Capítulo 4 - Os candidatos
Todos se voltaram para as fotos que pipocaram em fileiras na tela até tomar todo o quadrado.
– Atenção, pessoal do marketing... – disse Oscar. – Olhem para esses rostos, imaginem o potencial de cada um.
– E de cada biografia também – ousou completar Lilibeth. – Os candidatos se inscreveram pelo aplicativo disponibilizado pela nossa firma de informática parceira. Eles pagaram o valor da inscrição e aguardam o resultado. Os critérios gerais de desclassificação, a princípio, estão no edital: todos os pré–selecionados tiveram o pagamento da inscrição comprovado pelo banco, preencheram corretamente o formulário, concordaram com as regras e os riscos do jogo, bem como com a cessão de imagens; tomaram as duas doses de vacina da COVID.
– Agora, vamos às bios... – anunciou Alice. – Cada qual precisou apresentar uma bio resumida. E quem quis anexar uma carta de apresentação ou qualquer coisa que achasse que ajudaria a ser escolhido, também pode fazê–lo. Sendo assim, nós pré–selecionamos aqueles que enviaram mais elementos para que nós pudéssemos conhecê–los. Alguns enviaram vídeos, outros enviaram cartas, outros enviaram um trabalho artístico...
– Trabalho artístico? – Oscar franziu o cenho.
– Obra em vídeo – explicou e vendo que Oscar ficou na mesma, acrescentou: – Tik Tok.
– Ah...
– Nossa tarefa, hoje, é passar o pente fino nessas pessoas. Não iremos avaliar individualmente, mas como elas se sobressaem como duplas inscritas.
Eleonor apareceu nesse instante e deu passagem ao pessoal da copa: – Com licença, senhor.
Nenhuma pessoa de fora do prédio tinha permissão para circular no interior da sede, por causa das normas para COVID, e os entregadores da lanchonete deixaram tudo na recepção do térreo.
Os rapazes colocaram as sacolas de sanduíches e bandejas de cafés expressos tampados, na mesa central, e foram embora. Oscar chamou Eleonora.
– Mande trazer as cabeleireiras e maquiadoras. Quero a opinião delas sobre os rostos nessas fotos.
– Mas, senhor, pelo que entendi, os competidores vão correr e suar pra danar nessas provas... – Eleonor argumentou.
– Eu não quero maquiá–los ou penteá–los – ele riu baixinho. – Só quero a opinião sincera de profissionais acostumados a lidar com rostos e cabelos. Vamos escolher as pessoas mais fotogênicas.
Eleonora afastou–se para cumprir o solicitado, embora não concordasse com a lógica. Infelizmente, aquele era o mundo da televisão e aparência era tudo.
Será?
–––
– Bom... A pausa acabou. Agora que já descansamos, vamos retomar – disse Oscar, olhando para o relógio. Passaram a manhã e a tarde toda escolhendo candidatos. Os conselheiros participaram até o fim da manhã, bem como os demais diretores, gerentes e técnicos responsáveis pelos outros departamentos. Agora, restava a equipe de marketing junto com a equipe de Nicholas. E, claro, ele próprio como presidente e maior interessado no programa. No entanto, eram quase seis horas da tarde e ele queria ir para casa, relaxar.
Desde a pandemia, Oscar desenvolveu um gosto particular pela sua fortaleza pessoal.
Eles colocaram na tela o resto de rostos que ainda não foram selecionados. À medida que apontavam para uma dupla, acessavam a biografia para dar vida aos rostos. Era um trabalho demorado e que exigia atenção.
– Bem... Acho que uma dose de anti-heróis seria interessante para dar tempero ao programa – reafirmou Alice.
– Você vai insistir nisso? – Lilibeth deu risada, um tanto cética.
– Ela está certa – disse Oscar.
– Está? – Alice se espantou. – Quer dizer, estou?
– Sim, vamos rever a bio desses dois.
