Ainda Escuto

Eu não sabia o que as vozes queriam dizer. Elas me assustavam. Eram contraditórias e eu não as entendia. Diziam que sim e depois que não, tal qual a dissimulação do diabo, tudo em função da própria enganação.

Disseram-me para avançar. Em seguida para recuar. Alguma coisa me rondava e eu não a via, também não entendia. Então eu apenas continuava no mesmo lugar.

Achava que se fosse para eu sair, as vozes me diriam para fazê-lo.

Mas na verdade era o contrário: as vozes que me colocaram naquela situação. Só podia ser. Elas queriam o meu mal, a minha derrota e a minha morte. Entretanto, não fazia ideia de quê elas lucrariam com aquilo. Elas sussurrariam no ouvido de quem seus desejos de violência?

No meio de toda aquela solidão, as vozes nada mais me faziam além de companhia.

Tanto melhor estar em presença do diabo do que em profunda solidão, sentindo nenhum reverberar de vida dentro de si mesmo.

As vozes só falavam sobre morte para eu não ouvir a própria morte dentro de mim.

Nenhum fio de músculo mexia, nenhum fiapo fazia aquele som mascarado e abafado, nenhum farrapo de pele coçava — pelo menos não ainda — nem doía. Nenhum tendão se contraía ou esticava. Nenhum osso estalava. Nenhum dente rangia.

Nenhum olho enxergava, apesar de ver a escuridão. Nenhum ouvido ouvia, apesar de escutar as vozes gritarem. Nenhuma boca nada dizia, apesar de contarem. Nenhuma língua gosto algum sentia, apesar de perceber a umidade e sentir gosto de poeira. Nenhum dedo nada tocava, apesar de sentir fria a terra confinada.

E mais meus ossos estalavam, mais eu percebia que tudo o que as vozes diziam era apenas para eu não ver a escuridão que me permeava; o vazio e o frio que me abraçavam; e a prisão em que me colocaram.

Tudo acontecera tão rápido... mal eu vi a luz se apagar...

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