Capítulo Trinta e Quatro
Pedro Alves:
A transformação de Connor na pessoa mais poderosa da indústria havia sido rápida e impactante. Sua identidade, antes cuidadosamente preservada, agora estava completamente exposta ao mundo, e ele carregava o peso dessa revelação com uma elegância admirável. O que era uma simples cerimônia de comemoração tornou-se o palco de uma verdadeira revolução empresarial.
Antes que a plateia pudesse sequer digerir a primeira revelação, Elio se levantou novamente, sua postura segura e tranquila como sempre. Ele parecia gostar de estar no controle das atenções.
— Além disso — continuou ele —, alguns dos nossos sócios transferiram 20% de suas ações para Connor. A partir de agora, ele será o presidente do Grupo Wessex, detendo 70% da propriedade.
Elio fez um breve estalar de língua, enquanto os sócios ao redor concordavam, alguns acenando com a cabeça de maneira quase imperceptível. Era uma mudança monumental, e mesmo eu, que sabia parte do que estava acontecendo, senti o impacto dessas palavras.
— Luis também deixou claro que a presidência ficará nas mãos de Connor — Elio prosseguiu, com aquele tom calmo e confiante. — O que significa que eu, oficialmente, me aposentarei da indústria.
Connor, que até então tinha mantido sua compostura imaculada, pareceu por um momento ser pego de surpresa. Não havia sido discutido com ele que a transferência do comando ocorreria ali, diante de todos, e tão rapidamente. A responsabilidade imensa do Grupo Wessex agora repousava inteiramente sobre seus ombros. Eu vi o breve relance de dúvida em seus olhos, mas logo ele se recompôs, exibindo um sorriso sereno para o público. Luis, ao seu lado, apertou a mão do irmão com uma delicadeza que apenas irmãos conseguem compartilhar em momentos de grande pressão.
E então, o que começou como silêncio logo se transformou em aplausos. A sala inteira, ainda em choque, explodiu em uma ovação respeitosa. As crianças da casa Wessex, assistindo pela transmissão ao vivo junto com a governanta e o mordomo, provavelmente ainda tentavam entender a magnitude do que acontecia, enquanto nós absorvíamos a mudança colossal diante de nossos olhos.
Quando os aplausos diminuíram, um repórter aproveitou a pausa e avançou, quebrando o protocolo com uma pergunta direta.
— Posso perguntar como o senhor Wessex nunca mencionou ser casado ou sequer ter filhos? Qual é a verdade por trás dessa revelação familiar? Foi um casamento de negócios?
A sala ficou em silêncio novamente. Eu sabia que essa pergunta viria mais cedo ou mais tarde. Connor manteve-se firme, mas meus olhos se voltaram imediatamente para Elio, cujo sorriso não desapareceu. Ele estava preparado para isso, claro.
— Primeiro, deixe-me esclarecer uma coisa — começou Elio, sua voz firme, mas sem perder o tom amigável. — Nunca fui casado. Nosso relacionamento não foi um casamento de negócios, nem algo que ecoasse os desejos da minha família. Naquela época, eu era jovem, impetuoso e... me apaixonei, simples assim. — Ele deu uma pausa, deixando suas palavras flutuarem pelo salão. — Aceito o fracasso dessa relação, e acredito que esse fracasso me ensinou muito, tanto sobre os outros quanto sobre mim mesmo.
Ele suspirou, e por um momento, parecia estar relembrando um passado distante.
— O pai das crianças uma vez significou muito para mim, mas hoje não é mais do que uma lembrança que prefiro deixar para trás. — O tom dele era firme, mas havia um toque de melancolia. — Deixei que meus filhos seguissem seus próprios caminhos, tomassem suas próprias decisões, e hoje estou muito orgulhoso de quem eles se tornaram. Espero que, daqui para frente, todos possam ser mais respeitosos e não machuquem os outros ao trazer à tona assuntos do passado. E, por favor... mantenham suas bocas fechadas.
Ele terminou com um sorriso, um aviso claro de que aquele assunto estava encerrado. Mas é claro, os repórteres não desistiriam tão facilmente.
— Senhor Wessex, posso perguntar o motivo do rompimento? Foi por causa de personalidades incompatíveis? Ou havia um terceiro envolvido? — outro repórter se atreveu a perguntar, a voz carregada de curiosidade quase mórbida.
