Capítulo Trinta e Seis

Connor Wessex:

No carro, o silêncio só era interrompido pelo som leve do motor. Samuel, no banco de trás, estava com os olhos fixos no telefone, esperando por uma resposta que parecia não chegar. Sua expressão de grande sofrimento e raiva era evidente. Ele apertava o aparelho como se, de alguma forma, isso pudesse acelerar a chegada da tão aguardada ligação. Era o tipo de cena que me partia o coração, ver um garoto tão jovem carregando emoções tão pesadas.

Desafivelei o cinto de segurança, tentando suavizar o momento com um tom mais leve.

— Está esperando a ligação do seu pai? — perguntei, olhando para ele com um sorriso reconfortante. — Vou dar uma olhada, pode ser que ele ligue mais tarde. Espere até à noite, quem sabe ele liga mais tranquilo.

Meu pai, sentado ao meu lado no banco do passageiro, soltou uma risada baixa, como se entendesse que lidar com Samuel era uma tarefa que exigia paciência e um toque de humor.

Samuel, por sua vez, esticou a mãozinha e agarrou a ponta da minha camisa, com aquele olhar típico de quem quer estar junto a qualquer custo. Era o jeito dele de dizer que queria me acompanhar, mesmo sem palavras. Olhei para ele e sabia que, apesar de toda a sua frustração, ele só queria se sentir parte de algo.

— O que eu vou fazer é algo especial pra você e pro seu pai — expliquei com um sorriso, tentando ser o mais gentil possível. — Se vier comigo, vai acabar estragando a surpresa.

Ele inchou as bochechas, claramente descontente com minha resposta. As bochechas vermelhas, os olhinhos semicerrados, tudo indicava que ele estava resistindo à ideia.

— Eu não vou estragar nada! — disse Samuel, com sua expressão escurecendo. — Posso até fazer uma cara de surpresa depois! — Ele tentou, mas eu sabia que sua frustração não era só sobre a surpresa. Havia algo mais ali.

— Fiz uma promessa de cuidar de você e do tio Elio até que meu pai voltasse — ele acrescentou, com uma determinação que me deixou impressionado.

Inclinei a cabeça, tocado pela seriedade nas palavras dele. Aquela responsabilidade que ele sentia era tão desnecessária, mas ao mesmo tempo tão adorável. Ele queria proteger todos nós, mesmo sendo tão pequeno.

— Não precisa se preocupar — falei, tentando aliviar o peso que ele mesmo havia se imposto. — Eu vou estar muito bem protegido. Sei me cuidar e prometo que não vou demorar. Alguns minutos e estarei de volta, ok?

Percebendo que ele ainda estava hesitante, esfreguei sua cabecinha de leve, nosso jeito de criar um vínculo silencioso, algo só nosso. Ele suspirou, derrotado, mas ainda tentando manter uma postura firme.

— Está bem — disse ele, vencido, mas sem perder aquela teimosia característica.

— Eu já volto — prometi, inclinando-me para beijar sua testa. O gesto parecia acalmar um pouco seu espírito inquieto. — Pai, quer que traga algo para você?

Meu pai, que havia estado em silêncio observando a cena, balançou a cabeça enquanto ligava o rádio, permitindo que a música invadisse o espaço do carro, criando uma atmosfera mais leve.

— Não, apenas faça o que tem que fazer — ele disse, com aquele tom de voz que sempre me dava forças.

Saí do carro, sentindo o olhar de Samuel me seguir até que desapareci de vista. Sabia que ele não gostava de ficar para trás, mas algumas surpresas precisavam ser guardadas para o momento certo. E, naquele instante, percebi o quanto aquele garoto, com todo seu jeito teimoso e protetor, significava para mim.

**********************

Sob os olhares excitados da multidão reunida na entrada do centro comercial, abri lentamente a porta do carro e saí. Vestido com um terno cinza bem cortado, sentia a energia no ar. Meu corpo era longo e magro, e a roupa parecia acentuar ainda mais minha postura. Eu sabia que minha presença ali chamava atenção, algo inevitável, mas não deixava de ser um pouco desconfortável.

