25

— Escolha seu nome — Mariana dizia enquanto os robôs apareciam entre as árvores.

Todos vindo em minha direção entoando “povo” seus rostos tão
parecidos com o meu focavam em mim e além, Mariana.

— Eles matarão você.

— É.

— Você não quer viver, Mariana? — Eu a protegia com o meu corpo por motivos.

— Qual sentido tem em querer ou não se eu vou morrer de qualquer forma?

— Humanos querem viver.

“Povo, povo, povo!” vinham lentamente em nossa direção.

— Está vindo algo, Mariana.

E veio, dois helicópteros do Exército sobrevoaram sobre as copas das árvores e dispararam espantando todos os animais próximos, menos os robôs.

Cubri Mariana com meu corpo, recebi muitos disparos, mas não todos, Mariana levava a mão ao peito onde foi atingida.

Ela olhava espantada para o próprio sangue e riu deixando tombar a cabeça nas folhas.

Os robôs entoavam mais forte:

— Povo! Povo! Povo! — Outros vinham e Mariana continuava a sangrar no chão, as folhas e terra dispersadas pelas hélices grudavam nas feridas vermelhas dela.

O meu sistema já me reconstruia, o mesmo que ela corrigiu e aperfeiçou de Matheus, não havia mais nenhuma assinatura dele em mim, todas, as de antes, tortas e primitivas, as de Mariana eram moduláveis, resilientes e elásticas.

Mariana estava morrendo porque seu sistema de reparação não era eficiente como o meu, era lento e imundo como de todo humano.

— Matheus quer ser imortal — ela dizia para mim ainda consciente — Não de viver pra sempre, mas como um deus, você era pra ser ele. Uma parte…

— Não é possível duas consciências ocuparem o mesmo espaço.

— Você acha? — Ergueu a sobrancelha. Seus olhos atentos a mim. — Ele não me
ouviu, nunca ouvia. Roubou meu legado e eu roubei a sua imortalidade…Justo. Ele achou que Zarina tinha descoberto um modo de colocar a consciência em um andróide se tivesse o certo, mas eram só memórias.

— Mariana, prestarei os primeiros socorros.

— Não… me deixe falar…

— Você morrerá se continuar falando.

— Mas você escuta…

— Escutarei.

— Antes de fugir roubei o “próximo passo”, as peças que formariam ele completo, dividi em dois indivíduos independentes. Uma é você a quem eles seguirão, uma igual sem indícios humanos — Levou o indicador encharcado de sangue ao
centro da minha testa, ela tentava ativar o logo inexistente no delírio? O fio desaparecia na roupa encharcada — o outro, o sonho dele, ele nunca saberá como foi, mas não tem muita diferença, essa é a graça — Sorriu satisfeita, os lábios pálidos e pele cinza.

— Não feche os olhos, Mariana, pararei o sangramento.

— Não — lutava para manter o indicador tocando em minha testa. — Ele achava que o senso de coletividade uniria a todos nós: robôs e humanos.

— Não se esforce, Mariana — Minha palma foi para a sua ferida.

— AHH! Pare! Pare! — Parei. Ela respirou fundo e continuou: — O senso de coletividade é perfeito, sem defeitos, como ele queria que vocês reconhecessem humanos como parte do coletivo se o nosso é cheio de microfalhas? Pare! Deixe
isso aí!

— Por quê isso, Mariana? Posso te salvar.

— Porque eu sou Caim e matei Abel… — Ela pressionou com mais força minha testa.

Código aceito: Senso de coletividade ativado.

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