Eu senti Sandro, ao meu lado, se mexer, e ele tomou mais um gole de sua taça de vinho. Sabia que o passado de Elio com Gabriel Collins era um tópico delicado, e por um segundo, achei que ele iria até o palco para interferir. Coloquei a mão em seu ombro e apertei levemente, tentando tranquilizá-lo.
— Calma — sussurrei. — Ele consegue lidar com isso.
Elio, com a confiança de alguém que já enfrentou muitos desafios, riu suavemente antes de responder.
— Ah, é uma longa história — disse ele, seus olhos brilhando com um humor leve. — Mas desejo o melhor ao senhor Collins e à senhorita Collins. Eles são muito compatíveis, e só posso oferecer meus votos sinceros de felicidade onde quer que estejam.
Então, com um sorriso travesso, Elio adicionou, quase casualmente:
— Além disso, agora eu passo meu tempo ao lado do meu novo namorado.
A sala ficou em um silêncio quase estonteante por um segundo, até que todos os olhares se voltaram para nossa mesa. Sandro, corado, acenou de volta, e num gesto divertido, mandou um beijo para Elio. O constrangimento estampado em seu rosto era evidente, mas o carinho entre os dois era inegável.
E, com essa revelação inesperada, o salão explodiu novamente em murmúrios e cochichos. O ex-presidente do Grupo Wessex tinha um novo pretendente, e mais uma vez, a noite havia tomado um rumo surpreendente.
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Ainda podia sentir os olhares curiosos e fofocas silenciosas ao nosso redor enquanto Connor, Luis e Elio se sentavam à mesa comigo e Sandro. Não era todo dia que uma revelação como aquela acontecia em público, e os comentários inevitáveis corriam de mesa em mesa. Mas, ali, no círculo íntimo, a atmosfera era bem mais leve.
Connor foi o primeiro a quebrar o silêncio com uma risada discreta e um estalar de língua, claramente aliviado por tudo ter corrido bem.
— Posso dizer que isso foi mais glamouroso do que eu esperava que Reggie fosse capaz de fazer — comentou ele, pegando seu copo de vinho e bebendo um longo gole.
— Ah, Reggie tem muito estilo, ele sabe o que faz — respondeu Elio, entrelaçando os dedos com os de Sandro sobre a mesa, o carinho entre eles mais evidente a cada segundo.
Do outro lado da sala, Reggie estava ocupado tirando algumas fotos da decoração com Marcelo ao seu lado. Entre cliques e flashes da câmera, trocavam beijos na bochecha, como se estivessem em um ensaio casual de revista. A felicidade deles era contagiante.
Elio olhou para Luis com uma expressão travessa, e eu sabia que uma provocação estava a caminho.
— Então, agora que a festa acabou, quando vocês dois vão organizar oficialmente o casamento? — perguntou, piscando para Luis.
Luis apenas riu e balançou a cabeça.
— Ah, pai, não estamos com pressa. Já moramos juntos, fazemos tudo um pelo outro... Não vejo motivo para correr para o altar. — Ele tomou um gole de seu suco, completamente relaxado.
Connor riu e revirou os olhos de forma brincalhona, claramente mais animado depois de tudo que tinha acontecido. Ele virou o restante do vinho tinto em um único gole, como se estivesse celebrando mais uma vitória.
— Certo, pai, vamos lá — disse Connor, com um sorriso provocador. — Conta pra gente como foi quando recebeu aquela carta do Gabriel.
Elio suspirou, mas havia um brilho de humor em seus olhos. Ele estalou a língua, pensando por um segundo antes de responder.
— Não vou mentir, foi complicado. Eu era cego, insistia em fazer as coisas do meu jeito, deixando o passado me incomodar mais do que deveria. — Ele olhou para os filhos com um sorriso nostálgico. — Mas, sabe, essa história toda, por mais difícil que tenha sido, me trouxe algo pelo qual sou eternamente grato: vocês. Devo agradecer ao Gabriel e à Rafaela por isso, ao menos.
A honestidade nas palavras de Elio pairou no ar, mas de forma leve, sem peso. Era como se, finalmente, ele estivesse em paz com tudo que havia acontecido. No passado, Elio tinha vivido como um príncipe dentro da família Wessex, cercado de luxos e amor. Mas a família Collins, com sua postura rígida e firme, tinha sido a primeira verdadeira barreira que ele havia encontrado. Ainda assim, ele não era ingênuo ou preso ao passado. Ele tinha crescido, amadurecido, e tudo aquilo estava claro agora. Suas experiências o haviam moldado, e o homem sentado ali à nossa frente era muito mais sábio e tranquilo do que aquele jovem impetuoso que um dia ele havia sido.