— Ah, é o Connor Wessex! Eu estava me perguntando qual magnata havia chegado. Não pensei que fosse o Deus da Riqueza em pessoa! — Algumas pessoas comentavam entre si, como se eu fosse uma espécie de celebridade. — Além do Deus da Riqueza, quem mais poderia dirigir um carro tão caro!? — uma mulher exclamou, e algumas risadas nervosas ecoaram ao redor.

— Céus, eu vou desmaiar... Eu só o vi em revistas! Não acredito que estou vendo o Connor Wessex aqui, ao vivo! — um rapaz gritava empolgado. — Se ele entrasse no mundo do entretenimento, nem os atores famosos teriam chance!

Senti o calor dos olhares em cima de mim, mas escolhi ignorá-los. Segui em direção à loja, focado no que tinha que fazer. Assim que passei pela porta, um novo ambiente me envolveu. O lugar era exatamente como havia imaginado quando me indicaram. As paredes estavam decoradas com peças elegantes, penduradas de forma a capturar a atenção de qualquer um. Havia colares, anéis e pingentes, todos muito bem organizados, como se o ambiente fosse uma pequena galeria de arte.

— Bem-vindo! — O vendedor me saudou com um sorriso caloroso assim que entrei. Ele tinha uma presença tranquila, como alguém que estava acostumado a lidar com clientes de alto padrão, mas sem perder a simpatia.

— Heh... vim retirar um pedido — respondi casualmente, observando enquanto ele me analisava.

— Oh, claro. Pode me informar seu nome para que eu possa verificar seu pedido? — ele perguntou, indo rapidamente para trás do balcão.

— Connor Wessex. São duas pulseiras — respondi, observando enquanto ele assentia e se afastava para buscar a encomenda.

Enquanto esperava, ainda podia ouvir o burburinho vindo da porta da loja. As pessoas não paravam de comentar e fofocar sobre mim. Era estranho, mas eu já estava começando a me acostumar com essa atenção exagerada. Zahra havia me indicado essa loja, dizendo que todas as joias que comprava para sua esposa vinham daqui, então confiei na recomendação dela. E, até agora, não estava decepcionado.

Finalmente, o vendedor voltou com minha encomenda. Tudo já estava pago, então só precisei agradecer antes de sair da loja. Mas, mesmo enquanto caminhava de volta para o carro, senti os olhares perfurando minhas costas. Era um alívio entrar no carro e sair de cena, ainda que o incômodo daquela exposição continuasse me seguindo.

No carro, meu pai e Samuel estavam em uma conversa animada quando entrei. Mas, assim que viram a sacola em minhas mãos, ambos direcionaram o olhar para ela com curiosidade.

— O que é esse presente? — Samuel perguntou, os olhos brilhando de antecipação.

Sorri e estendi a sacola para ele, já desembrulhando a embalagem para revelar o conteúdo. — Uma pulseira — disse, mostrando a peça com uma mistura de tons roxos e vermelhos. — E uma delas é para você. Acho que você merece um presente meu.

Sem dizer uma palavra, Samuel olhou para a pulseira por um momento, absorvendo o que aquilo significava, e depois estendeu o braço. Coloquei a pulseira em seu pulso, e ele ficou em silêncio por um instante. Então, de repente, ele me puxou para um abraço apertado, deixando transbordar toda a gratidão que estava sentindo.

— Obrigado, tio Connor — ele disse, a voz suave, e eu retribuí o carinho, sentindo o calor do momento.

Meu pai, observando a cena com aquele sorriso orgulhoso, tirou o telefone do bolso e capturou o momento.

— Isso foi a coisa mais fofa que já vi — meu pai disse, soltando uma risada leve. — Não sou o único que pensa isso, com certeza.

Olhei pela janela e percebi que várias pessoas ainda estavam lá, tirando fotos e comentando entre si. Já podia imaginar: antes do fim do dia, nós seríamos o tópico quente da internet.

*******************************

Horas mais tarde, enquanto eu analisava algumas informações no escritório de casa, o telefone tocou. Era Pedro, como sempre, sua voz um misto de preocupação e carinho.

