⧖ Tempo Congelado ⧖

 Ódio. Um sentimento que consumia todo o seu ser. Sentia aquele sentimento rastejar sob sua pele, impregnando seus ossos e se alojando em seu coração, o consumindo em uma lentidão tortuoso. Preferia mil vezes simplesmente ser dilacerada de supetão a ter que aguentar aquela dor angustiante lhe acompanhando.

  Mesmo que dissesse a si mesma que passaria. Mesmo que falassem que dia após dia seria menos visceral, o que com certeza acreditava ser mentira, pois, ao abrir e fechar os olhos, toda manhã e toda noite, ainda sentia como se seu coração estivesse bombeando veneno por suas veias. Veneno esse que a fazia perder o fôlego e não conseguir se prender a realidade a qual habitava.

  Bem, era isso que o ódio era, um veneno puro que consome seu âmago dia após dia, lentamente.

  No fim, havia apenas uma certeza em sua mente, o odiava e se martirizava lembrando cada pequeno detalhe daquele ser.

  Não conseguia lidar com a memória de como seus cabelos pareciam fios de sol e seus olhos eram como uma cascata de ouro líquido. Desmoronava ao recordar tão bem o calor que ele emanava junto ao seu cheiro de um acolhedor verão. Odiava aquela risada que parecia fazer tudo ao seu redor parecer vibrante, caloroso... Vivo.

  O odiava com todo o seu ser e, quando ele partiu, tudo o que lhe restou foram as memórias fantasmagóricas da presença dele em sua vida.

  Nunca o perdoaria por ter partido, mesmo que soubesse que se ele pudesse escolher, teria escolhido ficar. Por isso, o grito rasgava sua garganta, saliva e sangue se misturando em sua boca. Seu coração se contorcia sendo esmagado e consumido por aquela dor dilacerante.

  Não conseguia e nem queria impedir as lágrimas que banhavam sua face até não ter mais como chorar.

  Ele era como o Sol. Não por ser visto por todos, caloroso ou ter uma presença impossível de se ignorar.

  Não...

  Ele era o Sol, porque para ela, era ele quem iluminava a escuridão de seu coração e fazia a vida adentrar sua alma como o ar que adentra os pulmões a cada inspiração. Mas, agora não sabia o que fazer além de se deixar consumir pela dor, porque o que a Terra poderia fazer ao perder seu astro vital?

  No fundo do seu âmago, sabia que o sentimento que corroía seu peito nunca poderia ser denominado como ódio, porque nunca poderia odiá-lo.

  O ódio era simplesmente amor.

  Um amor doloroso que repercutia em cada célula a cada batida de seu coração que era corroído pela certeza de que nunca mais poderia estar entre os braços daquele que lhe apresentara o mundo.

  Kaesar Melchior Aldrebrahäm havia voltado a habitar o seu lugar entre as estrelas.

Olá, docinhos!

Como estão depois desse capítulo? Acreditavam que isso aconteceria ou tinham esperança?

Dica: releiam substituindo toda a palavra ódio e suas conjugações por amor e suas formas conjugadas.

Espero que estejam gostando e que continuem acompanhando

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