10

Fecho meus olhos ao sentir o cafuné que o Chifuyu fazia em minha cabeça. Era de noite, estávamos deitados no chão e ao redor de vários travesseiros. Íamos assistir um filme, ainda nem começou e já tínhamos comido toda a pipoca, sempre era assim.

-Eu odeio ver você assim, desse jeito toda tristinha. -Chifuyu exclamou em um tom triste. Isso me fez ficar ainda pior ao notar que eu estava deixando todo mundo desse jeito.

Eu to parecendo a porra de um dementador.

-Como eu vou ficar feliz se todos estão virando as costas para mim? -Murmurei me cobrindo com o cobertor.

-Você ainda tem a mim, eu jamais iria virar minhas costas para você. -Ele respondeu, sorri minimamente com aquela resposta sentindo meu coração ficar mais quentinho. -Viu só, você fica bem mais bonita com um sorriso.

Chifuyu era o meu porto seguro, eu tenho absoluta certeza que ele nunca iria me deixar. Ele gosta de mim do jeitinho que sou.

-Será que a tia vai demorar? -Perguntei curiosa ao notar que ela estava demorando, a mesma foi comprar refrigerante e ainda não voltou. -É de noite, eu que deveria ter ido e não ela. E se aconteceu alguma coisa com ela?

-Relaxa, a única coisa que aconteceu foi ela ter encontrado com alguma amiga no mercado e para do falar com ela. -O loiro responde. -Posso pentear o seu cabelo, Yuri?

-Pentear o meu cabelo? -Perguntei confusa enquanto retirava o cobertor e me sentava, soltei uma risada ao ver um brilho no olhar dele. Eu não costumo deixar ninguém tocar em meu cabelo, ele parecia animado com essa ideia.

Parecia uma criança prestes a receber um doce.

-Sim! O filme ainda vai demorar, eu posso pentear o seu cabelo enquanto esperamos! Por favor, Yuri! -Ele exclamou todo animado.

-Ok, mas tenha cuidado. -respondi meio incerta.

se o Baji visse a cena...ele me mataria! Mesmo ele não admitindo, eu tenho certeza que o Keisuke gosta do Chifuyu. Bom, eu acho! Tenho medo de perguntar e receber um soco do Baji.

O loiro se levantou e saiu correndo atrás de um pente.

-Achei! -Ele exclamou enquanto corria até mim novamente, ele quase caiu. Ele se sentou atrás de mim.

-Se puxar meu cabelo...eu soco a sua cara, entendeu Fuyu? -Avisei ele.

-Vou ter cuidado. -Ele respondeu enquanto começava a pentear. -Como se sente ao falar com o Hanma depois de três anos e meio?

-Uma droga, joguei uma pedra na cara dele. Filha da puta, ainda debochou de mim. A sorte é que não tinha nenhum tijolo por perto ou eu usava pra quebrar a cara dele. -Exclamei fazendo uma careta ao sentir ele puxar um pouco meu cabelo ao pentear. -Depois de tudo o que eu escutei da Emma, encontrar com o Hanma deixou o meu humor péssimo, mandei duas velhas irem pro inferno.

-Odeio aquele desgraçado. -O loiro exclamou e eu soltei um suspiro. -Por conta dele que você começou a fumar.

Sinto constrangimento ao escutar aquilo, eu até posso tentar negar. Mais seria impossível pois realmente era por conta dele, não sobre a sua influência mais sim...deixe para lá.

Me levanto do colchão que estava no chão, eu estava apertada e precisa urgentemente ir no banheiro ou eu iria fazer na roupa. Tento no máximo fazer barulho, ainda era de madrugada e todos estavam dormindo -era o que eu pensava, mas notei que eu não era a única acordada pois a luz da sala estava acessa e havia vozes vindo dali.

-O que iremos fazer? -Escuto a tia Karla perguntar. Sua voz era carregado por preocupação. Ela está conversando com o marido, vou voltar para o meu quanto, a conversa parece ser seria e pessoal. Devo respeitar. -Não podemos fazer o que ele quer, não podemos. A coitada iria sofrer, ninguém da família dela apoia, imagina só o que ele iria fazer com ela? Ele...ele pode acabar matando ela. E ele vai fazer isso, não viu o olhar dele?

Sinto um arrepiou percorrer todo o meu corpo ao notar que era de...de mim eles falavam. Mesmo não sendo o certo, permaneço ali quieta escutando tudo.