À contragosto, Lilibeth colocou as fotos de Catarina e Douglas na tela. Os dois eram ex–presidiários e enviaram um depoimento em vídeo, onde faziam questão de não esconder o passado, mas falar do quanto ansiavam por um recomeço. Estavam foram da prisão há seis meses, desempregados, porque ninguém quer dar uma chance para quem tem ficha.
– A trajetória dos dois é curiosa e polêmica – explicou Alice. – Eles foram apanhados no aeroporto de Madrid, na Espanha, transportando cocaína em pasta. Pegaram seis anos cada um. Saíram em três, por bom comportamento. Lá dentro, aprenderam uma nova profissão.
"Douglas disse que levou drogas porque estava desempregado e lhe ofereceram uma bolada. Com a mãe idosa internada, ele se viu sem saída. Daí, os traficantes lhe apresentaram a outra mula, Catarina, viúva, mãe de dois filhos pequenos. Os filhos já estavam passando fome e ela decidiu aceitar a viagem".
– Os traficantes sempre pegam pessoas desesperadas, oferecem uma grana muito alta, fazem parecer tudo fácil, e depois, mandam os tontos para serem apanhados nas fronteiras – argumentou Adauto. Ele conhecia muito bem o funcionamento do crime organizado, já que trabalhou na produção de programas dedicados ao tema.
– Exatamente – disse Alice. – Os dois foram instruídos e levados até o aeroporto de São Paulo. Conseguiram passar na primeira etapa da viagem, mas quando chegaram à Madrid, foram selecionados para uma revista aleatória. Mesmo em prisões diferentes, quando foram liberados, voltaram juntos para cá. Reconhecem que cometeram um erro tremendo. Os dois acabaram se tornando muito unidos por conta de todo o estresse que viveram.
"De volta ao Brasil, Catarina tentou localizar os filhos, que foram tirados dela e entregues ao Estado para adoção. Ela conseguiu localizá–los. Estão numa instituição até hoje, com quatorze e quinze anos. Devem ser liberados aos dezoito... Os três têm uma forte vontade de formar uma família outra vez".
– Como sabe disso? – Adauto questionou.
– Porque eu entrevistei a assistente social responsável pelo caso – rebateu Alice. Adauto mordeu a língua. Cada vez mais Oscar admirava a postura da assistente de Nicholas.
– Douglas arrepende–se até hoje. Ele ficou na prisão, enquanto a mãe morreu sozinha. Em uma instituição para idosos.
– Minha nossa, não sei se nossos telespectadores querem saber de biografias tão... Pesadas – comentou André Panioli.
Alice lhe enviou um olhar mortal. – Que eu saiba, a ideia é fazer com que os telespectadores se sintam conectados às vidas desses competidores.
– Com certeza, Alice – interveio Oscar. – Pode separar os nomes dessa dupla. Eles terão uma chance não só de mostrar para o Brasil que superaram o passado, pelo exemplo, como também irão ter a chance de conseguir dinheiro para recomeçar a vida.
Alice sorriu, agradecida e separou as fotos dos dois.
–Tudo o que eles desejam é uma nova vida – ela confirmou, com convicção. – E eu acredito que eles vão enriquecer o programa, falando sobre suas experiências na prisão espanhola. E se vencerem, um reencontro emocionante com a família dará uma tremenda audiência.
– Concordo – disse Oscar, querendo manter Alice contente; se tudo corresse bem, ele trataria de amarrá–la com um bom aumento salarial.
Alice sorriu mais tranquila, colocando as bios da dupla na pilha dos selecionados. Ela voltou para junto da tela e apontou para a próxima dupla.
– Alejandro e Maria Rúbia são casados e têm um restaurante em Buenos Aires. Os dois amam aventuras, viagens e esportes radicais. Correção: Maria Rúbia gosta de dormir e de massagem. Alejandro curte aventuras, viagens e esportes radicais.
– Todos os candidatos adoram algum tipo de aventura... – apontou Oscar. – Isso não é um diferencial. Aliás, eles são argentinos?
– São, sim... – confirmou Alice.
