Capítulo 31: Shádi surpresa
Vinte e três de abril de dois mil e quatrorze.
Acordo antes do nascer do sol, recebo as sudras em meus aposentos, preparamos as vestes imperiais, tomo banho e elas me vestem e adornam, as dispenso em seguida.
- Maharany? Por que não me acordou?
- Me perdoe, querido, queria que descansasse mais um pouco.
- Nem mesmo a lua pode ser comparada à você em exuberância.
- Hummm... Nunca sei dizer se amo mais os seus elogios ou os seus beijos.
- Não escolha, já sabe que sempre terá ambos.
- Venha, Imperador... Não podemos nos divertir agora, você precisa ajudar o noivo.
- O Claudio sabe se arrumar sozinho, já é grandinho. - protesta e ri.
As seis da manhã nos reunimos no primeiro andar com nossos amigos, tentando manter o silêncio pelo menos no início da organização para a surpresa, as meninas já começam a se aglomerar na porta da noiva.
- Abre logo, Carol, estamos te esperando. - Dani, Gislaine, Iara, Marília, Mayara e Vivian dizem ao mesmo tempo, enquanto batem na porta.
- Vocês estão malucas? - Carol grita e seu tom de voz mostra o quanto está assustada.
Do outro lado os homens esmurram a porta do noivo.
- Abre logo, Claudio, estamos te esperando. - eles gritam em um coro ainda mais animado.
O noivo responde com uma sonora gargalhada e abre a porta rapidamente, derrubando meia dúzia dos amigos.
- Um tombo de manhã não faz mal para ninguém! - ele cantarola em meio ao riso.
Os Amigos POV:
Carol abre a porta com o rosto inchado e os cabelos desgrenhados, continua linda como em qualquer outro dia.
- A casa está pegando fogo? Vocês estão malucas? Por que estão invadindo meu quarto? - ela vai exigindo explicações.
As amigas vão entrando na suíte, Carol senta na cama e deixa a porta aberta, Tatiane a fecha, a noiva se pergunta se está tendo outro pesadelo daqueles que parecem real.
Talvez se voltar a deitar e cobrir a cabeça elas desapareçam e...
- O que você pensa que vai fazer? - Melissa pergunta.
- Então vocês estão aqui mesmo? - Carol, inconformada, diz.
- Achou que era um pesadelo? Nós somos como fadas madrinhas, não está vendo que estamos todas arrumadas para festa? Estamos lindas e maravilhosas as seis da manhã, repara. - Iara diz e roda mostrando seu lindo sari azul e dourado.
- É isso, só pode ser pesadelo, quem se arruma para uma festa as seis da madrugada? - Carol retruca.
- Uma noiva e suas madrinhas! - Michele diz.
- Deve ter termômetro em algum lugar da casa, sabem se a Gira tá acordada?... - Carol diz.
- Carolllllllll!!!!! - Samara dá um beliscão nela.
- Sua maluca, vou dar na sua cara. - Carol se irrita e esfrega o braço.
- Pelo menos você acordou, agora já pode casar. - Weenny diz e observa sua reação.
- CASAR? Eu vou casar daqui uns dias, Weenny e você vai ser madrinha. - a noiva diz, ainda sem entender o que a amiga quer dizer.
- E seu casamento indiano será hoje, na verdade daqui a pouco, camareiras, cabeleireiras e maquiadores estão te esperando no SPA, seu primeiro vestido também, mas se quiser ir pelada e descabelada.... Acho que... - Weenny brinca.
- É sério? Ai, é sério? Você preparou um casamento indiano para mim? - Carol pergunta.
- Você quer bater nela ou está emocionada? - Gislaine diz e a noiva ri.
- Na verdade é um desejo meu e do Claudio. - Weenny revela, fazendo com que ela fique ainda mais emocionada.
Carol veste um roupão e logo está pronta para ir ao SPA, as amigas e madrinhas a acompanham.
As profissionais e as sudras começam a arrumar a noiva, que em pouco tempo está radiante de tão linda, pronta para a sua primeira cerimônia.
Carol agora está vestida com um salwar kameez lilás com bordados em tom mais escuros e a dupatta segue o mesmo estilo e fica caída sobre o seu ombro e braço esquerdo, suas sandálias combinam com a roupa, assim como as suas jóias, seus cabelos são deixados lisos e soltos.
- Então a segunda de nós a se casar é a Carol... Você está tão linda, aliás sempre foi linda, mas tem desabrochado como a linda flor nesses últimos tempos, as vezes isso é o resultado do amor e do distanciamento dos traumas, digo por experiência própria... Hoje é dia de lembrar do que nos faz sorrir, não é? Vamos registrar esse momento e essa noiva tão linda. - Michele faz um discurso inesperado e tão apropriado.
