Pertencer
Zoe suspirou cansada. Estava parada em frente ao espelho a muito tempo, tinha consciência disso, mas toda vez que tentava sair, seus olhos encontravam algum defeito em sua aparência e lá estava ela de volta retocando alguma coisa, seja na sua maquiagem, roupa ou cabelos. Nada parecia estar bom o suficiente.
Encarou o grande quarto que a rodeava, todos os pequenos detalhes naquele ambiente denunciavam a elegância daquele lugar. O ambiente espaçoso parecia comportar três ambientes diferentes, ali tinha tudo o que suas moradoras pudessem precisar para uma vida estudantil. Zoe fora a primeira aluna a chegar junto do outro bolsista, o que lhe havia dado a oportunidade de escolher uma entre as três camas do quarto. Ela escolheu a cama de canto, longe da porta e próxima da janela. Suas malas no canto da cama agora estavam vazias e todas as ruas roupas encontravam se meticulosamente dobradas e organizadas nos armários.
Desde sua chegada no dia anterior não conseguia parar de surpreender com cada pequeno detalhe da academia. Pavlova a acompanhou por todos os cômodos e lhe mostrou tudo que julgava ser útil ou curioso e após isso a levou para suas acomodações que ficavam em outro prédio, alguns a minutos de caminhada da academia. O prédio das garotas ficava a uma distância de alguns minutos do prédio dos garotos e a diretora fora incisiva ao lhe aconselhar a manter distância. Zoe apenas ouviu tudo em silêncio acenando com a cabeça vez ou outra.
Agora, ali parada no centro do espaçoso quarto, Zoe ainda tinha dificuldades para distinguir a realidade da fantasia, pois tudo ao seu redor parecia um grande conto de fadas. sentia que a qualquer momento acordaria e se depararia novamente com sua antiga vida, com a dor e a incerteza — Não que sua nova vida fosse muito diferente, afinal, ainda sentia a dor e a incerteza, mas desta vez ambos os sentimentos vinham adornados com todo o luxo que parecia lhe cercar.
Sentou-se na cama e sentiu seu corpo afundar no colchão macio, os lençóis frios acariciam sua pele em um convite que ela considerou aceitar. Tudo o que mais queria naquele momento era mergulhar na maciez de sua nova cama e se deixar levar por um sono tranquilo de horas, mas não podia.
Encarou o quarto e as outras duas camas vazias. Lembrava-se vagamente dos nomes de suas companheiras de quarto anunciados pela diretora horas mais cedo, mas estava tão impressionada com tudo ao seu redor que tal informação passou despercebida, mas de um fato ela lembrava-se, como regra da academia, princesas e príncipes não dividiam quarto com o restante dos títulos, estes tinham quartos individuais nos andares de cima — quartos esses com o dobro (ou o triplo) de luxo e conforto.
Os olhos de Zoe procuraram as horas no relógio digital moderno sobre a mesa de cabeceira da sua cama e se arregalaram, tinha apenas meia hora para estar no salão de convenções da academia e sequer lembrava-se de como chegar. Muito do que Pavlova havia lhe mostrado ou lhe instruído ainda permanecia em sua mente.
Rapidamente se levantou e caminhou novamente para frente do espelho, seus olhos correram o uniforme, suas mãos ajeitaram a barra da saia plissada em um tom roxo, a camiseta social branca carregava o brasão na escola na altura do peito, assim como o blazer também roxo como a saia, a gravata em seu pescoço lhe causava uma sensação desconfortável de pressão, mas ela a ignorou. Seus cabelos estavam soltos em belos cachos bem modelados, mas a parte da frente foi puxada para trás e presa por uma pequena presilha com um laço branco. Passou mais uma camada do batom claro em seus lábios e se deu por vencida — Realmente precisava sair daquele quarto.
Enquanto pegava alguns papéis que a diretora lhe dera mais cedo, ela procurou pelo celular em cima da escrivaninha e sorriu quando ascendeu a tela e o sorriso da irmã brilhou em seu papel de parede.
"Boa sorte. Você arrasa princesa."
