❤ C A P Í T U L O - D O I S ❤

Olá, voltei mais cedo do que o planejado!

Esse capítulo é gigantesco, nele voltaremos no tempo e conheceremos a relação construída entre Tony e Mia.

Estou ansiosa para saber o que vocês estão achando.

Ah e para embalar esse capítulo aperte o play nessa música que diz muito sobre o momento que eles estão vivendo.

Vou deixar a tradução dela no fim do capítulo.

[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]

Onze anos antes...

MIA

— É a sua mãe de novo? — pergunto ao Tony, quando retorna para o refeitório, pela segunda vez, que ele sai para atender ao telefone desde que chegamos ao hotel no fim do dia.

— Sabe que isso é culpa sua, não é, Mia? — Sorrimos juntos, enquanto pegamos o prato e os talheres sobre a mesa.

— Agora a culpa é minha? Não tenho nada a ver, a Vivi é superprotetora, um pouco paranoica, talvez. — Sempre gostei do modo como ele reage quando acuso sua mãe disso.

Ele balança a cabeça, em uma tentativa de não se afetar com as minhas "provocações" sobre Vivi e eu continuo a falar, enquanto coloco uma generosa porção de asas de frango em meu prato.

— Tanta coisa para herdar do meu pai e logo isso, tadinha da minha prima, vai sofrer muito na vida. Nem quero imaginar como será a vida da Rebeca e do André.

— Ah pode deixar que o cargo de ciumento com as crianças foi preenchido por mim, Mia. — Tony dá de ombros e pisca para mim, antes de seguirmos para a mesa, após nos servirmos.

— Devo me preocupar com a sua sanidade?

— Não acho necessário. Voltando à minha mãe, sabe o quanto ela ama seus filhos e não existe nada de mais nisso. Confesso que a chegada das crianças a deixou um tantinho mais exigente. Não estou reclamando, mas eu poderia ter passado as férias da faculdade lá em casa, bem debaixo das asas dela. Aí você me vem com seus pedidos que não consigo recusar.

Sou persistente e nisso Tony tem razão, mas a vovó também fez seus apelos. No fundo, ele gosta de estar envolvido nas missões e ajudando a vovó Ângela a colocar ordem nas coisas durante essas viagens. O que ele não curte é estar longe dos pais, apesar de que eu também fico com saudade de casa, mas tento focar nos frutos que colhemos ao final de cada uma dessas visitas. Ver as pessoas entregando seus corações a Jesus é algo inexplicável e eu nunca vou me cansar de presenciar esses momentos.

— Tudo bem, admito minha parcela de culpa, se você admitir que está aqui pela vovó também — digo, enquanto olhamos para a senhora elegante do outro lado do refeitório, conversando com os organizadores da nossa viagem.

— Sabe que eu faria qualquer coisa para ver a vovó feliz e sei que você faria o mesmo. É incrível como ela parece a mesma senhora que conheci naquele jantar anos atrás, seu rosto transborda amor e não é apenas por nós que somos seus netos, mas por todos que a cercam. Nunca vou me esquecer de como me recebeu naquele dia, fazendo me sentir importante e parte de algo que sempre sonhei: uma família que me amava.

Fizemos nossa refeição em silêncio. E as lembranças do dia em que conheci Tony vem à minha mente, ele era só um garoto de olhar assustado, que queria se esconder atrás de Vivi e Lucas, um pouco diferente do rapaz que está sentado à minha frente. Vovó Ângela e vovô Miguel o receberam como se já fosse parte de nós e acho que, no fundo, eles sabiam que Deus já o tinha escolhido para nós.

Nunca esqueço da sua admiração quando vovó o abraçou calorosamente na porta da entrada e sua surpresa quando o vovô perguntou se podia chamá-lo de Tony. Dava para ver pelos olhos brilhantes que o garotinho só queria ser parte de algo real e verdadeiro.

— Antônio, quero que conheça minha prima, Mia — Viviane me apresenta ao menino tímido que tenta se esconder atrás dela.

— Oi, garoto. Tudo bem? Sou a Mia, fiz oito anos mês passado, e você, quantos anos tem? Quer conhecer meu irmãozinho, Murilo? É um bebezinho bem fofo.

— Tudo bem, sim... — responde, tímido.

— Calma, Mia. Devagar, tá vendo como assustou ele!? — Lucas tenta me conter, enquanto Viviane nos deixa na sala e vai procurar pelos meus tios.

