Capítulo 07

200 ANOS ATRÁS

A luz dourada do pôr do sol batia levemente no campo de trigo e atravessava as folhas das árvores que cercavam a plantação deixando uma atmosfera aconchegante e mágica, a brisa, já fria do anoitecer, balançava a plantação que estava quase pronta para a colheita e passeando em seu meio abrindo um caminho invisível, um grupo de quatro garotas corriam de volta para casa em uma aposta de corrida em meio a risadas e gritos alegres.

— Irene não pega ninguém! Não pega ninguém! — gritava Sarah puxando Joanne por um braço e Wendy pelo outro, deixando a mais velha para trás.

— Quando eu pegar vocês, vão se ver comigo! Eu vou puxar a orelha de vocês.

— Você está velha demais para isso! — gritou Joanne rindo da cara ofendida que a irmã fez — Velha! Velha!

— Eu vou te bater, Joanne! Vai lavar as roupas com as piores manchas.

As quatro riam enquanto corriam, até mesmo Irene vendo que suas irmãs mais novas sempre a provocavam com o fato dela já ter passado da sua "juventude", mesmo que Sarah e Wendy fossem somente dois anos mais novas. Era uma relação saudável entre irmãs que Irene amava e preservava mais do que tudo na vida, fazendo o possível e o impossível para protegê-las.

Até aquela fatídica noite.

As chamas altas queimavam a casa das garotas, não restando nada que pudessem salvar ou tentar apagar o fogo, que já consumia tudo ali dentro. E mesmo que tentassem, um grupo grande de aldeões estavam enfurecidos ali com tochas e forcados prontos para lutarem contra as quatro garotas.

— Lá estão elas! — uma mulher apontou para as quatro garotas que estavam paradas no lugar vendo a casa queimar — Bruxas! Bruxas!

Irene tomou a dianteira das irmãs, puxando-as para atrás de si e ficando com o corpo na frente, como um escudo.

— O que estão fazendo? — ela perguntou olhando para os aldeões — Vocês queimaram a nossa casa! Exijo saber o motivo.

— Suas irmãs Irene, elas são bruxas! Estão trazendo a desgraça para esse lugar, e agora elas devem queimar na fogueira.

— Minhas irmãs não são bruxas! Deve estar havendo algum engano, nem tudo o que acontece de ruim pode ser culpa de uma mulher, a natureza às vezes...

— Calada! — gritou um dos homens dando um tapa na cara de Irene, forte o suficiente para derrubá-la no chão e assim, conseguirem pegar as outras garotas. Por mais que Irene se debatesse, ela estava imobilizada por quatro homens com o dobro do seu tamanho que lhe davam murros a cada vez que tentava se soltar, tornando em vão suas tentativas de salvar as irmãs.

Joanne foi a primeira a ser amarrada em um pira, os gritos em meio ao choro da mais nova Revelvet eram altos assim como os pedidos de misericórdia enquanto o fogo a consumia. Wendy foi logo em seguida, e mesmo tentando não gritar quando suas pernas e quadril estavam sendo queimados, ela acabou se sucimbindo pedindo para que a deixasse viver. Sarah não gritou nenhuma vez quando foi colocada na fogueira, mas chorava de forma desesperada olhando para Irene e dizendo a todo momento que amava a irmã.

O corpo das três Revelvet estavam carbonizados na fogueira, quase irreconhecíveis.

— NÃO! NÃO! SEUS PORCOS MISERÁVEIS! EU VOU MATÁ-LOS! — Irene gritava tentando se soltar, mas sempre acabava apanhando, chegando ao ponto que seu corpo não aguentou e caiu no chão. A dor era tanta que parecia que iria morrer ali mesmo, e ela desejava isso se fosse a única forma de poder se unir com suas irmãs novamente.

— Mas o que está acontecendo aqui?

