Textinho ^-^

"Queria saber quando comecei a ser uma pessoa que gosta de levantar cedo, na verdade, eu não gosto, mas eu faço de tudo pela minha paixão. Acordo todos os dias às cinco e meia da manhã, às seis peço o meu cappuccino com canela, depois de meia hora, termino a minha bebida e vou embora da cafeteria.

Sempre caminhei sem rumo, somente observando as pessoas ao meu redor, gosto de observar elas, ver a rotina delas. As crianças de uniforme andando até as suas escolas, os adultos no telefone, algumas pessoas caminhando até o metrô, correndo atrás do ônibus, e para os mais ansiosos, chamando o táxi para dirigir até o seu trabalho.

Eu sempre faço isso, sem nunca esquecer o meu caderno de anotações, eu anoto tudo o que vejo, pois isso é a minha inspiração. A arte de escrever é incrível, quando eu pude aprender a como colocar todos os meus pensamentos em um papel, nunca mais parei de fazer isso. Quando criança eu desenhava, mais jovem filosofava, agora, mais velho, eu somente escrevo, para tentar fugir da minha realidade.

Não me importo de passar o dia procurando palavras diferentes para colocar em uma simples frase. Minha arte de escrever é mais do que uma simples profissão, faz parte de mim, é algo que eu quero fazer em toda a minha vida, escrever é o que mais amo fazer.

Sento em um banco perto de uma praça e começo a fazer o que eu mais amo, algumas pessoas evitavam passar por perto de mim, mas eu já não ligo mais para isso, existem coisas piores pelas quais já passei na vida.

Nasci na periferia, sempre soube que seria difícil uma vida por lá, desde então, dediquei tudo aos meus estudos. a fome era grande, e a falta de dinheiro era o maior problema da minha casa. Estudei bastante, e trabalhei muito, mas nunca consegui fazer o que eu realmente queria.

Hoje, mesmo com dinheiro e sem fome, ainda me considero uma pessoa infeliz. Eu nunca vou escapar do preconceito das pessoas, muitas ainda vão me humilhar somente pela minha cor de pele, e é muito triste saber que eu só mereço isso por nascer de outra cor.

Sinto uma nova presença do outro lado do banco, olho para a direita e vejo um homem de óculos escuros, observando as poucas pessoas que caminhavam naquele horário no parque.

- O que te incomoda? - Perguntou o homem olhando para o meu rosto - conte-me, talvez eu possa te aconselhar.

- Eu queria ser um escritor, queria publicar meu livro para os outros poderem ler - o desconhecido dá um sorriso - como Carolina Maria de Jesus, conhece?

- Não conheço, me conte sobre ela - disse parecendo interessado - eu gosto muito de ler.

- Ela é uma mulher incrível! Nasceu em uma família pobre, e se mudou com o objetivo de ter uma vida melhor. Teve que morar em um barraco, e se tornou catadora de papel para poder sobreviver, ela anotava nos cadernos dela tudo o que via, mais tarde, Carolina fez daquilo um livro, e ganhou um Best Seller.

- E ela ficou famosa? - Perguntou o que usava óculos - não me lembro de ter escutado sobre ela!

- Na verdade ela não ficou tanto, por ser uma mulher negra, poucas pessoas dão reconhecimento para as suas obras. Os outros livros que a Carolina fez depois, não tiveram tanto sucesso como o seu primeiro.

- Isso é muito triste, ela merecia muito mais.

- Sim, é normal autores negros não receberem seu devido reconhecimento.

- Você conhece Maria Firmina? - Perguntei para o homem da minha direita.

- Não.

- Lima Barreto?

- Não.

- Conceição Evaristo?

- Também não... Nossa achei que soubesse sobre literatura, mas nunca parei pra pensar sobre o pouco reconhecimento de autores pretos.

- Não te culpo por não saber - disse frustrado - os autores negros são pouco valorizados hoje em dia.

- Sim, é uma pena... ei, que tal a gente ir até uma cafeteria e você me conta mais sobre eles - disse se levantando do banco.

- Acho uma ótima ideia - recolho meu caderno e começo a acompanhá-lo."

- Por hoje é só crianças - disse me levantando e fechando o meu exemplar - finalizamos o livro na próxima aula. Antes da aula acabar, alguém pode me dizer quem é o autor desta obra?

- Ele é o Eduardo Francisco da Silva - respondeu um dos meus alunos.

- E alguém sabe me dizer a importância dele?

- Sim professor, Francisco da Silva é um dos maiores escritores da atualidade, todos os seus livros falam sobre a importância de autores pretos na literatura, e lutam contra o preconceito racial ainda existente.

- Exatamente querida, para a semana que vem, eu quero uma biografia completa sobre a vida dele. Até amanhã!

Saio da escola e vou até um restaurante que marquei de encontrar os meus amigos. Quando cheguei lá, cumprimentei todos que haviam na mesa.

- Francisco, meu amigo, como você está? Estou quase terminando o seu livro para as crianças da escola. - Comentei com o meu melhor amigo.

- Eu vou bem e você? - Respondeu a minha primeira pergunta - e o que elas acharam depois de descobrir que você faz parte do livro?

- Elas ainda não sabem, quero que elas descubram por si só depois de fazerem a sua biografia.

- Elas vão pirar, não vão?

- Sim, elas vão.

Bom gente, o texto acaba por aqui, espero que sirva de reflexão para muitas pessoas. Vou ser sincera em dizer que esse texto já teve vários finais, um deles é o motivo da hashtag. Eu tinha imaginado um texto cômico, já a minha amiga um texto mais triste e sério.

Em uma das nossas reuniões para o trabalho, ela falou mais ou menos assim (para o Eduardo) "Olhe para mim, olhe para a cor da minha pele, você acha mesmo que eles iriam querer publicar o livro de alguém como eu?" Então eu brinquei que o cara ao lado dele podia ser cego kkk.

Bom, brincadeiras a parte, eu tenho mais ou menos o rascunho do passado do Eduardo, se vocês quiserem saber comentem para eu ficar sabendo. (Aviso de gatilho)

Bom, eu vou ficando por aqui, e para quem gostou #EuSouCego hehe

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