— Connor, você não iria me contar que tiraram fotos de vocês? Além disso, foi um momento íntimo entre família e essas pessoas sem noção... — Pedro disse do outro lado da linha, e eu congelei por um instante. Ele sabia das fotos.

— Então você já me considera parte da família? — provoquei, tentando aliviar o clima. — Espero que você traga muitas surpresas quando voltar, seu homem tendencioso! Quero ver como será o pedido de casamento.

Pedro riu do outro lado, mas pareceu não se abalar com a minha provocação.

— Eu só trarei tudo o que você quiser. Mas lembre-se, meu pedido vai ser grandioso — respondeu ele com aquela confiança que eu tanto admirava. — É uma pena que estou longe e não posso ficar colado em você e no Samuel. Sinto que não estou ajudando em nada com sua rotina.

— Calma, Pedro, é só por um tempo. Já estou mais acostumado com essa dinâmica. Enquanto estou na empresa, Samuel fica na casa do meu pai. Claro, antes ele tinha a Samantha como companhia, mas agora que eles foram embora, ele vai ter que se acostumar a ficar mais sozinho por um tempo.

Pedro suspirou, mas logo respondeu com um tom otimista. — Ele logo vai voltar para a escola, fazer amigos e se adaptar. Acho que ele só precisa de tempo.

— Sim, e se ele agir com as outras crianças como age com a gente, ele vai se enturmar rapidinho. — Eu ri, imaginando Samuel tentando cuidar de todos como faz com a gente. Pedro, no entanto, murmurou algo, parecendo mais cético. Talvez estivesse pensando em como ele e Samuel são, de fato, mais difíceis de se enturmar com os outros.

Nossa conversa continuou por mais alguns minutos, ambos trocando afazeres do dia, até que algo inesperado aconteceu. A porta do meu escritório se abriu com um estrondo, e George entrou, com os braços estendidos como se estivesse prestes a me dar um grande abraço.

— Surpresa! — George disse, estalando a língua. — Está surpreso? Vamos festejar, meu caro! Em comemoração ao declínio dos meus inimigos!

Antes que eu pudesse responder, Mariano apareceu atrás de George, com um sorriso ainda maior. — Sim, e eu estou aqui para garantir que comamos muito bem. Só a gente e seu pequeno filho.

— Oleg também vai vir — acrescentou George casualmente. — Ah, e convidei Magnum também.

Ao ouvir o nome de Magnum, Mariano ficou paralisado por um segundo, mas logo cambaleou, os braços balançando no ar como se tentasse se equilibrar com a surpresa.

— Você fez o quê?! — gritou Mariano, claramente indignado.

Antes que as coisas pudessem escalar, Reggie entrou na sala com sua energia sempre contagiante.

— Oh, George! Como você faz isso sem contar os detalhes antes? Odeio saber das fofocas depois de todo mundo — disse Reggie, com uma voz ligeiramente ofendida.

Mariano, ainda incrédulo, rebateu com a voz alterada. — Não tem fofoca nenhuma aqui!

Reggie soltou uma risada, cruzando os braços, e respondeu com um tom provocador. — Claro que tem, com essa voz de Alvin e os Esquilos negando tudo.

O sorriso de George só crescia, e Reggie parecia se divertir com a situação. Foi então que senti algo estranho. Um cheiro forte começou a invadir minhas narinas. Olhei para a porta e vi Marcelo entrando, o perfume dele tomando conta do ambiente em segundos.

A náusea me pegou de surpresa. Meu estômago revirou, e, antes que pudesse evitar, corri para o banheiro, abrindo a porta com pressa e me segurando no vaso. Achei que fosse vomitar imediatamente, mas só fiquei ali, sentindo o enjoo aumentar. Quando Marcelo entrou na sala novamente, trazendo o perfume de volta, não consegui mais segurar e vomitei o que havia comido.

— Connor, o que aconteceu? — ouvi George perguntar, sua mão pousando em meu ombro com preocupação.

A mistura de cheiros e o susto só pioraram as coisas, e continuei sentindo o desconforto.