— Ah! Desculpa, Lucas. — Exibo um sorriso travesso e o encaro. — Devia ter pedido para Deus dar a Vivi um marido que não passasse vergonha em mim e me trouxesse chocolates sempre.

— Você não tem jeito, menina — vovó Ângela ralha, sorrindo.

— Mas é verdade, vovó, ajudei ele e devia ser mais agradecido. — Cruzo os braços sobre o meu peito.

Todos na sala sorriem de mim, mas eles sabem que tenho razão.

A lembrança do nosso primeiro contato me traz um sorriso à face. Naquela ocasião, ele quase não falou nada, em contrapartida eu conversei por nós dois, uma amizade para a vida inteira se iniciou ali. Depois vieram os encontros de família, a viagem para o litoral e quando Vivi e Lucas decidiram adotá-lo, já éramos muito presentes na vida um do outro, mesmo quando morava no abrigo.

Vi através de seus olhos o peso que carregava em sua alma, mesmo pequena, Deus sempre me deu discernimento para certas coisas. Percebi em seu jeito tímido de agir que era muito machucado, fui a única pessoa que Tony conversava abertamente por muito tempo. Ele nunca me contou sobre o seu passado, apenas dizia que havia sofrido coisas que nenhum ser humano, muito menos, uma criança, mereciam passar.

Sua racionalidade me assustou muitas vezes, apesar de também ter sido adotada pelo meu pai e passado por momentos difíceis durante a minha infância, meu mundo sempre foi cheio de amor e desconhecia a dor do abandono. Então, o tempo fez com que fôssemos o contrapeso um do outro, eu com meu mundo colorido e ele com o seu realista.

Um fato que sempre tivemos em comum é a vontade de aprender sobre a grandiosidade de Deus e Seu filho. Passávamos horas e horas falando sobre a bondade e misericórdia de Jesus, lhe contei várias das histórias que aprendi com vovó Ângela. Confesso que me antecipei aos adultos, ensinando a ele muitas coisas ao meu modo infantil de ver a vida. Sempre o fiz rir em nossas orações, porque tenho um jeito especial de pedir as coisas para Jesus, que nunca deixou de me ouvir.

— Vamos dar uma volta, vovó me deixou tomando conta das crianças. — Tony finge um ar de seriedade ao me convidar, após ter uma conversa cheia de segredos com nossa avó.

— O que aconteceu, não iríamos todos juntos?

— Vovó está cansada e, ao contrário dela, os jovens continuam cheios de energia e não esqueceram da promessa que ela fez de deixá-los conhecer um pouco a cidade, antes de começarmos nosso trabalho amanhã.

— Então você será babá das criancinhas? Uau... que responsabilidade, sempre soube que a vovó tinha segundas intenções desde que ela decidiu convencer a Vivi de que esta viagem era uma ótima oportunidade para você. — Dou um tapa leve em seu ombro. — Tem sorte de que todos somos muito responsáveis ou não teríamos sido escolhidos para este trabalho.

— Deus é justo, Mia!

— Claro que é.

Rimos juntos, logo todos estão à nossa volta e caminhamos até o centro da pequena cidade. Poucas pessoas do grupo nos acompanham: três moças e dois rapazes, que conversam sobre a nossa tarefa que se inicia na manhã seguinte, todos estão muito empolgados. Ao amanhecer partiremos para as comunidades ribeirinhas, às margens do rio Xingu, nossa missão é levar a palavra de Deus a essas pessoas.

Talvez pela criação que Tony e eu tivemos, nos tornamos jovens responsáveis demais e confesso que muitas vezes isso pesa além da conta, pois mesmo querendo ser como as pessoas da nossa idade, não conseguimos. Eu, por exemplo, aos dezessete anos, nunca tive um namorado ou sequer uma paixonite adolescente e isso não me afeta como deveria.

Procuro viver cada momento ao seu tempo e ainda acho que essa não é a hora de me apaixonar, tenho muita vida pela frente e nada melhor do que viver um dia de cada vez. Claro que tenho sonhos românticos com um príncipe em um cavalo branco, porém, nas minhas fantasias, ele é respeitoso, tem caráter, é cheio de Deus e quer muito mais que resgatar a princesa, ele quer formar uma família, assim como eu.

