06
-Oi tia, ta linda com esse vestido. Eu posso entrar? -Perguntei assim que a porta foi aberta, a mãe do Chifuyu derrubou o copo em que estava na sua mão. -Tô tão feia ao ponto da senhora se assustar? Poxa, assim mágoa o meu coração.
-Yuri, o que aconteceu? -Ela perguntou toda preocupada enquanto me dava passagem para mim entrar.
Foi bastante difícil chegar até o apartamento dela, meu corpo doía tanto que eu tive que parar uns segundos para poder conseguir continuar a andar. Se pelo menos eu estivesse com a minha moto isso seria mais fácil de se fazer. Eu literalmente beijei o chão uma duas vezes, é difícil andar quando a sua costela provavelmente esta quebrada.
Minha mochila foi tomada pela senhora Karla, ela me fez eu me sentar no sofá, faço um careta de dor com essa ação.
-Tia, cadê o Chifuyu? Ele tá bem? -Quis saber enquanto observava ela ir até a cozinha e voltar correndo com um kit de primeiros socorros.
-Ele ta no apartamento do Baji, parece que ele levou um soco de algum vagabundo na rua. Mas ele ta bem, quer que eu ligue pra ele vir? -Ela perguntou gentilmente enquanto abria a caixa. -Acho melhor a gente ir para o hospital.
-Não precisa, eu to bem tia.
Fico mais aliviada ao saber que ele está bem, eu não iria me perdoar se acontecesse algo com ele por minha culpa.
-O que aconteceu, querida? -Ela perguntou enquanto passava algodão no meu rosto.
-Aí! -Murmurei, esse líquido que ela jogou no algodão arde. -Eu...briguei com...o meu pai.
Tia Karla me olhou assustada enquanto afastava o algodão de perto de mim, seu sorriso sumiu na hora.
-O seu pai fez isso? O Hector fez isso? -Ela perguntou chocada.
-Ele acabou me vendo de maquiagem... Ele me bateu na frente de todos os meus amigos, me bateu na frente da minha irmã...eu nunca vi a Milena ficar tão assustada como ela ficou hoje, a coitada chegou a pensar que ele iria me matar de tanto bater. -Murmurei tentando não chorar. Eu preciso me manter forte, já chorei muito hoje. -Eu esperei ele sair para poder ir embora, tia...por favor, eu posso ficar aqui por uns dias? Até eu achar um apartamento para mim? Prometo que não viu dar trabalho.
-Yuri, você pode ficar o tempo que for necessário. -Ela falou enquanto voltava a limpar meus machucados. -Eu conheço o Hector faz tempo, ele vai vir atrás de você. Deveria denunciar ele para a polícia para ganhar uma medida protetiva.
-Não vai ser por muito tempo, tia. Eu tenho umas economias guardadas para caso isso acontecesse...não é muita coisa mais vai dar. -Respondi ela, eu sei que meu pai ainda vai vir atrás de mim e eu tenho medo do que ele possa fazer contra a tia Karla. -Denunciar o meu...próprio pai? Ele não iria ficar mais furioso ainda?
-Yuri, você precisa denunciar ele. O que ele fez foi transfobia e isso é um crime! Ele te bateu por puro preconceito, aquele nojento. -Tia Karla disse enquanto fazia uma pausa, meu peito doía só de escutar isso. -Eu sempre soube que aquele homem era agressivo, mas não ao ponto de fazer isso com a própria filha! E ainda teve a cara de pau de fazer isso na frente da pobre Milena! Canalha! Filho da pu...
Ela parou de falar quando a porta da sala foi aberta, pulei de susto com aquilo, pensei que fosse meu pai, suspirei aliviada ao notar que era apenas o Chifuyu, ele estava com um curativo no olho e no rosto.
-Fuyu! -Falei aliviada ao notar que ele realmente estava bem.
-Yuri? -Ele perguntou confuso e logo vi sua feição mudar. -Ele bateu em você? Aquele maldito! Vou quebrar ele na porrada.
-Você não vai pra lugar nenhum, ajuda ela aqui que eu vou preparar algo para a coitada comer. A Yuri tá com uma cara de quem não jantou ainda. -A tia Carla falou enquanto se levantava do sofá, ela arrastou o filho para que ele se sentasse onde ela estava.
