Capítulo Quarenta e Quatro

Connor Wessex:

Três semanas depois....

Quando Pedro finalmente se recuperou e pudemos voltar para a cidade, parecia que estávamos voltando a um ritmo normal – ou pelo menos ao que passava por normal na nossa vida. Ele começou a trabalhar na parte interna da agência, algo que nos trouxe um alívio tremendo. O perigo, agora, parecia mais distante, e eu podia respirar mais tranquilo sabendo que Pedro estava seguro e perto de casa.

Mas é claro, a vida com crianças nunca é completamente tranquila. Samuel, por exemplo, estava começando a se ajustar aos estudos. Porém, fazer amigos não foi exatamente uma prioridade para ele. Quando perguntei o motivo, ele apenas deu de ombros e disse, com aquele tom meio filosófico que às vezes adotava, que as outras crianças "não entendiam o estilo dele". Ah, Samuel e seu jeito único de ver o mundo....

Como o pai dedicado que sou, não deixei isso passar. Dei algumas dicas, mostrei o valor de se conectar com as pessoas, mesmo que elas sejam diferentes. E, aos poucos, ele foi cedendo. Apesar disso, ainda vejo como ele trata alguns dos colegas com uma certa indiferença, especialmente em atividades de grupo. Não posso forçar essas coisas, mas sei que, com o tempo, ele vai entender que as diferenças podem ser a melhor parte das amizades. Ou, pelo menos, espero que ele chegue lá.

E aí, claro, tem a Bella. Minha pequena guerreira, que agora começou o ensino médio. Logo no primeiro dia, quase tivemos um desastre. Um garoto achou que seria engraçado provocá-la... Mas ele definitivamente não sabia com quem estava lidando. Bella, sendo quem é, não pensou duas vezes antes de colocar o rapaz no lugar. Infelizmente, ou talvez felizmente, dependendo de como você olha, isso acabou com Pedro tendo que ir à escola para conversar com a direção.

No fim das contas, Pedro usou toda a sua habilidade e charme para resolver a situação com a inteligência e calma pela qual a nossa família já é conhecida. O jogo virou, e a família do rapaz, que inicialmente havia se comportado de maneira superior, acabou sendo a que teve que se explicar. Pedro tinha esse dom – resolver crises com um sorriso e um olhar afiado.

Mas, apesar de entender e até admirar a atitude de Bella, eu sabia que precisava dar uma lição. Então, ela acabou de castigo por alguns dias, sem os seus aparelhos eletrônicos. Claro, isso só aconteceu porque Gisele e Agnes insistiram que eu fosse mais firme. Honestamente, parte de mim já estava pronto para devolver tudo no dia seguinte. Afinal, eu sabia que Bella tinha agido por impulso, e embora precisasse aprender a controlar isso, não poderia negar o quanto admirei a coragem dela.

Assim, ali estava eu, tentando equilibrar disciplina e amor, tentando ser justo enquanto também mostrava que estava sempre do lado deles. Era assim que nossa família funcionava – um equilíbrio delicado entre amor, firmeza e compreensão.

E mesmo com os pequenos desafios diários, não havia um único momento em que eu não olhasse para Pedro, Samuel e Bella e pensasse: essa é a vida que eu escolhi, e essa é a vida que amo.

**********************

Enquanto olhava novamente para as opções de roupas que Luiz havia escolhido para seu casamento, não pude deixar de sorrir. Ele estava tão sobrecarregado que, depois de muito tentar fazer tudo sozinho, finalmente decidiu pedir ajuda ao nosso pai. E, claro, assim que soube que um dos filhos precisava de sua assistência, nosso pai não hesitou em pular em um avião e vir ao resgate. Esse era ele – sempre pronto, sempre presente.

Zahra, que estava ao meu lado, olhou para a foto das roupas e assoviou, apreciando o estilo.

— Seu pai sabe mesmo como dar estilo a qualquer coisa, sem exceção — disse ela, soltando uma risada divertida. — Mas me conta, e quanto às suas escolhas para o casamento? Tenho algumas ideias incríveis que sei que você vai adorar.

Suspirei, pensando nas inúmeras sugestões que já haviam sido feitas.

— Na verdade, minha sogra e meu pai estão me mandando várias ideias — comentei, mostrando a tela do meu celular cheia de arquivos e pastas dedicados à organização do casamento. — Os dois resolveram se unir e colaborar para ver o que me agrada. Fico feliz que estão fazendo tudo o que peço, sem maiores dramas.

Zahra soltou uma risada pensativa.

— Achei que iria ser uma briga! Meus pais e os da minha esposa quase entraram em guerra na organização do nosso casamento — disse, balançando a cabeça com uma expressão de quem lembrava de uma batalha antiga. — Acho que depende das pessoas. Mas me diz, como está tudo para o futuro bebê?

Olhei instintivamente para minha barriga. Ainda não havia qualquer sinal visível, afinal, estava só com um mês e meio. Mas a ideia de que já havia uma vida crescendo ali me fazia sorrir.