Vivemos em um mundo onde é extremamente ultrapassado querer se casar virgem e sonhar com uma união dentro dos termos bíblicos é algo inimaginável. Ainda assim, sonho com tudo isso e não tenho vergonha de professar a minha fé para as pessoas, mesmo que elas riam de mim. Ao menos, estou fazendo o que gosto e servindo da maneira que posso.

Chegamos à praça da cidade, é um lugar muito bonito, arborizado, há flores nativas da região por toda a parte e o perfume delas é um dos melhores que já senti na vida. Paramos um momento sobre a pequena ponte sobre a fonte para observar a água jorrar pelos chafarizes com luzes coloridas e nossos colegas se afastam, nos deixando para trás.

— Aqui é tão lindo, um verdadeiro contraste com o restante da cidade. — Não consigo conter a excitação em minha voz ao me encostar no corrimão da ponte de concreto.

Tony está bem próximo a mim e nossos braços se tocam a qualquer movimento, há um belo sorriso em seu rosto. Seus cabelos encaracolados e mais longos que dos garotos da idade dele costumam usar, estão bagunçados de um jeito que o deixa muito charmoso, ele inspira profundamente antes de falar.

— É incrível como esse som tem efeito tranquilizante sobre as pessoas. — Ele segura a minha mão um pouco antes de fechar os olhos e observo a serenidade em seu rosto.

Envolvida pelos sons e cheiros, também fecho os olhos e deixo que o perfume da noite preencha o meu peito, o som tranquilo da água entra pelos meus ouvidos, uma brisa leve faz com que meus cabelos se esvoacem pelo rosto e não me importo. A mão quente de Tony segurando a minha faz com que me sinta em casa, pois ele tem sido o meu abrigo nos momentos tempestuosos pelos quais passei nos últimos anos, assim como fui o dele.

Inspiro profundamente e, além das notas florais, a brisa trouxe o perfume familiar do rapaz ao meu lado e sinto um reboliço em meu peito. Resolvi ignorar, por ora, e aprecio a liberdade que meu coração sente nesse momento, sou um pássaro voando livremente pelos céus, meus lábios se curvam em um sorriso ainda com os olhos fechados. Noto o ar ficar mais denso, ouço uma respiração descompassada que não é a minha, o toque leve das mãos de Tony desperta algo que não estou habituada a sentir.

Abro os olhos e ele me encara tão profundamente, que seria capaz de ler todos os segredos da minha alma. Seus olhos cor de mel sempre me fascinaram, mas essa noite especialmente estão mais lindos que o normal, é como se eles quisessem me contar algo, as batidas do meu coração aceleram e, de repente, parece ter uma orquestra inteira fazendo morada em meio peito. É o Tony, não devia me sentir assim.

— Vamos? — Solto a mão dele e começo a caminhar encabulada com o que acabou de acontecer entre nós.

Encontramos com o pessoal, conversamos um pouco com eles por um tempo e depois novamente ficamos sozinhos. E me vejo sem palavras diante do meu melhor amigo, logo eu, a pessoa que mais fala nesta vida.

— Aceita uma pipoca? — Ele quebra o silêncio constrangedor entre nós.

— Sim.

Nos sentamos em um banco no centro da praça e tento apagar o momento que tivemos há pouco. Faz um tempo que não temos tempo para conversar pessoalmente e é isso que deveríamos fazer agora, não ficar nesse silêncio esquisito. Desde que Tony entrou na faculdade, tudo é tão corrido e nos falamos apenas por telefone, com as minhas provas do vestibular os últimos meses foram bem tensos. Melhor esquecer o que quer que tenha acontecido naquela ponte e fazer o que os amigos fazem.

— E como está a faculdade? — pergunto, por fim.

Tony evita olhar para mim e demora um pouco a responder, quanto o faz, sinto sua voz diferente do que estou acostumada a ouvir. É como se ao ultrapassarmos aquela ponte uma barreira desconhecida tivesse sido quebrada entre nós e comecei a ver coisas que antes não fazia ideia de que estavam ali.

— Puxada demais, tem dias que eu quero desistir sabe?! — Percebo que tenta se concentrar no que diz. — É muita lei para estudar, e o pior é que tudo está em constante mudança. Tenho pedido muito a Deus que me dê a força necessária para continuar. Papai está tão feliz desde que comecei e é o que sonhei para minha vida. Cheguei tão longe, não faz sentido desistir agora.