A mensagem do irmão seguia com uma foto dela dormindo aos dezesseis anos depois de tomar seu primeiro porre em uma festa, uma coroa foi posta em seus cabelos desgrenhados por Caleb que fotografou o momento e guardou a foto consigo.
Regra número um de irmãos, nunca deixe seu irmão saber que você ama ele. Caleb era perito naquilo, os elogios do garoto nunca vinham sem uma humilhação a seguir.
Regra número dois de irmãos, nunca deixe seu irmão dormir sem o troco. Ela sorriu enquanto enviava uma figurinha de dedo do meio pra ele.
Pelo exterior, Zoe nunca imaginou que aquele palacete era grande, mas após virar dois corredores errados constatou que estava perdida.
— Droga.
Virou o mapa em suas mãos novamente se dando conta de que o mesmo estava de cabeça para baixo. No fim ela riu achando graça da sua própria estupidez— poderia ter rido mais se não fosse pelas horas que não paravam de correr e logo estaria seriamente atrasada.
Girou nos calcanhares voltando pelo caminho que havia seguido e agora seguindo o caminho certo. A movimentação de pessoas nos corredores indicava que agora estava no caminho certo. Mais alguns passos e finalmente estava no auditório. A movimentação no ambiente era polvorosa, permeada por ruídos provenientes das conversas paralelas dos pequenos grupos que se formavam.
Sob as portas de entrada do auditório pendiam pequenos arranjos de flores dividindo espaço com bandeirolas. Os tons roxo e branco brilhavam em perfeito contraste decorando o ambiente.
Zoe analisou todas as figuras ali presentes, suas posturas aristocratas e suas belezas a deixaram insegura sobre sua própria imagem. Ela abaixou os olhos enquanto ajeitava sua saia incerta sobre avançar ambiente adentro. Ela buscou no ambiente qualquer rosto que aparentava ser amigável, mas não encontrou.
Respirou fundo por longos segundos enchendo os pulmões de ar e a mente de coragem antes de avançar alguns passos adiante.
De repente todos os olhares estavam sobre si e o burburinho tornou-se cada vez mais audível. Ela rangeu os dedos e avançou mais dois passos. Notou que os assentos eram demarcados por nomes, separados por títulos, princesas e príncipes sentavam-se nas primeiras fileiras e seguia-se dos demais títulos indo por ordem de importância. Ela estava parada no centro do extenso tapete roxo disposto no corredor que separava os assentos e seus olhos corriam pelos pequenos papeizinhos presos às cadeiras com nomes em busca do seu. Quando seus olhos encontraram seu assento, ela sorriu minimamente decidida a se sentar o mais rápido possível. Um passo para trás e seu pé enroscou no tapete, seu coração errou uma batida o ar escapou deseuspulmoes de forma abrupta.
Eu não posso cair aqui.
Sua consciência gritou em desespero. Um pesadelo tomando forma em sua mente e se desenrolando na realidade. Tudo parecia estar em câmera lenta quando ela tentou desvencilhar-se do tapete, rodopiou sentindo as pernas bambas mas logo recuperou o equilíbrio, mas pode sentir sua mão ir de encontro a uma superfície gélida. O contato durou poucos segundos. Ouviu exclamações de surpresa e... terror?
— Sua... — Ouviu alguém dizer em um tom elevado e furioso.
Zoe virou-se em busca da dona da voz. Seus olhos arregalaram-se diante da surpresa quando encontraram olhos azuis a encarando com fúria. Uma breve análise e Zoe notou o copo de champagne quase vazio na mão da princesa Delila e uma grande mancha em seu uniforme na altura do peito. Seu coração deu um salto em seu peito e o ar escapou de seus pulmões de forma trôpega quando a herdeira do trono avançou um passo em sua direção. Os olhos azuis ardiam em fúria e Zoe pode jurar que sentiu o calor de sua ira atingir sua pele.
— Sua...
Todo o ruído cessou de forma abrupta e agora todos os olhos estavam voltados para elas. Zoe prendeu sua respiração quando tudo o que podia ouvir era a respiração entrecortada deixar os lábios da princesa que lhe lançou um olhar feroz.
— Tinha que ser você, a bolsista. — As palavras deixaram os lábios rosados da princesa em um tom jocoso.