Nesse meio tempo, Reggie e Marcelo voltaram à nossa mesa, trazendo ainda mais risadas e distrações leves. Reggie, com um sorriso largo, mostrou algumas das fotos que tinha tirado, todas belamente enquadradas, com o salão decorado parecendo algo saído de um filme de época.
— Reggie, você realmente se superou com essa festa — elogiou Connor, folheando as fotos com interesse. — Nem eu pensei que poderia ser tão... glamouroso.
— Bem, é o que acontece quando você me dá carta branca e um orçamento sem limites — brincou Reggie, piscando. — Não poderia decepcionar, não é?
Sandro, ao meu lado, riu e balançou a cabeça.
— Nada como gastar dinheiro com estilo, certo?
Marcelo, ainda com a câmera em mãos, tirou uma última foto nossa juntos, um clique espontâneo e cheio de risos. A noite poderia ter começado com revelações tensas e olhares curiosos, mas naquele momento, tudo parecia leve, como se o peso do passado tivesse ficado para trás, e tudo o que restava era aproveitar a companhia um do outro.
— Ah, falando nisso — Elio se inclinou para frente, segurando Sandro com um sorriso travesso. — Quando será o nosso próximo grande evento, hein?
Sandro riu, vermelho, mas respondeu com um toque de humor:
— Acho que depois de hoje, vamos precisar de um tempo para planejar algo maior ainda... Mas com você, Elio, tenho certeza que nada será pequeno.
O grupo caiu na gargalhada, e por um breve momento, tudo parecia perfeito. Estávamos juntos, compartilhando histórias, risadas e, acima de tudo, um vínculo que só havia se fortalecido com o tempo. A vida, como sempre, teria seus desafios, mas ali, naquela mesa, só havia espaço para alegria e amor.
A gargalhada suave e coletiva reverberava pela mesa, e, por um momento, parecia que o mundo lá fora, com suas pressões, expectativas e desafios, simplesmente não existia. Estávamos ali, juntos, partilhando aquela leveza rara que só a família e os amigos mais próximos conseguem proporcionar.
Reggie, sempre pronto para elevar o clima, balançou a cabeça com uma expressão teatral de exaustão fingida.
— Planejar algo maior? Vocês estão tentando me matar, não estão? — disse, piscando para Marcelo, que apenas riu.
— Relaxa, Reggie — respondeu Marcelo, entre uma risada e um beijo rápido no ombro do parceiro. — Só não planeja um evento com fogo de artifício dentro de casa, ok?
A brincadeira arrancou outra onda de risadas da mesa, e eu pude ver o brilho nos olhos de Connor. Ele estava mais relaxado do que antes, algo que me fazia sorrir por dentro. A pressão de assumir o comando do Grupo Wessex ainda pairava, mas naquele instante, ele parecia livre de qualquer preocupação.
Luis, que normalmente era o mais tranquilo e sério do grupo, se inclinou para frente, sorrindo de canto.
— Bem, se formos falar de eventos grandiosos, o próximo passo seria um casamento, certo? — Ele lançou um olhar significativo para Elio e Sandro, que imediatamente se entreolharam.
Elio riu, com aquele sorriso travesso que só ele conseguia dar.
— Quem sabe... quem sabe — respondeu ele, brincando, enquanto seus dedos ainda entrelaçados com os de Sandro revelavam uma cumplicidade profunda. — Mas, sem pressa, meu querido. Algumas coisas boas acontecem no tempo certo, não é?
Sandro, claramente um pouco embaraçado com o rumo da conversa, riu baixinho e tomou um gole de sua taça de vinho. Ele olhou para mim com um olhar cúmplice, e eu balancei a cabeça em silêncio, aproveitando o humor leve da situação.
Samuel, que até então estava entretido com um jogo no celular, olhou de relance para a mesa e, com a inocência própria de uma criança, resolveu participar da conversa:
— Tio Elio, você vai se casar com o tio Sandro? — perguntou, com a simplicidade desarmante que só as crianças têm.