-Os meninos estão preocupados, não estávamos conseguindo ligar para o seu celular. Eu acordei com o Mikey me dando uns tapinha na cara, todos pareciam com uma cara de decepção. Mikey me contou o que aconteceu...
-Meu celular foi jogado em uma poça de água. -Murmurei enquanto fechava os olhos ao sentir o algodão tocar em meus machucados novamente. -Meu coração está todo quebrado. O Ken era meu melhor amigo desde a infância e ele fez essa putaria! Só porquê ele ficou ciúmes da Emma, que entrem um no cu do outro e se explodam também.
-O que ele fez foi errado, nunca pensei que o Draken faria algo desse tipo! Ele sempre foi um dos mais maduros da Toman, sempre resolvia as coisas no diálogo...o que ele fez foi imperdoável! Não sei o que aconteceu quando eu estava desacordado, mas parece que ele e o Mikey brigaram feio. Ambos já estavam meio estranhos por conta da prisão do Pah...o que o Draken fez foi o gatilho para uma briga. -Chifuyu exclamou e logo depois pegou uns curativos. -A Emma ainda tava lá? Ela escutou alguma coisa?
-Ela escutou tudo! -Falei desviando o olhar, eu não queria ver ele me olhando com pena. -Você tinha que ver como ela reagiu, com...nojo, o olhar que ela me deu, doeu tanto quanto um soco na cara. Acho que ela não vai mas nem sequer falar um oi para mim.
Na manhã seguinte acordei assim que senti o cheiro do café, me sentei no colchão que estava no chão. Meu corpo doía ainda. Demorou para que minha preguiça saísse do meu corpo para que eu me levantasse.
Se estou conseguindo me mover, significa que minhas costelas ainda estão inteiras que eu não preciso ir para o hospital, o que é bom.
-Bom dia. -Murmurei enquanto entrava na cozinha.
-Bom dia, como você está? -Tia Carla perguntou rapidamente.
-Estou bem melhor, posso até ir para a escola! -Respondi. Minha noite foi péssima, não consegui dormir direito e só tive pesadelos.
Mas estou feliz pois meu pai não veio de madrugada para me buscar, acho que ele não vai vir...vai me deixar em paz por um tempo, ele só vai vir até mim novamente quando todos estiverem falando sobre o fato de eu ser uma mulher trans ou quando o padre perguntar o que aconteceu comigo.
-Tem certeza que quer ir para a escola? Você está cheia de curativos, parece uma múmia. -A tia falou enquanto colocava o bule de café.
-É normal eu aparecer na escola com curativos, eu faço parte de uma gangue, sabia?
Eu nunca faltei um dia na escola, eu até que poderia faltar hoje mas tá tendo matéria de prova e eu realmente não posso faltar -Mentira, eu sou a melhor aluna da sala e não quero perder esse posto. Sinto orgulho em dizer que pelo menos em uma coisa, eu sou realmente boa.
Mas eu juro, eu juro que se aquela garota chata vir dar encima de mim eu vou dar na cara dela! Eu estou toda fodida, todo dolorida e sem paciência para lidar com a Joe. O lado bom é que eu vou poder conversar direito com o Mikey, não sei se vou conseguir continuar na Toman depois de tudo que aconteceu.
O Ken não costuma ficar muito tempo brigado com o Mikey, ambos vão voltar a se falar e eu não to afim de olhar na cara dele por um bom tempo. E fora que o clima ia ficar ruim.
Fui uma fundadora, capitã da sétima divisão. A Toman sempre foi como uma segunda família para mim, não sei o que iria fazer sem ela. Vai ser bem difícil isso, ainda vou pensar direito sobre esse assunto.
-Eu deixo você ir a escola se você prometer que depois vai comigo até a polícia, pra pedir uma medida protetiva. -Tia Karla falou de forma seria, eu sabia que ela não iria desistir isso. Seria até bom.
-Eles vão me mandar para o orfanato ou para algum parente próximo, todos são escrotos. Não vão me deixar ficar aqui. -Respondi meio incerta e ela sorriu.
-Não se preocupe, eu vou dar um jeito nisso. Daqui você não saí e ninguém te tira.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top