— Ah! Você vai conseguir, é muito inteligente. Passou na universidade federal, vamos ser exemplos para esta geração da nossa família, assim como nossos pais são para nós até hoje.

Novamente o silêncio reina entre nós, ele se mexe no banco ao meu lado e me empenho em fazer o que sei de melhor: convencê-lo me seguir em meus sonhos, mesmo que não sejam os dele.

— Existe alguma possibilidade de que quando você terminar a faculdade, possa me seguir nas missões pelo mundo, nem que seja por um período curto?

Tony arqueia a sobrancelha, a mão direita vai para a testa, enquanto pensa no que me dizer, apesar de eu já saber de sua resposta. Não é a primeira vez que temos essa conversa e acredito que não será a última. Não está nos planos dele viajar pelo mundo comigo, mas estou trabalhando em um plano de vencê-lo pelo cansaço.

— Sabe o que penso sobre isso, Mia. É louvável o que você quer para sua vida, mas não é como gostaria de viver, gosto de segurança e não quero ficar longe de casa. Imagine a reação da minha mãe se eu decidisse ir?

— Garanto que a Vivi ia me trancar numa masmorra.

Aparentemente voltamos a ser os velhos amigos de sempre. Sorrio em pensar na situação, minha prima e eu somos próximas, apesar da diferença de idade, mas ela gosta de ter seus filhos sempre debaixo das suas asas. O amor que dedica à família é tão lindo, que às vezes me pego pensando se serei como ela algum dia.

— Mamãe nunca faria isso, ela ama você e isso até me deixa com uma pontinha de ciúme... — Ele costuma fazer isso, tentar me convencer de que o afeta o fato de Vivi e eu termos uma amizade que vai além do laço familiar, mas é só brincadeira. Tony sabe que no meu coração e no de sua mãe tem espaço para o mundo inteiro.

— Jura que sente ciúme da sua mãe comigo? — provoco, cutucando seu ombro com o meu.

— Um pouquinho assim — ele faz um gesto com os dedos e sorri mostrando as covinhas em sua bochecha —, além disso, você é a mascote do meu pai, apesar de nunca ter deixado de jogar na cara que é a grande responsável pelo casamento dele com sua prima. É tão malvada, Mia.

— Sou nada! O Lucas tem mesmo que ser grato a mim, ele é lindo daquele jeito só porque orei muito.

Adoro o pai dele por fazer minha prima tão feliz e pela família linda que formaram, as ameaças são apenas brincadeiras, preciso garantir meus chocolates de algum modo.

— Sabia que meu pai tem um estoque de guloseimas exclusivo para você? As crianças fizeram uma aposta para ver quem descobre primeiro o esconderijo, mas ele é muito bom em esconder coisas.

Eu soube pelo Murilo dessa aposta e ri muito disso. Meus primos são bem espertos e se Lucas não se cuidar, eles vão roubar todos os meus chocolates sem que ele perceba.

— Meu irmão me contou. Seu pai tem razão em querer me agradar... — Ele faz uma careta engraçada e rimos juntos. — Não faça essa cara, não foi você que passou dias orando para que a Vivi encontrasse um homem de Deus do jeitinho que ela queria! Sua mãe é exigente, querido.

— Agora você cobra pelas orações que faz?

Sua pergunta é despretensiosa, mas é algo na qual tenho pensado, observando os pregadores que têm surgido nos últimos tempos e decididamente não pretendo ser como eles.

— Jamais, eu sempre vou orar e evangelizar por amor — respondo com seriedade.

— Eu estava brincando, Mia!

— Desculpe, sei que sim. A pergunta só me recordou de algumas coisas, sabe. Esse é o meu chamado e vou fazer o possível para levar Jesus ao máximo de pessoas que eu conseguir... Sabe o qual é o meu último pensamento todas as noites?

Encaro o céu estrelado, me emociono em pensar na grandiosidade de Deus e de tudo que sempre fez por mim. Aparentemente, ele interpretou erroneamente a minha pergunta e pela visão periférica o vejo arrumar-se ao meu lado.

— No que pensa? Está apaixonada, senhorita? — Seu tom é brincalhão, mas sinto que há algo além disso em sua pergunta e ele não consegue esconder.