Todos na mesa congelaram por um segundo, e então, explodimos em gargalhadas. Até Elio e Sandro, pegos de surpresa, não conseguiram segurar o riso.
— Ah, Samuel, você sempre faz as melhores perguntas — disse Elio, limpando uma lágrima de riso do canto do olho. — Quem sabe, quem sabe, meu rapaz.
— Só se o tio Sandro concordar, né? — provocou Connor, lançando um olhar de brincadeira para Sandro, que agora estava completamente corado.
— Vamos deixar esse assunto para depois, ok? — Sandro riu, tentando mudar o foco da conversa. — Que tal planejarmos uma viagem juntos antes de falarmos de casamento?
Luis entrou na brincadeira.
— Agora sim, gostei da ideia! Uma viagem em família para algum lugar exótico... tipo um castelo na Europa! — sugeriu, enquanto Connor assentia com entusiasmo.
— Um castelo? Por que não? — concordou Connor, rindo. — Samuel iria adorar explorar corredores antigos e quem sabe até procurar fantasmas, certo?
Samuel, que agora estava totalmente envolvido na conversa, arregalou os olhos de empolgação.
— Eu vou encontrar fantasmas de verdade? — perguntou ele, com o mesmo brilho nos olhos que sempre tinha quando algo o fascinava.
— Talvez! — respondi, piscando para ele. — Mas só se formos em um castelo bem, bem antigo. Eles dizem que esses lugares estão cheios de histórias antigas e mistérios.
— Uau! — Samuel exclamou, visivelmente animado. — Podemos ir amanhã?
Mais uma rodada de risos tomou conta da mesa. A leveza e a felicidade estavam no ar, e era impossível não ser contagiado pela energia daquele momento.
— Amanhã pode ser um pouco cedo, mas quem sabe em breve? — Connor disse, piscando para Samuel. — Primeiro temos que convencer o tio Elio e o tio Sandro de que essa viagem é uma boa ideia.
— Eu topo, mas só se Sandro aprovar — disse Elio, com um sorriso travesso.
Sandro suspirou, fingindo uma resignação dramática, mas havia um sorriso genuíno em seu rosto.
— Vocês não vão me deixar escapar, vão? — ele disse, finalmente se rendendo à ideia. — Tudo bem, tudo bem. Vamos planejar essa viagem em família. Mas sem fantasmas, ok?
— Combinado! — Samuel respondeu, rindo alto, enquanto todos na mesa trocavam olhares cheios de carinho.
E assim, a noite continuou, repleta de risadas, histórias e brincadeiras. A tensão dos grandes anúncios e revelações já tinha ficado para trás. Agora, o que restava era a alegria de estar juntos, celebrando o que realmente importava: a família, o amor e a certeza de que, apesar de todos os desafios, estávamos prontos para enfrentar o futuro com leveza, humor e muita união.
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Depois de deixar a festa de comemoração, conduzi Connor até a casa do pai dele. A noite estava silenciosa, e o cansaço da festa já pesava em nós dois. Encostei o carro na entrada, e, com cuidado, dei um beijo suave nos lábios de Connor, um gesto de despedida e carinho. Ele retribuiu o olhar, um misto de exaustão e paz. Samuel, já entregue ao sono, estava completamente esparramado na cama de um dos quartos, o que arrancou um sorriso meu. Deixei um beijo suave em seus cabelos bagunçados antes de me retirar.
Assim que saí, senti o peso da responsabilidade retornar como um soco no estômago. Tinha que ir para a agência imediatamente. O descanso que eu tanto ansiava após o evento se desfez no momento em que me lembrei da mensagem urgente que havia recebido.
Cheguei na agência já era uma da manhã, e o prédio estava mergulhado em uma luz que denunciava o caos interno. O escritório da minha mãe ainda estava iluminado, algo que não era raro, mas que me indicava que a situação era séria. Quando me aproximei da porta, pude ouvir vozes elevadas — a repreensão característica da minha mãe, misturada com a de Agnes. Abri a porta devagar, sendo recebido por uma cena familiar de crise.
Vicenzo estava sentado diante delas, parecendo despretensioso, mas seu sorriso malicioso me dizia que ele sabia que tinha feito algo que não deveria. Meu pai estava num canto, em silêncio, como sempre fazia quando as coisas tomavam um rumo sério. Caio, sempre meticuloso, analisava lentamente algumas papeladas na mesa ao lado.
