Epílogo

Um ano depois

Depois que a revelação de Kristanna veio a público, naturalmente jornalistas e repórteres começaram a procurá-la com uma enxurrada de perguntas. No início, foi um inferno. Mas, após minhas ameaças de que levaria cada um deles ao tribunal se continuassem invadindo a privacidade de minha esposa, eles passaram a pegar leve. Talvez eu tenha exagerado um pouco nas ameaças, mas ao menos funcionou.

Um e outro jornalista passou a procurar minha esposa para marcar reuniões para uma conversa informal em um fim de tarde. Eu disse a ela que não precisava fazer isso se não quisesse. Ela apenas sorriu e disse que estava tudo bem, que eu não tinha com o que me preocupar, que ela estava preparada. Quando eu chegava em casa, às vezes eu a pegava rindo enquanto contava uma de suas histórias. E, às vezes, encontrava-a chorando. Em noites assim, terminávamos abraçados na cama, comigo sussurrando coisas boas em seu ouvido enquanto ela chorava todas as suas lágrimas de dor. No fim, quando dizia que a amava, ela se acalmava mais e se aninhava a mim. De alguma forma, sinto-me útil e honrado por saber que significo tanto em sua vida.

Sou o único a quem Kristanna já quis contar tudo sobre seu cativeiro. Desde seu rapto até o retorno cauteloso para uma vida normal. Como resultado disso, sinto-a mais forte. Mais confiante. Mais aberta em nosso relacionamento. Embora tenha ouvido cada relato de seu destino terrível, nada realmente me fará deixar de amá-la.

De vez em quando visitamos meus pais no Canadá. Foi seu único pedido para mim: que eu não perdesse o contato com minha família, apesar de tudo o que já aconteceu. Kristanna não precisou me dizer, mas sei que ela perdoou Philip por todas as coisas que ele fez. E ele, em algum nível, após os segredos terem vindo à tona, respeita a mulher que eu havia levado como minha esposa. É o que chamo de convivência pacífica na medida do possível. Em uma dessas visitas, consegui permissão para levar Jack para passar as férias escolares conosco. Geoffrey veio para manter um olho no garoto, acompanhando-o como se fosse seu guarda-costas. Lembro-me desse mesmo sentimento de proteção, de como era na época em que eu era pequeno. Com Jack em nossa casa, foi um prato cheio de diversão e brincadeiras. Kristanna e Jo não o deixavam ficar parado. Fazia tempo que não via meu irmão caçula rir com tanta naturalidade e vontade, como se não quisesse estar em nenhum outro lugar mas aqui, conosco. A despedida foi melancólica para nós dois, porém prometi que haveria uma próxima vez.

Ninguém ainda consegue explicar o grande avanço de Serena no tratamento. Quando ela soube que sua filha estava vivendo sua felicidade e que sua vida estava indo bem ao meu lado, aos poucos foi apresentando um quadro significativo de melhora. Primeiro, passou a não precisar tomar mais remédios para controlar seu humor. Depois, com seu emocional estabilizado, não houve mais ataques de agressão súbita. É uma ligação maternal que ninguém entende, nem mesmo eu. No entanto, desde o primeiro dia em que a visitei, vi através de seus olhos sofredores o quanto amava Kristanna, o quanto queria que sua filha vivesse os melhores anos pelo resto de sua vida. Anos gloriosos que uma criança chamada Kylie Johnson nunca pôde ter.

Agora, estamos esperando por Serena no lado de fora. Tecnicamente ela está recebendo alta após muitos anos. De longe, vejo-a caminhar em direção a nós, acompanhada pelos enfermeiros, até passar sozinha pelos portões. Ela tem um rosto jovem e está magra, com seus olhos claros abatidos e o cabelo louro sem brilho. No entanto, vejo toda sua tristeza se dissipar para dar lugar às lágrimas de alegria assim que encontra Kristanna e Jo esperando por ela. As três se abraçam e eu estou encostado contra o carro enquanto as assisto dizer o quanto se amam. O tempo já havia tirado muito delas. É um reencontro que Kristanna esteve elaborando diversas vezes em sua mente, e agora finalmente ela está realizando mais um de seus sonhos. Sou a testemunha de sua felicidade que não parece caber dentro de si.

Minha Loirinha está radiante.

Meu amor por ela não tem tamanho.

"Ela te ama", Jo havia dito. Foi a única coisa que precisou dizer para me fazer abrir os olhos e perceber o que eu estava perdendo. Foi quase um choque saber que aquela mulher que estive desejando durante tanto tempo para mim esteve me amando em silêncio. Agora, após um ano de casados, encontro-a confessando sem reservas seu amor por mim, e logo me vejo demonstrando o meu por ela. Não me faço de rogado quando a adoro em cada toque, cada beijo e em todas as vezes que fazemos amor apaixonadamente.

É muito mais do que um prazer finalmente vivenciar uma relação baseada em respeito mútuo e verdades. Mais ainda, é saber que isso existe. Poder fazer isso com Kristanna é mais do que um bônus extra. Muito mais do que um homem silenciado por seu passado turbulento poderia pedir. Ela é o milagre em mim. A parte bonita na vida fodida de um cara apaixonado e enfeitiçado por sua jovem e bela esposa. Se me pedissem, não saberia como parar de admirá-la.

Mesmo que tenham tentado tirar tudo dessa mulher, ela ainda é a mesma, com uma alma bondosa e pura para aqueles que sabem enxergar através de seus olhos. Permitiu-me ganhar sua confiança e não pretendo decepcioná-la nos próximos anos gloriosos de nossas vidas.

Porque eu a amo. Infinitamente.

A verdade nunca esteve tão óbvia.

Dia após dia, é meu próprio deleite conquistar o coração da minha adorável Rainha do Gelo.

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