Dedicatória
Ao grande, perfeito e maior amor de toda a minha vida, meu único herói e papaizinho lindo, Ronaldo Alves.
À você dedico minha vida, minha alma, meus pensamentos e minha obra.
Grandiosas são tanto as lembranças quanto as dores que invadem o meu peito ao celebrar esse momento em que lhe dedico mais uma vitória, que é nossa, meu amado incentivador.
Aba, até hoje muito escrevo sobre a nossa história e muitos se emocionam com o amor que partilhamos e com os sonhos que sonhamos juntos, mas me pergunto sobre o que dirão se souberem o quão forte e valente a minha adorada fênix é?
Hei de continuar compartilhando com vocês a minha dor em toda a sua extensão...
— Filha, eu estou com um tumor cerebral e terei que fazer uma cirurgia. Papai precisa que você venha me fazer companhia, pode vir?
Recebo essa notícia por telefone em 17 de janeiro de 2014, é como um soco em meu estômago e sinto vontade de chorar de desespero, não quero acreditar que isso está acontecendo com a pessoa que mais amo em minha vida.
— Sim, papaizinho. Vou a hora que você quiser, quando precisa? Basta dizer e eu aviso nas empresas que vou deixar meus pacientes... Mas como faremos?
— Vou ver aqui e papai te diz. A cirurgia está marcada para 30 de janeiro.
— Estarei com você aí, custe o que custar. – digo.
Desligo e fico confusa sem saber o que pensar, comunico as empresas de home care que trabalho que me ausentarei em breve e repasso todos os meus pacientes, não sei por quanto tempo permanecerei em Aracaju e meu pai é prioridade.
Recebo a ligação do meu pai e a passagem de ida, arrumo minhas coisas, me despeço da minha mãe e padrasto e sigo sem olhar para trás.
Quando chego em Aracaju, no dia 29 de janeiro, corro para abraçar meu pai, que fica exultante ao ver sua filhinha preferida. Seu ânimo me causa estranheza, espero alguma labilidade emocional diante do seu diagnóstico, mas não há nenhum sinal.
Ele está internado em um hospital público e muito bem assistido pelas enfermeiras, tanto é que acaba montando uma espécie de mini escritório para ele com seu notebook e internet móvel.
Ficamos sabendo que a cirurgia é adiada para 07 de fevereiro e nos resignamos a aguardar.
Ana, a namorada do meu pai, decide raspar os cabelos dele, momento que me choca, mas ele está lá forte e sorrindo, até pede para ser fotografado!
Meus plantões no hospital com meu pai são de vinte horas e descanso quatro horas no apartamento do casal, enquanto Ana passa apenas as quatro horas ao lado dele, brigando e infernizando ele, de tal maneira que ele me liga pedindo para eu voltar.
Ana insiste que não devemos contar à ele sobre seu diagnóstico, que é a sua sentença de morte.
— Você conhece o meu pai, ele vai pesquisar os seus sintomas e vai descobrir o que tem, não podemos mentir ou omitir nada. Ele não é demente e precisa saber contra o que está lutando! – digo e mesmo assim ela não concorda e deixa os exames escondidos.
Assim que eu retorno de uma das minhas idas ao apartamento do casal, meu pai está no computador, vira e olha para mim.
— Filhinha, eu sei o meu diagnóstico. Eu tenho o glioblastoma grau 4 e vou morrer em três meses. Quero que me prometa que vai levar o meu corpo para os seus irmãos se despedirem de mim.
Nunca ouvi algo mais terrível em toda a minha vida!
Eu quero que um buraco se abra no chão neste momento, meus olhos se enchem de lágrimas, era como se ele tivesse me dado um forte soco no estômago, me acerta no âmago.
Sinto ódio dos meus irmãos que nem se importam com a situação do meu pai, nem uma lágrima derramam por saber da situação dele, nem um telefonema, nem uma mensagem, nem um "eu te amo" ou "vai passar".
— O corpo é só uma casca.
— Então você não precisa se despedir de mim, mas permita que eles façam.
Isso aumenta o meu ódio.
— Por mim, nenhum deles fará isso! E não diga que vai morrer, pai.
— Prometa para mim, filha.
— Eu prometo. – digo trincando os dentes para não chorar.
Saio do quarto e choro.
Permanecemos sempre juntos e em perfeita harmonia, os irmãos da igreja vem visita-lo e em vez de consolar meu pai são consolados por ele, o ânimo e alegria que ele demonstra deixa todos admirados. Todos no hospital vão conhecendo o Ronaldo da enfermaria, porque ele vai orando pelos outros enfermos, pedindo que Deus interceda no caso específico de cada um e assim vamos conhecendo cada paciente.
Chega o dia da cirurgia, 07 de fevereiro.
Meu pai está em jejum e faço questão de ir junto com a Ana leva-lo até a sala de cirurgia e volto até a enfermaria, dobro os meus joelhos com as mãos sobre o leito dele e oro suplicando à Deus que me devolva meu paizinho, invocando e reivindicando todas as promessas bíblicas de cura e salvação, chorando, clamando e implorando.