A multidão olhou para trás vendo um grupo de pessoas pálidas, encapuzadas com um manto negro e vermelho tão caros que diziam claramente o quão nobres eles eram. Na frente, Aro, olhou para a garota caída no chão com sangramentos profundos o suficiente para matá-la, e iria, ele já podia ouvir o seu coração ficando fraco.

— Essas mulheres são bruxas, estávamos dando a punição merecida! — explicou um aldeão.

— Bruxas? Mas que... interessante saber deste fato — a voz de Aro soava com malícia enquanto olhava para Caius, que tinha um sorriso sádico nos lábios porque ali estavam a prova de que os boatos espalhados por eles haviam surtido efeito — E essa que está no chão? Também é bruxa?

— Não, essa é a irmã delas, mas nunca fez bruxaria. As irmãs eram médicas e parteiras, todas as crianças que nasceram pelas mão delas morreram. Nós perdemos nossos filhos por causa delas — explicou uma mulher.

— E como sabem que ela não é bruxa? Se a família dela toda é — Caius se pronunciou, os olhos vermelhos brilhando com a maldade que escorria por suas palavras — Vocês podem ter se enganado, ela também deveria morrer, não acham?

A multidão olhava para Irene, que estava desacordada no chão pelos golpes brutais que levará, pensando na possibilidade do que Caius disse ser real, já que ela poderia muito bem ser uma bruxa disfarçada.

— Eu acho meu irmão, que deveríamos cuidar dela — Marcus se pronunciou pela primeira vez.

Aro olhou para Marcus e assentiu, fazendo sinal para dois membros de sua guarda pegarem a garota no chão. Demetri pegou Irene com facilidade, o corpo ensanguentado pela agressão fez com que todos da guarda sentissem um desconforto na garganta.

— Iremos cuidar dela, podem voltar às suas vidas — Marcus disse para o que parecia ser o líder dos aldeões.

— Mas...

— Iremos cuidar dela — garantiu Aro com sua falsa inocência antes de olhar para os aldeões com um sorriso macabro que os fez recuar — Mas a pergunta é quem cuidará de nós, porque estamos com fome.

Não foi preciso nem dez minutos e todos os aldeões que haviam matado três das irmãs Revelvet foram mortos pela guarda Volturi de uma forma tão brutal que acabaram sendo queimados para evitar quaisquer pistas do massacre que houve ali e, no meio da confusão, Irene gritava de dor após receber a mordida repleta de veneno de Marcus.

A mordida que a transformaria em um monstro bebedor de sangue.

•••✦•••

Quando Irene abriu os olhos, sentiu que algo estava estranho e que havia mudado.

O ambiente era um quarto luxuoso do tipo que nunca teria na vida que levava com suas irmãs, e o que mais lhe chamou atenção foi um espelho adornado no canto do cômodo. Levantando-se lentamente, Irene parou de frente ao mesmo pulando de susto com o que havia acabado de ver.

A pele fria, pálida e dura como mármore a fazia indestrutível como uma máquina de combate, seus olhos vermelhos como cerejas captavam a menor das poeiras com tantos detalhes que nenhum humano normal poderia ver e sua garganta ardia como ferro em brasa, aquilo a começou a deixá-la louca por querer se livrar daquilo o mais rápido possível.

Queimava como o inferno!

A porta se abriu e Irene ficou na defensiva ao ver que três pessoas entraram no quarto, dois homens e uma mulher, todos elegantes com suas roupas pretas e a Revelvet não teve como reparar que eles possuíam os mesmos olhos que os dela.

— Os mestres querem vê-la — avisou a loira, a mais baixa entre os três, com uma expressão tão séria que a fazia parecer mais velha do que era de fato.

— Mestres?

— Quem salvou sua vida, vamos? — um dos rapazes, que se parecia muito com a loira, se pronunciou.

Sem saber o que fazer, Irene apenas seguiu os três pelos corredores do que parecia ser um castelo de pedra. A luz do sol entrava muito pouco naquele lugar, fazendo com que as sombras predominassem em boa parte dos ambientes exceto em um lugar.

