Capítulo 05: Vidaai

Quatorze de fevereiro.

Apressados pela urgência do primeiro compromisso deste dia, levantamos do nosso leito nupcial com certa insatisfação para cumprir o dever como recém casados e como Imperadores.

Ao chegar no toalete podemos perceber que as sudras prepararam nosso banho em regra, com água morna e perfumada e pétalas de rosas, relaxamos por poucos instantes e logo abandonamos mais esse prazer. Pati pega meu roupão e enrola o meu corpo, enquanto eu ofereço um para ele, então seguimos juntos para os aposentos reservados para o closet.

Noto que nossas vestes imperiais, jóias e calçados estão prontos com o devido zelo e sem faltar nenhuma peça, com o peculiar orgulho apresentado pelas minhas queridas sudras ao organizar meus itens.

Faço questão de ajudar o meu marido a se arrumar, é o dever da esposa hindu e uma alegria para mim.

Removo seu roupão e uma lembrança me vem à mente, aquela noite que conversamos em sua suíte no Rio de Janeiro e ele estava com um short bem curto e apenas um roupão cobria seu corpo, apenas algumas fendas abriam deixando partes do seu corpo exposta e eu perdia a minha concentração, eu o desejava ardentemente, mas não conseguia admitir.

Ele agora está vestido como Imperador, usando a mesma coroa de ontem, exuberante e imponente. Lhe entrego a espada e faço uma breve reverência.

- Imperatriz, ouça. Preciso ir para Agra agora, vou acertar os últimos detalhes para a nossa partida. Não te disse antes porque queria que fosse uma supresa, vamos viajar em lua de mel e nosso vôo é as oito da manhã, por isso devemos cumprir o vidaai logo o amanhecer, peço que se apresse e vá com as suas sudras. - ele diz e eu concordo, ainda surpresa pelas boas notícias.

- Mahaamahim, shaahee ghoda taiyaar hai. (Majestade, o cavalo imperial está pronto.) - ouço a voz de Salima à distância.

- Tik he, dhanyavaad. (Está bem, obrigado.) - ele diz e sai, permitindo que minhas sudras adentrem o aposento.

Corro até a janela e o vejo montar no cavalo branco adornado e partir ao lado da guarda e nobres.

- Mahaaraanee, ​​kya sab theek hai? (Imperatriz, está tudo bem?) - Madhavi pergunta.

- Haan. (Sim.) - digo.

As sudras se movimentam pelo aposento, parecem apressadas para providenciar tudo o que vão precisar, tento relaxar e permitir que cuidem de mim.

Massageiam a minha pele com o óleo aromático de sândalo, me vestem com o novo sari amarelo com bordados e fios de ouro, me adornam com um novo conjunto de jóias completo, fazem uma maquiagem leve, cuidam de prender meus cabelos em uma pesada trança. Em trinta minutos estou vestida como uma Imperatriz e pronta para o próximo ritual.

Percebo que todas elas estão com voz de choro e olhos inchados, esse é um momento auspicioso para chorar.

- Meree Mahaaraanee, ​​ ​​aapakee paalakee mahal ke pravesh dvaar par tainaat hai, eskort ke sainik pahale se maujood hain aur saamaan kee pahale hee jaanch kee ja rahee hai. Vidaee ke lie aapake maata-pita, bhaee, parivaar aur devatao dvaara aapakee mahima ka intajaar kiya jaata hai. (Minha Imperatriz, seu palanquim está posicionado na entrada do palácio, os soldados da escolta já estão posicionados e a bagagem já está sendo despachada. Vossa Majestade é aguardada por seus pais, irmão, familiares e padrinhos para a despedida.) - Nimat avisa e enxuga os olhos.

Vou saindo do aposento na companhia das sudras, todos os servos do palácio estão agitados passando de um lado para o outro carregando toda a bagagem, mas param para me ver passar e para uma despedida distante, silenciosa e respeitosa.

Madhavi e Rani me encorajam a dar os últimos passos em direção a porta de entrada do palácio que me abrigou por todo o tempo do shádi, um lugar que só me trouxe felicidade.

Já consigo avistar a multidão que é formada pelo povo indiano, servos, convidados, imprensa, nossos familiares e padrinhos.

Muitas mulheres estão às portas do palácio, assim que vejo minha mãe, as primeiras lágrimas acumuladas escapam, caminho em sua direção, me curvo para receber suas bençãos e em seguida nos abraçamos.

- Oh filhona, não tema o futuro, você está bem casada e será muito feliz. Seja forte e esteja sempre ao lado dele. Nós nos veremos assim que for possível. - ela diz, entre lágrimas e sorrisos.

Apenas choro e acato seu conselho, sinto as mãos das minhas sudras me puxando, mas volto a abraça-la para me sentir segura.