— Está tudo bem por enquanto — respondi, com um sorriso suave.

Zahra me olhou com um olhar perspicaz e um sorriso discreto.

— O que foi? — perguntei, rindo da sua expressão.

— Você acha que vai ser menina ou menino? — perguntou ela, curiosa. — Não importa o que vier, só de se parecer com você ou com o Pedro já será uma criança linda.

Dei uma risadinha e respondi com uma provocação:

— E se for uma mistura de nós dois?

Ela cruzou os braços e balançou a cabeça, pensativa.

— Nesse caso, será uma criança mega linda — ela respondeu, brincando. A ideia me fez sorrir ainda mais. Imaginar como nosso bebê seria era um daqueles devaneios gostosos que eu não conseguia evitar. A curiosidade estava sempre lá, mas o mais importante era que ele ou ela estivesse saudável e feliz.

— Que tenha um pouco da minha personalidade já seria lucro — comentei, rindo, e Zahra concordou com uma risada.

— E você já se resolveu sobre quem vai cuidar do bebê quando vocês estiverem ocupados? — ela perguntou, mudando levemente o rumo da conversa.

— Não tenho dúvidas — respondi. — Bella já é mais do que experiente para ajudar com as crianças, e a família está sempre por perto. Só ainda não consigo acreditar que aquela garota é realmente irmã do Pedro.

Zahra riu suavemente, balançando a cabeça.

— É difícil negar a semelhança, não é? Basta olhar para a sua sogra, e fica claro de onde vem a aparência da Bella.

Eu ri. Não havia como negar a verdade. Era sempre mais fácil dizer que Bella era minha cunhada do que explicar toda a história familiar.

— Fazer o quê, minha sogra faz filhos lindíssimos — brinquei, e Zahra ficou em silêncio por um momento, me olhando como quem processa a informação.

— Mudando de assunto... — Zahra disse, claramente pronta para uma nova fofoca. — Você já soube das fofocas sobre o Mariano e o Magnum? Será que eles estão juntos? Preciso saber, sou a fã número um desse casal!

Eu ri, lembrando das notícias e das fotos que circulavam. Mariano e Magnum tinham uma relação pública que gerava muitos rumores. As interações amigáveis, os gestos carinhosos... era difícil ignorar o que estava acontecendo ali.

Suspirei e estalei a língua. — Sinto muito, sei tanto quanto você. Acho que vamos ter que esperar para ver, como todos os outros olhos curiosos por aí.

Zahra bufou, claramente frustrada, mas não insistiu. Voltamos para nosso almoço e nosso intervalo, deixando as fofocas de lado, pelo menos por enquanto.

*****************************

Andávamos pelas ruas após visitar a vigésima loja de decoração, e eu não podia deixar de sorrir ao ver Pedro, Samuel e Bella ao meu lado. Zahra sempre dizia que éramos um casal bonito, que atraía olhares por onde passávamos, e, com Samuel e Bella juntos, era impossível não notar a nossa pequena família. Eles tinham essa energia que irradiava, algo que fazia todos ao redor prestarem atenção, mesmo sem querer.

Pedro, sempre atento, estendeu a mão e me puxou pelo ombro, me abraçando de leve. O sol poente tingia seu rosto com um tom dourado suave, e naquele momento, ele parecia ainda mais lindo, como se fosse impossível ignorar o quanto a vida ao seu lado era boa.

Eu sabia que tinha feito a escolha certa em relação ao casamento, mas Gisele e meu pai definitivamente fariam questão de estar envolvidos, como sempre. Eles não iriam perder a chance de ajudar com cada pequeno detalhe.

— O que vocês querem comer? — Pedro perguntou casualmente, após sairmos de mais uma loja.

— Qualquer coisa — responderam Bella e Samuel ao mesmo tempo, com aquele tom preguiçoso típico de quem está cansado demais para pensar.

Eu ri por dentro. Eles podem até não querer admitir, mas são idênticos quando se trata de situações como essa.

Pedro, sempre paciente, sorriu para os dois e sugeriu: — Que tal algo ocidental?

Bella, como sempre direta, deu de ombros. — Pode ser. Estamos com fome, então qualquer coisa serve. Mas me diz, por que você nos trouxe junto, mesmo? — perguntou ela, meio desconfiada.

— Vai ser uma festa em família. Vocês têm que fazer parte das escolhas — respondi, observando a pulseira que Samuel tinha no pulso, distraído com a simplicidade daquele momento familiar.

Pedro riu e acrescentou: — Mesmo que não gostem de estar perto da família, pelo menos tentem demonstrar alguma emoção.

Soltei uma risada, sabendo que Bella e Samuel tendiam a ser mais contidos.

— Pai, você não costumava ser assim com as coisas também? — Samuel perguntou, curioso, com aquele jeito meio perspicaz que só ele tem.

— Nesse caso é diferente — Pedro respondeu, tentando não se complicar, mas claramente vendo onde a conversa estava indo.