Algumas risadinhas ecoaram ao seu redor, mas os olhos assustados de Zoe estavam fixos na em Delila.
— Eu sinto mu... — Zoe balbuciou.
— É por isso que eu sou contra esse maldito sorteio, pessoas como você não deviam estar aqui sua... — A princesa disse em um tom de voz audível.
As risadas soaram mais altas e desta vez alguém ousou a proclamar "Eu concordo". Zoe estremeceu.
— Delila... — Uma garota de longos cabelos pretos tentou intervir em um tom apaziguador, mas foi completamente ignorada.
Ela emitiu um humpf quando foi gentilmente empurrada pela princesa.
— Pessoas como você apenas descem o nível dessa instituição. — Acusou a princesa. — Agora faça o que você sabe fazer de melhor e limpe essa bagunça garçonete — Sibilou a loira entregando sua taça nas mãos de Zoe que atônita sequer se moveu, apenas aceitou o objeto em sua mão.
Zoe sentiu as paredes ao seu redor se fecharem, ela puxou o ar com mais força sentindo a dificuldade de respirar e ferir suas vias aéreas, as risadas ao seu redor soavam como a trilha sonora macabra de um filme de terror e as lágrimas queimavam seus olhos. Delila afastou-se dos passos e deu as costas a Zoe muito satisfeita do estrago que suas palavras tinham causado, mas voltou-se com um sorriso ferino dançando em seus lábios.
— A sorte é que eu sei que logo você vai voltar para sua vida miserável, todas vocês voltam. — Seu sorriso podia se assemelhar a qualquer sorriso de uma grande vilã de conto de fadas.
Ela voltou a se aproximar, sem medo ou preocupações, Delila aproximou seu rosto de Zoe até que seus lábios estivessem próximos do ouvido da mais nova. Ela sorriu de forma ameaçadora.
— Você vai me pagar, plebeia. — Sibilou de forma que apenas Zoe pudesse ouvir tão próxima que seu hálito quente tocou a pele do pescoço de Zoe.
E então o silêncio voltou a reinar na mente de Zoe que calou todos os ruídos ao seu redor tentando se concentrar no incêndio em sua mente. Seus olhos estavam cheio de lágrimas e sua garganta doía com a força que ela fazia para controlar as próprias emoções, ela travou seu maxilar contendo dentro de si todos os sentimentos que devastavam sua alma.
A princesa se afastou. Sua amiga agora a ajudava a limpar sua blusa enquanto sentavam-se lado a lado.
— Skyes é melhor se sentar. — Disse uma voz quando uma mão tocou seu ombro de forma gentil.
Zoe sentia a letargia dominar seu corpo, mas em sua mente habitava um caos barulhento e tortuoso do qual ela gostaria de fugir, ela queria poder correr e fugir para bem longe dali e esconder-se em um lugar pacífico e seguro.
— Skyes você precisa se sentar. — A voz feminina sussurrou bem próxima dela, desta vez mais incisiva.
Ela pode sentir um par de mãos lhe conduzir pelo ombro a obrigando a sentar-se. Gostaria de poder agradecer, mas não conseguiu formular nada coerente, então silenciou. Suas pernas tremiam e suas unhas arranhavam com certa força a pele exposta de suas pernas.
— Você não pode quebrar na frente deles Zoe, recomponha-se. — A voz soou mais definitiva e só então ela levantou seus olhos para encará-la.
Era apenas uma jovem, seus olhos castanhos a encaravam com firmeza, mas havia um calor gentil em suas íris achocolatadas.Os traços latinos evidentes combinavam perfeitamente com seus fios curtos em tom castanho com pequenas mechinhas mais claras.
— Logo eles esquecem. — Ela sussurrou pousando uma mão nas pernas de Zoe fazendo com que parassem de tremer. — Está tudo bem Skyes. — Ela sorriu minimamente.
Zoe sentiu seu coração desacelerar quando sentiu a mão da garota apertar a sua levemente, quando olhou ao redor notou que não havia mais olhares sobre si e que o burburinho já não era mais sobre ela. Respirou fundo enchendo os pulmões de ar, calou o caos em sua mente e acalmou os seus demônios.
— Obrigada. — Sussurrou sem encontrar forças para mais do que aquilo.