— Sim, estou! — respondo de modo espontaneamente e sua reação denuncia que não estava preparado para essa resposta, Tony tem um acesso de tosse e é inevitável não rir da situação. Continuo a minha fala fingindo não perceber o seu embaraço. — Aliás, sempre fui apaixonada por Jesus, fique tranquilo, quando o homem certo aparecer, você será o primeiro a saber. Todas as noites antes de dormir, eu fico me imaginando pregando em Israel, no continente africano e em todos aqueles lugares remotos.

— Esse é realmente seu sonho, Mia?

Ele, que desde o momento que nos sentamos tem lutado bravamente para não me encarar, se vira para mim e noto seu modo investigativo ser ativado. Tony pensa que não estou fazendo isso por mim e não o culpo por isso.

— Tem certeza de que não é algo que está fazendo apenas para agradar seus pais ou vovô Miguel?

— Não é por eles... — Me concentro no seu rosto bem desenhado, nos olhos que sempre leem os meus segredos. — Quer dizer é um pouco, mas não do jeito errado. Quero isso, é o meu chamado e não posso me desviar dele. Me sinto do mesmo modo que você em relação à profissão que escolheu.

Tony segura a minha mão, sinto como se houvesse uma conexão nova entre nós, ele a acaricia por um momento e me encosto em seu ombro. Ficamos calados. Estou tentando compreender a razão do perfume dele estar mexendo tanto comigo hoje, foco minha atenção em observar a pintura mais perfeita de Deus: o céu cheio de estrelas.

Sei que amigos de verdade não precisam falar sempre, muitas vezes o silêncio é melhor do que uma conversa longa. E o que nosso silêncio me diz agora é algo que pode mudar profundamente a nossa relação.

— Eu tenho medo de você nos esquecer. Não poderia ser igual aos jovens normais, que tem uma profissão tradicional?

Sorri nervosamente, nunca conseguiria ser uma pessoa normal e Tony sabe disso tanto quanto eu. As minhas amigas mais próximas costumam dizer que eu pareço aquelas moças da década de cinquenta, talvez eu seja mesmo e não me importo, sempre encaro como um elogio.

— Nunca conseguiria ser assim... — reflito, correndo os dedos pelas linhas de sua mão.

De algum modo, também tenho medo que a distância possa nos separar. Seu braço entrelaça o meu como se isso fosse impedir que qualquer coisa possa se colocar entre nós. No fundo, sei que ele está realmente preocupado, confesso que isso tem pesado bastante nas minhas escolhas.

Deixar para trás as pessoas que amo não vai ser fácil, só que Deus há de confortar nossos corações quando a saudade apertar. Levanto a cabeça de seu ombro, nossos olhares se encontram e nesse momento sinto que vai ser muito difícil partir, deixando-o para trás. Sei que ainda falta muito para isso acontecer, porém, não consigo evitar essa sensação sufocante.

— Somos amigos aqui no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Nada nunca irá desfazer o que temos. Minha família é a base que me sustenta e isso a gente guarda para sempre aqui — aponto o meu peito —, não tem lugar algum nesta terra que substitua a sensação de estar com que a gente ama.

Noto seu peito subir e descer freneticamente, a respiração acelerar e em contraste às reações de seu corpo, ele sorri para mim. Só que não consegue esconder muito bem, seu modo racional o impede de deixar que eu embarque nesse sonho sem ser contestada quantas vezes ele achar necessário.

— Eu só queria que você ficasse... — Sua voz é um sussurro que exprime tudo o que está sentindo nesse momento e meu coração está dividido entre cumprir minha missão ou ficar próxima das pessoas que amo.

Seus olhos intensos se desviam dos meus, como se estivessem me escondendo algo, ele nunca foi muito bom em guardar segredos de mim. Aliás, nenhum de nós é bom nisso, tento amenizar a sensação de saudade que nos preenche, antes mesmo que eu vá e ainda seja algo ainda distante de acontecer.

— Para com isso. — Bato em seu peito. — Sabe que eu amo você, se começar a fazer esse drama desde agora, como é que eu vou conseguir ir?

Ele sorri, sem jeito, soltando a minha mão e passando o braço pelos meus ombros.

— Você me ama, Mia? — pergunta, sem me fitar, mas há um brilho bonito em seus olhos.

— Claro que sim, você é meu primo, meu melhor amigo.

Apesar de as palavras saírem naturalmente, elas têm um peso diferente.

— Promete que vai se cuidar?

— Prometo.