Todas as amigas se reunem em um abraço, logo depois pegam suas câmeras e fotografam esse momento.
Vão levando a Carol até o salão de festas com muito carinho, acreditando que estes são os passos que encerram de uma vez por todas o passado doloroso com Flavio.
...
Jagadeesh e os amigos ajudam Claudio a se vestir como um noivo indiano, ele está realmente muito nervoso e mal consegue vestir o traje simples que é apenas um kurta pajama preto, uma calça larga indiana e uma túnica, além de uma dupatta, que nada mais é do que um lenço bem longo.
Fazem questão de conversar com o noivo para tentar acalmá-lo, é um momento muito importante e decisivo em sua vida. Assim que fica pronto, descem para o salão de festas preparado para Muhurat e se posicionam para aguardar a chegada das mulheres.
- Por que ela não chega? Será que está tudo bem? - Claudio pergunta e esfrega as mãos, enquanto anda impaciente de um lado para o outro.
- Calma, meu amigo, as noivas são assim, nunca vi uma ser rápida. - Rafael diz.
- Jagal, é melhor você explicar para ele, afinal você tem mais experiência nisso. - Ricardo tenta chamar a atenção do amigo que olha atentamente na direção da entrada.
- É por isso que não quero casar. - Guilherme diz e é reprovado por Eduardo e Igor.
- Por que resolveram fazer esse casamento? Só eu não sabia? - Filipe reclama, enquanto mexe no celular.
- Fiquem quietos, isso não é momento para discutir esse tipo de coisa, se preocupem com o noivo. Ela vai vir, Claudio, Carol te ama muito, só deve estar se arrumando. - Victor diz e o amigo sorri agradecido.
- Assumam suas posições, as mulheres estão chegando. Claudio, você está pálido, consegue aguentar? No ritual todos nós vamos ficar sentados e por isso não podemos te socorrer, você não pode desmaiar. - Jagadeesh diz e sorri ao ver a reação do amigo.
- Não estou com medo de casar, só talvez... E quando digo talvez é algo assim... Um pouquinho de ansiedade só, medo de que ela desista e me abandone aqui... - Claudio se atrapalha na explicação e todos riem.
- Vocês se amam! Põe isso nessa sua cabeça dura e se arruma para receber sua linda noiva que está chegando para realizar seu sonho, anda logo! - todos gritam a primeira parte da frase nos ouvidos dele, fazendo com que Claudio tente tapar os ouvidos e desperte para a informação, recuperando a cor e o ânimo em seguida.
...
Filipe finalmente descobre a trama dos amigos a respeito do casamento de Claudio e Carol, desta vez o casamento tem uma data e local preciso, mas o seu celular está no bolso e ele não pode usá-lo na presença dos amigos, mesmo que esteja ansioso para isso, precisa dar um jeito de ficar sozinho.
Espera até que eles se distraiam na suíte ajudando o Claudio para mandar as mensagens.
"Flavio, irmão. Onde você tá? Tenho informações quentes, mas você tem que vir rápido, é sua chance."
"Fala logo, cara."
"Eles vão se casar hoje, parece que querem fazer casamento indiano, vão começar agora."
"Me manda o endereço, vou roubar essa noiva, pode deixar e dar um jeito no noivo."
"É o tal do forte da imperatriz que apareceu na televisão, toma cuidado, cara!"
"Vai lá, me ajuda. Vai me passando as informações."
"Beleza."
- Weenny, espera. - Carol segura em meu braço e diz, quando os sudras estão prestes a abrir as portas do salão, me fazendo sinalizar para que detenham o movimento.
- O que houve? - pergunto.
- Tem certeza que não estou usando jóias demais? É assim que devo me vestir? - Carol pergunta, parece realmente insegura.
- Oh, minha amiga, acredite no que te digo, você está perfeita. Ainda vamos deixar você mais adornada, mas isso será aos poucos, não esqueça que hoje você é não só a rainha dessa festa, mas também representa a deusa da prosperidade e da fertilidade, deixe irradiar a sua felicidade e não vamos deixar seu noivo esperar mais, ele deve estar ansioso para te ver. - digo e faço um carinho em seu rosto e o cubro com o pallu, assim deve estar uma noiva ao caminho do altar.
Todos os funcionários e sudras são convidados para assistir ao casamento e se levantam quando veem as pesadas portas do salão sendo abertas, os músicos entoam uma canção especial para esse momento, acredito que tenha sido um pedido do meu marido.
Retomamos a caminhada, Michele e eu seguimos ao lado da Carol segurando suas mãos, as outras meninas vão logo atrás, seguram bandejas com flores e vão lançando por todo o caminho, assim vamos conduzindo a nossa amiga ao mandap onde Claudio o os demais padrinhos a esperam.
