Capítulo 50: Shádi Ricardo e Michele
Acordamos bem cedo e checamos a programação do casamento para hoje e amanhã, serão dias intensos com compromissos das sete da manhã até as seis da tarde, mas sem dúvida será um shádi muito bonito e abençoado.
- Pensando em quê? - meu marido pergunta.
- No quanto nossos amigos serão felizes.
- Serão mesmo e nós devemos nos arrumar ou não estaremos presentes para ver essa felicidade. - Pati diz e ri.
Concordo e o beijo, vamos ao toalete e tomamos nosso banho, logo depois nos arrumamos, meu marido escolhe um kurta pajama preto e eu um sari vermelho e preto, colocamos as nossas jóias e vamos ao encontro da nossa família.
Vemos nossos amigos, meus pais, Heitor, Milena e Laís na sala de estar, cumprimentamos a todos e os convidamos para ir à sala de refeições, peço que Gira leve o café da manhã dos noivos em suas suítes.
Assim que terminamos nossas refeições, peço licença e vou conversar com a Michele, Pati faz o mesmo em relação ao Ricardo.
Subimos juntos até o primeiro andar, sorrimos um para o outro e cumprimos nossos deveres.
- Posso entrar? - bato na porta e peço.
- Sempre e não precisa pedir. - Michele diz.
Entro e fecho a porta, sento na poltrona e observo sua expressão.
- Está nervosa?
- Muito. Pode me ajudar a me arrumar?
- Claro.
Ela vai vestindo o sari e eu vou ajudando a enrolar e prender, depois vou lhe ajudando a por as jóias com calma, vai ficando cada vez mais linda. Michele prefere deixar seus cabelos soltos nessa primeira cerimônia.
- Olhe no espelho e veja como está linda.
- Estou me sentindo muito bonita mesmo, obrigada.
- Agora tenho que ir para o ritual, mas mandarei alguém vir te buscar.
Ouvimos alguém bater na porta, abro e vejo que são as madrinhas e Wendela, a estilista.
- Precisamos ir porque todos devem estar nos aguardando. - digo olhando para as madrinhas e elas concordam.
- Wendela pode fazer companhia para a Michele, por favor? - peço e a estilista acena positivamente, então nos despedimos e saímos.
Seguimos para o salão do cerimonial e por algum tempo observamos a decoração dos arranjos, cadeiras, poltronas, tendas no teto e mandap em tons de rosê e dourado, as flores são brancas, vermelhas e rosas e o carpete em um tom rosado com marrom.
O mandap está em uma extremidade do salão, decorado por uma tenda rosê e grandes arranjos floridos em ambas as laterais, no centro dele podemos ver duas cadeiras à direita, destinada aos pais do Dulhan, duas do lado esquerdo para os pais da Dulhana, duas outras em posição central para os noivos e duas almofadas para os sacerdotes.
Muitas cadeiras estão posicionadas diante do mandap com os lugares demarcados para os convidados, os primeiros a se acomodarem são os padrinhos e madrinhas, logo em seguida chegam nossos amigos famosos, a imprensa, os demais amigos e convidados das empresas com quem trabalhamos e todos os nossos funcionários.
Fica decidido que Heitor e Milena assumirão o lugar de pais do Dulhan e por essa razão assumem seus lugares no mandap, conforme orientação dos sacerdotes, que fazem o mesmo.
- Fiquem ao nosso lado, majestades, será uma honra. - Pandith nos convida para ficar sob o mandap.
- O Dulhan deve adentrar a sala do cerimonial e ocupar o seu lugar sob o mandap. - o oficiante diz e logo em seguida Ricardo Ávila faz conforme o solicitado.
- Ronaldo e Vilma podem adentrar, representando as intenções da família Guedes. - Pandith diz e ambos entram com dois servos carregando bandejas de prata cheias de presentes como arroz, tâmaras, frutos secos, um doce indiano chamado mithai, roupas novas para o Dulhan e uma espada.
Michele vem caminhando logo atrás com o olhar baixo e seu rosto coberto pelo pallu, seu sari é rosa e bem delicado com bordados dourados, discreto e muito bonito, perfeito para uma moça solteira.
Esses presentes representam as intenções de um relacionamento entre as famílias, essa cerimônia tem o intuito de declarar publicamente a intenção de casar seus filhos.
- Heitor, lhe entrego esses presentes e expresso publicamente o interesse de casar a minha filha Michele Guedes com o seu precioso filho Ricardo Ávila, você aceita essa aliança?
- Ronaldo, eu recebo esses presentes e muito me alegra o seu interesse em me oferecer essa aliança, onde receberei sua preciosa Lakshmi Michele Guedes para o meu filho Ricardo Ávila, se os horóscopos lhes forem favoráveis, nossa aliança estará confirmada.