– Essa mulher tá com uma maquiagem tão pesada que mal dá para ver os olhos – comentou uma das maquiadoras.
– Isso indica que é uma mulher vaidosa...? – Questionou Lilibeth, encolhendo os ombros.
– Pode ser... – comentou a maquiadora. – Mas principalmente que tem uma visão definida de si mesma e não necessariamente gosta de seguir... Instruções.
– Eles gastam mais do que têm – comentou Alice.
– Como sabe? – Adauto indagou novamente. Alice apenas o encarou. – Tudo bem, não está mais aqui quem perguntou.
Mesmo assim, Alice decidiu explicar: – O próprio Alejandro comentou que ganhar o prêmio é o milagre que ele vem procurando para quitar as dívidas e dar uma injeção de capital no restaurante. Além de pagar a faculdade dos filhos.
– O fato de serem estrangeiros não deveria eliminá–los? – Questionou Lúcio. – Não devíamos dar chance aos brasileiros?
– Eu não os descartaria tão rápido assim – comentou Tito, o chefe do setor de marketing. Ele assistiu ao vídeo de interação do casal. – A mulher parece ser do tipo capaz de jogar lenha na fogueira. Vê a maneira como ela trata o coitado do marido?
Eles riram.
– Sim, mas ela não sabe fazer nada – apontou Nicholas. – Não joga nem peteca.
– Vai ter que aprender na marra – disse Gil. – Concordo com Tito sobre apimentar as coisas. Ainda mais se considerarmos a rivalidade entre argentinos e brasileiros.
– Mas Lúcio levantou uma questão importante. Vamos deixá–los na reserva – decidiu Oscar. – Se algum dos selecionados desistir, nós os escalamos. Próximos!
– Craig e Fisher são americanos residentes em São Paulo começou a dizer Alice. – Os dois são praticantes de extreme games. Fizeram um vídeo sobre a participação deles em diversos campeonatos.
– E daí? – Oscar questionou. – Temos vários candidatos que praticam extreme games. Por que os dois?
– Por que a dupla possui um milhão de seguidores no Instagram – confidenciou Alice. – Por que representam o segmento LGBTQIA+.
– Ok, para mim, são argumentos suficientes – Oscar gesticulou. –Contudo, se considerarmos que os argentinos foram para o banco reserva, não acho justo que nós escolhamos os americanos apenas por causa disso.
– Como não? E o número de seguidores? – acrescentou Alice.
– Podemos colocá–los na lista de espera.
– Tudo bem, mas que seja no topo da lista – argumentou Tito. – Porque a competição precisa ter participantes que representem a diversidade.
– Leonel e Tonico representam o que há de melhor da Bahia – disse Alice. – Fizeram até vaquinha na cidade deles para que pudessem ir até Salvador gravar o vídeo para a sua candidatura. Os dois estão numa campanha cerrada para conseguir um transplante para Tonico. Ele precisa de um rim novo.
– Então, lamento, mas ele não pode participar. – Argumentou Adauto. – Está doente.
– Não, desculpe o engano – disse Alice. – O transplante é para o filho de Tonico.
– O que Leonel é dele? – quis saber Oscar.
– Irmão de Tonico, portanto, tio do garoto.
– Jesus, isso vai provocar lágrimas. Pode colocar – disse José Villanova.
"Sim", pensou Oscar. "E se eles não vencerem a competição, daremos um jeito de conseguir que o transplante aconteça".
– Caco e Dinorá são dois extremos opostos e eu acho que isso vai ser bem interessante – argumentou Alice.
– Por quê?
– Caco é executivo da bolsa de valores de São Paulo. Dinorá é a dona de uma barraquinha de pasteis, que fica em frente ao prédio.
–Caramba! – Tito riu baixinho. – E como eles se tornaram uma dupla?