Perco até mesmo a vontade de ir ao banheiro.

A confusão me pegou de surpresa, o que aconteceu? Quando ela se refere ao 'ele', ela se refere ao meu pai?

-Não vamos e nem podemos entrar em uma briga com ele, imagina o que ele pode fazer? Iria ferrar bonito com a nossa família inteira. Hector está levando tudo para o lado pessoal.

Mordo minha bochecha ao escutar aquilo, pelo que parece...que o meu pai ameaçou eles, isso explica o jeito que a tia Karla voltou do mercado. Isso já está passando dos limites, ele enlouqueceu? Porquê ele está fazendo isso? Ele sente vergonha de mim, então porquê ele não me esquece e finge que nunca me viu na vida dele? Não da para viver desse jeito.

-Adivinha só? Eu não tenho medo dele! Estaremos prontos para qualquer coisa que aquele desgraçado for fazer. -Tia Karla exclamou em um tom corajoso, mas uma pitada de receio. Eu entendo a preocupação dela e do marido, as coisas podem acabar saindo do controle e o chifuyu pode sofrer as consequências. Eu não iria me sentir triste com ela caso os dois resolvam que eu tenho que ir embora.

Eles foram os únicos que me estenderam a mão nesse momento -O vovô Sano não sabe o que acontecendo comigo, se soubesse, teria me buscado pela orelha e me levado pra morar junto com ele. Mas eu não quero viver no mesmo teto que ela.

Respiro fundo enquanto resolvia finalmente sair dali antes que eles notem que eu estava escutando a conversa. volto para o quarto e me deito no colchão. Meu pai está ameaçando eles...

Meu pai? Não, ele não é. O dever de um pai é proteger e amar os seus filhos, ele nunca fez isso. Sempre foi agressivo, ele apenas tinha uma máscara para a sociedade não ver como ele é de verdade, mas parece que ele não está mas conseguindo segurar essa máscara em seu rosto.

Quando criança eu nunca notei como ele era, ele tentava não ser agressivo, quando ele me machucava ou estragava meus livros ele costuma pedir perdão e a me levar na sorveteria. Eu amava ele, achava que ele era o melhor homem do mundo e desejava ser igual a ele.

O homem que eu admirava não existia, era tudo apenas uma ilusão. A realidade é essa, mesmo que essa realidade seja dolorida.

Observo meu melhor amigo dormir de forma tranquila na cama, seu olhos ainda estava meio roxo ao soco que ele havia recebido por minha culpa.

O que eu estou fazendo? A tia Karla foi tão legal comigo, foi gentil e me deu carinho. O marido dela também foi super legal comigo, eles não merecem ter uma dor de cabeça por minha culpa. Eu não posso fazer isso, seria egoísmo de minha parte.

"Você quer mesmo perder a família que te ama por um erro bobo?" me lembro das palavras da minha mãe, ela me disse que eu pedisse perdão, tudo voltaria ao normal. Porém, eu também me lembro das palavras que escutei lá embaixo onde a Tia Karla dizia que ele poderia matar se eu voltasse.

Sinto medo, medo e raiva. Confusão é algo que também está na minha mente, eu estou fazendo a coisa certa? Tudo o que eu fiz, foi o certo? Ou eu estou errando? Nada de bom tem acontecido desde que eu me "assumi".

Não, seria bem pior se eu tivesse escolhido ignorar tudo. Se eu nunca tivesse me tornado a Yuri, eu seria alguém ainda mais triste que agora.

Volto a observar o loiro adormecido, eu tenho um tiquinho de inveja dele por ter pais tão amorosos, legais e bons. Queria ser a sua irmã de sangue, queria que a tia Karla fosse a minha mãe. Minha vida seria tão diferente.

Ele vai ficar triste, mas o Baji irá ajudar ele. A tia Karla vai ficar triste também...mas ela vai superar.

Eu tenho dinheiro o suficiente para uma passagem, eu preciso ir embora antes que alguém se machuque por minha culpa. Coloco o travesseiro encima da minha cabeça enquanto eu tentava não chorar alto, eu irei recomeçar em um lugar novo...aonde ninguém me conheça e eu possa andar sem medo. Um dia eu irei retornar para encontrar com os meus amigos novamente, mas só depois quando a poeira abaixar.

Se eu não conseguir achar um lugar ou embora daqui, só irá me sobrar uma última opção nada agradável.

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