Tony suspira aliviado e eu não consigo evitar o sorriso. Até parece que partirei pela manhã, meu amigo sempre foi dramático demais. Lembro-me de quando Vivi decidiu adotá-lo e deixou de vê-lo por uns dias, ele pensou as piores coisas e chorou a semana inteira.

Levantamo-nos para encontrarmos com o grupo, a hora marcada pela vovó para voltarmos ao hotel está se aproximando e não gostamos de descumprir seus pedidos.

Há algo diferente na noite, não sei se é o perfume das flores ou o lento balançar das árvores... Olho para Tony e vejo tudo aquilo que sonho em um homem, tento afastar o rumo dos meus pensamentos imediatamente. Seu rosto está sério, a pele morena reluz e ele me estende a mão, por um momento, penso se seria capaz de me beijar, nossos olhares conversam silenciosamente.

Sou puxada lentamente para mais perto e nos abraçamos de um modo que nunca fizemos antes. Me sinto segura com ele, exatamente como gostaria que fosse com a pessoa por quem irei me apaixonar um dia. Ele é meu primo, o que nossa família acharia se acontecesse algo entre a gente? Provavelmente, sentiriam que quebramos a confiança que depositaram em nós.

Tony toca meu rosto assim que se afasta. Como ele pode parecer tão diferente? Quem sabe, todas essas sensações se devam ao pouco tempo que temos tido juntos. É engraçado como a correria do dia a dia nos afasta das pessoas que amamos e até um simples gesto se torna um evento.

Atribuo tudo que estou sentindo ao nosso distanciamento desde que ele entrou na faculdade. Mas não me convenço, porque sempre fui muito transparente, gosto de demonstrar sempre o que sinto às pessoas. Mesmo com toda essa confusão dentro do meu peito, falo as palavras que sempre dizemos um para o outro.

— Amo você, Tony. Obrigada por ser esse amigo incrível!

Seu rosto se ilumina com o que acabo de falar e me dou conta de que posso estragar essa amizade e cumplicidade tão bonita que temos.

— Também amo você, Mia. Deus acertou em cheio ao te colocar na minha vida.

Percebo o significado oculto por trás de sua declaração e é nesse exato momento que decido trancafiar no lugar mais profundo do meu coração tudo o que compartilhamos nas últimas horas.

Tony segura a minha mão, enquanto retornamos ao hotel e o toque tem uma vibração, sinto como se uma cortina tivesse sido tirada dos meus olhos, de fato temos uma conexão especial e isso me assusta muito. Nossas mãos se encaixam de um modo único, há uma linguagem entre elas somente por se encontrarem e não consigo controlar as coisas novas que estão surgindo em meu coração, ainda não estou preparada para isso e ele... ele é meu melhor amigo, não parece certo.

Vou garantir que ele nunca saiba o que esta noite significou para mim, nem o quanto mexeu com os meus sentimentos. Irei me dedicar a partir de agora para que encontre alguém que o faça feliz. Nossos caminhos são opostos, não existe a remota possibilidade que se cruzem em algum momento de nossa vida, pois as escolhas que fizemos se encarregarão de nos afastar.   

O amor nunca falha

O Amor não é orgulhoso

O Amor não se vangloria

O Amor depois de tudo

É o que mais importa

O Amor não é apressado

O Amor não se esconde

O Amor não se mantém

Trancado dentro de si

O Amor é um rio que flui

O Amor nunca falha com você

O Amor vai sustentar

O Amor vai prover

O Amor não cessará

No final do tempos

O Amor vai proteger

O Amor sempre espera

O Amor continua acreditando

Quando você não acredita mais

O Amor são os braços que lhe embalam

O Amor nunca falha com você

Quando o meu coração não fizer mais nenhum som

Quando eu não puder mais voltar

Quando o céu estiver desabando

Nada é maior do que isso

Maior do que isso

Porque o Amor está aqui

O Amor está vivo

O Amor é o caminho

A verdade e a vida

O Amor é um rio que flui

O Amor são os braços que lhe embalam

O Amor é o lugar para onde você vai voar

O Amor nunca falha com você

E ai me contem o que acharam desses dois?

A Mia vai conseguir guardar isso para sempre?

Não deixem de votar no capítulo e convidar os amigos para lerem também.


PS: O LIVRO FICARÁ COMPLETO AQUI ATÉ O DIA 15/11/2021. APÓS ESSA DATA VOCÊ PODERÁ LÊ-LO COMPLETO NA AMAZON.

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