— Disponha. — Respondeu a garota dando dois tapinhas no joelho de Zoe com um sorriso simpático nos lábios. — Eu sou Kyle a propósito, sua colega de quarto. — Apresentou-se apontando para a plaquinha com seu nome em seu assento.
Zoe levantou os olhos e ensaiou um sorriso para a garota, não sabia bem como agradecer a ajuda, mas estava imensamente grata por Kyle ter lhe estendido a mão enquanto afundava — certamente se afogaria se não fosse a gentileza da garota.
— Logo Ayla também chega. — Kyle comentou apontando na direção de outra plaquinha ao lado do assento de Zoe. — Ela tem mania de chegar atrasada. — Murmurou a jovem enquanto arrumava sua postura. — Ela gosta da adrenalina de estar sempre em cima da hora...
Zoe ainda estava atônita demais para se importar com o que quer que Kyle estivesse falando. Seu coração ainda batia fora do ritmo em seu peito e sua respiração ainda saia entrecortada por seus lábios, mas seus olhos estavam focados nos cachos dourados não muito distantes dali, no sorriso que parecia gentil, mas escondia algo felino, na forma como ela parecia confortável rodeada por todos, como liderava a conversa, sua postura ereta e seu riso contido e educado. Zoe questionava-se como a mesma pessoa que lhe humilhara a poucos minutos atrás agora estava cercada de bajuladores e conseguia ficar apenas ali, sorrindo e sendo perfeita? — ela nunca entenderia.
Lembrou se do dia em que vira a princesa Delila em um outdoor e sentiu raiva por tudo o que aquela garota mimada representava na sociedade — horas depois repreendeu-se pelo julgamento, afinal, se quer conhecia a garota para culpá-la por todos os problemas sociais do mundo, e se precisasse ser sincera, ainda não podia culpá-la, mas todo o restante que achara aquele dia, agora sabia ser verdade e novamente aquele fúria tornou a tomá-la. Detestava a princesa Delila!
— Cheguei. — Uma voz feminina soou ao seu lado sentando-se à sua direita a arrancando de seus devaneios.
— Atrasada...
— A diretora ainda não chegou, conto isso como uma vantagem. — Rebateu a outra garota.
Zoe moveu-se para olhá-la e a primeira coisa que notou fora o fone de ouvido meticulosamente bem escondido atrás das ondas pretas de seu cabelo — que Zoe pode vê-lo apenas por conta de sua posição. A garota recém-chegada lhe lançou um sorriso oscilando seus olhos para o papel que agora estava no colo de Zoe.
— A garota da bolsa. — Pontuou animada com um sorrisinho animado curvado em seus lábios.
— Não chama ela assim... — Kyla sibilou curvando-se um pouco sobre as pernas de Blair para que pudesse ser escutada.
— Mas ela é a garota da bolsa, ué. — A outra murmurou dando de ombros.
Kyle espalmou a mão na testa e fechou os olhos enquanto soltava um longo suspiro contrariada.
— Essa é Ayla, Zoe, nossa colega de quarto e minha prima.
— Encantada.
Ayla estendeu a mão em um cumprimento eufórico que Zoe aceitou um tanto confusa — a essa altura definitivamente não esperava tanta gentileza vinda de ninguém daquele lugar.
— Você está bem Zoe? Parece abalada!
Ayla a questionou tocando a ponta do dedo em seu fone — Zoe suspeitou que para pausar a música.
— Delila já fez sua apresentação para ela. — A outra garota sussurrou.
— Ah sim entendo. — A garota se endireitou na cadeira, seus olhos fixos no palanque vazio e então ela suspirou profundamente. — Ela tem esse efeito nas pessoas mesmo, eu chamo de efeito herdeira do mal... combina com ela. — Ayla resmungou gesticulando efusivamente com as mãos. — Você não faz realmente parte da academia se não levou um esculacho da patricinha ali. — Apontou discretamente para Delila.
Zoe maneou a cabeça sorrindo de canto. Estava esforçando-se para emergir se do pânico que lhe corroía e lhe afogava lentamente, precisava ancorar se a algo antes que afundasse por completo e por sorte o falatório das duas garotas estava sendo de grande ajuda.