Dou alguns passos na direção do meu pai e já não consigo controlar o choro e a dor que me consome, não tenho coragem de me despedir dele, mesmo uma dor que parece rasgar o meu coração, cumpro meu dever, me curvo para pedir suas bençãos e sinto o toque de suas mãos na minha cabeça.

- Eis que minha filhinha veio para esse país como uma Princesa, fez com que seus pais fossem tratados como Rei e Rainha e agora tornou-se uma Imperatriz... Saiba que eu estou com o coração em paz porque sei que você será feliz e honrada para sempre, como desejei e sonhei a minha vida toda. Você não é apenas o amor do pai, mas o meu orgulho e alegria. Papai te ama muito e para sempre. - ele diz e tenta controlar o choro, sem sucesso.

- Aba... Eu te amo. Não quero ficar longe de você, por favor... - suplico entre soluços e lágrimas.

- Filhinha, tenha fé, nós nos veremos em breve. Eu te prometo!

As sudras me puxam para nos afastar e isso parece cortar o meu coração ao meio.

Me aproximo do Junior, meu irmão, que me abraça e me abençoa, mesmo sendo tão rígido e sério, faz questão de dizer que sou a noiva mais linda de todas.

Olho para a frente e vejo Tony, meu padrasto, ao lado de outros homens da nossa família.

- Vá, filha querida, tenha de nós as bênçãos para a sua nova jornada. Seja feliz e Deus a proteja. - ouço Tony dizer, mesmo estando distante de mim.

O ruído do pranto pela despedida ecoa pela multidão, é auspicioso que lágrimas reguem essa despedida que é conhecida por vidaai.

Olho para os meus padrinhos e madrinhas e lamento por não poder conversar ou abraça-los nesse momento, espero que possamos nos ver novamente em breve, guardarei essa esperança em meu coração.

Caminho até o palanquim e entro, pego um punhado de sal com ambas as mãos e lanço na direção da minha família, esse gesto simboliza a nossa quebra de vínculo, a partir desse momento faço parte da família imperial, meus sogros deverão ser meus novos pais.

Olho uma última vez para a minha família, meu pai não consegue me olhar e as lágrimas correm por sua linda face, minha mãe sorri, mas seus olhos estão marejados, meu irmão parece consternado.

O palanquim é erguido pelos servos e partimos com escolta, cubro meu rosto com o pallu. O ritmo da marcha é lento e o tempo demora a passar.

Observo pela cortina do palanquim, o aeroporto está movimentado e repleto de segurança, vejo muitos soldados em trajes de gala e a área está completamente isolada. Os servos posicionam o meu palanquim diante da escada de uma aeronave e logo ouço a voz do Imperador.


Jagadeesh Manohari (Eros Myron) POV:

Depois de ter a melhor noite da minha vida, sou impedido de me entregar ao deleite da vida de casado, antes preciso cumprir minhas obrigações com o Império e por isso sigo para Agra.

Convoco a corte, os conselheiros, ministros e o Soberano para uma breve reunião a fim de definir e deliberar os assuntos prioritários durante o período de regência.

A celebração do shádi é interrompida para que todos possam assistir e acompanhar o vidaai, primeiro e mais importante é a despedida da Imperatriz, logo depois será a minha.

Decido ir em cortejo aberto até o aeroporto, com a permissão e benção dos Soberanos, monto em Zarek e sigo escoltado pela guarda imperial, recebendo por todo o caminho o respeito e a saudação do meu povo.

Sou informado que ainda faltam alguns minutos para o cortejo da Imperatriz chegar e que ela está em segurança, por isso, quando chego ao aeroporto vou direto para o jato e ligo para minha secretária.

- Majestade, bom dia.

- Bom dia, Andrea. Preciso da confirmação a respeito da viagem.

- Fiz as alterações que o Senhor solicitou no roteiro, todos os vinte e quatro destinos estão confirmados na ordem e datas solicitadas, assim como as reservas nos hotéis, os detalhes nas decorações, os translados e os veículos. Organizei todos os documentos pessoais e de viagem, cronogramas e folders informativos em uma pasta preta, que está em sua bagagem de mão e deve estar em sua cabine agora.

- Sempre muito eficiente, obrigado. Agora me diga como está a construção da casa no Rio de Janeiro.

- Me desculpe a impertinência, Majestade, mas essa construção não pode ser chamada de casa ou mansão, é um verdadeiro forte. O espaço utilizado é muito amplo e isolado, permitindo que um enorme muro fosse criado priorizando a proteção e vigilância, guarda uma semelhança com a arquitetura indiana, por isso tem demorado mais do que o previsto, mas continua sendo observado e vistoriado de perto por seus advogados e está em fase de conclusão, garantem que será entregue na data máxima prevista.