— Irmão, você finalmente voltou para essa nossa profissão divertida — disse Vicenzo, com aquele sorriso de quem nunca leva nada a sério, mesmo em uma situação crítica.
Eu mantive a compostura, deixando que minha expressão assumisse o tom profissional que aquele ambiente exigia.
— Qual é o problema? — perguntei, minha voz fria e direta.
Minha mãe foi a primeira a falar, sua postura rígida denunciando a seriedade da situação.
— Durant deu sinal de vida, e o pior, parece que ele está em contato com sua irmã — disse ela, com um tom de frustração mal disfarçada. — E Vincenzo, em sua infinita sabedoria, foi sozinho até o galpão onde ele estava escondido e quase nos fez perder informações cruciais.
Agnes, ao lado dela, parecia igualmente exasperada, seus olhos fixos nos documentos à sua frente.
— O pior de tudo é que Durant escapou novamente, usando uma nova tecnologia que ainda não conseguimos decifrar — disse Agnes, seu rosto sombrio. — Esses papéis, que encontramos no galpão, sugerem que ele está planejando algo grande... talvez uma bomba. Não temos certeza de onde ou quando.
Caio, sempre o mais calmo, se aproximou e me entregou os papéis que analisava.
— Esses documentos estão em código. Alice está trabalhando em parte deles, e o resto é com você — ele disse, passando-me as folhas. — Precisamos decifrar isso o quanto antes e descobrir a localização da bomba. Além disso, ainda temos que lidar com a questão do traidor dentro da agência.
Suspirei pesadamente, sentindo o peso daquela responsabilidade cair sobre mim como uma tonelada de tijolos. Olhei para os papéis em minha mão, minha mente já trabalhando nas possibilidades, mas algo dentro de mim resistia.
— Eu estou de férias — disse, tentando conter a irritação crescente.
Minha mãe soltou um suspiro, visivelmente cansada, mas ainda firme.
— Oficialmente, você está de volta. — Sua voz era autoritária, mas havia um toque de compaixão em suas palavras. — E pelo visto, ficará por alguns dias até conseguirmos colocar tudo no lugar. Avise Connor e a família dele para ficarem em alerta. Durant e quem quer que esteja ajudando-o podem estar de olho nos passos deles nos últimos dias. Vou mandar agentes para vigiar a cidade e garantir a segurança deles.
A atmosfera no escritório ficou gelada. Um calafrio percorreu meu corpo ao pensar no perigo que rondava Connor e Samuel. Durant era imprevisível, e eu não podia arriscar. Sentia o dilema crescendo dentro de mim. Minha mãe percebeu.
— Pedro — começou ela, sua voz suavizando um pouco. — Eu sinto muito por te chamar de volta tão rapidamente, ainda mais depois de ter te colocado de férias e ter confiscado suas armas. Quero que seja sincero comigo. Se não estiver pronto para voltar agora, podemos encontrar outra solução.
Ela se sentou e entrelaçou os dedos, seus olhos me analisando com uma expressão de preocupação sincera. O que eu mais admirava nela era essa capacidade de ser firme e, ao mesmo tempo, saber quando ceder.
Pensei por um longo tempo. Olhei para todos na sala — meu pai, sempre silencioso, mas uma rocha de apoio; Agnes, com sua seriedade sombria; Vicenzo, que sempre conseguia se meter em problemas; Caio, meticuloso e focado. Finalmente, suspirei.
— Não tenho certeza — comecei, minha voz baixa. — Mas se for pelo bem da agência... e da nossa família, eu posso fazer isso.
Minha mãe assentiu, fechando os olhos brevemente, como se estivesse aliviada pela minha decisão, mas ainda cautelosa.
— A decisão é sua — disse ela, com uma leveza que não costumava demonstrar. — Mas qualquer que seja, estamos prontos para te apoiar.
Eu não respondi de imediato. Apenas me virei e segui para minha sala, sentindo o peso da escolha sobre os meus ombros. Assim que entrei, liguei o computador, o brilho da tela iluminando o espaço escuro. Os documentos que Caio havia me dado estavam em minhas mãos, e a realidade de que eu estava de volta, que aquele era o meu lugar, finalmente se firmou.
E assim, comecei a ler os documentos, mergulhando de volta naquele mundo que, de certa forma, nunca me deixou realmente.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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