10

— Mariana, acorde.

Ela abriu os olhos assustada, migalhas de pão espalhadas sobre a camisa
enquanto a chuva caía fora da varanda.

— O quê? Ah! — Puxou devagar o pé pendurado para dentro da rede o mexendoaos poucos para que também acordasse.

— Seus papéis. — Os entreguei para ela, o vento levou e a chuva os molhou.

— Droga. Eu salvei isso? — Se contorcendo na rede tirou o bloco eletrônicodebaixo de si. — Salvei. — Bocejou e olhou ao redor ainda acordando.

— Mariana, seria bom você ver isso. — Fui para a sala onde gravei a reportagemdo plantão da tarde. Dei play na gravação de poucos minutos atrás.

Mariana veio atrás de mim arrastando o pé dormente, sentou na cadeira demacarrão e assistiu.

“Os robôs abandonaram a fábrica, a tentativa de pane elétrica da polícia
fracassou, os robôs de combate se juntaram aos outros, quatro policiais
humanos foram sequestrados e mais robôs ativados”

— Que novidade — entediada.

“Os robôs fugiram em massa para as áreas periféricas da cidade e agora mesmo
o crime organizado abriu fogo contra eles”.

As imagens de pessoas gritando
desesperadas e se jogando ao chão com sons de fuzis disparados ao fundo, as
mesmas filmando e adicionando os próprios comentários desesperados, veio apolícia militar em um helicóptero adicionando mais disparos. “Vamos morrer,
vamos morrer!” gritavam as pessoas, os robôs continuavam sua corrida
frenética mais e mais morro acima. Centenas.

O helicóptero cai, não filmaram o motivo, apenas a queda descontrolada e aexplosão, no canto da televisão: Ao vivo. Os robôs continuam correndo entre aschamas, pisoteando asfalto e pessoas.

— Quem os organiza? — pergunto.

Ela responde:

— Ninguém, é o senso de coletividade.

Os robôs então saem de cena, tudo sai de cena, silêncio, o cinegrafista tambémjogado ao chão para se proteger chora. O que eu gravei para Mariana ver acaba,resta apenas a seta em círculo com a opção reassistir.

Mariana cruzou os braços sobre o peito, nada no rosto, movimentando emcírculos o pé dormente. Engole em seco e minutos depois:

— Que merda. — É tudo o que ela diz, então levanta e vai fazer o café preto do fimda tarde.

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