- Está bem, quero me mantenha informado de qualquer eventualidade. Só mais uma coisa, peço que cuide pessoalmente do bem estar dos meus sogros e amigos, não permita que nada lhes falte e que sejam tratados com o carinho e respeito que merecem, mas não quero que saibam que é um pedido meu.

- Lhe manterei informado e cuidarei de tudo. - ela garante.

- Muito obrigado, aproveite a festa e também as suas férias.

- Estarei disponível a qualquer momento que Vossas Majestades desejarem.

Agradeço e encerro a chamada.

Observo pela janela a movimentação no campo de aviação, Salmaan pede permissão para se aproximar.

- Mahaamahim, mahaaraanee upahaaron, trauseu aur gahanon kee naee khep abhee aaee hai, mujhe kya karana chaahie? Ham Agra mein chhod dete hain, kya aap jet mein rahenge ya Brazil bhejenge? (Majestade, um novo carregamento de presentes, enxovais e jóias da Imperatriz acaba de chegar, o que devo fazer? Deixamos em Agra, seguirá no jato ou mandamos para o Brasil?) - ele diz.

- Brazil mein atirikt saamaan bhejen, mere sachiv kee madad par bharosa karen, use pata hoga ki kya karana hai. (Mande para o Brasil o excesso de bagagem, conte com a ajuda da minha secretária, ela saberá o que fazer.)

- Ji, Dirrábana. (Sim, Majestade.)

Noto que o palanquim que traz a Imperatriz está chegando, faço questão de recebe-la.

- Ko titar-bitar. (Dispersem.) - dou a ordem e todos os servos e funcionários se afastam imediatamente, deixando o espaço livre para que eu ajude a minha esposa a sair do palanquim.

A conduzo para o interior da aeronave, nos acomodamos na cabine dos passageiros porque o jato deve decolar em breve, faltam apenas alguns minutos.


Os últimos momentos em Hindustan foram de grande expectativa e emoção. Estou partindo, mas deixo grande parte do meu coração neste país, meus pais, irmão, familiares, padrinhos e madrinhas, sinto muito por não poder me despedir de cada um com a mesma liberdade de antes.

O Imperador vem me receber e vai me conduzindo ao interior da aeronave e a medida que subimos a escada, ouvimos o intenso e desesperado choro das minhas sudras nessa inevitável separação.

Entramos e logo em seguida as portas são fechadas, noto que é uma aeronave semelhante a que nos levou para a Itália, embora a decoração seja um tanto diferente e requintada.

Vamos para a cabine de passageiros, que conta com dois ambientes, o maior com doze poltronas confortáveis e reclináveis, com pequenas mesas e telas de televisão, antes que eu continue a conferir os outros detalhes, Pati me conduz para o outro espaço onde há apenas quatro poltronas, nos acomodamos nas duas que ficam bem ao lado da porta, dando-nos uma visão privilegiada da paisagem, afivelamos nossos cintos e minutos depois o comandante faz a habitual saudação e nos informa a respeito das condições de vôo, estranhamente sem dar qualquer pista a respeito do nosso destino.

Recosto na poltrona em silêncio, me distraio olhando os detalhes das cabines que estão mais adiante.


Jagadeesh Manohari (Eros Myron) POV:

Decido deixar grande parte dos servos e guardas em Hindustan, conheço as normas e exigências de segurança para os Imperadores, mas o que me importa é ter privacidade com a minha esposa.

Ajusto a poltrona para me preparar para a decolagem, o silêncio confortável desse momento me induz a uma reflexão.

No meu retorno para Hindustan, organizei o shádi detalhadamente e com tanto zelo que acreditava que absolutamente tudo estaria sob controle, mas muitas situações me mostraram que eu estava enganado.

Mandei que investigassem meus principais inimigos e seus paradeiros, os Soberanos mantiveram escolta armada ao meu redor porque todos nós esperávamos por uma retaliação de Rafik Saik, uma vez que ele imaginava que eu estivesse morto depois da sua invasão no Forte Agra e de ter me sufocado quase até a morte, quando eu era apenas um bebê, motivo pelo qual me refugiei no Brasil, me distanciando dos meus pais, país e povo... Como poderíamos ter sido tão ingênuos para não supor que Rafik Saik chanteagearia um dos nossos soldados e atacaria a minha futura esposa e Princesa Maratha! Isso me levou ao limite da fúria e por isso o matei junto com seus homens de confiança, além dos homens que deveriam ter protegido a minha Dulhana.

Maan estava muito orgulhosa e feliz, tanto por me ver em casa quanto pelo shádi. Dedicava-se alegremente à preparação de todos os detalhes do casamento ao meu lado, sabia como organizar cerimônias hindus, teve que aprender em respeito a religião do até então Imperador, quantos casamentos e noivas ela teve que preparar para o marido.