— Olha ela ali, toda perfeitinha. De longe não parece que é um ser humano horrível. — Ayla fez uma careta arrancando um riso contido e educado da parte de Kyle.
— Tenho pena dos pobres coitados que forem fazer parte de seu conselho quando ela for coroada. — Kyle murmurou.
— Pode ser uma de nós. — Pontuou Ayla.
— Eu me mato antes. — Rebateu de imediato arrancando uma pequena risada de Zoe.
O burburinho ao redor da sala cessou de forma abrupta. Zoe assistiu as pessoas apressarem se para tomarem seus assentos e ajeitarem sua postura. Mesmo confusa ela os imitou ajeitando a postura de seus ombros e sentando se ereta.
Sobre o tapete central passava a diretora seguida de uma mulher que Zoe conhecia bem, Emma falava muito dela. A rainha consorte Portia. Seus cabelos castanhos claros estavam presos em um coque alto e bem detalhado com algumas tranças adornando o, seus fios brilhavam e Zoe deduziu ser a quantidade excessiva de laquê. A tinha um nariz um tanto pontudo e ele estava bem empinado enquanto a mulher desfilava até o pequeno palco. Ela acenava em todas as direções — algo bem comum entre a realeza e seu caminhar era confiante. O batom carmim que cobria seus lábios, no entanto não pareceu algo que uma rainha usaria.
— Boa noite alunas. — A diretora cumprimentou ao se posicionar atrás do pequeno palanque de vidro. Ela ajeitou os óculos na ponta do nariz e em seguida o microfone. — É uma honra para esta academia recebê-las para mais um ano letivo. Queremos que essas paredes sejam o seu lar durante esse ano.
As duas mulheres pareciam tão diferentes, enquanto a presença da rainha era algo espaçoso e intimidador, Pavlova tinha expressões suaves e um gentil sorriso nos lábios, a mulher transparência certa confiança e força.
— Esse ano temos expectativas altas para com vocês, queremos e exigimos excelência em tudo que forem se propor a fazer. — A diretora soou séria, mas seus olhos não combinavam com a seriedade no tom austero de sua voz. — Suas posições futuras dependem apenas de vocês!
Rainha Portia parecia uma águia, Zoe constatou. Seus olhos atentos analisavam minuciosamente cada pequeno detalhe do ambiente, nada do que acontecesse ali passaria despercebido pela mulher.
— Nunca se esqueçam senhoras e senhores, seus futuros pertencem apenas a vocês mesmos. — A diretora abriu os braços levemente e sorriu. Logo ela ajeitou a postura.
Na frente do palanque encontrava-se uma pequena mesa, algumas caixinhas estavam empilhadas sobre a mesma e dois funcionários aguardavam futuras instruções.
— Nesta noite vocês recebem suas insígnias, condizentes com seus futuros títulos de nobreza, apenas um lembrete do que vocês podem vir a ser com esforço e dedicação.
A partir daí começou uma sucessão de nomes a serem chamados. Um a um, todos os presentes se encaminharam até a pequena mesa e receberam a pequena caixinha. Zoe teve seu nome chamado juntamente de Thomás (o outro bolsista) e com um sorriso ela recebeu a pequena caixa com suas iniciais em letras formais gravadas em um tom dourado.
— Esses pequenos broches fazem parte dos seus uniformes. Não os percam de vista.
Zoe abriu sua caixinha muito vagarosamente ansiosa com o que encontraria. Sob o tecido acolchoado em um tom roxo, repousava um broche dourado. Ela sorriu arrastando a ponta do dedo sob a superfície gélida do objeto. O broche tinha o formato de uma flor que parecia desabrochar e em seu centro duas pedras brilhavam. Era como se as pétalas escondessem o brilho das pedras. Era lindo. Ela prendeu o broche em seu peito ao lado do brasão da academia e sorriu muito orgulhosa.
— Ouch.
O grunhido de Ayla a fez virar-se para encarar a garota. Ela sorriu ao assistir a garota levar o dedo a boca com uma careta de descontentamento em seu rosto.
— Como você conseguiu se furar com um broche Ayla? — Questionou Kyle resignada.