–Ele sempre ia comer lá. Um dia, um carro desgovernado atravessou toda a calçada, atropelou a barraquinha e a destruiu. E como todo mundo ama o pastel da Dinorá, tentaram ajudá–la. Conseguiram juntar dinheiro para pagar a conta do hospital, pois ela quebrou a perna. E pagaram algumas contas da casa dela também. Mas daí, ela pegou COVID dentro do hospital. Quando conseguiu se restabelecer, Dinorá voltou para a rua, vendendo os pasteis que passou a fazer em casa.
– Uma guerreira – murmurou Oscar, admirado. – Já quero provar o pastel.
–Quando a chamada do programa começou, Caco ofereceu sociedade a Dinorá. Os dois participam, racham a grana e ela abre um restaurante. Afinal, nenhum deles poderia competir sozinho.
– Uma boa sacada – elogiou Nicholas. – O garoto de Wall Street e a vendedora de pasteis. Gostei!
– Bovespa – disse Alice, em tom abrupto. – Wall Street fica em Nova Iorque.
– Tanto faz. – Ele dispensou com um gesto. – O que importa é que funciona. Dois competidores muito diferentes, unidos por um ideal... As pessoas irão ficar curiosas para ver no que isso vai dar. Repito, adorei!
–Eu também! – concordou Oscar; outros ecoaram sua opinião.
A bio da dupla foi para a parte dos aprovados.
–Temos ainda Epaminondas e Dedé, do Espirito Santo. Ambos são bombeiros. E tiraram uma licença para participar. Querem doar parte do dinheiro para as famílias dos bombeiros que morreram no incêndio que devastou aquele prédio de quarenta andares. A mídia não fala de outra coisa.
– Ótimo, então, vamos lhe dar uma chance também.
–Nossa... Vocês parecem chacais – disse Eleonora, voltando para a sua mesa.
– Somos profissionais da televisão – corrigiu Alice.
– O que para mim dá no mesmo – rebateu Eleonora, não querendo ver mais nada.
Eleonora fechou a porta atrás de si, com suavidade. Oscar virou–se para o grupo. – Digamos que os valores de uma época se chocam com outra época.
– Continuamos? – Lilibeth. – Falta pouco... E sinceramente, eu quero ir para casa.
– Vamos terminar de uma vez – concordou Nicholas.
– Temos Dudu e Dirceu, lutadores de MMA – apresentou Alice.
– Esse apelido não cola – comentou André. – Dudu é muito parecido com Caco.
– Desde quando? – José franziu as sobrancelhas.
– Sei lá, – André se atrapalhou mexendo as mãos. – Existem apelidos que acabam soando parecido. Dudu, Caca, Caco, Dido, Dinho, Cuca, ninguém grava...
– Você tá viajando – disse José. – Mas a gente pode condicionar a participação ao uso do nome por extenso. Eduardo soa melhor. O outro fica como Dirceu mesmo... Não tem como mudar... Que tal? Melhor?
– Melhor – André balançou a cabeça, satisfeito.
– Não vai dar, pessoal – disse Nicholas. – Se eles são lutadores de MMA conhecidos em sua região... Já existe um trabalho de reconhecimento de marca. Mudar o nome deles, ou de um deles, fará com que os fãs não reconheçam os participantes. Portanto, ou os dois são classificados ou desclassificados. Condicionante de nome, não rola.
– Tá ok – disse André, com voz macia. – Eu só comentei... Você é que decide no final das contas.
– Nós decidimos – corrigiu Adauto. – Somos equipe. Todos aqui.
Nicholas fez cara de paisagem, controlando–se para não revirar os olhos.
– Gaia e Fernanda são duas atletas afro–brasileiras, naturais do Rio de Janeiro. Ganharam até medalhas.
– Olimpíada? – Quis saber Lúcio.
– Não – Alice balançou a cabeça. – Medalha estadual. Elas sonham em ir para uma Olimpíada. Não tem muitos seguidores e estão sem patrocínio.
– Pode colocar.
– Não quer analisar melhor as bios?