Meu retorno acirrou os ânimos e as disputas de poder em Agra, o Imperador Himanshu controlava a situação com toda a sua austeridade, como um governante ufano fazia questão de mostrar cada detalhe de suas conquistas, me obrigando a estar a par de todos os acontecimentos do Império nas incontáveis reunião de ministério, conselho e audiências com o nosso povo, ajudando nas resoluções e propostas, mesmo sem imaginar onde ele queria chegar com tudo aquilo.

O pronunciamento e a coroação foram totalmente inesperados, uma vez que o Imperador demonstrava estar no auge do seu vigor e ainda arrogava o domínio de todas as províncias, essa súbita transferência de poder não me agradou, mas eu não tive alternativa e por isso me resignei, afinal não podia afrontá-lo.

Era angustiante ver os nossos amigos e padrinhos incomodados com a presença dos meus pais, mesmo sabendo que o poder e status deles intimidavam a todos. Me atormentava não poder sanar suas dúvidas contando toda a verdade, permitindo que meus segredos fossem revelados durante o pronunciamento do Soberano... Talvez um dia possam me perdoar por toda a inquietação causada pelas minhas omissões.

Penso na minha Weenny...

As cerimônias do nosso shádi realizaram o sonho da minha vida. Vê-la vestida como uma Dulhana, pouco a pouco as servas dela foram lhe acrescentando jóias e brilhos, deixando-a mais exuberante. Weenny encantava a todos não apenas com sua beleza, mas com suas palavras, gestos e danças... Ela era a luz que iluminava todos os ambientes.

Todas as promessas que lhe fiz vieram do fundo do meu coração e cada compromisso que firmei hei de cumpri-los enquanto eu tiver vida. Darei à minha esposa uma vida com todas as dezesseis benevolências e amor, meu coração há de me guiar para suprir todas as necessidades dela e mais do que isso, tudo o que meu coração ordenar fazer por ela será pouco.

Weenny foi enredada na teia dos meus segredos, acreditava que o ápice de sua aflição seria ir para a Índia, conhecer os Imperadores e agir como uma Princesa durante nosso shádi, com certeza imaginando que teríamos o direito de voltar para a nossa casa e viver como pessoas comuns, ao lado dos nossos amigos... Mas ela foi arrebatada para o meu destino e impedida de decidir seu futuro.

Imagino o quanto isso tudo pareceu inadequado e injusto, afinal nasci como Príncipe, fui educado e preparado para que me tornasse governante um dia, enquanto minha Weenny preparava-se apenas para se portar bem durante o cerimonial.

Mesmo com todas as obrigações que vieram sobre nós como Imperadores, a minha principal responsabilidade neste momento é a felicidade da minha esposa, por isso desafiei o Soberano e requeri o meu direito de viajar em lua de mel, logo depois retornaremos para o Brasil para que eu possa dar a ela a sua nova casa.

Deixei Hindustan sob a regência do meu antecessor, ao lado dos atuais ministros e conselheiros.

Olho para a Imperatriz e parece que ela está distraída com suas próprias reflexões, dedilha seu colar mais longo e suspira.

Recordo dos momentos empenhados na preparação do roteiro ideal para a nossa lua de mel, baseando as minhas escolhas nas preferências da minha esposa, em nossa segurança e privacidade, em especial agora que somos Imperadores, por isso algumas modificações de última hora são necessárias, evitando a agitação dos grandes centros e mantendo uma equipe de segurança, prevenindo a curiosidade e o assédio da imprensa.

Weenny nunca expressou o desejo de ir nos destinos mais comuns e desejados por todas as mulheres e noivas, como Paris e Itália, por exemplo. O único pais que ela sempre desejou conhecer é o pais que governará ao meu lado, a nossa Índia.

Passamos alguns dias nessa preparação, escolhi vinte e quatro destinos paradisíacos e inesquecíveis, busquei por instalações, atrações e passeios que nos agradassem, em alguns casos a viagem poderia seria estendida à cidades ou ilhas adjacentes. Andrea procurou criar a ordem do roteiro pela proximidade, facilitando o acesso pelos aeroportos e também os traslados para os hotéis e principais roteiros, além dos aluguéis de carro, passaportes, visto, caso necessário e casas de câmbio.

Espero que minha esposa goste da surpresa preparada para ela.



Espero que tenham gostado.

Vidaai é o momento de despedida da noiva, afinal depois do casamento ela deixa de pertencer a sua familia e passa a pertencer à familia do marido, é auspicioso que todos chorem essa quebra de vínculo, ela está partindo com o marido.


Segundo a tradição indiana, Weenny já não pode chamar Jagadeesh pelo nome, deve chamá-lo de marido ou Pati (marido em hindi), ou chamar sua atenção tocando em sua roupa ou de qualquer forma, mas sem pronunciar seu nome.



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