Capítulo Dezoito
Pedro Alves:
Quando estávamos nos aproximando do local do evento, percebi que Connor dava uma última conferida em si mesmo, ajustando a roupa impecável que Alice havia escolhido. Mesmo que eu nunca admita em voz alta, ela havia feito um trabalho incrível. A escolha do traje e a maquiagem suave destacaram o melhor dele, realçando ainda mais sua presença marcante.
Estacionei o carro em frente ao hotel e me virei para encará-lo. Ele estava nervoso, e isso me fez sorrir por dentro. Com o braço apoiado nas costas do banco, ele me olhou com uma expressão de expectativa.
— E então, como estou? — Connor perguntou, sua voz carregada de uma leve hesitação, como se realmente precisasse da minha aprovação.
Eu o observei por um momento, apreciando cada detalhe da sua aparência, mas, fiel ao meu estilo, mantive minha expressão neutra.
— Nada mal — respondi, de forma simples.
Connor sorriu timidamente, mas eu podia ver que meu comentário havia atingido o ponto certo. Talvez ele soubesse o peso que aquele elogio carregava vindo de alguém como eu, que raramente verbaliza emoções. E, para ser sincero, ele estava muito mais que "nada mal". Ele estava deslumbrante, e a confiança que Alice havia ajudado a construir em sua aparência agora transbordava dele.
De repente, sem aviso, Connor se inclinou e me envolveu em um abraço apertado, o tipo de abraço que transmitia uma mistura de agradecimento e afeto.
— Pedro, me desculpa por não ter respondido antes sobre sair com você e Samuel... — ele começou, a voz mais suave do que o normal. — Mas eu adoraria passar esse tempo com vocês.
Antes que eu pudesse responder, ele se aproximou e, com delicadeza, selou seus lábios nos meus. Foi um beijo rápido, mas cheio de sentimento. Eu, por impulso, o puxei para mais perto, aprofundando o beijo, como se quisesse prolongar aquele momento um pouco mais.
Mas a realidade logo nos puxou de volta, e relutantemente, o soltei. Connor precisava ir, o evento o aguardava. Ele me deu um último sorriso antes de sair do carro e caminhar em direção ao hotel. Eu o observei se afastar, meu coração batendo mais rápido do que eu esperava. Havia algo no jeito que ele olhou para mim, no beijo que compartilhamos, que fez meu peito se aquecer de uma maneira que eu não sentia há muito tempo.
Assistir Connor caminhar para longe foi um momento cheio de um calor suave que me envolveu completamente. Após lutar sozinho por tanto tempo, essa foi a segunda vez que senti algo tão profundo e reconfortante, desde o nascimento de Samuel.
Suspirei, observando a entrada do hotel por mais alguns segundos antes de ligar o carro novamente e dirigir de volta para casa.
Quando cheguei em casa, encontrei Samuel brincando com o gatinho de estimação, enquanto Alice, como sempre, estava entretida no celular. A cena era tranquila, e o som suave das risadas de Samuel ecoava pela sala, criando um ambiente de paz que eu sempre valorizava ao voltar para casa.
— Que milagre os outros não estão com você — comentei, jogando-me no sofá ao lado dela.
Alice olhou para mim, com um sorriso relaxado, e colocou o celular de lado. — Eles sabem que sou perfeitamente capaz de ser a babá oficial do meu adorável sobrinho e do bichinho dele. Além disso, estou aproveitando para ficar um pouco mais tranquila.
Eu soltei uma risada curta. — Você diz isso, mas parece estar bem à vontade com seu "trabalho" por aqui — provoquei. — Mas, vai lá, me diz de uma vez: o que foi que o Caio fez desta vez para te irritar?
Alice suspirou profundamente, soltando toda a frustração de uma vez. — Eu simplesmente não suporto como ele tenta se sentir superior em cada missão que fazemos. E quando ele não segue meus planos, ou qualquer plano que seja, age como um completo palhaço. — Ela cruzou os braços, como se revivesse o aborrecimento. — Seria pedir demais o Vincenzo substituir o Caio por um tempo? Você comanda a agência, poderia fazer essa transferência acontecer.
Inclinei-me para frente, observando o rosto dela. — Alice, você sabe que ele sempre foi assim, meio cabeça dura. Mas se ele realmente te incomodou tanto, ele deve ter feito algo ainda mais idiota dessa vez, certo? — perguntei, suspeitando que havia mais por trás daquela irritação.