–Não, – respondeu Oscar. – Precisamos de mais representantes da diversidade étnica. Se tiver indígena, separa sem pestanejar. Estão dentro, todos eles. E se tiver LBTQ+, pode passar tudo na frente. O que importa, nesses casos, é a causa, não se o competidor é interessante ou não. Entenderam?
– Entendi... – respondeu Alice, baixinho, mas não muito convencida. No final das contas, os americanos acabariam entrando...
Lilibeth foi mudando o tamanho das fotos na tela, à medida que os nomes saíam.
– Aqui temos Astrid e Lucas... Ela é gerente ou responsável por um Santuário de Animais.
– Uma causa importante. – Nicholas opinou. – Nossos telespectadores veganos irão gostar. Cadê o vídeo?
– Ela mandou apenas uma carta.
– Carta? – Oscar lançou um olhar penetrante para as fotos dos participantes. A moça parecia que estava com dor de barriga e o sujeito tinha cara de assassino de aluguel. – Que tipo de carta?
– Dedicada a uma vaquinha chamada Menina.
– O quê? – Tito elevou a voz.
–Ela dedica a carta à vaquinha que ela conheceu na infância – Alice explicou, com um suspiro.
– Mano, que lunática... – comentou Gil. – E o cara?
– Lucas Salvador Muniz.
– O que ele faz da vida?
–É veterinário de animais de grande porte. Atende como voluntário no Santuário em que Astrid administra.
– Quase dormi de tédio... – comentou André. – Tá e como eles formaram dupla?
– Ela não contou – respondeu Alice. – Só mandou a carta em anexo, com a ficha de inscrição e um vídeo de trinta segundos meio que filmado a distância, mostrando os dois separadamente.
– Pode eliminar – sugeriu André. – Ninguém vai querer saber deles.
– Mas a causa deles é muito importante – argumentou Nicholas. – Eles trabalham com resgate de animais.
– Mas não são os animais que vão participar da corrida maluca – contrapôs o outro. – A não ser que sejam o Mutley e o Dick Vigarista encarnados. Pode eliminar.
Nicholas olhou para Oscar.
–Também não sinto firmeza nessa dupla. Não temos elementos para decidir a favor.
Nicholas encarou a foto de Astrid Rodrigues, do tipo três por quatro, tão impessoal... A do veterinário não ficava para trás. Ele pensou que realmente não dava para saber se os dois ficariam bem na tela. No entanto, ele guardou a carta dedicada à vaquinha.
– Posso deixar os dois na reserva?
– Para quê? – Oscar perguntou. – Não temos outros mais interessantes para colocar na reserva?
– Se vamos deixar Alejandro e Maria Rúbia ficarem na reserva, e eles nem são do nosso país, por que não a garota da vaquinha?
– Garota da vaquinha – um brilho passou pelo olhar de Tito. – Olha que essa cola!
– Tudo bem... – decidiu Oscar. – Mas não se esqueça de que precisamos fazer uma escolha editorial. Temos que pensar no engajamento e fidelização do público.
– Então eu deixo os velhinhos de fora, também? – perguntou Alice.
– Velhinhos?
– Judoca Scliar e Madalena da Silva.
– Bom, seria interessante mostrar que respeitamos a inclusão da terceira idade. Precisamos considerar seriamente os idosos e os deficientes físicos.
– Mas e se os velhinhos tiverem um ataque cardíaco no meio de uma prova? – quis saber José.
– Simples, um termo de consentimento... – sugeriu Lúcio.
– E a gente dá um jeito de eliminá–los antes de chegarem às provas mais puxadas – sugeriu André.
– Não, devemos ser imparciais... – respondeu Oscar. – Ou começam os rumores. E esse tipo de rumor acaba com um reality show, porque os espectadores acham que o resultado é dirigido ou comprado. – com um suspiro, pediu: – Fale–me sobre eles.
– Madalena tem 63 anos, – explicou Alice – ela está desempregada há dez anos e trabalhou numa porção de coisas. Foi camareira, atendente de bar, taxista, técnica de futebol juvenil, guardadora de banheiros...