- Atchá! (Concordância) - Ronaldo diz.
- Atchá! - Heitor diz.
Todos comemoram e o Dulhan recebe os presentes e a Dulhana é tratada com carinho.
Os sacerdotes iniciam uma puja, invocando o deus Vishnu, buscando a boa sorte para esse novo ciclo que se inicia para o casal e toda a família.
Assim que o ritual termina, os convidados cumprimentam os noivos e nós nos preparamos para o próximo cerimonial, que será diferente do meu shádi, o Kashi Yatra do Ricardo poderá ser acompanhado por homens e mulheres, apenas a Dulhana não deve estar presente.
Thainá Albuquerque está conduzindo todos ao novo salão, que tem o mesmo padrão de cores, mas é bem mais aconchegante, com muitas poltronas e um mandap central bem mais aberto, afinal teremos que acomodar todos os convidados, mas o Pati, os Brâmanes e os oficiantes deverão estar no centro do mandap junto com o Dulhan para aconselhá-lo.
Pandith está pronto para começar a cerimônia e Pati autoriza.
- Ricardo, o kashi yatra é um importante ritual de aconselhamento. Ele deve ser feito antes de você assumir a sua nova posição como marido e como chefe de família. Devemos prepará-lo para essa nova jornada em sua vida e vamos fazê-lo saber de todas as suas obrigações, para que não faça os juramentos e promessas em vão. - Pandith diz e o Dulhan concorda.
- Agora começa a fase mais importante da vida de um homem, você se tornará um chefe de família e deve se lembrar de cumprir os objetivos da vida: o Dharma que são suas atribuições e as virtudes; o Artha que é a busca da riqueza, meios de vida, sucesso e saúde; Kama que está relacionado a felicidade, sexualidade, prazer, desejos e emoções. - um Brâmane diz.
- Cuidarei da minha esposa e cumprirei meu Dharma, Artha e Kama com toda a dedicação, respeito e responsabilidade. - Ricardo diz.
Brâmane toma a palavra, a fim de explicar os tipos de casamento.
- Há oito maneiras de se casar com uma mulher, as seis primeiras são permitidas para um brâmane, as últimos quatro para um governante, homem do povo ou um servo.
- Brahmya - Quando um pai dá sua filha em pleno consentimento.
- Prajapatya - A execução conjunta de deveres sagrados realizados pelo marido e pela esposa sem consentimento prévio do pai da esposa.
- Aarsha - Um casamento realizado e regularizado pelo noivo quando ele presenteia o pai da noiva com duas vacas em troca de obter sua esposa.
- Daiva - Doação de uma filha ao sacerdote oficiante.
- Gandharva - O homem e a mulher se casam secretamente sem a permissão ou conhecimento de ninguém ou sem a presença de testemunha.
- Asura - a doação de uma filha em troca de dote.
-Rakshasha - Um casamento realizado após a noiva ter sido roubada e sem o seu consentimento.
- Paisacha - Um casamento realizado após a noiva ter sido envenenada ou intoxicada ou enquanto ela está dormindo.
O casamento de Ricardo e Michele será Brahmya.
- Um homem deve ter relações sexuais com sua própria esposa durante sua época fértil. Quando ele deseja fazer amor, ele deve ir para a mulher a quem ele é prometido, exceto nos dias da junção lunar. O ciclo fértil de uma mulher dura dezesseis noites, isto inclui quatro dias especiais, que os homens sábios desprezam. Os quatro primeiros, o décimo primeiro e o décimo terceiro não são aprovados para a união e causam grande dor e desconforto à esposa. - Pandith diz.
- Uma união que ocorre na noite uniforme resulta no nascimento de um filho quando uma união que ocorre em uma noite impar resulta no nascimento de uma filha. Se a semente de um homem é maior do que o da mulher nasce um filho, se a semente da mulher é maior do que o do homem nasce uma filha. - Brâmane diz.
Ricardo parece atento e preocupado em compreender tudo o que é dito.
- Onde as mulheres de uma família vivem uma vida miserável, a família logo será destruída. A família prospera se a mulher na família é feliz e não desprezada. A principal responsabilidade de um chefe de família é garantir que todas as mulheres da família não sejam maltratadas, mas protegidas e felizes. - Pati diz.
- Um filho pode ser abandonado pela família se ele executar uma má ação, mas uma filha, nunca! O chefe de família nunca pode abandonar uma mulher da família a menos que ela seja casada. O chefe de família não pode abandonar sua mãe ou sua esposa. É dever do chefe de família guardar e proteger as mulheres de sua casa contra o vício e o jogo, mulheres sem proteção acabarão por trazer tristeza para sua família. - Pandith diz.