Ela olhou para mim de lado, hesitante. — Sim, tem a ver com aqueles dois que escaparam da prisão da agência. Desde então, Caio está paranoico, desconfiando de qualquer pessoa que passa perto dele. É irritante, e confesso que sinto uma vontade enorme de dar um soco na cara dele. Pedi para o Vincenzo falar com ele, mas duvido que vá adiantar alguma coisa.
— Por que não pede ajuda da mãe? Ela sempre consegue acalmar o Caio quando ele está fora de si — sugeri, lembrando como nossa mãe tinha uma paciência impressionante com ele.
Alice balançou a cabeça com um suspiro exasperado.
— Já tentei. Falei com ela logo que chegamos de madrugada na cidade. E sabe o que ela disse? Que eu preciso ser paciente, que tudo vai se resolver com o tempo. — Alice abraçou os joelhos, parecendo desgastada. — Às vezes, não consigo entender como ela aguenta tanto. Só de ficar um pouco de tempo com ele, eu já fico à beira de explodir.
Acariciei os cabelos dela de leve, surpreendendo-a com o gesto.
— Você já suportou bastante até agora. Talvez seja cedo para tomar atitudes drásticas. Dá tempo ao tempo, Alice. Você vai encontrar uma solução. — Tentei transmitir confiança na minha voz, enquanto ela me olhava, desconcertada.
— O que foi isso? — Ela riu, incrédula. — Você... me consolando e com um sorriso no rosto? Isso é realmente estranho, Pedro.
Revirei os olhos, tentando não me deixar afetar pela provocação. Do outro lado da sala, Samuel riu, entretido com o gatinho.
— Eu sou capaz de sorrir de vez em quando — respondi, sem dar muito peso à fala. — Só porque geralmente sou mais quieto, não significa que não tenha emoções. Só não costumo demonstrá-las o tempo todo.
— Mas você nunca mostrou tanto quanto agora! — Alice retrucou, cruzando os braços e me lançando um olhar curioso. — Posso dizer com certeza que Connor está mexendo com você. Nunca te vi tão leve, tão... diferente.
Ela se levantou, ainda rindo, e chamou Samuel para decidir o que fariam para o jantar. Fiquei ali por alguns segundos, em silêncio, refletindo sobre suas palavras. Havia verdade nelas, e embora eu não estivesse pronto para admitir, sabia que Connor estava, sim, mudando algo dentro de mim.
O gato veio até mim, ronronando, e o peguei no colo, acariciando sua cabeça. Aquela simples interação me trouxe uma sensação de calma, um contentamento que há tempos não sentia com tanta intensidade.
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A disputa para decidir o jantar começou de maneira previsível. Alice, sempre brincalhona, tentava convencer Samuel a escolher algo divertido para comer, como se o desafio fosse uma parte essencial da noite.
— Vamos, Samuel, me diz o que você quer comer com aquela sua carinha fofa de filhotinho! — Alice provocou, sorrindo e cruzando os braços, enquanto Samuel a olhava com os grandes olhos inocentes que ele sabia usar tão bem.
— Eu... acho que pizza seria uma boa ideia — ele disse com um sorrisinho travesso, os olhos brilhando enquanto usava seu charme.
E, para minha surpresa — e frustração — eu estava completamente rendido. Nunca pensei que fosse sucumbir tão facilmente ao poder de persuasão de Samuel, mas lá estava eu, sendo manipulado pela sua carinha adorável.
— Acho que pizza é uma excelente escolha — falei, tentando disfarçar minha derrota.
Alice riu alto, sacudindo a cabeça.
— Sabia que você não resistiria a ele. Está vendo, Pedro? Ninguém escapa do poder do Samuel!
No final, pedimos duas pizzas, e a noite seguiu tranquila e cheia de risadas. Samuel estava empolgado, contando suas aventuras com o gatinho, enquanto Alice lançava olhares provocadores na minha direção sempre que eu sorria. Quando terminamos de comer, Alice finalmente decidiu ir embora, mas não sem uma última provocação.
— Vou contar para todo mundo que vi o Pedro sorrindo de verdade hoje. Isso é algo raro! — Ela riu, já saindo pela porta, enquanto eu internamente a xingava. Samuel, sentado ao meu lado, olhava para mim com curiosidade.
— Papai, você sorri bastante quando está com a gente — ele disse com simplicidade, e aquelas palavras inesperadas me fizeram sentir um calor no peito.
Mais tarde, quando coloquei Samuel na cama, fiquei pensando nas palavras dele, tentando entender o que isso significava para mim. Talvez eu estivesse mudando mais do que imaginava.
Deitado, peguei meu celular e enviei uma mensagem rápida para Connor, perguntando como tinha sido o evento. A resposta não demorou muito. Ele descreveu o leilão como "chato" e "entediante", o que me fez sorrir.