– Nossa! Bastante experiente e descolada. Deve ter muitas histórias para contar – elogiou André. – Melhor do que a catadora de bichos.
– Resgatadora – corrigiu Nicholas, olhando de lado.
– Olha, essa velhinha me soou do tipo descolada demais... – comentou Tito.
– Como assim? – indagou Oscar, interessado.
– Sabe o tipo que dá o seu jeitinho em qualquer situação...? Não sei se é... Me falta a palavras...
– Trambiqueira? – ofereceu Lilibeth, como quem não quer nada.
– Ah, não sejamos tão radicais... – comentou José.
– Não foi o que eu quis dizer... – Tito apressou–se em explicar: – Foi só uma impressão... De que ela parece ficar confortável demais com a falta de compromisso.
– Sei... Então tá! – José se voltou para Alice, a fim de darem prosseguimento. Ela esperou que o presidente dissesse alguma coisa.
– Os velhinhos podem dar um tempero aos episódios – considerou Oscar.
– Então os dois ficam? – Alice pigarreou.
– Leia mais sobre eles, por favor – pediu Nicholas.
Alice fez o que lhe foi pedido: – Seu Scliar tem 70 anos, foi campeão de judô no Rio, categoria faixa marrom. Por isso o apelido Judoca.
– Caramba! Tá dizendo que ele venceu alguém com a metade da idade dele? – questionou Gil.
– Não, ele foi campeão de judô na adolescência e depois, não foi mais nada – explicou Alice, esfregando a testa. Uma enxaqueca se insinuava por trás de seus olhos e ela precisava urgentemente ir para casa e ficar bem quietinha pelos próximos dois dias. – Seu Judoca só foi quatro vezes marido de alguém, de lá para cá. Ele quer o prêmio para sustentar filhos e netos.
– Hum... – vocalizou Nicholas.
– Hum... – imitou Oscar. – Deixe os dois na reserva, por enquanto. Vamos fazer uma escala de prioridades. Os nossos preferidos e depois, vamos substituindo pelos imediatamente compatíveis ou mais interessantes, que ficaram na reserva.
– Se alguma das cinquenta duplas previamente selecionadas, por algum motivo, não puder participar ou não atenda os critérios de participação, daí, a gente vai puxando o pessoal da reserva.
– Boa ideia, Nicholas – elogiou Oscar. – Encerramos então. Agora, vamos colocar a bola em campo.
– Por ora, tudo o que eu desejo é um banho quente – desabafou Alice.
– Desacompanhada? – Nicholas deixou escapar, sem saber por quê.
Oscar levantou a cabeça, atento. Torceu para que Nicholas não metesse os pés pelas mãos.
– Não, com o meu namorado – respondeu Alice. – Que por acaso está me esperando lá embaixo.
Ela foi a última da equipe a sair da sala, deixando Nicholas e Oscar sozinhos.
– Nossa, que bola fora – Nicholas riu de si mesmo. – Mas como eu iria adivinhar... Ela nunca falou nada.
– Não se esqueça da política da empresa – Oscar disse, em tom normal. – Nada de namorar colegas.
– Ah, é... – Nicholas ponderou. – Mas você se casou com sua assistente pessoal. A Janete.
– Eu casei, não namorei, nem tive um caso.
– Ah, quer dizer que o casamento aconteceu por osmose?
– Se quer tantos detalhes, vou explicar: Nós batemos o olho um no outro, transamos e eu a pedi em casamento. Foi amor à primeira vista. E ela saiu do emprego para trabalhar em outra área. Não se esqueça disso.
Nicholas ficou quieto por um instante, lembrando no quanto os dois foram felizes juntos, até se divorciarem. Ninguém entendeu o motivo. – Tem falado com ela?
– Não... – Oscar suspirou. – Mas terei que falar, já que prometi ao nosso filho que ele poderia acompanhar as filmagens de Escape Game.
– Ah, ela não vai deixar...
– Não vai mesmo.
Os dois trocaram um olhar de entendimento e tomaram por encerrado o expediente.
–––
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