, Marciela, também não é de se jogar fora, aliás você precisava ver como...
— Velho! Me poupe dos detalhes.
— Beleza! O que acontece é que eu consegui convencê-la a entregar o caso dela para mim – riu – e além disso enquanto estávamos... enfim, ela não segurou a língua e – sussurrou – soltou que já estava farta do velho barrigudo.
— O doutor Arnaldo?
— Sim. E disse mais: ela não é a única amante que ele tem. Sabe do que mais?
— Fala logo, velho!
— Ele tem um filho fora do casamento, e o moleque é problemático. Só que a esposa dele não sabe de nada disso e ainda jura que ele é um santo.
— Tá, mas o que isso tudo tem a ver com o que você fez para dar um fim na reunião?
— Bom... digamos que a Marciela agora seja uma espécie de sugar mommy para mim. E eu pedi um favorzinho para ela.
— O que você pediu, Marcus? – Thiago arregalou os olhos.
— Basicamente – olhou para os lados e aproximou-se ainda mais de Thiago – ela ameaçou o chefão. Enviou uma mensagem para ele dizendo que contaria para todo mundo sobre o filho dele caso ele não fosse para Parati hoje mesmo com ela para passarem o final de semana juntos.
— Por que ela faria isso, velho?
— Ela fez! Porque ficou totalmente na minha – riu – e eu disse que a recompensaria caso ela conseguisse fazer com que eu ficasse livre dele o restante do dia.
— Marcus, você é muito estranho.
— O correto a dizer seria: "te devo uma"!
— Valeu por me ajudar hoje, mas eu preciso de mais um favor.
— Diga lá!
— Eu vou ter que sair agora e provavelmente não voltarei mais hoje, então se você puder me cobrir? E se alguém perguntar diz que eu fui atender um cliente importante.
— Fechou! Mas o que é que tá pegando?
— Não dá para entrar em detalhes, porque eu já deveria estar em casa agora, mas lembra da fantasma do guarda-roupa?
— Sim! O que é que tem a "Loira da Sala 2"?
— Na verdade, ela é uma garota que perdeu a memória e eu estou determinado a ajudá-la.
— Que doideira é essa? Me lembre de não te chamar para beber de novo.
— Você rouba e seduz minha cliente que é amante do doutor Arnaldo, e eu que não posso beber?
— Fala baixo, peste!
— Foi mal! Valeu mesmo, Marcus! Estou te devendo mais essa cara.
Thiago deu dois tapinhas nas costas dele e antes de correr para o elevador, fez um pequeno cálculo nos dedos e questionou:
— Como você conseguiu aprontar tudo isso em apenas 2 dias?
— Meu charme é natural – respondeu sorrindo.
Após entrar no elevador, antes da porta se fechar ele fez uma breve análise do seu colega: Marcus era um típico conquistador, possuía mais charme que beleza e andava sempre bem arrumado e cheiroso, seu porte atlético era mantido com suas constantes idas à academia, e como ele vivia dizendo que sua pele era pálida demais começou a praticar kitesurf no Lago Paranoá e assim pegar um bronzeado; dono de um sorriso fácil e piadas prontas, mas certamente era alguém em quem ele podia confiar, no entanto, depois de ouvir toda aquela história desistiu de tentar aproximá-lo de sua irmã.
*
Thiago não sabia que tipo de roupa comprar, pois normalmente a lista de presentes de Priscila envolvia alguma joia ou cosméticos caros, suas roupas e calçados eram comprados por ela mesma, usando o cartão de crédito do namorado, claro. E na verdade, Thiago não tinha noção de quais eram as medidas da moça, imaginou apenas que sua estatura devia ser de aproximadamente 1,60m, pois estando próxima dele ela alcançava a altura de seu peito, sabia também que ela estava bastante magra, já que suas roupas estavam extremamente folgadas nela.
Entrou na primeira loja de roupas que viu, mas vagou perdido olhando as araras com roupas femininas sem saber o que comprar. A vendedora até tentou ajudar, mas ele se atrapalhou mais ainda, até que por fim, encontrou um vestido estampado, com manguinhas curtas e gola redonda, comprou também uma rasteirinha, que segundo a vendedora, combinaria com o vestido. Escolher as peças íntimas foi muito constrangedor, ele praticamente nem olhou, apenas sinalizou que era para uma mulher pequena. Quando terminou de fazer as compras lembrou-se das marmitas para o almoço e se desesperou ao olhar as horas no relógio, pois eram quase 14h, por isso desistiu de pegar o ônibus, preferindo chamar um táxi.
Quando entrou em casa e não viu sinal da mulher seu sangue gelou, então correu desesperadamente para o guarda-roupa e lá estava ela, toda encolhida. Ele agachou-se e confortou-a:
— Tá tudo bem, sou eu! Eu me atrasei um pouco e você deve estar com muita fome, não é mesmo?
Seus olhos amendoados o encararam como quem diziam: obrigada por voltar.
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