- Um pai que não dá a sua filha em casamento no momento certo deve ser culpado, um marido que não tem relações sexuais com ela no momento certo deve ser culpado e um filho que não protege sua mãe quando o marido dela está morto é culpado. - Brâmane diz.
- Um marido deve se esforçar para assegurar que sua descendência esteja limpa. O marido entra na esposa, torna-se um embrião e nasce de novo na terra. É por isso que uma esposa é chamada "Jaya" (Felicidade) porque o homem nasce "Jayate" (triunfo da verdade) novamente através dela. A esposa dá à luz um filho que é exatamente como o homem que ela ama, por isso o marido deve proteger a sua esposa com zelo para manter sua descendencia limpa. - Pandith diz.
- As seis coisas que corrompem uma mulher são alcoolismo, associação com pessoas más, viver separadas de seus maridos, vagar, dormir excessivamente e viver na casa de outras pessoas. - Brâmane diz.
- O chefe de família não deve deixar sua filha solteira permanecer fora da casa quando o sol não estiver brilhando, pois este mundo é uma selva cruel e a filha solteira é extremamente vulnerável quando deixada fora da casa quando o sol se põe. O pai sempre deve garantir que a filha solteira esteja com a companhia de amigos, onde pelo menos uma das amigas é uma mulher, ou na companhia de seu irmão ou nora, de sua esposa, um brâmane ou uma mulher casada. O chefe de família nunca deve deixar a filha ficar em companhia de mulheres que foram abandonadas por seus maridos. - Pandith diz.
- Um chefe de família pode punir seu filho fisicamente, mas nunca poderá punir fisicamente sua filha ou esposa. A violência física contra uma filha ou contra uma esposa causa a violação do Dharma e um homem cai de sua posição, se ele usa a forma física de castigo para com sua esposa, filha ou nora. Um homem que pune fisicamente a sua filha ou bate na sua esposa, puxa-a pelos cabelos ou atormenta o seu corpo sob qualquer forma, queima no inferno. - o sacerdote diz.
- Seja qual for o crime da mulher ou da filha, em nenhuma circunstância o chefe de família deve punir fisicamente a sua filha ou esposa. A mulher na casa representa "Prakriti" (natureza) e a violência física contra as mulheres na família é uma contradição direta à teoria de que o "Purush" (Homem) está aqui para preservar e proteger a natureza e não para destruí-la. - ele conclui.
- Uma mulher é como o campo e um homem é como a semente. Todas as pessoas nascem da união da semente e do campo. A prole é considerada a melhor quando tanto a semente quanto o campo estão maduros, na época e quando todas as condições são ideais. Da semente e do campo, a semente é dada mais importância. Nós nos referimos a uma árvore por sua semente, por exemplo, uma árvore de maça, uma macieira e não pelo campo onde cresceu. Da mesma forma, uma pessoa é conhecida por sua linhagem, a semente de seu pai e não pelo ventre que o gerou. - Pandith diz.
-Um homem sábio que entende isso nunca semeará sua semente na esposa de outro homem. Um homem deve tentar restaurar sua semente durante a fase Brahmacharya, melhorando assim a qualidade de sua "semente" e deve semear sua semente no campo de uma mulher a quem ele foi prometido. O campo deve ser irrigado adequadamente antes que a semente seja semeada e se a semente for semeada na estação errada, uma árvore torta ou quebrada será formada.
Isso trata da fidelidade conjugal e da pureza da linhagem.
- O chefe de família deve educar seu filho com uma vara por dez anos, mas quando ele alcançar os dezesseis anos, deve tratá-lo como seu amigo. É dever do chefe de família nomear um brâmane como o Guru de seu filho e mandar seu filho para fora de sua casa, para que ele possa aprender sua educação, ganhar a vida e voltar para casa como erudito. - Pandith diz.
-O chefe de família deve abster-se de qualquer forma de dependência. O tabaco, o álcool e as mulheres são as três formas de dependência que o chefe de família deve evitar. - Pati diz
-O chefe de família não deve comer usando apenas uma peça de roupa. Não deve urinar na estrada, em terra arada, em cinzas, em água, nas ruínas de um templo, nem num monte de formigas, à margem de um rio, numa caverna, no cume de uma montanha. Durante o dia, ele deve urinar virado para norte e na noite ele deve urinar na direção sul. Urinar no fogo ou na água, ou em uma vaca destrói a sabedoria do chefe de família. - Pandith avisa.
-O chefe de família não deve viver em um reino governado por um servo, não deve comer o alimento que teve seu óleo extraído dele, nem comer demasiado tarde da noite. O chefe de família não deve usar roupas de segunda mão. O chefe de família deve tomar banho três vezes por dia: pouco antes do nascer do sol, ao meio dia e logo após o pôr do sol. O chefe de família deve abandonar a aldeia onde não há amigos, nem rio, nem emprego, nem médico ou que é governado por um rei tirano. - Pandith diz.