— Vá para a casa, Weenny, assim que o senhor Ronaldo sair da cirurgia te ligamos para avisar. – Clara, a enfermeira, tocou em meu ombro e disse.
Agradeço e faço o que ela me recomenda, mas fico impaciente.
Horas depois, ela me liga e diz que a cirurgia está terminada, sigo desesperada para o hospital, mas leva horas até que meu pai suba para a UTI.
Essa espera me deixa alucinada.
Até que nos permitem vê-lo, entramos e ele está com uma atadura enorme do lado direito e assim que me vê, logo me dá a sua mão e sorri, me fazendo perceber que está bem, Ana pega sua outra mão e se desespera ao ver que o acesso sai do lugar e está sangrando, tento fazer com que ela se acalme para não apavorar meu pai ou fazer com que saia.
— Você está bem?
— Um pouco sonolento ainda.
— Logo você vai voltar para a enfermaria, seu lugar está guardado. Nós vamos ter que sair daqui, te amo.
— Está bem. Papai ama.
Saio aliviada e fico exultante de saber que em apenas vinte e quatro horas, meu pai é transferido para a enfermaria e de volta para o leito preferido dele, com todas as enfermeiras em volta porque ele tem sido muito paparicado, elas adoram ele e o tratam com um verdadeiro pai, para a minha felicidade.
Em pouco tempo ele tem alta e voltamos para casa, papai tem pequenas sequelas, ouve zumbidos e as vozes um tanto instáveis do lado direito. Resolve viajar para o Rio de Janeiro para fazer um tratamento e eu volto para São Paulo, depois de passar dois meses em Aracaju.
Meu pai deve fazer quimioterapia e radioterapia, mas em Aracaju não está conseguindo, por isso tenta uma vaga no setor de cabeça e pescoço do Hospital de Câncer de Barretos e consegue, mas só abrem vaga em maio e ele viaja para lá.
— O câncer voltou a crescer e vou ter que fazer uma nova cirurgia, filha.
— Oh meu Deus. Precisa de mim?
— Aqui só a Ana pode ficar porque estamos naquelas hospedarias, minha cirurgia será no dia 04 de junho.
— Vou orar por você, se precisar de mim, me avise.
— Avisarei. Papai ama.
— Te amo muito, tudo vai dar certo, você vai vencer.
— Vou sim.
A cirurgia é realizada no dia marcado e é cada vez mais difícil falar com meu pai pelo celular, tenho contato apenas com a Ana, mas finalmente consigo falar com ele depois da cirurgia.
— Pai, você quer que eu vá te ver?
— Quero, filha, vem me ver.
— Amanhã estarei aí, pode me esperar.
Desmarco meus pacientes e vou no dia seguinte à Barretos, seis de junho.
Encontro meu pai deitado na cama do hospital, de fralda, coberto por um lençol, todo torto e exibindo um largo sorriso ao me ver.
— Amor do pai!
— Papaizinho lindo! Te amo tanto!
Nós conversamos muito, ele me pede halls, que adora e está sedento de vontade e pão com margarina, mas Ana quer nos podar. Eu o alimento e o colocamos sentado na poltrona, na hora de trocá-lo, quero ajudar, mas levo bronca e sou expulsa do quarto, o que me faz rir.
Vou embora as dez da noite, na despedida papai dá um beijo na minha mão.
— Papai, eu te honrei?
— Mas é claro, minha filha!
— Eu te amo.
— Papai ama muito.
Vou embora e pela manhã meu pai liga para mim, quer saber se eu cheguei bem e recomenda que seu neto felino, o Raj, cuide bem de mim e manda um beijo para ele. Faz questão de ligar para outros parentes também e logo depois tem alta e vai para a hospedaria em Barretos.
Ana vai dar comida para o meu pai e ele sofre um mal estar e volta às pressas para o hospital, é intubado e fica em coma.
A partir desse momento meu paizinho já não reage mais e são iniciados os protocolos de morte cerebral... Passa pelo primeiro e é constatado, pelo segundo e é confirmado e as 20:30 do dia 08 de junho de 2014 a minha fênix perde a sua luta contra o câncer e nós morremos.
Sim, nós... Minha alma vai com ele...
Eu cumpro a promessa que fiz, trago seu corpo de Barretos para Santo André, para que mesmo que os filhos e os parentes não mereçam, olhem para seu corpo e profiram seus impropérios e risos ou simplesmente deixem de ir...
Mas eu, sua filhinha preferida, estou aqui, recebo seu corpo, choro sobre ele e permaneço com ele até baixa-lo sob a sepultura devolvendo à Deus toda a minha riqueza, dando à ele tudo de mais precioso que já tive nessa vida, suplicando que me permita ir junto.
Eu te amo mais do que tudo e nem mesmo a vida ou a morte há de nos separar.
Por você, com você e em você.
A minha vida, minha obra e meu ser.
Sua filhinha, riqueza e sua Weenny.
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