Zoe sorriu.
— Tem uma ponta afiada Kyle.
Zoe sorriu mais ainda com o tom provocativo que deixou os lábios de Ayla. O broche da garota também era dourado, em um formato circular com o formato de uma lua minguante esculpida em seu centro e ao seu redor, algumas estrelas foram pintadas de branco na superfície dourada. O broche de uma futura viscondessa, se Zoe bem lembrava.
Zoe virou se para a direita. O broche de Kyle já estava preso a sua roupa também na altura do seu peito. O formato de uma borboleta com asas abertas fora esculpido no metal tingido de dourado. Blair procurou em sua memória o título pertencente ao broche, mas falhou.
— Duquesa. — Informou Kyle ao perceber o olhar de Zoe sob o objeto em seu peito. — Meu pai é um duque.
Zoe apenas maneou a cabeça silenciosamente sem saber o que fazer com a informação.
— Agora passo a palavra para a nossa Rainha, Portia — A voz da diretora ecoou novamente atraindo a atenção de todos.
As pessoas aplaudiram quando a rainha assumiu o lugar da diretora atrás do palanque.
— Que honra ver tantos rostos belos.
— O sorriso que esticou-se em seus lábios não parecia natural. — Estou orgulhosa de poder recebê-los em nossa instituição para torná-los homens e mulheres fortes e futuramente grandes líderes. Todos os anos são especiais para o nosso reino, mas este ano é ainda mais. — O sorriso esticou se ainda mais em seus lábios, se é que aquilo era possível. — Pois a futura rainha de Blumen, minha filha Delila será coroada ao final deste ano tornando-se a rainha da maior coroa do mundo. — Rainha Portia apontou para a filha que estava sentada na primeira fileira. — Peço uma salva de palma para a nossa herdeira.
Novamente o som de aplausos tomou conta do lugar quando a princesa Delila levantou-se e acenou com um sorriso perfeito curvado em seus lábios. Ela sentou-se novamente e o silêncio espreitou-se pelo ambiente.
— Eu tenho uma resolução para a vida na nobreza que quero compartilhar com todas vocês. — A rainha começou irrompendo o silêncio. — Nem todos estão preparados para a vida na nobreza, para liderar e ajudar a liderar, não importa a cor do seu sangue ou a sua linhagem, se você não nasceu para isso você simplesmente não será bem-sucedido nisto. — Continuou a mulher agora soando um tanto mórbida. — Entenda, que se esse não é o seu lugar você precisa partir para ele.
As íris da rainha consorte repousaram sobre Zoe e ali permaneceram por longos segundos, um sorriso ladino acentuou o veneno em suas palavras e Zoe sentiu o gosto amargo da vergonha tomar seu paladar pois todos a olhavam agora — novamente.
Mas logo a voz aguda de Portia voltou a soar nos alto-falantes atraindo todas as atenções para si.
— Mas eu tenho certeza de que todas aqui terão êxito e entregaram o seu melhor! — Ela sorriu muito satisfeita.
Após uma troca de olhares com a diretora, a rainha recuou um passo cedendo espaço no palanque para a diretora que aceitou com um sorriso lisonjeado.
— Bom... depois de um discurso motivacional como este não me resta muito o que dizer. — A diretora sorriu para a rainha consorte — Então ficarei apenas no básico. Neste ano manteremos as regras usuais de todos os anos que encontram-se no kit de boas-vindas que todos vocês receberam. Não esqueçam que o quebramento das regras pode gerar punições severas ou até mesmo sua expulsão desta academia. — Pavlova tinha um tom severo que fizera Zoe abaixar os olhos para encarar os próprios pés. — Nesta academia valorizamos a honestidade, compromisso e gentileza, nunca se esqueçam disso! Dado isso, eu desejo a todos vocês um ótimo ano. — A diretora sorriu e mais aplausos tomaram o lugar. — Em comemoração a este primeiro dia daremos um coquetel no grande salão para recepcioná-los como vocês merecem.
Houve um pequeno burburinho animado que soou ao redor, alguns pequenos aplausos e gritos contidos que logo foram encerrados pela diretora com sua voz severa.
— Dito isso, bem-vindos à escola de realeza.
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