— Honestamente, eu teria preferido ter passado o resto do dia com você e o Samuel — Connor escreveu.
Meu coração acelerou com essa simples confissão. Eu me controlei para não agir de maneira impulsiva, mas era difícil disfarçar o impacto que aquelas palavras tiveram. Olhei para meu reflexo na tela do celular, tentando me acalmar. A imagem que vi ali, no entanto, parecia diferente. Não era apenas serenidade, havia algo mais. Talvez, finalmente, eu estivesse entendendo o que minha família sempre falava — que às vezes, eu parecia quase um boneco, sempre calmo e controlado. Mas com Connor, algo estava mudando, e eu não sabia bem como lidar com isso.
Deixei o celular de lado e fechei os olhos, tentando me concentrar no sono. Mas as palavras de Connor e a ideia de que ele gostaria de passar mais tempo comigo continuavam rodando na minha mente, e, por um breve momento, eu me permiti sonhar com o que aquilo poderia significar.
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Na manhã seguinte, acordei e imediatamente estranhei o silêncio que tomava conta da casa. Não era comum um ambiente tão calmo com Samuel por perto. Desci as escadas devagar, curioso, e o encontrei sentado à mesa, com um prato de panquecas à sua frente. O garoto parecia radiante, muito mais do que o habitual.
— Papai, olha só! Tio Connor veio fazer o café da manhã! — Samuel disse, com um sorriso tão grande que seus olhos quase sumiram.
Antes que eu pudesse processar, ouvi uma voz familiar vinda da cozinha.
— Eu sei que não deveria ter aceitado a chave da sua casa quando sua avó Gisele me entregou ontem, mas foi por um bom motivo — Connor surgiu com mais um prato de panquecas, usando um avental e uma rede de cabelo que o faziam parecer mais um chef casual do que alguém que acordou cedo por vontade própria. — Ela me contou que você estava com desejo de panquecas e que foi muito bem nos seus estudos, então, achei que isso poderia ser um presente de café da manhã.
Connor colocou o prato na mesa com um sorriso orgulhoso, enquanto Samuel já se preparava para devorar mais.
— Também quis dar um descanso para o seu pai, deixá-lo dormir mais um pouco — Connor piscou, como se aquilo fosse algum tipo de plano secreto entre ele e Samuel.
— Bom dia — eu disse, entrando na cozinha e sendo recebido por dois sorrisos enormes.
— Bom dia, papai! — Samuel repetiu, sua alegria contagiante.
Beijei a testa do meu filho e fui direto para a cozinha, pegar uma xícara de café. Enquanto isso, Connor olhava com uma expressão que misturava diversão e algo mais que eu não conseguia identificar completamente.
— Não precisava fazer tudo isso, Connor — comentei enquanto servia meu café. — Você vai se atrasar para o trabalho e ainda tem que buscar seu irmão no aeroporto.
— Ah, isso não é nada. Eu devia a vocês um tempo a mais. E sua mãe, Gisele, me deu uma chave, então aproveitei a oportunidade. — Connor riu e pegou sua própria xícara de café. — E, além disso, quem pode resistir às minhas panquecas? Elas são famosas. Todo mundo que provou adorou.
Ele passou por mim, indo para a sala de jantar, deixando-me por um segundo parado, refletindo sobre como momentos simples como esse, com nós três juntos, pareciam tão... perfeitos. Samuel, claro, estava no centro de tudo, animado, tagarelando sobre coisas aleatórias, enquanto Connor o incentivava com respostas leves e brincalhonas.
Quando Connor finalmente deu uma olhada no celular, percebeu que o tempo tinha passado mais rápido do que ele esperava.
— Droga, vou me atrasar! — Ele riu e rapidamente beijou a bochecha de Samuel, que se contorceu em risos. Então, antes de sair, Connor se virou para mim, e, com um sorriso travesso, plantou um beijo rápido na minha bochecha.
Eu não consegui esconder minha surpresa, o que o fez rir ainda mais.
— Ei, lembra o que me disse: nada de dar esperanças na relação! — Connor disse, em tom brincalhão, claramente se divertindo com minha indignação.
Antes de sair, ele se abaixou para fazer carinho no gato, ainda sorrindo.
— Até mais tarde — falou com um aceno, deixando a casa com uma energia leve, que parecia se estender ao resto do dia.
Fiquei parado por um momento, um sorriso involuntário surgindo no meu rosto. Aquele início de dia foi diferente de tudo que eu estava acostumado, e, pela primeira vez em muito tempo, me permiti aproveitar cada segundo.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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