Três tronos tomavam um amplo salão, e sentado em cada um deles, três homens que mantinham os semblantes bastante sérios ao ponto de serem amedrontadores.

Mas Irene não os achava assim.

— Irene, fico feliz que você esteja bem e devo dizer, maravilhosa nessa sua nova vida — o homem que estava sentado no meio disse enquanto se levantava e caminhava até a garota, mas ela recuou vários passos olhando para todos ali na defensiva.

— Quem são vocês? Por que me salvaram? Deviam ter me deixado morrer junto com as minhas irmãs?

— Quanta audácia! — o loiro que estava em um dos tronos esbravejou — Devia ser grata por termos te dado essa vida. Devia agradecer de joelhos sua humana imunda.

— Eu não pedi por isso! — Irene respondeu no mesmo tom — Seja lá o que virei... o que vocês me transformaram, está me deixando com a garganta ardendo como o inferno.

Alguns vampiros que observavam a cena deram risadas, inclusive um dos rapazes que a buscou no quarto.

— Então, permita-me informar que Demetri, Alec e Jane irão ajudá-la com a sua alimentação fora da cidade e nas suas primeiras acomodações onde desejar — disse o outro homem, que tinha uma aparência mais serena do que os outros dois.

— Sim mestre — respondeu a loira, que Irene descobriu se chamar Jane.

— Certo, mas porque vocês me transformaram? Por acaso eu irei tomar o lugar de vocês e me sentar neste trono? Ou vou ser muito rica como vocês?

— Você terá um futuro grandioso aqui em Volterra, seria uma lástima uma vida perder uma vida tão preciosa quanto a sua, eu tive que fazer isso — o mesmo homem com aparência serena respondeu para a recém criada se levantando do trono — Vá. E quanto estiver pronta, terá seu lugar de direito na guarda. É uma promessa.

Irene assentiu.

Os quatro vampiros saíram correndo do castelo e ensinaram sobre como caçar para a Revelvet, e como manter o segredo da existência deles ao longo dos dias que passaram juntos na missão de adaptá-la ao mundo.

— É aqui que nos despedimos — Demetri falou quando chegaram na fronteira ao norte da Itália — Para onde vai?

— Acho que vou para casa, não sei ainda.

— Então se cuide — disse Jane — Não nos faça ir atrás de você e te matar por descumprir as regras.

— Não farei.

A viagem para o seu vilarejo durou alguns dias. A Revelvet voltou para a antiga casa e acabou encontrando alguns objetos que as suas irmãs usavam, resolvendo guardar todos como a única lembrança que tinha delas. Mas, antes mesmo que se estabelecesse em algum lugar, Irene ouviu algumas mulheres falando na feira do vilarejo.

— Aqueles ricos estavam certos, aquelas meninas eram mesmo bruxas. Pelo menos agora estaremos a salvo.

— Pois é, e o ouro que eles deixaram, com toda a certeza fará diferença.

Irene fechou as mãos em punho tentando controlar a raiva. Foram eles, foram os malditos Volturis que tiraram sua vida e mataram suas irmãs, suas doces e inocentes irmãs. Saindo correndo usando a nova velocidade que veio junto aos seus poderes, e sem olhar para trás, ela jurou pela alma de suas irmãs que iria se vingar e matar todos, não importava quem fosse.

Seus olhos não brilhavam mais pelo sangue, Irene era movida pela vingança contra os Volturi.

•••✦•••

Notas da autora: Hey pessoal, como estão?

Eis que tivemos nesse capítulo o passado de Irene, sua transformação, sua revolta e tudo mais. Já podemos começar a passar pano para o que ela fará em seguida? Escarlate já está entrando na reta final e agora começa os tiros, porradas e bombas.

Me digam o que estão achando, quero saber de tudo!

Beijinhos com presas!


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