Ainda apoiado no vaso, respirei fundo algumas vezes, tentando acalmar o turbilhão de sensações que me invadia. O cheiro de Marcelo parecia se dissipar no ambiente, mas a sensação de náusea persistia. Sentia minha cabeça girar levemente, e, aos poucos, comecei a ligar os pontos. Não era só o perfume que me havia feito mal. Era algo mais profundo, algo que eu não queria admitir para mim mesmo de imediato.

George estava ao meu lado, com uma mão no meu ombro, a preocupação estampada em seu rosto. Mariano, ainda se recuperando do choque da presença de Magnum, espiava de longe, sem saber ao certo como reagir. Reggie, sempre o mais atento aos detalhes, franzia o cenho, como se estivesse juntando as peças antes mesmo de mim.

— Connor, você está bem? — George perguntou novamente, sua voz mais suave desta vez.

Levantei devagar, limpando o rosto com a mão. — Eu... acho que estou, só... me pegou de surpresa — respondi, tentando soar mais confiante do que realmente me sentia. Mas algo no meu corpo estava diferente, e não era uma simples indisposição.

Marcelo, sem perceber a gravidade da situação, acenou de longe com um olhar confuso. — Desculpa, não sabia que meu perfume ia te afetar assim. Quer que eu me afaste?

Balancei a cabeça, sorrindo fraco.

— Não, não é o perfume... — Minha voz saiu baixa, quase imperceptível. Não era só o perfume. Aquele enjoo, a sensibilidade... minha mente começou a correr em direções que eu não esperava.

George, ainda observando, pareceu captar algo no meu olhar.

— Connor, tem certeza que está tudo bem?

E foi nesse momento que uma ideia absurda, mas ao mesmo tempo terrivelmente real, cruzou minha mente. Eu sabia que meu corpo poderia reagir dessa forma, que, apesar de raro, homens como eu podiam engravidar. Meu coração acelerou, e comecei a relembrar os pequenos sinais que vinha ignorando nos últimos dias: a leveza repentina, os enjoos sutis, a fome insaciável misturada com náusea. Pode ser...?

O silêncio na sala começou a me sufocar. Todos esperavam por uma resposta, mas, naquele momento, eu estava perdido em meus próprios pensamentos.

— Eu... acho que preciso de um tempo — murmurei, saindo do banheiro e me dirigindo ao sofá no escritório. Sentei-me lentamente, tentando processar tudo. O olhar preocupado de George não se afastava de mim.

— Você acha... o que eu estou pensando? — ele perguntou, a voz quase um sussurro, tentando ser discreto para não alarmar os outros.

Fechei os olhos por um momento, respirando fundo antes de finalmente dizer, quase que para mim mesmo:

— Pode ser... pode ser que eu esteja grávido.

A sala ficou em um silêncio absoluto. Eu não sabia ao certo como as palavras haviam saído tão rápido da minha boca, mas lá estavam, ditas, e agora não havia como voltar atrás. George ficou estático, e Reggie, que estava mais próximo, arregalou os olhos, um sorriso surgindo no canto dos lábios como se ele estivesse esperando por uma notícia dessas há muito tempo.

— Isso explicaria muita coisa... — murmurou George, agora se aproximando mais de mim, com um sorriso discreto mas cheio de emoção.

Mariano e Reggie trocaram olhares, e logo Mariano se aproximou também, tentando não transparecer a surpresa.

— Isso é... maravilhoso! Você tem que contar ao Pedro!

Meu coração batia forte, e a confusão de sentimentos me invadia. Medo, surpresa, uma felicidade tímida... tudo se misturava em um turbilhão. Saber que havia uma possibilidade real de eu estar grávido me deixava desnorteado, mas, ao mesmo tempo, havia algo reconfortante em saber que essa nova vida estava crescendo dentro de mim.

— Acho que vou precisar fazer um teste para confirmar, mas... — falei, tentando manter a calma, enquanto olhava para George e os outros, que agora me observavam com uma mistura de expectativa e alegria. — Se for verdade, Pedro vai surtar.

Todos riram, quebrando a tensão no ar. Mas, por dentro, eu sabia que esse seria apenas o começo de uma nova jornada para todos nós.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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