Canção Gerua - Arjit Singh e Antara Mitra
"Todo caminho leva apenas à você
Meu coração se uniu cuidadosamente ao seu, acabando com toda a minha dor
Meu mundo era completamente solitário,
Mas desde o dia em que você chegou,
Deu vida ao meu corpo sem alma
Todos os outros relacionamentos parecem sem sentido,
Agora que partilhamos de um vínculo tão profundo.
Esta é uma prece de um coração apaixonado"
Tento controlar as lágrimas a todo custo, a canção é em hindi e fala direto ao meu coração e conta toda a história do casal.
O salão está decorado em tons de rosa claro, branco, dourado e muito iluminado com muitas diyas, castiçais, as diversas tendas no teto e os pilares dão um toque requintado ao salão, os convidados estão acomodados sobre as almofadas ao redor do mandap e logo vemos os padrinhos acomodados em suas posições, apenas o Imperador, o Brâmane e Claudio esperam nos degraus do mandap, enquanto as madrinhas entram pelas laterais e se acomodam, para que os fotógrafos façam as primeiras imagens delas, deixo a Dulhana aos cuidados do sacerdote para que receba as bençãos do sacerdote e do Imperador, sendo entregue ao seu Dulhan em seguida.
Os sacerdotes iniciam o ritual com pujas de invocação aos deuses, os noivos estão tímidos, talvez estejam ansiosos aguardando o momento da revelação do Muhurat ou estudo astrológico, acho que todos nós estamos.
O primeiro pergaminho é desenrolado pelo Brâmane para ser lido.
- Um sacerdote faz o estudo astrológico para saber se o casal combina e se poderão ser felizes por sete vidas como nós hindus acreditamos, nós construímos um amor e o solidificamos dia após dia, porque a vida não é feita apenas de bons momentos e de alegrias, mas de incertezas, lágrimas e de sofrimentos, precisamos de alguém que pegue em nossa mão e diga que vai dar certo, mesmo naquele inverno mais rigoroso em nossas vidas. O mapa de Ana Carolina mostra todo o seu sofrimento, incontáveis lágrimas em seus dias e suas noites, dores e traumas ao longo dos anos, até que chegou o momento marcado pelo seu destino para conhecer o verdadeiro amor, prevejo dois filhos e felicidade. Dulhana, te dou um conselho, apenas confie dessa vez. - ele diz e todos se emocionam.
Pandith pega o segundo pergaminho e o desenrola.
- O estudo do Claudio revela que apesar de ter tido uma vida difícil, você sempre manteve o bom ânimo e positividade, alegria e bom caráter são suas grandes qualidades, o que faz com que você seja o centro das atenções e o bom amigo de todos, mas sua vida amorosa nunca foi prioridade, não é? Esse é um grande marco em sua vida e o seu momento de ser feliz, vai ser realizar como homem e como pai, esteja certo disso. - então Pandith diz com convicção.
Todos aplaudem e os noivos se olham, enxugando as lágrimas e agradecendo pelas palavras tão positivas, os amigos choram copiosamente.
Fazemos questão de entoar mantras e pujas de agradecimento, é muito bom saber que seus mapas astrológicos são tão auspiciosos.
Os sacerdotes nos convidam a nos prepararmos para o próximo cerimonial, devemos ir ao templo, em breve começaremos o Grahamuk.
Enquando cumprimentamos os noivos, os convidados vão sendo conduzidos pelos cerimonialistas para o local do próximo ritual, os sacerdotes se apressam porque precisam preparar o altar e tudo o que será necessário, dando um tempo para que Carol e Claudio descansem e troquem de roupas, se desejarem.
- Acha que eu devo? - a Dulhana pergunta.
- Você está maravilhosa assim, nega, mas o dia é seu e nosso, quero que faça do jeito que sempre sonhou. - o Dulhan diz e mal consegue conter o sorriso.
- Você tem muitos saris de noiva à sua disposição e também muitas jóias lá no SPA, estamos aqui para fazer a sua vontade, minha rainha. - digo e todas nós fazemos uma reverência, deixando a nossa amiga tímida.
- Então vamos, estou muito animada. Voltamos logo, mas é melhor que nos esperem no templo, meninos. - Carol diz e joga um beijo para eles, com destreza Claudio pega a mão direita dela e beija.
Estamos todas muito felizes, dançamos e cantarolamos pelos corredores até o SPA, muitas profissionais esperam pela noiva, Carol fica deslumbrada com as inúmeras opções de saris e jóias espalhadas pelo aposento, escolhe um sari em tom rose com muitos bordados e choli no mesmo tom, poucas jóias porque é adequado para o momento e seus cabelos continuam soltos, ela está simplesmente maravilhosa.