Samuel, no entanto, não desistiu fácil. — Como assim, diferente? Não é o que você fazia sempre que a vovó Gisele ou qualquer pessoa da família organizava algo?

Bella, com aquele toque de sarcasmo típico dela, respondeu antes de Pedro: — Você vai entender com o tempo, Sammy. O papai é meio doido com certas coisas.

Eu ri, balançando a cabeça, sabendo que ela estava apenas provocando, mas para evitar que a discussão tomasse outro rumo, intervim.

— Tenho um ótimo lugar em mente para jantarmos — anunciei, me virando para eles com um sorriso. Felizmente, isso cortou a tensão no ar, e seguimos em frente em direção ao centro comercial.

Quando chegamos à entrada, Pedro parou de repente, como se tivesse lembrado de algo.

— Esperem um momento. Vou pegar o carro. Fiquem aqui e me aguardem — disse ele, com aquele jeito cuidadoso que ele sempre tinha. Antes que eu pudesse responder, ele já estava se afastando rapidamente.

Bella olhou para ele, revirando os olhos de leve e chutando uma pedrinha no chão.

— Ele está sendo cuidadoso demais... — murmurou, com um toque de aborrecimento na voz. — Só quero comer algo saboroso. Ser estudante e ainda ter que enfrentar os treinamentos me deixa com uma fome de leão.

Samuel, não querendo ficar para trás, disse com entusiasmo: — Pai, eu vou querer de tudo um pouco. Mereço um monte de sobremesas também, estou indo muito bem na escola e até fiz um amigo novo.

Bella, sempre pronta para uma provocação, aplaudiu com um sorriso travesso.

— Quem diria que você finalmente faria um amigo, hein, catarrento? Parabéns!

Eu ri, sabendo que, por trás das provocações, havia muito amor. Eles podiam implicar um com o outro, mas, no fundo, Samuel e Bella se cuidavam como poucos irmãos faziam.

Enquanto esperávamos por Pedro, um som estranho capturou minha atenção. Levantei o olhar e vi, para meu horror, um carro acelerando em nossa direção. Tudo parecia desacelerar naquele momento, como se o mundo ao meu redor estivesse congelado. Bella e Samuel estavam discutindo, alheios ao perigo iminente, até que o estrondo dos pneus freando invadiu o ar, rasgando o silêncio.

— Corram! — gritei com todo o fôlego, virando-me desesperadamente para Bella e Samuel.

Em questão de segundos, tudo virou caos. Pessoas pularam do carro, e antes que eu pudesse reagir, fui puxado com força para dentro do veículo. Me debati, lutando com toda a força que tinha, mas os braços que me seguravam eram implacáveis. O som dos gritos de Bella e Samuel ecoava na minha mente, seus rostos distorcidos pelo pânico enquanto o carro arrancava, me levando para longe deles.

Dentro do carro, senti o ar pesado. A presença dos sequestradores era sufocante, seus olhares cheios de intenções sombrias cravados em mim. Meu corpo estava tenso, cada músculo pronto para reagir, mas antes que pudesse tentar qualquer coisa, uma tela no banco de trás se acendeu.

Uma mulher de cabelos brancos e olhos castanhos profundos apareceu na tela. Havia algo de perturbador em seu sorriso... algo calculado, frio.

— Connor Wessex — disse ela, pronunciando meu nome com uma precisão que fez minha espinha gelar.

O pânico tomou conta de mim, mas lutei para manter a calma. Algo sombrio estava para acontecer, eu sentia isso em cada fibra do meu ser.

— Quem é você? — perguntei, tentando controlar o tremor na minha voz.

Ela riu, um som que era mais uma afronta do que diversão.

— Heh, você pode não me conhecer, mas eu conheço muito bem você — zombou, seus olhos brilhando com algo perverso. — Eu nunca esperei ter que mostrar meu rosto ao mundo novamente, mas... parece que o destino quis que nos encontrássemos. — Ela estalou a língua, como se aquilo fosse um pequeno incômodo para ela. — É uma honra conhecer o noivo do meu sobrinho.

Minha respiração falhou. As peças começaram a se encaixar.

— Vejo que já ouviu falar de mim — continuou ela, o sorriso se alargando de forma venenosa. — Lilly Alves. Muito prazer em finalmente conhecê-lo, Connor.

O nome reverberou em minha mente. Lilly Alves. Pedro nunca falava muito dela, mas quando o fazia, havia uma tensão em sua voz, como se o simples nome fosse capaz de trazer à tona lembranças dolorosas e perigosas.

Agora, eu estava cara a cara com a mulher que, até aquele momento, era apenas uma sombra nas conversas. O que ela queria de mim? E por que agora?

Cada parte do meu ser gritava em alerta, meu coração batendo furiosamente no peito. Eu precisava descobrir o que estava por trás disso... e, mais do que tudo, precisava encontrar uma forma de voltar para Bella, Samuel e Pedro. Minha família estava em perigo, e eu faria qualquer coisa para protegê-los.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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