- Guardarei em meu coração e em minha mente todos os conselhos que recebi aqui hoje, cumprirei meus deveres como chefe de família, como marido e como homem, levando em conta todos os ensinamentos que recebi até hoje e os que ainda vou aprender. Sou grato por tudo. - Ricardo diz
- Eis que damos como cumprida a nossa missão de ensiná-lo a ser um Grihastha, tem nossas bençãos e também todas as nossas orações. Lembre-se de que muito mais importante do que ser um chefe de família, é ser um bom homem e um bom hindu.
Ricardo levanta e saúda cada um dos sacerdotes pedindo suas bençãos, reverenciando sua sabedoria com toda a humildade que lhe é peculiar.
Assim é encerrada a cerimônia Kashi Yatra e muitos ainda comentam sobre ela.
Nos preparamos para o muhurat, o Dulhan permanece no centro do mandap e os sacerdotes e os pais dos noivos se acomodam ao lado dele no mandap. A Dulhana é convidada a entrar e fica diante de seu noivo, mas de cabeça baixa, parecendo estar envergonhada.
O primeiro estudo astrológico é aberto.
- Começo dizendo a respeito das similaridades dos noivos, ambos sofreram grandes perdas no passado, mas pelo que vejo eles não se renderam à tristeza e ao infortúrnio, lutaram por suas vidas e fizeram escolhas que os trouxeram até esse momento. - Pandith faz a introdução.
- Posso dizer que o Dulhan tem características que fazem dele um homem muito digno e respeitoso, encontrou seu verdadeiro amor na Dulhana e há de ser fiel e protege-la por muitos anos, uma vida bem longa. - o Brâmane diz.
Todos nós temos uma reação emotiva, amamos esse casal.
O segundo estudo astrológico é aberto.
- Mais uma vez tenho uma consideração a fazer quanto a semelhança dos noivos, ambos são humildes e gratos por tudo o que tem, são protegidos pela grande mãe Shakti, a deusa suprema que se manifesta na terra pela forma das deusas Saraswati, Parvati e Lakshmi. - Pandith mais uma vez faz a introdução, Pati sorri, feliz com o que acaba de ser dito.
- Em meus estudos vejo que a Dulhana é uma mulher alegre, bondosa, compassiva, justa, encontrou em seu Dulhan o verdadeiro amor e está disposta a cuidar dele por toda a sua vida, que será longa e muito feliz. - Brâmane diz.
O terceiro estudo astrológico é aberto e todos estão menos ansiosos, já que esperam uma boa conclusão.
- No terceiro estudo de compatibilidade entre o casal, vemos que a vida e os astros lhes serão favoráveis, a Dulhana honrará esse casamento com filhos e serão felizes e nos tempos de inverno a compreensão sustentará essa relação, o Dulhan cumprirá seus deveres de marido. Concluímos que Ricardo Ávila e Michele Guedes são compatíveis e abençoamos esse shádi. - Pandith diz.
Todos festejam, principalmente meus pais e Heitor e Milena, enquanto os noivos sorriem emocionados.
- Viu, como eu disse, sempre é positivo? - Samara sussurra para as madrinhas e me dá um aperto no coração.
Nos preparamos para o próximo cerimonial, levamos os noivos para a troca de roupas, enquanto Thaina Albuquerque e sua equipe conduzem os convidados para o novo salão.
Wendela já está a postos para arrumar a noiva, desta vez a Dulhana é vestida com um sari verde com bordados dourados, prende o cabelo lateralmente e ajudamos a colocar algumas jóias, ela fica absolutamente linda.
Encontro Pati no corredor e nos apressamos para nos arrumar, ele veste um ackan preto e eu visto um sari lilás, as sudras me ajudam com o conjunto de jóias e logo estamos novamente na companhia dos nossos amigos.
Padrinhos e madrinhas conduzem os noivos até o mandap, conforme manda a tradição. Meus pais, Heitor e Milena e os sacerdotes esperam por eles para dar início ao Grahamuk, assim como os demais convidados, já acomodados em suas poltronas.
Espero que tenham gostado.
Foto da midia: Michele e Ricardo.
Palavras em hindi:
shadi: casamento
Pati: marido
kurta pajama: calça e túnica indiana
sari: vestimenta mais comum feminina
mandap: cadeira dos noivos
Dulhan/ Dulhana: noivo, noiva
Pandith: padre
Pallu: parte do sari que cobre o rosto
puja: oração
shadi: casamento
Brâmane: sacerdote
Guru: mestre indiano
Muhurat: cerimônia da entrega do estudo astrológico e que firma o melhor horário para o casamento.
shakti: força ou poder do deus
ackan: terno indiano
Grahamuk: cerimonia de acendimento do fogo sagrado
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