Caminhamos agora rumo ao templo no prédio do governo, atravessamos o pátio sempre conduzindo a Dulhana pela mão e há um respeitoso silêncio, vemos que todo o forte está iluminado e decorado com muitas flores, podemos apreciar mesmo com o brilho do sol.
Adentramos o prédio e os soldados nos cumprimentam, assim que entramos no templo somos recebidas novamente com música e caminhamos juntas pelo tapete vermelho até entregarmos a Dulhana diante dos sacerdotes, a frente do mandap decorado com rosas e tenda verde e rosê, iluminada com lustre e velas aromáticas.
À minha frente está o recipiente onde o agni será aceso em poucos minutos e logo atrás estão as oito cadeiras brancas com detalhes dourados formando um semicírculo.
O Imperador estende sua mão direita para mim e me conduz para ocuparmos nossos assentos à destra dos noivos, que ocupam as poltronas centrais, os sacerdotes se acomodam à esquerda do Dulhan.
Os demais padrinhos se acomodam ao redor do mandap, junto com os demais convidados e aguardam que o Pandith inicie o cerimonial.
O sacerdote dá início ao ritual fazendo pujas, invocando o deus Agni e o seu poder, sua presença é essencial porque os hindus acreditam que todos os juramentos e promessas tomados diante do fogo sagrado serão realizados, em seguida os noivos são orientados a pegar o material necessário, entre eles a pasta amarela semelhante a manteiga, que é chamada de gheer, para acender o agni formalizando assim um dos rituais mais importantes do shádi.
Assim que o fogo sagrado é aceso, todos os hindus que estão presentes se manifestam demonstrando alegria, canções e novos pujas são entoados, assim como novas oferendas, contando desta vez com a participação de todos, afinal temos o interesse de invocar tudo o que é auspicioso para essa união, concluindo assim o Grahamuk.
- Descansem um pouco e se preparem para o Sakhar Puda. - o Imperador avisa.
Carol sai com as meninas para se preparar para a próxima cerimônia, Claudio se aproxima.
- Jagal, Weenny, o que eu devo fazer, agora que percebi que não tive instruções o suficiente, acreditam? - ele diz e parece estar um tanto ansioso.
Chamamos o Dulhan para ir até os nossos aposentos, o forte está bem agitado hoje, só assim vamos poder conversar com mais calma.
- Senta aqui, meu amigo, vou te explicar. Quer um lassi? Está bem gelado. - Pati pergunta.
- Quero sim, obrigado. - Claudio diz.
- Bom, o sakhar puda é um ritual que visa demonstrar que a sua família realmente tem apreço por sua Dulhana e a valoriza, que desejam esse casamento assim como você e por isso mandam presentes valiosos. - o Imperador explica.
- Mas a minha família... - ele começa a dizer.
- Nós não somos a sua família? Weenny, os outros amigos e eu? Estamos aqui para representa-los, tanto é que nós já montamos as bandejas com os presentes da Dulhana, vamos mandar assim que a cerimônia tiver início, manda a tradição que apenas o pai dela esteja presente, nesse caso eu o representarei. Lembra como foi no meu shádi? - meu marido diz.
- Oh meu amigo, é claro que vocês são a nossa família, eu me expressei errado. Agora que você falou, lembro sim... Mas não é justo vocês terem mais esse gasto, são muitos presentes não são? - o Dulhan diz.
- Tudo o que fazemos por vocês é de coração, nunca será demais, não quero que se preocupe. Você tem mais dúvidas? - Pati diz.
- Só posso agradecer, mais uma vez. E depois? - Claudio diz.
- Faz parte da tradição receber a resposta. - digo.
- Ela pode dizer não para o casamento? - ele pergunta e faz uma expressão engraçada, seguramos a risada porque que sabemos que o assunto é sério.
- Pode, mas é claro que não vai querer, você ainda tem dúvidas disso? - digo.
- Essa resposta é só para criar um mistério, ela jamais dirá não! Depois vocês trocarão alianças, então não se esqueça disso! - meu marido diz.
- É mesmo... Com quem estão as alianças? - Claudio pergunta.
- Você não sabe com quem deixou? - abismada, pergunto e o vejo tateando os bolsos.
- Já volto! - o Dulhan diz e sai correndo.
Espero que tenham gostado do início do casamento da Carol e do Claudio.
Video da mídia: a música do início do casamento.
Palavras em hindi
sudras: servas
Dulhan/ Dulhana: noivo/ noiva
shadi: casamento
Maharane ou Maharany: Imperatriz
salwar kameez: roupa feminina indiana
kurta pajama: roupa masculina indiana
dupatta: lenço longo
pallu: parte do sari que cobre o rosto
sari: vestimenta mais comum indiana feminina
Brâmane: sacerdote indiano.
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